terça-feira, junho 30, 2020

Capitalismo de plataformas e Appficação no Brasil e no mundo expõem a superexploração do trabalho

Em 2019, as 5 Big Techs americanas: Google; Apple; FB; Amazon e Microsoft, detinham 20% da riqueza das 500 maiores empresas dos EUA.[1]

Agora em 2020, com o transcurso da Pandemia e o uso ampliado das plataformas digitais para várias outras funções, incluindo a expansão vertiginosa do home-office (trabalho de casa), onde cada vez mais trabalhadores utilizam esses recursos, certamente essa concentração de riquezas se ampliou ainda mais e possui potencialidade para avançar.

Do lado dos donos dos negócios das plataformas digitais tem-se uma "Appficação" que vem ganhando amplitude, com o uso das lojas de aplicativos da Apple Store e a Google Store. Elas servem de instrumentos de controle sobre quais aplicativos e serviços que podem ser ou não disponibilizados.

Trata-se da GIG Economy, que instituiu e manipula a “Economia dos Bicos”. “Economia sob Demanda”. “Economia freelancer”. Um mundo onde estão os trabalhadores temporários, sem vínculos e com tarefas pontuais que exigem plantão de espera para o trabalho. 

É um estágio de um esgarçamento de ganhos sobre o trabalho humano, comparável à servidão, onde o trabalhador tem que esperar a sua vez para ser explorado. Ricardo Antunes trata do assunto em seu último livro O privilégio da servidão. [2]

A isso, Nich Srnicek passou a chamar de "capitalismo de plataformas" que se junta à exploração da captura de dados que a digitalização da vida social passou a oferecer a quem os controla.

Um processo que segue levando a uma espécie de "hipercapitalismo" que salta de uma fase de espiral de acumulação infindável (Harvey, 2018) para uma forma de capital helicoidal implosiva. [3] [4]


Capitalismo de plataformas no Brasil: aumento da concentração e lucros
Além das 5 Big Techs americanas que aumentam a cada dia os seus lucros, o Brasil possui suas plataformas digitais que operam seus negócios neste ambiente, onde também se observa uma enorme e crescente aumento dos lucros, neste auge da pandemia no país.

Estadão (capa) 28 jun. 2020.
Neste domingo (28 jun. 2020), em matéria de capa (imagem ao lado), o Estadão (link aqui) traz dados sobre valorização de empresas-plataformas similares neste auge da pandemia no Brasil. [5]

A corporação B2W (dona das plataformas Submarino e Shoptime) neste momento tem seu valor de mercado aumentado em 87% e a rede varejista Magazine Luíza (Magalu) suas ações aumentaram em 55%. 

As plataformas digitais que operam no Brasil são uma espécie de sub-plataformas destas outras que são a raiz desta forma de intermediação. Digamos que uma camada abaixo, controlada pela tecnologia-raiz das Big Techs que pode ser observada como uma espécie de hierarquia de ganhos e de controles. Acumulação central em oligopólios que se estendem aos ganhos também centralizados na periferia do sistema.

Isso é o capitalismo de plataformas se desenvolvendo também no Brasil, quando também se vê observa o processo de startupização, onde os fundos financeiros possuem participações e escolhem os projetos que receberão seus aportes, num processo de seleção, classificação e filtragem (de investidor anjo, a classe A, B, C) para no final controlar aquelas ideias que conseguirem se viabilizar tecnicamente diante do mercado. 

As plataformas digitais com suas redes e seus suportes técnico-informacionais fazem na prática, a intermediação de produtos e serviços diretamente entre produtores e consumidores, substituindo o comércio físico tradicional, num processo de concentração de lucros, que aparece imediatamente no valor de mercado (ações) destas corporações.

E termos de ampliação do uso das plataformas digitais no Brasil, é ainda oportuno observar o que está em curso no setor financeiro, através dos bancos digitais e as fintechs e do uso ampliado dos aplicativos (Appficação). Já se percebe um processo de fusões e aquisições (F&A) por parte dos grandes bancos. No setor de negócios imobiliário, a plataforma OLX comprou a ZAP. Outras startups novas que têm sucesso de mercado são, rapidamente, compradas pelas grandes corporações.

Também no Brasil, com raras exceções a Appficação está vinculada à superexploração do trabalho. Os milhões de trabalhadores de aplicativos não possuem direitos, previdência, seguro contra acidentes de trabalho, horas extras, etc. que disfarçadas do discurso de empreendedores, levam os entregadores das plataformas de aplicativos como (IFood, Rapi e Uber Eats) a terem que trabalhar 12 horas, incluindo fins de semana, para na média ficarem com R$ 963. Por isso, esses entregadores, corajosamente, começaram a se organizar e programaram para amanhã (01/07/2020), uma greve que merece ser apoiada.

Isso é o hipercapitalismo (real) que funciona como uma espiral de acumulação retirando e sugando de forma circular e exponencial, a renda do trabalho para entregar aos intermediários, donos destas plataformas.

Vale ainda registrar que a Appficação é controlada por duas das cinco Big Techs, através de suas lojas virtuais que disponibilizam os aplicativos: Apple Store e Google Play (Play Store). Na prática, elas atuam como espinha dorsal (back bone) da Appficação e do processo de plataformização no mundo. Os aplicativos que não passarem por elas não serão acessadas pelo grande público, reforçando o caráter oligopólico do controle dos meios, ou o controle das plataformas que fazem a intermediação entre os produtores e consumidores de produtos e/ou serviços.


Aprofundando a leitura sobre o fenômeno da plataformização dos negócios
A observação dos fatos aqui descritos já permitem demonstrar que é preciso investigar melhor e mais profundamente, o efeito de tudo isso na etapa de circulação entre a produção e o consumo. Como eu já disse, as plataformas digitais atuam como infraestruturas intermediárias entre diferentes grupos: usuários (consumidores), anunciantes, motoristas, técnicos e outros profissionais. 

Dito de outra forma, as plataformas atuam entre a produção social no território e os donos do capital de riscos que fazem a intermediação de produtos e serviços. Para isso, além de ampliar o controle sobre a produção e sua relação direta com o consumo, também tendem a hierarquizar a relação com a fração do capital que controlam a IE de transportes, que eles gostam de chamar de logística. 

É neste contexto que algumas plataformas digitais já estão vinculadas (diretamente ou indiretamente pelos fundos financeiros que controlam essas mesmas corporações) às suas redes de transportes, dominando assim a tríade da produção ao consumo, porque passam a conhecer (pelos algoritmos e IA) todo o processo e seus agentes. É neste contexto que os Correios estão sendo engolidos e em breve deverá ser também entregue a estes players. 

Um levantamento do Valor (24 jun. 2020- imagem abaixo), sobre o aumento dos custos da logística por cadeia produtiva (frações do capital) no Brasil entre 2018 e 2020, mostra como essa fração do capital (que atua na logística) está ficando com uma parcela maior (que antes) da renda gerada pela produção material. Mesmo que se saiba que este aumento dos fretes se vincule ainda a dois fatos. Ao aumento dos preços dos combustíveis e ao aumento da demanda por transportes pelas razões que já conhecemos. 

Custo da logística por cadeias produtivas no Brasil 2018-2010. Valor, 24-06-20- P.  F1. Caderno Especial Logística. 


















Enfim, como é possível perceber, há necessidade de uma análise mais ampla dos circuitos econômicos (visão de totalidade), para melhor se compreender os efeitos do capitalismo de plataformas. E assim, ir para além da questão do incremento do uso das tecnologias digitais, Big Data (BD), Inteligência Artificial (IA), etc.

Assim, como a inovação tecnológica junto do processo de financeirização são os suportes desta mudança de patamar no Modo de Produção Capitalista (MPC) que vai para além da Reestruturação Produtiva que vivemos na década de 90 com o Toytotismo.

A plataformização permite a  articulação sobre o que está antes e depois da produção, tendo caminhado ainda mais fortemente para onde está a demanda (consumo), que hoje é mais claramente identificada e geolocalizada, através do capitalismo de captura de dados (Big Data) e processada através da Inteligência Artificial (IA). Estes alimentarão diretamente os esquemas de marketing direto e também produção, sem sequer necessitar da autorização das pessoas que se expõem nas redes e assim são inteiramente percebidas pelos seus hábitos de consumo e de vida.

Diante deste quadro, é necessário ainda investigar a junção destas ferramentas desde a produção automatizada, a robotização, a IoT (internet das coisas), os algoritmos capturando dados e demandas de consumo e tipos de vida nas redes sociais, o home-office e a precarização do trabalho, o Big Data que reúne esse arsenal de informações, a Inteligência Artificial (AI) que ordena esses dados conforme interesses de seus controladores, o uso da plataformas para intermediação dos negócios (plataformização dos negócios), tudo isso como um processo em desenvolvimento, com parte, já implantado.

A observação preliminar desse fenômeno reforça a hipótese de que está em curso uma transformação mais radical do MPC (já comentado acima) que nos remete a um novo patamar de acumulação no capitalismo contemporâneo, onde os ganhos, mesmo que capturado em parte pela hegemonia financeira (captura cada vez uma fração maior da renda), continua tendo o território, onde se dá a produção social e a geração de riqueza, como base de todo o processo. 

