Os números da Uber no Brasil são gigantescos. Em 2018 a empresa americana que usa o aplicativo de transportes Uber, que tem no Brasil o seu segundo maior mercado no mundo (só atrás dos EUA) teve faturamento de quase US$ 1 bilhão. Para ser mais exato US$ 959 milhões, equivalentes a R$ 3,6 bilhões.
Atualmente, o Uber totaliza 600 mil motoristas operando em sua plataforma no país. Eles estão distribuídos em 100 cidades. Um total de 22 milhões de pessoas são usuários frequentes do Uber no Brasil e 2,5 bilhões de viagens já realizadas desde que o aplicativo chegou ao país.
A plataforma digital-territorial se apresenta ao grande púbico como uma alternativa de renda para autônomos e simultaneamente como uma fórmula de transporte confiável e mais barata para quem precisa se deslocar.
Inicialmente a plataforma se apresentou como o desdobramento da ideia da economia de compartilhamento, mas logo se percebeu que se tratava de um negócio que centraliza trabalho precário que suga 25% das rendas locais, para um serviço que poderia ser gerido por cooperativas locais/regionais.
Os dados de 2018 constam de uma matéria do Valor (08/07/2019), mas já foram aqui comentados num texto com breve resenha sobre o livro do jornalista americano Tom Slee “Uberização” com o título “O engodo da economia do compartilhamento, retrato da uberização e airbnbização!”. Link: http://www.robertomoraes.com.br/…/o-engodo-da-economia-do.h…
O interessante assunto também vem sendo pesquisado e analisado há alguns anos pelo professor e pesquisador da UFMG Fábio Tozi.
A empresa-plataforma como ele gosta de se definir, Uber diz que também entrando em outros negócios relativos à deslocamento de pessoas como venda de passagens de ônibus, metrô e trens por aplicativo, além de bike e patinetes. E nos EUA também estaria sofisticando com ofertas de deslocamento por avião e helicópteros com o Uber Air e Uber Copter.
Agora, olhando por outros lados, imaginem o controle sobre fluxos financeiros que esta plataforma possui, inclusive com passeio do dinheiro (informações financeiras) em países com baixas tributações, antes do valor do motorista ser disponibilizado.
Outra preocupação deve ser sobre o poder que passa a deter o Uber ao ter controle do “big-data” com informações sobre deslocamentos de milhões (quase bilhão) de pessoas em vários lugares do mundo ao longo do tempo.
Interessante observar que o controle do território e os fluxos (deslocamentos) no seu interior é o alvo para a captura do dinheiro local. Trata-se de uma renda derivada do trabalho em diferentes partes do mundo, incluindo o Brasil, e do qual a Uber vampiriza 25% que sobe para o andar das altas finanças.
Eu já comentei aqui sobre a conta que é possível interpretar sobre estes 25%. Se 600 mil motoristas trabalham para a Uber e 25% de sua renda se dirigem aos donos dessa plataforma, isso significa que 150 mil motoristas seriam, contabilmente, escravos nessa captura do rentismo.
Sobre o assunto veja aqui outra postagem do blog em 1 de maio de 2019: "1 milhão de trabalhadores brasileiros que atuam na "economia do compartilhamento" podem ser vistos como escravos que alimentam o rentismo dos fundos financeiros".
Nessa linha é bom recordar que o Uber hoje é controlado por fundos financeiros que aportaram US$ 60 bilhões nele, antes ainda do mesmo passar a lançar esse ano as suas primeiras ações no mercado de capitais.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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