Ao contrário do que se imagina, essa presença dos fundos financeiros mais próxima de nosso cotidiano, vai bem além do que antes se imaginava, ligado apenas aos casos dos grandes investimentos feitos em infraestruturas e indústrias.
De uma década para cá, os fundos financeiros estão presentes também – e cada vez mais - nos setores de serviços e comércio locais, onde capturam economias que circulam regionalmente, através de negócios de redes. Estes são controlados de forma centralizada e oligopolizada, produzindo efeitos sobre os circuitos econômicos locais/regionais e sobre o território.
São várias as fórmulas. As extensas e densas redes de lojas, serviços e franquias são exemplos de como as rendas locais acabam sendo aspiradas por empresas e corporações financeiras (fundos) que ganham tanto na produção material da economia real (também nos serviços e comércios), quanto nas finanças que giram no entorno destes negócios.
Para melhor compreensão deste fenômenos vale observar o caso da Droga Raia (hoje Raia Drogasil S.A.), que nasceu como um empreendimento familiar há mais de um século no interior de São Paulo. Hoje, a Raia Drogasil é uma holding que também é dona além das redes de farmácias Raia e Drogasil, também das Farmácia Onofre e Farmácia São Paulo, estas duas muito fortes naquele estado.
O grupo que nasceu e cresceu juntando as famílias Pires, Pipponzi e Galvão, abriu o negócio no mercado de capitais em 1977 (depois em cresce em 2007) e, a partir daí passou a receber aportes de grandes fundos financeiros e de investidores que hoje já somam 65% do capital total desta grande corporação.
Trata-se de uma parte de um fenômeno em curso que ajuda a explicar o presente. As pesquisas empíricas que envolvem o campo de investigação interdisciplinar que chamamos de “Espaço e Economia” exigem observações, análises e interpretações ainda mais aprofundadas, mas também demanda um debate mais amplo e em várias dimensões. Razão da insistência com o assunto que suscitou este novo texto.
De uma década para cá, os fundos financeiros estão presentes também – e cada vez mais - nos setores de serviços e comércio locais, onde capturam economias que circulam regionalmente, através de negócios de redes. Estes são controlados de forma centralizada e oligopolizada, produzindo efeitos sobre os circuitos econômicos locais/regionais e sobre o território.
São várias as fórmulas. As extensas e densas redes de lojas, serviços e franquias são exemplos de como as rendas locais acabam sendo aspiradas por empresas e corporações financeiras (fundos) que ganham tanto na produção material da economia real (também nos serviços e comércios), quanto nas finanças que giram no entorno destes negócios.
Para melhor compreensão deste fenômenos vale observar o caso da Droga Raia (hoje Raia Drogasil S.A.), que nasceu como um empreendimento familiar há mais de um século no interior de São Paulo. Hoje, a Raia Drogasil é uma holding que também é dona além das redes de farmácias Raia e Drogasil, também das Farmácia Onofre e Farmácia São Paulo, estas duas muito fortes naquele estado.
No todo, a rede de farmácias - que é a maior do Brasil - e parte dos negócios do grupo RD (Raia Drogasil) possui agora em 2019, um total de 1.917 lojas instaladas em 22 estados, tendo alcançado no final do 1º semestre deste ano uma receita bruta de R$ 16,7 bilhões (muito maior que muitas indústrias) e lucro líquido de mais de meio bilhão, para ser mais exato no valor de R$ 551 milhões.
Apresentação de resultados Raia Drogasil (RD) 2º Trimestre de 2019. Slide nº 9/45. |
Além da rede de farmácias, o grupo RD é dono ainda de várias empresas ligadas a serviços de saúde envolvendo ainda as áreas de enfermagem, nutrição e medicina especial: RD Gente, Saúde e Bem Estar; NutriGoog; CareTech; Needs; UniVers e 4Bio.
O grupo que nasceu e cresceu juntando as famílias Pires, Pipponzi e Galvão, abriu o negócio no mercado de capitais em 1977 (depois em cresce em 2007) e, a partir daí passou a receber aportes de grandes fundos financeiros e de investidores que hoje já somam 65% do capital total desta grande corporação.
Em 1994, a empresa cria um planejamento de gestão, ampliação e TI com foco na ampliação do mercado pela transformação demográfica (envelhecimento da população) que ampliaria o mercado farmacêutico junto da hipótese de concentração deste tipo de comércio no país, a exemplo do que já havia acontecido em outras nações.