Reforçando ainda mais a leitura de que estamos vivendo uma nova reestruturação do capitalismo e, possivelmente, mais uma rodada ainda mais radical do neoliberalismo (como gosta de lembrar o professor Carlos Brandão). Há que se reforçar a luta contra-hegemônica para evitar essa realidade.

Por fim, reforço a interpretação de que o campo de investigação Espaço-Economia tem enorme contribuição para o aprofundamento desses estudos que vou dividindo com outros interessados no debate sobre o tema.


Referências:
[1] Matéria do Poder 360, em 19 jan. 2020. Maiores empresas de tecnologia alcançam US$ 5 trilhões em valor de mercado. Disponível em: https://www.poder360.com.br/tecnologia/maiores-empresas-de-tecnologia-alcancam-us-5-trilhoes-em-valor-de-mercado/
Procurar matéria sobre 5 big techs

[2] ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão - O novo proletariado de serviços na era digital. 2ª edição revista e ampliada. BoiTempo. São Paulo. 2020.

[3] Harvey, 2018. A loucura da Razão Econômica. BoiTempo. São Paulo 2018.

[4] PESSANHA. A 'indústria' dos undos financeiros: Potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo. Consequência. 2019.

[5] Matéria do Estadão em 28 de junho de 2020. "Efeito do Amazon´ faz grupo de empresas valorizar na crise - Companhias de e-commerce têm maior alta na bolsa; dólar alavanca exportadoras. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/06/28/efeito-amazon-faz-grupo-de-empresas-lucrar-apesar-da-crise.htm

[6] Valor. Caderno Especial. Logística. 24 de junho de 2020. P.F1.

[7] Postagens anteriores (em ordem cronológica) do blog sobre o tema da plataformização, home office e capitalismo de plataformas:

a)      Postagem em 14 de fevereiro de 2020
Capitalismo de plataformas e a falsa economia do compartilhamento: 99 e Uber somam hoje mais de 1 milhão de motoristas ativos no Brasil enriquecendo seus investidores globais
Link: https://www.robertomoraes.com.br/2020/02/capitalismo-de-plataformas-e-falsa.html

b) Postagem em 15 de março de 2020
Se as plataformas digitais são neutras (“e do bem”), por que elas ajudam tão pouco em situações de crise como na pandemia do coronavírus?
 Link: https://www.robertomoraes.com.br/2020/03/se-as-plataformas-digitais-sao-neutras.html

c)      Postagem em 2 de abril de 2020:
O que os primeiros dias de intensificação do trabalho em casa (home office) já permite enxergar
Link: https://www.robertomoraes.com.br/2020/04/o-que-os-primeiros-dias-de.html

d)      Postagem 13 de maio de 2020:
A plataformização digital da vida pós-Covid ampliará a vampirização da renda do trabalho num processo de retroalimentação do sistema
Link: https://www.robertomoraes.com.br/2020/05/a-plataformizacao-digital-da-vida-pos.html

e)      Postagem em 3 de junho de 2020:
O aumento da digitalização altera o modo de produção e nos remete à fase de um capitalismo financeiro e de plataformas
Link: https://www.robertomoraes.com.br/2020/06/o-aumento-da-digitalizacao-altera-o.html

f)      Postagem em 10 de junho de 2020:
O fenômeno da intensificação da plataformização dos negócios durante e pós-pandemia
Link: https://www.robertomoraes.com.br/2020/06/o-fenomeno-da-intensificacao-da.html

sexta-feira, junho 26, 2020

IBGE define Macaé, Rio das Ostras e Cabo Frio como capitais regionais. Pesquisador William Passos define como região da Bacia de Campos em processo de metropolização incipiente

O pesquisador e doutorando William Campos (IPPUR/UFRJ) publicou, no perfil que criou no Facebook, chamado Observatório das Metropolizações, um breve texto sobre a relação entre o estudo do IBGE divulgado ontem e sua pesquisa de doutoramento que o blog disponibiliza abaixo.

Compreendo que análises nesta linha ajudam a interpretar melhor o ERJ de forma integrada e permitirá avançar em outras investigações e debates.

É certo que o circuito econômico do petróleo é um importante fator de contribuição para esse destaque dos polos desta região para além de Campos dos Goytacazes e, apesar da crise do setor petróleo e dos royalties, mostram uma articulação deste conjunto de municípios com a região metropolitana pelo litoral. Vale conferir.


Macaé, Rio das Ostras e Cabo Frio tornam-se capitais regionais

A atualização da hierarquia urbana brasileira, divulgada ontem pelo IBGE no estudo Regiões de Influência das Cidades (REGIC) 2018, eleva as concentrações urbanas de Macaé, Rio das Ostras e Cabo Frio a condição de Capitais Regionais nível C, passando a acompanhar Campos dos Goytacazes.

Montagem de imagens Observatório das Metropolizações. William Campos.
Ao todo, os Arranjos Populacionais encabeçados pelos quatro municípios, que correspondem a área expandida de suas concentrações populacionais com intensos deslocamentos para trabalho e estudo, somam, atualmente, cerca de 1,5 milhão de habitantes, o que consolida o caráter de metropolização incipiente da regionalidade da Bacia de Campos,  hipótese que venho defendendo na minha Pesquisa de Tese de Doutorado desenvolvida no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ), sob a orientação do professor Alberto de Oliveira e com apoio da FAPERJ.

A partir de agora, o estado do Rio de Janeiro passa a ter cinco Capitais Regionais, organizadas sob a forma de Arranjos Populacionais (APs). Além de Campos dos Goytacazes/RJ e Volta Redonda - Barra Mansa/RJ, tornaram-se Capitais Regionais nível C os APs de Cabo Frio/RJ, Macaé - Rio das Ostras/RJ e Petrópolis/RJ.


terça-feira, junho 23, 2020

O Brasil diante de mais uma encruzilhada

Por que o Congresso espera o protagonismo do STF para evitar que o autoritarismo em grau maior do BolsoMilitarista seja contido? Embora, o Legislativo enquanto poder seja múltiplo, uma das respostas possíveis é a de que Rodrigo Maia teme repetir Eduardo Cunha e acabar tragado pelo vagalhão do conflito social que aparece no horizonte para o último trimestre deste ano.

A elite financeira que se beneficia do BolsoMilitarismo também (e ainda) não quer pagar o preço político desse decisão que ajudou a apear essa turma ao poder político e ao controle do Brasil. Ainda esperam retirar mais algumas vantagens, redução de direitos civis, salários para tornar o trabalho no país ainda mais baratinho. Querem ainda o acesso ainda a mais e mais entregas vis dos ativos estatais com as privatizações, feita a rodo e sem licitações e/ou leilões. Também não querem os generais (militares) com soldos dobrados tenham ressentimentos futuros.

Enquanto isso o BolsoMilitarismo segue e se ajusta aos esquemas e práticas milicianas. A mídia comercial, dividida, em parte revê o seu papel se aproxima da nova maioria, mostrando a realidade do desgoverno miliciano, enquanto espera o sinal do capital e do Congresso para saber a direção a tomar.

Outra parte da mídia também neoliberal, mesmo sangrando Bolsonaro, trabalha para evitar o impeachment, contendo o capitão-cavalão e filhos, enquanto Guedes termina o trabalho a favor da banca. No limite, a mídia corporativa aceita qualquer direção imposta pela elite financeira, desde que não tenha relação com o PT e a esquerda e começam até a ver com bons olhos, um mingau de centro, que misture e lustre a saída com verniz dos dois lados.

Assim, Bolsonaro vai ficando no Planalto como um morto-vivo, à frente do desgoverno que nada faz, para além de tentar evitar sua saída, mesmo que sob abraço de afogado ao centrão, diante de uma nação que tolera seguir sem ministros da Saúde e Educação e sofre a agonia diária da pandemia que avança para superar uma centena de milhares de mortes pela Covid.

Como vítimas é o lado de onde nos encontramos. Somos o contra-poder que luta para sobreviver, enquanto pensa na reorganização das instituições e do país. Do lado de cá as pessoas se misturam a diferentes compreensões. O caminho de uma frente ampla com o risco de ser engolfado por esse desejo do centro e de conservar o neoliberalismo (com verniz social), ou, de uma frente de esquerda que recupere o desejo de reconstrução da nação para a maioria dos brasileiros.

No horizonte, não há sinais de que uma saída, como encontrada em 1990, passe por um novo acordo político, e sim, por uma reafirmação de identidades e de um conjuntos de princípios em favor da maioria para promover inclusão social, desfazer desigualdades e estabelecer uma nação para os que mais precisam dela. O Brasil e os brasileiros superarão este martírio ao reencontrar o caminho que supere a atual encruzilhada.

sexta-feira, junho 19, 2020

AIE: "a demanda de petróleo em 2021 continuará inferior a de 2019"

AIE reafirma previsão de queda da demanda de petróleo também em 2021.

Para este ano (2020) a AIE faz previsão que a redução do consumo de petróleo no mundo seja superior a 8%, caindo para menos de 92 milhões de barris por dia (mibpd), quando em 2019 chegou a se aproximar dos 100 mibpd.

Para 2021, a previsão é que a demanda fique em 97,4 mibpd, 2,4 milhões a menos do que 2019, embora, superior em 5,7 mibpd ao que deve ser consumido agora em 2020.

Um dos principais fatores, além da redução dos combustíveis para o modal rodoviário é a violentíssima queda do consumo de combustível (querosene) para aviões.

