Em 2001, depois de pressões da sociedade através de um Fórum
Regional de Desenvolvimento, o município de Campos dos Goytacazes criou um
fundo, não para estabilização, mas para apoiar a atração de empresas para atuar
no município.
Sem controle social, os secretários emprestaram dinheiro sem
um planejamento por cadeia produtiva, sem garantias e sem controle, e assim, o
Fundecam se mostrou o fracasso que hoje se conhece.
Assim, agora, a prefeitura
tenta cobrar mais de R$ 400 milhões de dívidas não pagas pelos empresários que
apanharam esse dinheiro sem resultados para o município.
Da era da abundância
(2004) à fase de colapso (2014), em especial Campos e Macaé
Passaram-se quase mais uma década - por volta de 2008, quando
em especial Campos dos Goytacazes e Macaé) no auge do início do boom das
receitas de estados e municípios chamados de produtores passaram a ter enormes
receitas com os royalties e das Participações Especiais (PE) do petróleo.
Na ocasião, junto com vários estudiosos do tema, voltamos a
defender e insistir mais fortemente para a necessidade de constituição desse
fundo de estabilização, separando parte dos recursos dos royalties para
estabilização em situações de emergência e também para desenvolver atividades que
apostasse na diversificação da economia visando uma menor petrodependência da
economia dos royalties.
Era evidente que o montante daquelas receitas não se sustentariam.
Elas cresciam em ritmo aceleradíssimo. Entre 2010 e 2014 foi a primeira vez na
história que o preço do petróleo esteve oscilando, mas sempre acima de US$ 100,
o barril, ao mesmo tempo que a produção na Bacia de Campos atingia o seu auge
com um dólar alto, em função da crise financeira de 2008.
Assim, entre vários conflitos regionais no Oriente Médio e
maior demanda de petróleo no mundo, os preços se mantinham altos e os royalties
repassados aos municípios não paravam de crescer.
Nesse período o caso de Campos foi destaque. Em pouco ais de
uma década o município chegou a receber cerca de R$ 14 bilhões de royalties,
quase 60% do orçamento total do município naquele período. Já nesta última
década, desde 2010, o município de Macaé chegou a receber mais de R$ 20 bilhões
só com a receita dos royalties do petróleo.
Quando chegou a fase de colapso do preços do ciclo
petro-econômico, no final de 2014 e início de 2015, esses foram os dois
municípios que mais sofreram, porque já tinham comprometido muito de seus
gastos, com custeio bancado por essas receitas. E pior, eles não tinham nenhum
fundo para bancar esse período de colapso das receitas. Fato previsível, apesar
do pouco caso com os vários alertas de quem há quase duas décadas acompanhava a
evolução dessas receitas.
De 2016 para cá, enquanto Campos e Macaé ainda tentam se
equilibrar entre despesas e receitas e gastos mal planejados, do período da
abundância irresponsável dos royalties do petróleo, a Bacia de Campos viu sua
capacidade de produção se reduzir, onde os campos se tornaram maduros e o
aumento da produção – também como previsto – se deslocou espacialmente para os
municípios na direção sul da Bacia de Santos (que fica já abaixo de Arraial do
Cabo em direção a São Paulo).
A partir de 2016 a
mudança espacial da receita dos royalties do petróleo (da Bacia de Campos para a
Bacia de Santos e o pré-sal) de Campos e Macaé para Maricá e Niterói
Assim, desde 2016, Marica e Niterói comemoram o aumento
vertiginoso (mais de quatro vezes mais) dessas mesmas receitas dos royalties do
petróleo, em função da legislação que beneficia os municípios confrontantes aos
campos do pré-sal e da bacia de Santos no litoral.
Muito do que se criticou lá atrás sobre os gastos destas
receitas nos casos dos município de Campos e Macaé, segue ocorrendo agora,
também em Maricá e Niterói que hoje possuem orçamentos municipais de R$ 2,5
bilhões e R$ 3 bilhões.
A diversificação econômica tem uma retórica fácil e uma ação
e um planejamento difícil porque exige visão de longo prazo. A tentação do uso
imediato destes recursos em meio a tanta demanda social por estes investimentos
é uma outra razão difícil de ser enfrentada, diante da busca de novos mandatos
pelos prefeitos e seu grupo político.
Finalmente surgem os
fundos de estabilização orçamentária: Niterói, Maricá e ES
Ainda assim, quase vinte anos depois, esses dois municípios
decidiram constituir fundos financeiros de estabilização de seus orçamentos com
recursos dos royalties do petróleo. É pouco, mas melhor que o catástrofe anterior.
Niterói criou um fundos de estabilização de receita que fica
com 10% de cada repasse (trimestral) das Participações Especiais, mas nada das
quotas mensais. Junto decidiu que 1/3 de todos os recursos dos royalties seriam
para investimentos, embora metade ainda para custeio da máquina pública.
Já Maricá evitou fixar a destinação de um percentual específico
para este fundo de estabilização com o dinheiro dos royalties do petróleo. Assim, a Prefeitura de Maricá destina menslamente entre 1% e 5% de toda a receita dos royalties do petróleo e
não apenas as Participações Especiais (PE) para esse fundo.
