sexta-feira, outubro 23, 2020

Parcela dos royalties em outubro será a maior em um ano. Maricá, Macaé e Saquarema lideram

 Os valores das quotas de royalties que serão depositadas na segunda-feira, dia 26 de outubro, nas contas das prefeituras é na média cerca de 12% acima do mês passado e a maior do último dozes meses.

Os dados são da ANP e foram tabulados e enviados ao blog pelo Wellington Abreu, superintendente de Petróleo e Gás da Prefeitura de São João da Barra. Os dados do quadro abaixo apresentam as quotas de 21 municípios, sendo 19 do ERJ e 2 de São Paulo. Para ver o quadro com os valores das receitas para cada um dos municípios petrorrentistas. Para ver a imagem do quadro em tamanho maior clique sobre ele.

Dentre os municípios petrorrentistas listados o que receberá a maior receita será, mais uma vez, Maricá com R$ 80,6 milhões, seguido de Macaé com R$ 58,4 milhões. Em terceiro, Saquarema com R$ 54,8 milhões e em quarto lugar Niterói com R$ 48,5 milhões. Campos dos Goytacazes fica com a quinta maior receita com R$ 30 milhões. Em outubro de 2019, Campos tinha recebido 20% a menos com R$ 25,3 milhões. Na região, se destacam ainda as receitas de Cabo Frio com R$ 19,0 milhões; Búzios com R$ 16,7 milhões; Quissamã com R$ 11,6 milhões; Rio das Ostras com 10,5 milhões e SJB com 10,4 milhões.

Como se observa mais uma vez, os municípios litorâneos dos campos de petróleo da Bacia de Santos aumentam a produção e consequentemente os valores dos royalties. Porém, dessa vez o alto valor do dólar e um preço menos baixo do barril de petróleo, somado à uma estabilização da produção nas plataformas ainda em atividade, garantiram uma melhor receita aos municípios. Os prefeitos candidatos à reeleição ganham assim um respiro de caixa a pouco dias do pleito, no próximo dia 15 de novembro.

quinta-feira, outubro 22, 2020

O modus-operandi das Big Techs

Três casos ocorridos há pouco tempo mostram bem as garras e a forma de operar das gigantes do setor de tecnologia, as Big Techs. Estes casos demonstram ainda como estas corporações não abrem mão de sua dominação, quase total, sobre os demais setores econômicos (frações do capital), sobre a sociedade e, em especial, sobre o poder político e o Estado.

O breve relato feito aqui será do caso mais recente para o mais antigo. Eles versam respectivamente sobre o Facebook, a Amazon e a Tesla. As três Big Techs, todas estadunidenses, fizeram parte da lista Top 100 do FT (29 junho 2020) como as corporações que mais ganharam valor de mercado no mundo, a partir da Pandemia da Covid-19; respectivamente na sexta, primeira e quarta posições. [1] 

A Facebook com 2,7 bilhões de usuários no mundo possui valor de mercado de cerca de US$ 700 bilhões, a Amazon cerca de US$ 1 trilhão e a Tesla de aproximadamente US$ 200 bilhões. As três somadas atingem um valor de mercado que é 50% acima do PIB do Brasil, a oitava maior economia do mundo. [2]

Como se vê na condição de empresas (corporações possuem mais valor que a maior parte dos países do mundo. Esse fato pode ajudar a explicar a influência deste gigantismo sobre suas ações no campo da geoeconomia, da geopolítica e das relações de poder sobre os trabalhadores e sobre a sociedade.