Muita gente não sabe, ou lembra, mas os aviões intercontinentais consomem volumes colossais de combustíveis. Alguns brincam até que esses grandes aviões se tratam de um postos/tanques de combustíveis que também transportam pessoas e coisas. 

Essa redução da demanda gera sobre-ofertas tem efeitos imediatos no preço do barril e nas consequências para as nações produtoras. ´É o que eu chamo de fases do ciclo petro-econômico. Aliás, como já temos visto desde março, em especial.

terça-feira, junho 16, 2020

As refinarias de menor porte como atividade do circuito econômico do petróleo na lógica do capital controlado pelos fundos financeiros: o caso da Oil Group no Porto do Açu

O anúncio de mais um projeto empresarial junto ao Porto do Açu, gerou como de costume, um conjunto de perguntas que me foram endereçadas por diferentes interlocutores que mantenho através das redes sociais.

Refiro-me ao projeto de mini-refinaria anunciado há poucos dias pelo Oil Group e sua subsidiária no Brasil para instalação numa área do Porto do Açu, controlado pela Prumo Logística Global, holding do fundo financeiro americano EIG Energy Partners.

Mini-refinaria é uma unidade de beneficiamento de petróleo de pequeno porte, ou menor capacidade de processamento que ocupa menor área para suas instalações que são projetadas com alto grau de automação e baixa complexidade exigindo menor número de operadores. 

Neste projeto do Açu, seria uma unidade industrial que exigiria apenas 80 operadores, numa unidade modular que está sendo projetada para uma capacidade de processar 20 mil com possibilidades de ser expandida para 50 mil barris por dia, para a produção de diesel e gasolina. A empresa Oil Group que desenvolve este projeto com investimentos iniciais previstos em US$ 300 milhões, espera captar dinheiro também para outras cinco unidades, a serem montadas ao longo de uma década até 2030.

Neste contexto, a pergunta que naturalmente surge é? Trata-se de mais um anúncio real, um power-point, ou há possibilidades do projeto seguir em frente? Para responder a essa pergunta é necessário fazer um conjunto de considerações.

No mundo dos fundos financeiros espalham-se projetos vinculados à produção material. O objetivo é atrair capital para suas frações com promessas de maiores rentabilidades que significam, em última instância, maior captura de mais valia e maior espoliação. Assim, na atualidade os projetos concorrem entre si na fração e entre frações no que chamamos de uma disputa intercapitalista. 

Para melhor compreender esses projetos (fenômenos) foi fundamental interpretar as estratégias políticas, econômicas e espaciais sobre os movimentos no capitalismo contemporâneo na sua estrutura, as articulações políticas e entre as suas frações (setores econômicos) e os espaços (as regiões).

A partir desse olhar para a superestrutura tem sido possível observar com maior apuro e detalhes, os fatos divulgados, assim como agentes envolvidos nos vários projetos. Eles guardam muita relação e similaridade entre si. Desta forma se pode analisar melhor cada um dos projetos. Neste caso específico da mini-refinaria, mesmo que diante ainda de informações e dados ainda iniciais, algumas questões e hipóteses já são possíveis de serem observadas, tentando separar o que seriam intenções e  marketing e o que pode vir a ser real.


Seis considerações sobre o projeto da mini-refinaria no atual contexto do circuito econômico do petróleo
Desta forma, observemos os projetos das mini-refinarias da empresa Oil Group. Para isso, eu listarei seis considerações iniciais mais relevantes, para se compreender o contexto destes projetos vinculados ao circuito econômico do petróleo. 

Em boa parte, eles são projetos que dependem da captação de financiamento para a sua viabilização, conforme promessas de lucros e rendimentos. Depois farei alguns comentários sobre o empreendedor idealizador deste projeto, a empresa Oil Group:

1) Há atualmente boa liquidez de capital no mundo. Sobra dinheiro em fundos financeiros que vão se movimentando saindo das frações que entraram em colapso com as crises sucessivas e cumulativas (como camadas da cebola) e também oferta de ativos desvalorizados e novos projetos que, a partir de agora, serão olhados com o viés pós-pandemia, já de olho numa nova rodada do neoliberalismo.

2) Os projetos de refinarias de pequeno porte já funcionam (e bem) no mundo para atender economias regionais e são muito rentáveis quando próximo do insumo (petróleo). Com a lógica neoliberal, o funcionamento desse esquema no Brasil dependia do desmanche feito pela atual diretoria da Petrobras e ANP na parte de distribuição (já feita) e de refino (em curso). Ou seja, a desintegração da empresa nacional. Feito isso, esse projeto, com essas características, tendem a produzir mais lucros na proporção da escala e dos riscos.

3) É mais interessante fazer seis mini-refinarias (com capacidade de 20 mil barris por dia (bpd), que já nem seria mini) do que comprar ou montar uma de porte maior, como as que estão sendo vendidas pela Petrobras. As refinarias de menor porte possuem custos fixos baixos. A operação 80/100 empregos, apenas. Os ganhos com economia de logística para receber insumos e distribuir os derivados é colossal, em relação ao enorme aparato de distribuição por áreas maiores. Além da refinaria ser sempre mais barata próxima ao posto do que ao poço. Quando se junta as duas coisas é um colosso em termos de rentabilidade.

Desenho esquemático de uma mini-refinaria
4) Os empreendedores destas mini-refinarias vendem ainda a ideia de que possuem um Capex baixo (pequena demanda de investimentos em equipamento e instalações para seu funcionamento). Partes das instalações industriais já chegam fabricadas. São pré-montadas e se estruturam por módulos que exigem menor tempo de implantação que as grandes refinarias que chegam a levar 6 anos para serem montadas. Tende a ter um menor impacto ambiental e mobilizar menos áreas. Baixos custos de operação e manutenção. Com uma capacidade de processamento de 20 mil bpd é possível estimar uma movimentação anual de cerca de 1,5 milhão de toneladas de petróleo por ano, exigindo uma área de cerca de 250 mil a 300 mil m² (ou 30 hectares) que seria equivalente a menos de 0,5%, de toda a área disponível no DISJB, junto ao Porto do Açu.

5) Esses projetos vem sendo desenhados para o Brasil desde o final da 1ª década, lá por volta de 2010, no auge do boom do ciclo petro-econômmico. O Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, tinha um projeto similar que pensava em iniciar com parte do dinheiro que havia desviado da empresa e em sociedade com aqueles em que atuava em conluio. Outros grupos estão desenvolvendo projetos similares de mini-refinarias no país de olho em transformações decorrentes de uma nova lógica de distribuição de combustíveis no Brasil, o sexto maior consumidor do mundo.

6) Depois da crise de 2015/2016, dos baixos preços, a discussão desses projetos voltaram ao cenário nacional. No Nordeste, a empresa Noxis Energy tem projeto de uma mini-refinaria, já licenciado no litoral de Sergipe, onde o estado liberou área para a sua implantação. É um projeto de uma pequena refinaria com capacidade para processar entre 25 mil e 35 mil barris por dia de petróleo. O mesmo grupo tem ainda projeto para outras mini-refinarias no Espírito Santo e Amapá. A Oil Group, além do projeto do Açu e no litoral capixaba tem projetos no Nordeste e Centro-Oeste, onde há demanda e se importa combustíveis.  A ideia é sempre de fornecer e atender um mercado regional.  A questão é que se trata também de um projeto que depois de montado e licenciado é que se vai atrás da captação dinheiro, quase sempre junto aos fundos financeiros e/ou em articulação com os bancos. Os fundos possuem analistas financeiros que investigam os vários projetos para escolher os mais rentáveis e de menor risco, o que inclui as várias garantias oferecidas, entre as quais estão as vantagens comparativas e isenções de impostos, áreas obtidas e as chamadas condições gerais de produção que vão deste estradas, acesso à energia elétrica e telecomunicações, até à formação de mão de obra e outras, obtidas a partir das articulações com o poder político que em troca ganha o discurso do emprego e do “progresso”.


Sobre a empresa Oil Group que apresenta a ideia (projeto ainda está em execução) no Açu
A Oil Group é uma empresa de pequeno porte criada em 2013, mas que começou a atuar de fato, só em 2014, com profissionais que conhecem o setor de petróleo onde pretendem atuar, em especial nos segmentos de up-stream (exploração e produção) e down-stream (beneficiamento) e serviços. 

A ideia geral e o planejamento inicial da Oil Group foi a de atuar em diferentes segmentos da cadeia de valor de petróleo e gás. Hoje a Oil Group possui cerca de 20/30 funcionários que atuam num escritório no Rio e outro no Texas, EUA. Tem pretensões de atuar no mercado da América do Sul e Caribe, incluindo além do Brasil, na Colômbia, Equador, Peru e Uruguai. 

No Brasil, antes deste projetos de pequenas refinarias, a Oil Group, através da SeaSeep, passou a atuar no setor de E&P no Brasil ao adquirir três blocos terrestres na bacia do Recôncavo Baiano (em áreas adjacente aos ativos já existentes), ocasião em que passou a ser credenciada pela ANP para as ofertas permanentes de exploração de petróleo em terra da agência.