Assim, agora, em 2019, os dois municípios, ainda em fase
inicial de capitalização, possuem cada um pouco mais de R$ 100 milhões nestes
fundos de estabilização. Ambos os municípios fazem previsão de que entre 10 e
20 anos possam ter mais de R$ 2 bilhões, cada um, nesse fundo.
Assim, imaginam e planejam que os novos gestores possam bancar
momentos emergenciais de bruscas reduções de receitas, mas em especial servir
com bases para parcerias em investimentos em obras e infraestruturas, assim
como fundo garantidor, para acordos com setor privado para investimentos que
gerem trabalho e renda e supra necessidades básicas como habitação e saneamento
ao longo do tempo, mas de forma permanente.
Movimento similar acaba de ser adotado pelo governo do
estado do Espírito Santo. Decidiu criar dois fundos financeiros com esses
recursos. Um oriundo do pagamento de R$ 900 milhões que recebeu retroativo da
Petrobras, em função de um acordo sobre Participação Especial (PE) depois da Unitização
dos campos de petróleo do Parque das Baleias, no litoral capixaba. Outros R$
600 milhões a serem recebidos em 42 parcelas também serão destinados a este
fundo que, segundo o estado terão como destino o financiamento de obras e infraestrutura.
O segundo fundo estruturado pelo governo capixaba, chamado
de soberano, tem como previsão de R$ 400 milhões por ano com receita dos
royalties do petróleo e visam apoiar a diversificação e menor dependência
futura da produção de petróleo. Em 2018, o governo do ES recebeu R$ 2 bilhões
de royalties do petróleo. Até 2030, o governo estadual do ES espera ter
capitalizado cerca de R$ 4 bilhões nesse fundo soberano.
Fundos precisam de
gestão democrática e participação popular
Esses fundos públicos não são e não podem ser vistos como
panaceias tecnocráticas e nem como instrumentos de financeirização junto a
mercado de capitais e aos fundos privados, geridos por bancos, como se faz muitas
vezes, irresponsavelmente, com os fundos previdenciários também dos municípios
e estados.
Esses fundos precisam ter gestão com participação
democrática da sociedade porque se tratam de recursos inter-geracionais (e finitos)
e, que, portanto devem ser pensados e planejados para além dos mandatos dos
representantes políticos eleitos.
Não é fácil - e nem nunca afirmei isso – ser criterioso e
não tecnocrático no uso destes recursos. Por isso, sempre afirmei que o gestor
do momento erra menos se descer do seu pedestal e se dispuser a dialogar mais e
ampliar a participação popular para a tomada destas decisões.
Outros municípios e estados brasileiros precisam travar discussões similares sobre a constituição, organização, controle e planejamento deste tipo de fundo público originado desta receita.
No caso dos estados, o ERJ que em 2019 terá quase R$ 8 bilhões desta receita, a situação é mais problemática, por conta da história do seu endividamento e da absurda securitização de sua dívida. Porém, os estados de SP (com R$ 1,5 bi de royalties em 2019); Bahia (R$ 400 milhões em 2019); Rio Grande do Norte (R$ 259 milhões) e Sergipe (R$ 222 milhões) precisam planejar seus fundos soberanos.
No ERJ, outros municípios para além de Niterói e Maricá precisam planejar os seus fundos com suas receitas de royalties do petróleo. Em 2023, Macaé deverá ter ainda R$ 1 bilhão, um total maior que os R$ 700 milhões com essas receitas em 2019; Campos dos Goytacazes deverá ter R$ 740 milhões, receita bem maior que os R$ 412 milhões previstos para esse ano, segundo a ANP. Saquarema terá em 2023 um total de R$ 700 milhões contra R$ 290 milhões este ano. Araruama terá em 2023, uma receita com royalties de R$ 211 milhões, contra apenas R$ R$ 47 milhões este ano. Arraial do Cabo deverá ter R$ 250 milhões em 2023, contra R$ 90 milhões este ano.
Enfim, a gestão pública precisa ampliar a discussão não apenas sobre esse tema dos fundos públicos a partir das receita dos royalties do petróleo, mas sobre a participação popular de forma mais ampla. Erra menos quem ouve e dialoga mais.
É certo que os interesses em disputa nos municípios e estados é sempre muito grande. Mas, tem sido os setores econômicos mais favorecidos aqueles que conseguem acessar essas receitas, sugando as rendas que deveriam estar a serviço da melhoria das condições de vida da população que mais precisa dos governos.
Quando o gestor se fecha à participação popular e da sociedade a esse debate é porque optou por só atender aos interesses econômicos mais poderosos e que estão sempre colados aos governos. Quaisquer que sejam.
É certo que os interesses em disputa nos municípios e estados é sempre muito grande. Mas, tem sido os setores econômicos mais favorecidos aqueles que conseguem acessar essas receitas, sugando as rendas que deveriam estar a serviço da melhoria das condições de vida da população que mais precisa dos governos.
Quando o gestor se fecha à participação popular e da sociedade a esse debate é porque optou por só atender aos interesses econômicos mais poderosos e que estão sempre colados aos governos. Quaisquer que sejam.
Um comentário:
Parabéns, Professor!!!!
Perfeito mais uma vez!!!!
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