Apresentação de resultados Raia Drogasil (RD) 2º Trimestre de 2019. Slide nº 6/45. |
Entre os grandes aportes de recursos financeiros obtidos após 2007, estão os fundos financeiros Gávea (controlado pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga), o Pragma Patrimônio, um fundo private equity e recentemente recebeu aporte do maior fundo financeiro do mundo, o americano BlackRock que no início deste mês passou a controlar 5% do grupo RD que tem sede no bairro de Butantã, na capital paulista. Além destes fundos citados, mais de uma centenas de outros fundos financeiros possuem ações e participações no grupo Raia Drogasil (RD). (Confira aqui).
É oportuno ainda registrar que vários destes fundos financeiros são acionistas, e em alguns casos, controladores também de indústrias farmacêuticas que fornecem medicamentos para serem comercializados pela rede de farmácias, assim como de empresas de engenharia responsáveis pelas obras de instalação das lojas.
Os fundos financeiros lubrificam a concentração de renda no capitalismo atual
Assim, como o grupo RD Raia Drogasil, outros negócios e redes de serviços (saúde, faculdades e escolas, etc.) e comércio - que incluem os shoppings - assim como as franquias de marcas conhecidas, estão aos poucos, passando a controla,r não apenas os grandes negócios de produção e de infraestrutura, mas também as redes de negócios menores que se expandem, também territorialmente, das metrópoles para os municípios de médio porte no interior dos estados brasileiros.
Há vinte/trintas anos esse fenômeno foi observado no comércio de eletrodomésticos, quando as redes das grandes lojas como Ponto Frio, Tele Rio, Casas Garson ( no ERJ) e depois Casas Bahia e Lojas Americanas foram invadindo o interior e tomando o espaço de tradicionais comércios locais.
Hoje, este processo também já se expandiu para os negócios de supermercados, novos shoppings centers, clínicas de saúde, laboratórios, etc. controlados pelos fundos financeiros nacionais e globais.
Tem-se aí uma concentração absurda destes negócios com enormes ganhos de escala. Um processo de oligopolização que ao concentrar os negócios, oferece, inicialmente ganhos aos consumidores, porém, mais adiante com o controle dos mercados, ele passam a ditar preços e condições, capturando boa parte das rendas locais e regionais.
Os lucros destes negócios que antes ficavam com as burguesias (elites) locais, hoje são repartidas com esses grandes grupos, que ficam com a maior parte desses excedentes capturados.
Estes grupos econômicos, invariavelmente, estão instalados em grandes centros financeiros localizados nas metrópoles, onde esse dinheiro se transforma em capital e também busca outros rendimentos em vários tipos de circuitos financeiros, num processo de ainda maior concentração e captura que antes, era em parte, também realizado pelo sistema bancário e suas agências no interior.
Assim, os fundos de investimentos ocuparam um novo espaço e passaram a lubrificar o capitalismo contemporâneo, que foi se tornando hegemonicamente financeiro. Através das grandes corporações organizadas em redes e controladas por gestores e dirigentes destes fundos financeiros.
Tudo isso tem ampliado enormemente a concentração de capital com o desenvolvimento do processo de oligopolização de vários setores, que capturam cada vez mais rendas locais, contribuindo assim para o aumento da precarização do trabalho, que acaba sendo imposto aos gestores intermediários dos negócios, de forma a bancar os rendimentos de quem tem os dinheiros e buscam mais rendimentos.
O caso da Raia Dogasil e deste tipo de comércio de medicamentos, evidentemente não é o único controlado pelos fundos financeiros, que assim vão substituindo em parte, o antigo papel de intermediação financeira dos bancos. Em aliança com o mercado de capitais, eles vão avançando para várias atividades econômicas e diferentes regiões do país, em busca de maiores lucros e acumulação.
No caso do Norte Fluminense pode-se listar outras atividades econômicas controladas pelos fundos financeiros: a rede Hortifruti que nasceu em Colatina, ES, para a venda de sacolões da pequena produção agrícola do interior capixaba, cresceu com lojas em outros estados e municípios e hoje, passou a ser controlada por um fundo financeiro suíço.