O protocolo de intenções entre a Prumo Logísitca e Oil Group para atuar no Porto do Açu
Como se pode depreender do que foi até aqui exposto, há um tendência de projeto de mini-refinarias ganharem potencial com o desmonte gradual do parque de refino da Petrobras e com a privatização já realizada da BR-Distribuidora.

O momento de crise e redução de demanda gerada pela crise econômica e pela pandemia tende a ser ultrapassada num horizonte redução até 2024 prazo projetado em que o projeto poderia ser concluído no Porto do Açu.

A Oil Group diz já ter contrato com a empresa Biodinâmica para elaborar o EIA-Rima e cuidar do licenciamento ambiental junto ao Estado (SEA/Ceca) e a duas construtoras que poderiam atuar na construção e montagem, a Intech Entrepose e Tridimensional Engenharia. Porém, para isso se realizar será necessário ainda o capital. O financiamento.

Eu tenho insistido nas razões dos motivos porque tantos projetos aparecem e somem sem se viabilizarem. Para compreendê-los é preciso entender essa lógica do capital vinculado aos fundo financeiros que controlam os ativos (projetos) e corporações. 

Muitas vezes, os donos destes dinheiros estimulam até projetos concorrenciais sabendo que apenas um deles se viabilizará, mas a disputa entre os mesmos, para acesso ao capital, criam as condições para que seus idealizadores possam negociar com o poder político (estado) buscando mais vantagens que garanta em última instância, maior rentabilidade e lucros aos acionistas.

O projeto da mini- refinaria ainda está sendo concluído e terá que passar por licenciamento ambiental, embora o Oil Group já tenha anunciado acordo com o Porto do Açu e além da empresa para o licenciamento e as construtoras, anunciou também que o fornecimento de insumo (óleo) para a mini-refinaria viria da Shell Trading. A previsão é de que as obras comecem no último trimestre do ano que vem (2021) e a operação se inicie entre 2023/2024 e prevê que durante as obras pode ter entre 500 e 1000 trabalhadores atuando na construção civil e nas montagens industriais.


A lógica financeira dos fundos determinam a chegada de novos empreendimentos é a mesma que constituiu o próprio Porto do Açu
Enfim, este artigo tem a função de contribuir para que se tenha uma visão melhor, mais analítica e crítica sobre as matérias e marketings que acompanham as notícias sobre os projetos anunciados para a região. Para isso é preciso, sempre reunir e alinhavar algumas informações soltas e dispersas. 

Ou seja, investigar melhor este circuito econômico com características globais que é o setor de petróleo e sua relação com os complexos portuários-industriais como o do Porto do Açu.

Esse tipo de método de análise que os meus amigos pesquisadores chamarão de uma investigação no campo espaço-economia, busca identificar a forma como o capital se movimenta em busca de sua reprodução ampliada no território, sob a forma que os economistas chamam de capital-fixo, no caso através de uma mini-refinaria.

Esse tipo de análise facilita a interpretação sobre as estratégias entre “fixos e fluxos” utilizadas pelos donos dos dinheiros no capitalismo contemporâneo, permitindo assim, tornar mais compreensível a análise sobre tudo aquilo que se anuncia nos dias atuais, em termos de novos empreendimentos na região.

Como já foi descrito no artigo publicado abaixo sobre a sua gênese e o processo-histórico do Porto do Açu (veja aqui), o mesmo de trata de um enclave econômico com pouca relação com a região, mesmo se apropriando de enorme área do litoral do Norte Fluminense. [1]

O projeto da mini-refinaria da Oil Group, mesmo que se viabilize, a grosso modo, ele irá na mesma linha do caso da usina termelétrica da GNA, com poucos empregos na fase de operação, embora, com uma maior oferta de postos de trabalho na fase de construção e montagem.

Assim, o capital produz o território e a região para os seus interesses. Assim, quando necessário se articulam com o poder político (Estado nas suas três esferas) para obter as licenças, os subsídios e isenções tributárias que garantirão melhores margens de lucros.

Os empreendimentos e as corporações fechadas e isoladas em suas cercas e portarias, exercem o controle sobre as instalações que produzem os lucros e os rendimentos que alimentarão os donos dos dinheiros que são os gestores dos fundos financeiros.

Essa mesma lógica foi a que originou o complexo logístico-portuário do Açu e segue propiciando o seu paulatino adensamento, sem que mudanças significativas tenham sido promovidas a favor da população que habita a região do seu entorno.


Referência:
[1] Postagem no blog em 13 de junho de 2020. Revendo alguns detalhes da gênese e do processo histórico-político da implantação do Porto do Açu. Disponível em: https://www.robertomoraes.com.br/2020/06/revendo-alguns-detalhes-da-genese-e-do.html

sábado, junho 13, 2020

Revendo alguns detalhes da gênese e do processo histórico-político da implantação do Porto do Açu

A quarentena deixa algum tempo livre para se mexer nos arquivos. E como arquivo bom é arquivo exposto, vamos tirar a poeira e recontar algumas passagens (fragmentos mas fazendo os vínculos) que penso que ficaram relativamente perdidas na memória regional sobre a gênese da instalação do Porto do Açu.

Hoje, atendendo a um amigo sobre informações a respeito do setor petróleo, porto, gestão pública e desenvolvimento regional, eu relembrei de algumas questões sobre a gênese do Porto do Açu, sobre o qual já escrevi bastante nesse blog, que está no ar há quase 16 anos.

Hoje, conversando com o amigo Wellington Abreu de SJB sobre petróleo e porto, relembrei de algumas questões sobre a gênese do Porto do Açu, sobre o qual já escrevi bastante nesse blog que está no ar há quase 16 anos.

Na conversa, eu relembrei de uma reportagem sobre a ideia de ter um porto no Açu. O jornal antigo eu recebi de uma pessoa que não sei quem foi, ela deixou na portaria do meu prédio guardado num envelope solicitando que me fosse entregue. Certamente, por alguém que acompanhava o blog e minhas publicações, mostravam o interesse no tema.

Por diferentes razões, eu não utilizei antes, nem no blog, nem artigos acadêmicos e nem no texto final de minha tese. Apenas, utilizei em apresentações e debates e mesas-redondas e seminário sobre o tema. Assim, como é muito comum ainda ser abordado por questões sobre o porto e sua relação com a região Norte Fluminense e o ERJ, eu resolvi expor essas reportagens.

Trata-se de matéria de capa e página inteira do extinto jornal A Cidade (Campos dos Goytacazes, RJ), da jornalista Joyce Trindade, em 14 de março de 1999. Abaixo as imagens da matéria. Para ver em tamanho maior clique sobre elas.

Naquela data, o terminal portuário ou o Porto Açu ainda era uma ideia vaga, embora alguns grupos já estudassem aquela área em frente ao mar e técnicos já fizessem inclusive pesquisas de batimetria naquele ponto do mar/praia.

Tudo que descrevo resumidamente abaixo, eu detalhei no meu texto de doutoramento (março de 2017) no PPFH-UERJ.


Foi só em 2000, que um estudo de viabilidade econômico-financeira foi feito pelo governo estadual. Na ocasião, o estudos faziam prospecção de que o mesmo poderia ter uma participação financeira da Petrobras e da Construtora Andrade Gutierres, além do Governo do ERJ, já na gestão Garotinho. Seria um terminal oceânico para apoio às atividades offshore. O projeto foi apresentado em setembro de 2000, no auditório da ACIC em Campos, pelo secretário Wagner Victer.

Como comentado na ocasião, o projeto não foi adiante porque a Petrobras, sobre o domínio de FHC e Philipe Reitschull estava ainda pensando na privatização da empresa e transformando a gerência da Bacia de Campos em várias Unidades de Negócio (UN).

Pois bem, entre 2003 e 2004, esse mesmo estudo de viabilidade econômico-financeiro foi alterado para servir de base à exportação de minério e ofertado à Vale do Rio Doce já privatizada. A Vale não sei interessou, por conta de um projeto que tinha em Anchieta, ES.

No final de 2004, esse mesmo projeto, no qual o governo estadual já tinha gasto quase R$ 1 milhão em consultorias e serviços foi entregue ao Eike Batista depois do assunto ter sido tratado numa reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico do ERJ.

Eike que já tinha adquirido uma mina no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, identificou a possibilidade de fazer no Açu, um projeto similar ao da Samarco, que foi instalado na década de 70, no município capixaba de Anchieta. Um mineroduto desde à mina ao litoral para exportar o minério para o sedente mercado chinês.

Veja abaixo a terceira imagem que é de uma matéria do Jornal do Commercio, do jornalista Bruno Villas Bôas, de 27 de outubro de 2005, p. B-5. (Para ver a matéria em tamanho maior clique sobre ela)

Com o desenho do projeto ganhando corpo e após o estudo de Viabilidade Técnico-Econômica, o empresário Eike Batista, decidiu realizar a compra de duas grandes fazendas, Saco Dantas e Caruara, em praticamente, única área extensa, contígua e “livre” do litoral fluminense para viabilizar os seus empreendimentos.

A partir daí o empresário fez algumas captações de dinheiro no Brasil e no exterior para começar a construção não mais apenas de um terminal portuário para exportação de minério de ferro, mas de um conjunto de outros negócios como geração de energia e adiante projetos vinculados à cadeia produtiva do petróleo, que significou a sua saída formal dos empreendimentos do entorno do Porto do Açu que passou ao fundo de investimentos americanos, EIG.