1) Caso do Facebook descrito há poucos dias pelo jornal americano Wall Street Journal de que o seu presidente Mark Zuckerberg orienta cada vez sua empresa para favorecer os sites e tendências conservadoras, de direita, e prejudicar os progressistas e da esquerda em relações de interesse direto de Trump com promessas de proteção de ações governamentais antitrustes. [3] 

2) Caso da Amazon relatado aqui em 1 set. 2020, pelo site Vice Media Group informando que a empresa contrata espiões para reprimir questionamentos de trabalhadores e organização de sindicatos. Essas contratações foram anunciadas abertamente no site da Amazon e depois retirada para duas vagas na função de “analista de inteligência” com atividades previstas de “vigilância”, similar às usadas por agências de inteligência de governos, para monitorar organizações de trabalhadores, de forma similar aos que fazem as agências ao acompanhar críticos dos governos. Já são bastantes conhecidas as ações da Amazon, do empresário americano Jeff Bezos, contra sindicalizações e organizações de trabalhadores. Há muito se sabe que a Big Tech gasta com espionagem de ativistas. Essa espionagem corporativa vem crescendo com o uso de recursos cibernéticos através também da contratação de ex-funcionários das agências de inteligência dos governos. [4]

3) Caso da Tesla relatador por vários jornais americanos e depois reproduzido em todo o mundo por outras mídias que o fundador e dono da empresa americana de carros elétricos, o bilionário Elon Musk, admitiu publicamente, em suas redes sociais que teria apoiado os Estados Unidos no golpe na Bolívia para garantir o suprimento de lítio, material utilizado na bateria de seus carros elétricos. [5]

Os três casos reforçam as análises e as interpretações sobre o “modus operandi” das Big Techs em termos de atuação na disputa e controle sobre o poder político e sobre todas as pessoas e organizações que lhe possam ser críticos.

Há outros casos similares sobre a Google, Apple e Microsoft e seus lobies e pressões, em defesa dos seus interesses que levam à uma maior e melhor compreensão, sobre os efeitos do gigantismo econômico destas corporações (Big Techs) e sobre a dominação que hoje, o setor de tecnologia sobre a exerce, em termos de manipulação e controle do poder político e geopolítico a nível global.

Esses casos também servem também para reafirmar como a inovação tecnológica tem acentuado ainda mais as assimetrias e desigualdades no interior das nações e entre elas na disputa por hegemonia. Não é por outro motivo que a China optou por ter as suas Big Techs.

O setor de tecnologia deixou de ser apenas um fator de produção e segue sendo o maior oligopólio da história do capitalismo mundial. Ele segue sem ser regulado. Quando muito as próprias corporações tomam algumas medidas frágeis - e questionáveis -, para passar ao público a ideia de que o caminho para os problemas seria a própria autorregulação.

A União Europeia tenta há praticamente dez anos agir sobre as Big Techs nos EUA, até agora, com mais pressões que resultados. O mesmo acontece com os movimentos e as investigações dos procuradores Departamento de Justiça dos EUA contra essas mesmas Big Techs.

A Google está sendo agora a mais questionada, mas no fundo, tudo isso mais parece ameaças para negociações entre as partes do que efetiva disposição para agir. Até porque a questão envolve interesses geopolíticos americanos, na medida em que essas Big Techs atuam em todo o mundo e de forma quase única, em todo o ocidente. Enquanto isso, a alegada democracia liberal ocidental, segue sendo avacalhada, dia a dia com riscos cada vez maior para o tecido civilizacional.


Referências:

[1] Financial Times. FT Series. 19 junho de 2020. P.1-11. Coronavirus economic impact Prospering in the pandemic: the top 100 companies. https://www.ft.com/content/844ed28c-8074-4856-bde0-20f3bf4cd8f0

[2] PESSANHA, Roberto Moraes. Commoditificação de dados, concentração econômica e controle político como elementos da autofagia do capitalismo de plataforma. Revista ComCiência, Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp em parceria com a SBPC. Dossiê Nº 220, Virtualização, setembro de 2020. Disponível em: https://www.comciencia.br/commoditificacao-de-dados-concentracao-economica-e-controle-politico-como-elementos-da-autofagia-do-capitalismo-de-plataforma/