A rede de shopping Boulevard que é dono de todas as suas lojas, também é controlado por fundos financeiros. A holding Prumo Logística que é dona do Complexo portuário do Açu é controlada pelo fundo financeiro americano EIG Global Energy Partners. A Autopista Fluminense, concessionária da BR-101 na região (RJ-ES), que foi constituída por empresas espanholas, hoje é controlada pelo fundo financeiro canadense Brookfield, que também comprou da Petrobras, a malha de gasodutos instalada na região Sudeste com cerca 2,5 mil quilômetros de extensão.
Os fundos financeiros lubrificam a concentração de renda no capitalismo atual
Assim, como o grupo RD Raia Drogasil, outros negócios e redes de serviços (saúde, faculdades e escolas, etc.) e comércio - que incluem os shoppings - assim como as franquias de marcas conhecidas, estão aos poucos, passando a controla,r não apenas os grandes negócios de produção e de infraestrutura, mas também as redes de negócios menores que se expandem, também territorialmente, das metrópoles para os municípios de médio porte no interior dos estados brasileiros.
Há vinte/trintas anos esse fenômeno foi observado no comércio de eletrodomésticos, quando as redes das grandes lojas como Ponto Frio, Tele Rio, Casas Garson ( no ERJ) e depois Casas Bahia e Lojas Americanas foram invadindo o interior e tomando o espaço de tradicionais comércios locais.
Hoje, este processo também já se expandiu para os negócios de supermercados, novos shoppings centers, clínicas de saúde, laboratórios, etc. controlados pelos fundos financeiros nacionais e globais.
Tem-se aí uma concentração absurda destes negócios com enormes ganhos de escala. Um processo de oligopolização que ao concentrar os negócios, oferece, inicialmente ganhos aos consumidores, porém, mais adiante com o controle dos mercados, ele passam a ditar preços e condições, capturando boa parte das rendas locais e regionais.
Os lucros destes negócios que antes ficavam com as burguesias (elites) locais, hoje são repartidas com esses grandes grupos, que ficam com a maior parte desses excedentes capturados.
Estes grupos econômicos, invariavelmente, estão instalados em grandes centros financeiros localizados nas metrópoles, onde esse dinheiro se transforma em capital e também busca outros rendimentos em vários tipos de circuitos financeiros, num processo de ainda maior concentração e captura que antes, era em parte, também realizado pelo sistema bancário e suas agências no interior.
Assim, os fundos de investimentos ocuparam um novo espaço e passaram a lubrificar o capitalismo contemporâneo, que foi se tornando hegemonicamente financeiro. Através das grandes corporações organizadas em redes e controladas por gestores e dirigentes destes fundos financeiros.
Tudo isso tem ampliado enormemente a concentração de capital com o desenvolvimento do processo de oligopolização de vários setores, que capturam cada vez mais rendas locais, contribuindo assim para o aumento da precarização do trabalho, que acaba sendo imposto aos gestores intermediários dos negócios, de forma a bancar os rendimentos de quem tem os dinheiros e buscam mais rendimentos.
O caso da Raia Dogasil e deste tipo de comércio de medicamentos, evidentemente não é o único controlado pelos fundos financeiros, que assim vão substituindo em parte, o antigo papel de intermediação financeira dos bancos. Em aliança com o mercado de capitais, eles vão avançando para várias atividades econômicas e diferentes regiões do país, em busca de maiores lucros e acumulação.
No caso do Norte Fluminense pode-se listar outras atividades econômicas controladas pelos fundos financeiros: a rede Hortifruti que nasceu em Colatina, ES, para a venda de sacolões da pequena produção agrícola do interior capixaba, cresceu com lojas em outros estados e municípios e hoje, passou a ser controlada por um fundo financeiro suíço.
A rede de shopping Boulevard que é dono de todas as suas lojas, também é controlado por fundos financeiros. A holding Prumo Logística que é dona do Complexo portuário do Açu é controlada pelo fundo financeiro americano EIG Global Energy Partners. A Autopista Fluminense, concessionária da BR-101 na região (RJ-ES), que foi constituída por empresas espanholas, hoje é controlada pelo fundo financeiro canadense Brookfield, que também comprou da Petrobras, a malha de gasodutos instalada na região Sudeste com cerca 2,5 mil quilômetros de extensão.
Trata-se de uma parte de um fenômeno em curso que ajuda a explicar o presente. As pesquisas empíricas que envolvem o campo de investigação interdisciplinar que chamamos de “Espaço e Economia” exigem observações, análises e interpretações ainda mais aprofundadas, mas também demanda um debate mais amplo e em várias dimensões. Razão da insistência com o assunto que suscitou este novo texto.