Só que antes, ao longo do processo de legalização das empresas e licenciamentos ambientais, Eike, ao ter a informação que a área da Fazenda Caruara tinha tido o seu uso proibido, para receber as termoelétricas (a carvão e à gás) e ser exigida que fosse nela implementado uma área de conservação ambiental como compensação pelos impactos (que depois passou a ser uma RPPN), o empresário saiu em busca de outras áreas para montagem de um distrito industrial (DISJB) para receber novas as empresas, seu estaleiro (OSX), etc. que iriam desde o litoral a uma área mais interior em direção a Campos.

Neste momento Eike e o governo do ERJ montaram um grave e criminoso, hoje conhecido esquema das desapropriações de terras dos pequenos agricultores, através da Codin. Desapropriações que ficaram com milhares de terrenos e terras de centenas de pequenos agricultores, com extensão total de mais de 70 km², além das outras adquiridas diretamente por Eike. Até hoje, nem 10% desse latifúndio, equivalente a quase ¼ de todo o município de SJB, é utilizado, enquanto muitos pequenos produtores, até hoje, estão sem receber, sem acesso às terras desapropriadas pelo Estado e entregue a uma empresa privada, que na ocasião era a LLX e, depois da derrocada de Eike passou a ser a Prumo Logística Global que controla o Porto do Açu e é controlada pelo fundo financeiro americano, EIG Energy Partners.

Por conta dos debates comunitários e do movimento de resistência dos agricultores desapropriados do Açu, um relatório foi elaborado e entregue à Comissão de Direitos Humanos da Alerj em 2017. Dele, consta um mapa foi elaborado pelo professor Eduardo Barcelos, na condição de membro do grupo de agrária da AGB (Associação de Geógrafos, seção Niterói-Rio). 

O mapa da esquerda apresenta os projetos do DISJB que foram amplamente divulgados entre 2008-2010. E o mapa da esquerda mostra, na área que tem verde de 62 km², a localização das terras que foram desapropriadas e que hoje estão abandonadas em sem nenhuma função. Tudo isso demonstra o que era previsto em termos de empreendimentos para o DISJB e o que efetivamente existe construído e implantado no Porto do Açu.

Por conta do fim do uso rural destas e outras terras de SJB, a produção agrícola em SJB caiu de cerca de 185 mil toneladas em 2009, para 30 mil toneladas em 2015, como uma redução de 84%. A área colhida caiu de 3.755 hectares para 1001 hectares, com uma redução de 73%. (Para ver a imagem do mapa em tamanho maior clique sobre ela).



Hoje, o Porto do Açu exporta minério e se transformou, parcialmente (mesmo sem o estaleiro), num porto de 5ª geração (MIDAs ou ZIP, porto-indústria) com projetos de geração de energia e empresas de apoio às atividades de exploração de petróleo offshore.

Na realidade, um enclave econômico (uma espécie de Condado Americano) com empreendimentos que, praticamente, não dialogam com o município de SJB e nem com a região, a não ser em ações pontuais. O porto quer apenas fluidez e usa o território para os seus interesses.

O restante já foi muito comentado por aqui. Assim, essas matérias ajudam a relembrar a gênese político-econômico do projeto que socialmente tem mais traumas que benefícios.

Se houver interesse, eu posso colocar nos comentários alguns dos links para artigos, a tese e alguns eventos de que participei que também trataram do tema, inclusive audiências públicas na Alerj.


Referências:
[1] Tese do autor defendida em mar. 2017, no PPFH-UERJ: “A relação transescalar e multidimensional “Petróleo-porto” como produtora de novas territorialidades”. Disponível no Banco de Teses do PPFH-UERJ: http://ppfh.com.br/tese/?arg=roberto+moraes+pessanha&tp=autor_a 

[2] Entrevista do blogueiro ao Instituto Humanitas Unisinos, Revista IHU On-line em 11 dez. 2015.
Infraestrutura logística portuária: O Estado cooptado pelo setor privado e a população à mercê do capital. Entrevista especial com Roberto Moraes Pessanha. FACHIN, Patricia e CHAVES, Leslie. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/550047-infraestrutura-logistica-portuaria-o-estado-cooptado-pelo-setor-privado-e-a-populacao-a-merce-do-capital-entrevista-especial-com-roberto-moraes-pessanha

[3] Artigo "O MIDAs numa conjuntura de crescimento do Brasil e crise econômica mundial: os portos transformados em complexos logísticos-industriais. Apresentado no 2º CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades, de 8 a 11 out. 2013 e publicado nos anais ISBN: 978-85-99703-74-8. Belo Horizonte, 2013. Autores: Roberto Moraes Pessanha - PESSANHA, R. M. et. ali. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/310107114/MIDAS-como-oportunidade-e-ameacas-para-os-impasses-da-logistica-numa-conjuntura-de-paradoxal-crescimento-do-Brasil-e-crise-economica-mundial-O-caso

[4] Postagem no blog em 23 out. 2017. Porto do Açu reforça-se cada vez mais como um enclave econômico. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/10/porto-do-acu-reforca-se-cada-vez-mais.html

[5] Postagem no blog em 10 de dezembro de 2017.
ISS das atividades portuárias: o caso de Santos e do Porto do Açu em SJB. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/12/iss-das-atividades-portuarias-o-caso-de.html

[6] Postagem no blog em 20 de abril de 2017.
A luta contra a desapropriação no Açu é Justa e vem desde 2009. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/04/a-luta-contra-desapropriacao-no-acu-e.html

[7] Postagem no blog em 8 de junho de 2017.
Agricultores do Açu conquistam em Audiência Pública, hoje na Alerj, forte apoio de deputados para suspender as desapropriações. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/06/agricultores-do-acu-conquistam-em.html

[8] Vídeo da Audiência Pública na Comissão de Direitos Humanos da Alerj sobre as desapropriações no Açu em 8 de junho de 2017: https://www.youtube.com/watch?v=XE8Csloh5zc

quarta-feira, junho 10, 2020

O fenômeno da intensificação da plataformização dos negócios durante e pós-pandemia

Tenho tratado com frequência, mas forma um tanto ainda pontual, deste tema que sigo investigando em busca de uma compreensão mais totalizante para esse fenômeno do capitalismo contemporâneo.

O objetivo é chamar a atenção para a questão que tem várias dimensões, mas também para ampliar a interlocução sobre o assunto, com parceiro(a)s quem também observam esse fenômeno com diferentes dimensões de análise.

A plataformização ou o capitalismo de plataformas, para efeito de descrição e também do desenvolvimento analítico, pode ser observado em diversas dimensões. 

Uma delas é a observação do fenômeno em sua superestrutura e sua relação com as seguidas e cumulativas reestruturações produtivas. Outra é a observação sobre o imbricamento desse fenômeno a que chamo de “plataformização” com a financeirização, as inovações tecnológicas (startups) e os interesses de todos os setores econômicos que envolve a produção material, os serviços e o comércio.

De forma magistral as tecnologias da informação através das redes, produziram meios extremamente potentes e eficazes de intermediação de interesses e demandas com quem as atende num mundo de intensa, progressiva (e eu diria com a pandemia explosiva) da digitalização da vida social.

O processo de plataformização dos negócios vai bem além da uberização e do uso de plataformas de intermediação como Amazon, Ifood, AirBnb, Google Store, Appe Store, Gmail, Youtube, Instagram, Facebook, Spotify, Zoom, Twitter, NetFlix, Rapi, Wazer, 99, QuintoAndar, Mercado Livre, Open banking, etc. A plataformização se trata, em síntese de uma nova forma de intermediação entre produção e serviços para atender as demandas e o consumo, no processo de acumulação ainda mais ampliada do capital.


A expansão do teletrabalho
Uma outra dimensão incrementada pelo capitalismo de plataformas que tenho abordado aqui e em outros textos (e que aqui vou apenas fazer alguns comentário iniciais) é sobre a repercussão sobre o trabalho sim. O teletrabalho com a ampliação do trabalho em casa (ou home office). Neste aspecto vale observar que esse processo de levar o trabalho para ser feito em casa, se dá para além do teletrabalho via internet.

A reestruturação produtiva com terceirizações e quarteirizações, já tinha mandado o trabalho de costureiras e outras profissões para as suas casas, transformando os seus lares em meios de produção. Um trabalho sem direitos e extremamente e cada vez mais precarizado, como mostra, brilhantemente, o filme “Estou me guardando para quando o carnaval chegar” de Marcelo Gomes.

O teletrabalho é o fenômeno iniciado ainda na última década do século passado que vive uma ampliação e diversificação exponencial. Um trabalho exercido remotamente, para atividades profissionais, que são especialmente (e não mais exclusivamente) aquelas consideradas atividades-meio, como aquelas de planejamento, vendas, contabilidade, call-center (SAC), marketing, seleção e treinamento de trabalhadores, etc.

Hoje, ainda mais que antes, as corporações estão se deliciando com essa modalidade de trabalho. Elas estão observando agora em detalhes, coo estão capturando ainda mais valor do trabalho humano.

As empresas estão calculando os extraordinários aumentos da produtividade dos trabalhadores que, distantes e inseguros, querem mostrar ainda mais resultados e assim, se mostrarem necessários no quadro de empregados da empresa, para os patrões. Aumentando também a bajulação fruto da dependência, num cenário, em que as demissões, não exigem mais o cara a cara.