[3] The Wall Street Journal, em 16 de outubro de 2020. How Mark Zuckerberg Learned Politics.
Facebook’s chief, once uninterested, has transformed himself into an active political operator in the Trump era. Disponível em: https://www.wsj.com/articles/how-mark-zuckerberg-learned-politics-11602853200

[4] Vice Media Group, em 1 de setembro de 2020. Amazon Is Hiring an Intelligence Analyst to Track 'Labor Organizing Threats'Amazon is looking to hire two people who can focus on keeping tabs on labor activists within the company. Disponível em: https://www.vice.com/en/article/qj4aqw/amazon-hiring-intelligence-analyst-to-track-labor-organizing-threats 

[5] Revista Exame, em 26 de julho de 2020. “Daremos golpe onde quisermos”, diz Musk após insinuações sobre a Bolívia. O bilionário da Tesla reage a seguidor no Twitter sobre suposto apoio à derrubada de Evo Morales para garantir o suprimento de lítio para carros elétricos. Disponível em: https://exame.com/negocios/daremos-golpe-onde-quisermos-diz-musk-apos-insinuacoes-sobre-a-bolivia/

domingo, outubro 18, 2020

O Pix revela parte da financeirização ainda pouco percebida

O lançamento da plataforma Pix e os cadastros que estão realizados pelo Banco Central do Brasil com o argumento de ser um instrumento facilitador da movimentação financeira e um novo meio de pagamento, expõem de forma um pouco menos subliminar, a hegemonia financeira na economia atual, que nem sempre é percebida em nosso no dia a dia.

Ao contrário do que dizem, o índice de bancarização no Brasil não é tão baixo assim, a despeito de nossa pobreza, estamos hoje acima de 60%, índice que é superior à média mundial (50%) da população acima dos 15 anos. Nos países do capitalismo central esse índice fica entre 80% e 90%.

É sempre oportuno lembrar que o índice de bancarização em qualquer lugar do mundo está ligado diretamente à renda das pessoas. Por isso, o índice de bancarização no Brasil cresceu muito com os programas de renda mínima, em especial com o Programa Bolsa Família e outros implantados de forma concomitante, a nível estadual e municipal na primeira década deste século.

O próprio auxílio emergencial de seiscentos reais aprovado pelo Congresso Nacional em abril deste ano para atender a população em situação de emergência com a pandemia, também contribuiu para o aumento do índice de bancarização no Brasil, podendo ter elevado esse índice para algo próximo – e talvez acima - de 70%.

Esse crescimento da bancarização no Brasil se deu de forma especial, através da Caixa Econômica Federal, que é quem paga esse auxílio emergencial. Por conta disso, a CEF se reafirmou com como banco com o maior número de clientes no Brasil, tendo chegado no 3º trimestre deste ano, ao extraordinário número de 136,115 milhões.

Porém, com o cadastro das chaves na plataforma do Pix do BCB, que alcançou em apenas dez dias úteis o colossal registo de 39,2 milhões de usuários, chamou a atenção e despertou outras questões, já presentes no sistema financeiro nacional, mas até aqui pouco percebidas:

1)      A concentração da rede bancária, onde os cinco maiores bancos somados possuem cinco vezes mais clientes que os dez seguintes somados. No caso dos depósitos essa proporção é ainda maior.

2)      Outro importante destaque é a presença maior das Fintechs (nomenclatura derivada da expressão “Fin” de Finanças e “Tech” Tecnologia e que funcionam como bancos sem agências físicas que atuam apenas através de plataformas digitais e aplicativos). Apenas três fintechs já somam 18 milhões de clientes e representavam a metade do cadastramento de chave dos Pix na segunda semana deste registro cadastro junto ao Banco Central. A líder entre as Fintechs é o Nubank com 7,9 milhões de clientes, seguido do Inter com 6,8 milhões de clientes e o Original com 3,3 milhões de clientes.

3)      O terceiro destaque que merece registro é a presença das financeiras ligadas às redes de comércio varejista como destaque entre os 15 maiores bancos em número de clientes no país conforme tabela abaixo. Com o sétimo maior número de clientes está o banco (corretora/cartão) MidWay que é vinculado à Rede de Varejo Riachuelo. Outra varejista presente entre os bancos, com o décimo maior em número de clientes está o Banco CSF vinculado à rede (cartão) Carrefour. Tem-se ainda como décimo maior banco em número de clientes a Pefisa que é vinculado à outra tradicional empresa de varejo, Casas Pernambucanas.

Na lista de todos os cerca de 160 bancos autorizados hoje a operar no Brasil, há diversos outros casos de bancos e financeiras vinculados ao comércio, como o da Volkswagen e outras montadoras, que fazem parte do varejo ampliado.

Esses bancos (financeiras) vinculados diretamente às redes de comércio varejista demonstram aquilo que já se sabia (mais por intuição) a de que muitas vezes, mais importante que a venda é o crédito que alimenta a máquina de endividamento que gera maior rendimento ao grupo que os lucros com as vendas dos produtos em si.

Pois, é exatamente esse processo que leva o cidadão ter que trabalhar e “aceitar” a exploração e as condições precarizadas, porque é a forma que resta para pagar aquilo que comprou, por crédito oferecido de forma escamoteada junto ao produto.

Há muito mais a ser ainda analisado com os dados do sistema bancário para que se compreenda melhor a hegemonia financeira no capitalismo contemporâneo. O Pix, as redes bancárias, as plataformas digitais financeiras e as fintechs expõem uma realidade que merece ser mais aprofundada.

Porém, por ora, vamos ficar por aqui apresentando abaixo, o quadro dos quinze maiores bancos em operação no Brasil, em termos de números de clientes, segundo dados do Banco Central (BCB) referentes ao terceiro trimestre de 2020. Os números de cerca 510 milhões de clientes, apenas entre os quinze maiores bancos que funcionam no Brasil, identificam que muitos correntistas possuem mais de uma conta, além das contas das empresas (pessoas jurídicas).

Esses dados já são bastantes interessantes e levantam um número enorme de questões que precisam ser expostas e debatidas. Os setores financeiro e de tecnologia que alimentam as plataformas digitais fazem parte do “capitalismo de plataformas” que seguimos tentando ajudar a descortinar.

sábado, outubro 17, 2020

"Pix, capitalismo de vigilância e neo-escravismo" é tema do podcast "Roteirices"

O jornalista, amigo e conterrâneo Carlos Alberto Jr. me fez um convite para um agradável bate-papo, em seu prestigiado canal de Podcast "Roteirices". O tema reuniu os assuntos sobre o Pix, o capitalismo de plataformas e esse conturbado mundo contemporâneo.

O Pix é mais um instrumento da ampliação da dominação financeira e tecnológica em que vivemos no presente. Esse foi o mote para puxar outros assuntos num esforço de interpretação das transformações que estão em curso.

 

segunda-feira, outubro 12, 2020

"Pix como etapa da dominação tecnológica e financeira" é o tema de hoje na TV 247

Daqui a pouco, às 15 horas, vamos bater outro papo com Leonardo Attuch na TV 247. O assunto hoje é o "Pix como etapa da dominação tecnológica e financeira".

O Pix não é um instrumento qualquer. Em apenas cinco dias, o Pix alcançou 25 milhões de chaves cadastradas.

O Pix é uma nova etapa que vem reforçar o que temos sustentado em textos e entrevistas sobre o capitalismo de plataformas, em que o gigantismo da tecnologia amplia a hegemonia financeira no mundo. O Pix ajuda a ampliar e adensar o circuito financeiro do Brasil e seu vínculo à Rede Global da Geografia Financeira. 