As corporações ampliam os seus lucros com a redução de custos fixos (aluguel, condomínios, recepcionistas e serventes de limpeza, energia elétrica, telefonia, etc.), com a redução das estruturas hierárquicas (com revisões e enxugamento de organogramas), além de outros vários ganhos. As companhias já estão planejando novas e mais ágeis plataformas digitais (por gente da TI- os únicos novos contratados) que vão sendo organizadas e implantadas para melhorar os resultados dos seus negócios.

Ainda neste campo, vou apenas apontar uma outra questão que estou, inicialmente, chamando de uma nova etapa de “re-taylorização” do trabalho, com a volta do conceito sobre o “trabalho prescrito” e “trabalho real”.

As empresas estão avançando para repensar os seus reais processos de trabalho (seus protocolos). Qual trabalho seria realmente necessário diante desta nova realidade? O que seria supérfluo? Quais os novos procedimentos com a digitalização quase total do trabalho, em especial, de tudo que não é fabril que exigiria os equipamentos e as instalações industriais?

Os trabalhadores já percebem esse movimento e pensam em como se proteger do que está vindo pela frente. A porosidade do trabalho, o “trabalho morto” fica, quase que completamente, exposto diante desta nova realidade que surge com a digitalização dos processos de trabalho.


As consequências do avanço do Teletrabalho num cenário de recessão
Porém, vamos saltar para outra observação, sobre a nova realidade que se junta ao cenário econômico recessivo, que já se instala e vai se agravar durante e no pós pandemia.

Esse processo da plataformização vai alijando do mercado muitas pequenas empresas. Os negócios tende a fazer com que os grandes canibalizem os pequenas negócios, através de incorporações, fusões e aquisições. Tudo isso levando a uma maior concentração e oligopolização de vários setores econômicos de uma forma espantosa.

No mundo, tanto no centro do capitalismo quanto na periferia as consequências deste incremento da reestruturação produtiva é avassaladora. No caso do Brasil que já vive uma recessão há cinco anos, tudo isso significará um desemprego ainda maior. Inclusive de trabalhadores mais qualificados, que consequentemente, vem acompanhada da redução de médias salariais decorrentes da tal reforma trabalhista, quanto do aumento do exército de reserva de mão de obra, que atingem também e até as atividades superespecializadas. Além de remeter uma boa parte deste contingente de trabalhadores para a informalidade.

O resultado disso é que deveremos saltar de 12 milhões para 20 milhões, ou 25 milhões de desempregados até o final de 2021. Na economia informal não devemos nos surpreender que o número de trabalhadores saltem de 40 milhões para 50 milhões, ou 60 milhões de brasileiros.

É bom lembrar que isso é um processo que já está em curso e, aparentemente, busca um “novo normal” para mais um rodada do neoliberalismo que tende a levar um esgarçamento ainda mais grave do chamado tecido social, apenas com algumas diferenças sobre as consequências no centro ou na periferia do capitalismo contemporâneo.


Antes de fechar... um pouco de dados empíricos
Vale trazer mais alguns dados empíricos que mostram a velocidade e as áreas em que se tem o aumento da informalidade na economia do país, a partir do uso expandido da plataformização dos negócios no contexto da pandemia do Covid-19:

1) Nº de downloads de aplicativos para quem quer trabalhar como empregador de produtos (delivery) cresceu na média, em 200%, apenas nos meses de março e abril, segundo a empresa de pesquisa de dados e marketing, RankMyAPP.

2) Segundo a mesma fonte, em abril aconteceu a maior adesão dos últimos seis meses, com aplicativos de delivery instalados em mais de 22 milhões de celulares. Vale lembrar que esses downloads são para quem usa o App para o trabalho e não para o consumo. Porque, no meio do mês de março deste ano, portanto, ainda no início da pandemia, o número total de apps instalados para consumo, já representava mais de 60% do total de vezes que esses aplicativos de entrega, tinham sido baixados, durante todo o ano passado.

3) Um outro exemplo da Appficação dos serviços pode ser visto com o caso da startup colombiana de aplicativos Picap. Essa empresa entrou no Brasil há um ano, com aplicativos de transporte de passageiros por moto e hoje já possui 20 mil motociclistas cadastrados. A Colômbia já é sede de outra empresa (startup) de delivery bem conhecida que é a Rappi. Assim, vale observar que esse serviço de transporte dos conhecidos motoboys, que há muito eram feitos entre comunidades de baixa renda nas regiões metropolitanas, agora, esse trabalho de transporte tem um pedaço de sua renda capturado, por um aplicativo que atua como vampiro, aspirando renda de um trabalho local e retrata as consequências da Appficação do trabalho.

4) Um total de 2,5 quintilhões de dados são gerados todos os dias, incluindo milhões de e-mails, tuites, horas de Netflix e pesquisas no Google. Nesta dimensão é ainda importante identificar que a vigilância e captura de dados é parte do capitalismo de plataformas. O Big Data (BD) e Inteligência Artificial (IA) fazem parte da etapa de vigilância, mas são operados pelas plataformas digitais.

Enfim, é incrível e dramático perceber como a tragédia de uma pandemia que mata milhares de pessoas também reforça esse processo que amplia a vampirização da renda do trabalho, aumenta os ganhos dos donos do capital e fragmenta as relações de trabalho imposta por uma nova forma societal do trabalho. A imposição dessa sociedade digital assusta. Enquanto isso, nos distraímos nos bate-papos das redes sociais, das lives e dos streams, entre filmes e shows num mundo canibal e ainda mais desigual e injusto.

Seguimos observando o que está em curso.

PS.: Atualizado às 23:16: Para inclusão de dois parágrafos ao texto origina.

terça-feira, junho 09, 2020

Movimentos e a(s) frente(s) para o Brasil retomar seu projeto de Nação

Para mim, em termos de estratégias para enfrentar o fascismo do BolsoMilitarismo, o processo e a articulação, embora sempre complexos, em se tratando de política, podem ser na prática, um pouco mais simples.

Frente não é instituição, é movimento. Direção.

Assim, é quase natural - e compreensível - que os campos políticos que se deslocam das bases do Bolsonarismo, como a centro-direita, queira um espaço para enfrentar o poder autoritário que avança para a ditadura. E assim, buscar ampliar seu movimento.

De outro lado, é ainda mais natural que a centro-esquerda e a esquerda queiram aglutinar em torno de si, também um movimento com características de frente progressista.

Juntos elas enfrentam o BolsoMilitarismo no que seria uma frente mais ampla, para interromper o movimento fascista. Para isso esses movimentos se compõem.

Adiante (ou até simultaneamente) elas disputarão o protagonismo na sociedade para um novo período no Brasil que ultrapasse essa fase terrível e trágica.

É evidente que o as elites financeiras e o capital vão querer manter o controle sobre mais uma nova rodada de neoliberalismo, a partir do seu movimento a que também chamarão de frente. Enquanto isso, nós tentaremos oferecer e convencer a maioria da população que o Brasil precisa e vai retomar de forma inclusiva um projeto de nação.

As formas e as estratégias serão montadas e escolhidas enquanto se caminha.

Sigamos em frente!

#ForaBolsonaro
#ForaComandoMilitar

Aposentados e pensionistas de Campos fazem repúdio contra o prefeito Rafael Diniz por atrasos e fatiamentos de salários e pensões

O blog recebeu e divulga nota de repúdio ao prefeito de Campos dos Goytacazes, RJ, Rafael Diniz, contra os atrasos e parcelamentos de salários e pensões, em plena pandemia.


NOTA DE REPÚDIO 
Ao Sr. Prefeito Rafael Diniz 

Nós,  Aposentad@s e Pensionistas viemos à  público mostrar a nossa indignação pelo atraso e parcelamento dos nossos salários. Não somos INATIV@S.

Temos vida e, como tal, precisamos nos alimentar, pagar nossas contas, comprar remédios, dentre outra necessidade, que estar viv@s nos requisita.

Parcelar nossos salários não é compatível com parcelar nossas responsabilidades.

Trabalhamos anos e aposentadoria é direito inalienável de quem trabalha. Sem contar que o momento que vivemos, com a Pandemia causada pelo Covid-19, com o isolamento social, ter nossos salários parcelados, é muita irresponsabilidade de sua parte, beirando à perversidade.

Não podemos fazer greve, mas podemos mostrar para a população o tratamento humilhante para conosco, que já cumprimos com nossas obrigações  e estamos sendo violad@s em nosso direito fundamental, que é viver. repito: NÃO SOMOS INATIV@S!

O salário já está defasado e agora fatiado!

-Sabemos que ao ser eleito, herdou ônus e bônus; -Sabemos também que herdou mais ônus que bônus;
-Sabemos que a cidade foi "empenhada" pelo empréstimo que o governo anterior fez com os Royalties do petróleo. 

Mas o Sr. Também sabia, Prefeito Rafael Diniz.  Sabia de todas as dificuldades, mas se candidatou e foi eleito, portanto, a partir de sua posse, as responsabilidades são suas de administrar.

Deixamos esse repúdio de parcelar nossos salários e queremos o nosso salário integral.