É interessante analisar o percurso histórico que nos trouxe aqui e para onde estamos sendo levados. Vale conferir e dialogar.



sábado, outubro 10, 2020

Os streamings engolem as TVs abertas

Os streamings (TV por demanda pela internet) estão avançando sobre as TVs abertas. Fato com causas e consequências. Porém, muitas pessoas ainda não conseguem entender como o Netflix e a GloboPlay roubam os seus dados, quando você assiste a programação dos seus streamings.

A escolha dos filmes, origem, tipos de roteiros (drama, documentário, comédia, etc.) e também quando você abandona um filme, uma série (em qual capítulo) ou documentário são informações importantes, para os anunciantes que têm interesse em te conhecer mais e assim aperfeiçoar a publicidade direcionada.

Essas gigantes das transmissões pela internet fazem pesquisas sobre dados primários e terciários dos usuários (first-party data ou third-party data).

A Globo já fala abertamente que hoje, por conta da digitalização e identificação dos assinantes, conhece profundamente 60 milhões de seus usuários, identificados pelo Globo ID que são processados pelos softwares de análise (analytics) com uso da Inteligência Artificial (IA).

No final de 2019, a Netflix tinha 160 milhões de assinantes em quase 200 países. Porém, em junho de 2020 já tinha alcançado 183 milhões de assinantes. Consta que mais de 10 milhões seriam no Brasil que é considerado o 6º país com maior crescimento de horas de utilização do Netflix do mundo, embora o YouTube seja a plataforma de streaming em que os brasileiros passam mais tempo. Depois vem a Netflix, Youtbe Kids, Twitch e só aí a Globo Play.

Porém, o mais incrível do uso deste tipo de plataforma digital é o fato de que a utilização dos streamings no Brasil - com 7% - se tornou o 2º maior Ibope do país, só atrás da Globo e na frente da soma das TVs por assinatura e de todos os demais canais de TV. Ou seja, 15 em cada 100 TVs ligadas no país estão nos streamings, isso é apenas metade da audiência da TV Globo e bem maior que as demais TVs abertas, segundo pesquisa da Kantar Ibope.

Os streamings engoliram as TVs e por isso a Globo tenta correr atrás do prejuízo com a Globo Play +. Além da Netflix e Globo Play as empresas que oferecem streamings não param de crescer: Amazon Prime Vídeo, Disney+, Claro Vídeo (Now), Telecine Play, Apple TV, HBO GO, etc.

É confortável para quem tem condições acessar essas plataformas de entretenimentos, mas não esqueçam que além de pagar pela assinatura, nós estamos entregando, voluntariamente, os nossos dados, que se transformam em commodity como propriedade destas corporações.

Tudo isso é parte da plataformização dos negócios.


PS.: Atualizado às 14:04 de 10/10/2020: Título ampliado e também acrescentado um primeiro período ao texto inicial.

quarta-feira, outubro 07, 2020

Pix, mais uma etapa da plataformização dos negócios

Os números do Pix impressionam, mais de 10 milhões de cadastros em apenas dois dias é – a conferir – um recorde, em adesão a um aplicativo digital em todo o mundo. [1]

O Pix é novo sistema brasileiro para transferência e/ou pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central que pode eliminar a necessidade de dinheiro ou cartão. Com o Pix se usará apenas o cadastro com o número de um celular, ou email, para fazer uma transferência sem precisar recorrer a contas, agências, CPFs ou nome completo.

Como tenho descrito aqui neste espaço trata-se de mais uma etapa do capitalismo de plataforma em um uso na dimensão econômico-financeira. Na essência o que se tem é mais uma infraestrutura digital de intermediação de produtos e serviços. No caso do Pix, uma intermediação financeira para transferência de dinheiro para pagamentos.

Por ser uma plataforma digital de intermediação financeira ela se alinha às infraestruturas também conhecidas como FinTechs que unem as denominações da "Finanças" com a "Tecnologia". A relação entre estes dois setores é ao mesmo tempo causa e consequência da relação entre inovação tecnológica e financeirização. Não por acaso dois setores que hegemonizam o capitalismo contemporâneo.