Campos dos Goytacazes, 09 de junho de 2020.
Profissionais de Educação Aposentad@s e Pensionistas da Rede Municipal de Campos dos Goytacazes RJ.

domingo, junho 07, 2020

Passada mais uma semana, o BolsoMilitarismo está mais isolado e perigoso na guerra de trincheiras

Passada mais uma semana e um domingo, com mais fatos e importantes manifestações, é possível interpretar que o BolsoMilitarismo ficou menor, mais isolado e, assim, mais perigoso.

As forças de oposição e contra-poder estão mais organizadas, maiores e ainda mais amplas.
Temos em curso, como o diz o amigo, professor Eduardo Costa Pinto, uma disputa (guerra) de trincheiras.

Nesta última semana, o Brasil não apenas conta mais uma dezenas de milhares de mortes internamente, como também ficou evidente a incapacidade deste desgoverno, e como foi se tornando uma nação pária do mundo. Até para Trump.

Em comparação a 64, o BolsoMilitarismo está presa aos generais palacianos (haitiano), perde progressivamente, bases do mercado, da mídia comercial e do judiciário.

Há sinais das primeiras reações, ainda tímidas, de militares que se preocupam com o envolvimento institucional com o desgoverno Bolsonaro, sem amparo internacional.

A gota-d´água para isso foi a decisão em esconder os dados da contaminações e mortes pela Covid.
Nas redes sociais o abandono de ex-bolsonaristas é grande e gradual, mesmo entre os neopentecostais, com exceção, quase única, das bases milicianas.

Das três bases jurídico-política para o fastamento de Bolsonaro a mais forte segue sendo a anulação da chapa no TSE, por conta da agora clara forma de produzir fake-news.

O capitão e os generais do BolsoMilitarismo querem enfrentar as oposições, as instituições e o povo, sem perceber que a bolha em que estão imersos perdeu amplitude e tem limites.

Porém, deve-se ter em conta que a defesa da democracia contra o fascismo do BolsoMilitarismo ainda terá pela frente muitas outras trincheiras.

De nossas trincheiras precisamos olhar o horizonte de olho na organização e em nossas retaguardas, para que consigamos retirar o país desta tragédia sanitário-econômica-política.

Sigamos em frente!

sábado, junho 06, 2020

O BolsoMilitarismo conseguiu transformar o Brasil em pária do mundo

O BolsoMilitarismo conseguiu transformar o Brasil em pária do mundo.

Não bastou a sabujice ao Trump, que preocupado com sua reeleição, humilha o bolsomilitarismo mais uma vez.

O Brasil é muito mais que esses mentecaptos.

Daremos a volta por cima!

sexta-feira, junho 05, 2020

Gigantismo naval segue no pós-pandemia

No exato momento em que o mundo atravessa a pandemia e um enorme abalo nas cadeias de valor global e no comércio internacional, o estaleiro da coreana Huyndai lançou o maior navio contêinero do mundo, o "HMM Algeciras".

Fonte: https://www.marineinsight.com/
A mega embarcação possui 400 metros de comprimento (4 campos de futebol enfileirados), 61 metros de boca e capacidade para transportar 23.964 TEUs (unidade de contêiner) e calado de 17,3 metros que exigem mega terminais portuários, no processo que passei a chamar de gigantismo naval que puxa um gigantismo portuário, com terminais com profundos canais de navegação.

Outros sete meganavios de mesmo porte estão previstos para ficar prontos no segundo semestre ainda de 2020, como parte de uma encomenda total de 11 mega navios porta-contêiener.

Na quarta-feira, (03/06), o HMM Algeciras chegou ao Porto de Roterdam em sua primeira viagem vindo do porto chinês de Yantian e partirá para Hamburgo amanhã.

Também como gosto de lembrar a afirmação do geógrafo Armand Frémont, que qualificou o contêiner, como sendo a "espinha dorsal da globalização".

Aqui nos trópicos ainda atravessamos e sofreremos muito com a pandemia, mas no Norte e na Ásia, já se percebe um movimento que tenta retomar o comércio global (e esta meganavio é um exemplo) em meio à queda das demandas e à tendência de um retorno gradual, para produções nacionais e menos redes globais de fabricação.

De um jeito, ou outro, o capitalismo seguirá em sua busca por produtividade na entapa de circulação (logística) da mercadoria entre a produção e os centros de consumo, onde, se avança para redução dos custos dos fretes, com transportes massificados e em grandes volumes. Movimento que deve manter o avanço do gigantismo naval no comércio de longa distância e intercontinental.

Tudo isso leva a crer que a pandemia não deve paralisar o movimento a favor de uma nova rodada de neoliberalismo, com maior uso das plataformas digitais para intermediação (comércio) global e de intensificação dos serviços à distância, com ainda maior concentração econômica, numa simbiose que dá sobrevida ao sistema  e à sua sina de esgarçamento civilizacional.

quinta-feira, junho 04, 2020

É necessário interromper a agonia do BolsoMilitarismo!

A queda do isolamento e a flexibilização da abertura não estão modificando a demanda na economia.

Essa confusão entre isolar e liberar (desde lá atrás) está aumentando as mortes, retardando a volta de alguma normalidade e retendo a demanda da economia.

Tudo isso fará disparar o tamanho e o tempo de duração destas crises que se acumulam como camadas de uma cebola, gerando desemprego, miséria e fome que estão levando o país a uma situação caótica.

Observando a questão econômica veja ao lado, a queda por setor da indústria desde março no Brasil. Só remédios, alimentos e limpeza (por razões óbvias) sobem.

O país segue desgovernado. Nada funciona. O ministro da Economia trabalha apenas com a lógica do desmonte com granadas para colocar nos bolsos de quem entende por inimigo.

É necessário interromper essa agonia.

quarta-feira, junho 03, 2020

O aumento da digitalização altera o modo de produção e nos remete à fase de um capitalismo financeiro e de plataformas

A digitalização da vida social segue num ritmo avassalador. Se do lado da vida social, em tempos de pandemia, representa alternativa e um certo alívio, por outro lado, representa uma nova etapa de reestruturação produtiva no Brasil e no mundo.

No Brasil, 20 milhões estão exercendo atualmente o trabalho em casa (home office). Isso é quase 1/4 da população da PEA (População Economicamente Ativa) e praticamente metade dos ocupados, se retirarmos aqueles que atuam na informalidade no país. 

Esses dados foram apurados em pesquisa desenvolvida por pesquisadores do Ipea e IBGE "Potencial de Teletrabalho na Pandemia: Um Retrato no Brasil e no Mundo” que é citado na da matéria do Valor "Home office pode alcançar 20 milhões de trabalhadores, diz IPEA".

O levantamento avaliou um universo de 434 ocupações existentes no mercado de trabalho brasileiro, concluindo que 25% dessas atividades poderiam ser realizadas remotamente, basicamente grupos de profissionais de ciências e intelectuais, diretores e gerentes e técnicos e profissionais de nível médio. Em termos regionais no Brasil, os maiores índices de home office estão no DF (32%), SP (28%) e RJ (27%).

É fato que a pandemia acelera de forma explosiva a reestruturação produtiva, que de um lado ampliará a produtividade das empresas, de outro, já começou a produzir uma absoluta e violenta diminuição dos postos de trabalho que aumentará os níveis de desemprego e a redução de direitos sociais, ajudando a produzir explosões sociais violentas, em uma nova rodada de neoliberalismo no capitalismo pós-pandemia.

É importante analisar esse fenômeno à luz da questão de classes e do capitalismo histórico. O home office facilita o processo para o grande capital movimentar os seus ativos financeiros, aumentando a captura de mais valia, sugando o sangue da renda do trabalho e fragmentando os trabalhadores em seus próprios meios de produção: os próprios lares.

Reestruturação produtiva que ampliará também a concentração das empresas (oligapolização com fusões e aquisições) e re-centralização de atividades produtivas ainda mais vinculadas e controladas pelos fundos financeiros, que possuem mais facilidades para manejar os ativos e investimentos em diferentes frações do capital.

Nesse sentido, as "lives" e as "conferências digitais" (virtuais) não se tratam de um paradoxo, onda a sociabilidade humana seria apartada desta nova etapa do modo de produção capitalista, que usa as plataformas digitais como forma de intermediação do trabalho, da produção, serviços e comércio, num processo que deve ser observado como uma nova fase do capitalismo que historicamente já foi comercial, industrial e que agora é hegemonicamente um capitalismo financeiro e de plataformas.


PS.: Atualizado às 22:28: para fazer acréscimo de um parágrafo.

terça-feira, junho 02, 2020

"O Mito da Caverna e a Sala de Espelhos", por Douglas da Mata

Mais artigo que o Douglas da Mata publicou no seu perfil do FB, ainda na série Diário da Pandemia. Sobre a digitalização da vida social e sua relação com a atomização, limitações, vaidade e arrogância em Platão.

O Mito da Caverna e a Sala de Espelhos

Prometi ao amigo e professor Roberto Moraes que só publicaria este texto amanhã.

O tema surgiu em meio a nossa conversa, e confesso não ter aguentado esperar.

Falamos do sentimento comum de falta de esperança no desenrolar dos acontecimentos, da pobreza intelectual que tem nos cercado e pior, associada a uma certa arrogância, que torna mais trágica a nossa trajetória rumo ao abismo da Humanidade.

Platão, na República, montou uma conhecidíssima metáfora para a questão da produção, apropriação e disseminação do conhecimento, não esquecendo que tais processos se dão em ambiente sempre hierárquicos, e estabelecem, portanto, regras e ambientes de poder.

Em apertada síntese, Platão alegou que a falta de conhecimento sobre nossa condição (consciência de si) e local (pertencimento) nos leva a enxergar o mundo como sombras refletidas em paredes de uma caverna, que ao mesmo tempo podem ser imagens de nós mesmo, como de objetos, e que estas imagens são projetadas por outros seres que habitam tal caverna, e controlam as figuras e a luz de uma fogueira.

Ciente dessa condição, o homem liberto o que fará, se apropriará do conhecimento em benefício coletivo ou individual?

Há outra questão subjacente, que é: este conhecimento pode servir ao coletivo (libertar os outros da ignorância) e servir a liberdade individual do recém liberto?

Como reagirão os que desconhecem suas condições?

Na minha conversa com Roberto Moraes, quando o assunto acerca do conhecimento surgiu eu ponderei que vivemos em um Mito da Caverna atualizado, que eu disse ser como uma sala de espelhos de um parque de diversões.

Sim, a digitalização social e a elevação do capitalismo como mediador de todas as formas de relacionamentos conhecidas nos isolou em frente a nós mesmos, e tudo o que enxergamos são distorções ópticas (semióticas?) de nós mesmos e de quem nos cerca, sendo impossível achar uma saída, porque sempre damos de cara com outras imagens refletidas e distorcidas.

No Mito da Sala de Espelhos não existem outros manipulando a oscilação de luz de uma fogueira, para projeção de sombras nas paredes, ou uma contraposição entre o escuro da caverna e a luz exterior.

Há somente reflexos idênticos e invertidos.

Na Caverna da Platão, o conhecimento da luz e dos objetos daqueles que projetavam as sombras permitem a percepção de alguma realidade.

Já a Sala de Espelhos refletem imagens refletidas e refletidas, cujo objeto real gerador nunca encontraremos, e os que nos cercam nunca saberão se somos nós mesmos ou nosso reflexo.

Vertigem.

A maior crueldade da Sala de Espelhos é que não há oposição entre luz e escuridão, só repetição e distorção, onde a hierarquia de poder, derivada da apropriação do conhecimento, pode ser (e é) falsa porque ela não se permite aprisionar, porque afinal, o que vemos não é o que vemos, e que pensamos conhecer é só uma cópia.

O poder de quem está fora da sala de espelhos seria, para nosso infortúnio, absoluto.

segunda-feira, junho 01, 2020

"Minneapolis não é aqui. O Haiti também não." Por Douglas da Mata

Mais uma bom artigo que o Douglas da Mata publicou no seu perfil do FB, na série Diário da Pandemia.


Minneapolis não é aqui. O Haiti também não

Passamos o final da semana passada meio que assombrados e extasiados com as notícias vindas da cidade estadunidense, onde infelizmente um homem negro foi brutalizado até a morte por um policial branco.

Após o crime, milhares de pessoas passaram às ruas em protesto, incendiando (literal e metaforicamente) o já conturbado ambiente político de lá.

Em resposta, o Bozo de lá acenou com o acirramento do clima, vociferando impropérios e ameaças, que se não fossem ditas por um presidente, e por óbvio, portadoras de mensagens políticas de violência, pareceria coisa de uma criança mimada de seis anos.

Lá como cá, os representantes da banca que ocupam as presidências de seus respectivos países agem no sentido de incitar mais ódio, para quem sabe imporem sua agenda totalitária.

É a única saída deles, porque o resultado das políticas econômicas exigidas pelos seus donos (quem segura as coleiras), somadas aos estragos da pandemia Covid 19 serão combustíveis para a explosão social.

Muita gente boa na imprensa, e nos blogs chamados progressistas anda se perguntando por que os negros daqui não reagem como os de lá.

Ora, a pergunta meio que se responde: os de lá agem como os de lá, e os daqui como os daqui.

O processo de discriminação racial estadunidense, construído nas bases da economia escravocrata, embora sugira alguns pontos em comum, trilhou caminhos bem diferentes.

Talvez o evento chave destas diferenças seja o momento pós Secessão (1865), quando as terras, bens e valores dos confederados sulistas (escravocratas) foram entregues aos negros libertos, que passaram a poder votar e serem eleitos.

Este processo incluiu parcelas significativas dos negros de lá, mas ao mesmo tempo fomentou um ódio racial estrondoso, um movimento político calcado no ressentimento da derrota militar e na frustração econômica e de classes.

Para se ter uma ideia clara, basta ilustrar com o assassinato de Lincoln, e a assunção de seu vice, que não era um entusiasta de suas teses de redistribuição de renda, como boa parte da elite política dos EUA.

No início do século XX, com a crise monumental do capitalismo, a inclusão racial sofreu um sério baque, a partir da bem engendrada manipulação política que inferia que a pobreza branca era resultado direto da ascensão dos negros.

Veio a "Restauração", e os negros voltaram para seus "lugares": Pendurados pelos pescoços em árvores, nas cozinhas, nas cadeias, nos cemitérios, sem direito a voto, segregados oficialmente com a Lei Jim Crow.

Tudo isso dá um contorno totalmente distinto ao conflito racial e de classes dos EUA em relação ao Brasil, que nunca experimentou qualquer traço de inclusão dos seus negros libertos, ao mesmo tempo que nunca se deu ao trabalho de formalizar (legalmente) o racismo.

Aqui as coisas eram tidas como sempre foram, e não se falava no assunto.
Éramos portadores da mensagem da "democracia racial", e ainda somos.

Somos um povo misturado, dizem os apologistas da "democracia racial", como se as relações que derivaram em mestiçagem não fossem desde sempre um reflexo das relações de poder entre a Casa Grande e Senzala, ou seja, estupros históricos e étnicos.

Nos EUA atuais, seja em Minneapolis, seja em NYC, LA, Boston, ou Memphis, não há nenhuma chance de abalo ao sistema racial e classista que mantém negros como alvo predileto de policiais e outras forças e coerção.

Infelizmente, desde a grande luta pelos direitos civis em 1962-68, toda a luta étnica do movimento negro estadunidense se resumiu a tentativa de inclusão do negro no sistema econômico de lá, com raras reflexões que fossem além deste patamar.

Quando é justamente este sistema (capitalista) que proporciona as bases de segregação permanente, mesmo que, de tempos em tempos, respondendo a pressão popular (como agora), haja alguma brecha para absorver algumas reivindicações.

Foi o que houve no pós Martin Luther King, para depois de algum tempo, a reação branca ressurgir com políticas de criminalização da pobreza negra, com "war on drugs", "sistema three strikes" (terceira ofensa a lei, independente da gravidade dos dois primeiros crimes, leva a penas severíssimas), instituição de penas mandatórias mínimas (que retiram do juiz o poder de decidir o mínimo penal de acordo com cada caso, como já acontece no Brasil).

Bastou o sistema de direitos civis permitir maior escolaridade e acesso a classe média para que os brancos de lá, ao sinal da primeira crise econômica (fim da década de 70, início de 80) para democratas e republicanos recrudescerem cada conquista.

Essa gangorra racial que explica, em parte, os constantes conflitos de rua nos EUA, e sugere que as elites de lá "permitem" estas manifestações como válvulas para a pressão.

Raramente bairros da elite são atingidos, e nunca houve, para além das punições de policiais, cerimônias e rituais, nenhuma mudança estrutural no motor da desigualdade que atinge muito mais negros que brancos.

Por aqui, a coisa é bem pior.

É bem pouca (ou nenhuma) a visibilidade dos grupos que combatem o racismo, ou melhor, o racismo estrutural.

Só ficam as "tragédias griffes", tipo Marielles e outros casos escolhidos a dedo pela mídia, que nada mais são que instrumentos de "anestesia sentimental" da sociedade.

Assim que acontece um caso destes, a mídia e a elite correm para subtrair a voz das vítimas, controlando a narrativa para evitar interpretações desfavoráveis ao estamento vigente.

Como nunca experimentamos uma luta formal e institucional contra este racismo, já que nossas elites tentam nos convencer (e conseguem) que racismo não existe, sequer alcançamos o nível de mobilização dos negros de lá, e muito menos do Haiti.

Toda desgraça e maldição desta pequena ilha caribenha se deu desde sua audácia em se tornar a primeira nação liberta dos seus colonizadores a ter como primeiros governantes os negros dos movimentos abolicionistas, e não as elites locais.

A presença militar multinacional e constante na ilha é resultado da intensa atividade política daquele povo.
Um castigo histórico!

Nossos generais e soldados que lá estiveram foram parte deste esforço histórico de aniquilação política dos negros haitianos, e deixaram para trás uma história de abusos e violência, que tem a sua face mais terrível os filhos de mães solteiras gerados pela "miscigenação" com nossos "gloriosos combatentes".

Cruel ironia que parte dos haitianos, em busca de melhores condições de vida, tenha escolhido o Brasil como destino.

Outro detalhe pitoresco é que na Guerra de Secessão, o então Imperador do Brasil, D. Pedro II, enviou um navio com provisões aos sulistas rebeldes, para auxiliar na causa escravocrata internacional.

Minneapolis, Cité Soleil, São Gonçalo...

Às vezes a História parece um cachorro correndo atrás do próprio rabo, não é mesmo?