Como outras atividades em que as plataformas digitais estão presentes nas vendas (e-commerce), oferta de serviços (transportes, comunicação, saúde, educação, home-office, home-banking, delivery), entretenimentos (músicas, vídeos, streemings), etc., elas são quase sempre bem-vindas e bem-recebidas como alternativas de progresso que traria o bem para todos.

 

O que está em jogo com a junção da Tecnologia com a Financeirização?

Porém, entre os ônus há também - e como sempre - pelo menos quatro preocupações maiores: 

1) A dominação do setor de tecnologia sobre todos os demais setores econômicos e dimensões (inclusive da política) que deixa de ser um fator de produção para ser o fator que transforma todo o modo de produção capitalista; 

2) A tendência preocupante com o gigantismo e a oligopolização que a plataformização vem produzindo. 

3) A captura desenfreada de dados que se transformaram na commodity mais valiosa no capitalismo contemporâneo. Uma nova propriedade que é vampirizada das pessoas e passam a novos donos.

4) A junção que esse processo de plataformização traz ao unir o setor financeiro (já hegemônico no presente) - através do mercado de capitais e fundos globais -, às grandes corporações de tecnologia (Big Techs) que nos trouxeram aos dias atuais ao maior oligopólio da história do capitalismo, representado pelo setor de tecnologia.

É neste contexto que se deve observar o que pode significar a chegada do Pix, inicialmente como meio de transferência e de pagamentos. É positivo que ele parta de um órgão estatal como o Banco Central, porque assim, em nome do coletivo, mesmo que teoricamente, ele tem a obrigação de oferecer garantias e de exercer controles sobre estas relações financeiras digitalizadas.

Enquanto meio de pagamentos e transferências, o Pix não representa nenhuma novidade, porque no mundo há dezenas, ou centenas, de meios de pagamento que atuam numa rede paralela ao setor bancário. Trata-se de uma "rede não bancária" chamada da “Shadow Banking” ou “banco sombra”, que hoje já movimenta mais de uma centena de trilhões de dólares, cerca de ¼ do total de capital financeiro a nível global. 

Observem na figura abaixo - no segundo gráfico à direita - o crescimento anual da "rede não bancária" (shadow banking) no mundo desde 2002. [2]

Evolução do Shadow Banking [2] 

Essa rede não bancária já estava presente entre nós sem ser percebida. É o caso por exemplo do Mercado Pago da varejista de e-commerce, Mercado Libre. A chinesa Alibaba tem a AliPay. A Apple Pay; Amazon Pay; Google Pay; Messenger Pay; Microsoft Pay; Samsung Pay, etc.

Essas redes representam um novo domínio sobre meios de pagamentos e fluxos financeiros e estão diretamente ligadas às FinTechs que serão as maiores beneficiadas com uma plataforma digital oferecida por um governo. 

No Brasil, as Fintechs há algum tempo, avançaram sobre o setor financeiro tradicional e hoje já possuem mais de uma dezena de milhões de correntistas espalhados por todo o país, sem que possuam sequer um ponto fixo de atendimento. Tudo virtual. Entre estas se destacam a Nubank, Original e o Inter. Porém, o número destas Fintechs hoje já passam de três dezenas no país. Elas não são bancos tradicionais e portanto os depósitos aí feitos não têm a garantia do Banco Central em caso de colapso.

Pois bem, é nesse campo que o Pix avançará forçando todos na mesma direção. Esse cadastro do Pix tem a guarda do Banco Central que deverá em breve descobrir algumas outras serventias. O Pix reforça a digitalização, que pode ampliar a inclusão bancária e financeira, a redução de tarifas, aumento da concorrência, mas também à uma oligopolização do setor, como já acontece em todos os outros setores em que as plataformas digitais atuam.

 

Entre bônus e ônus a pergunta é quem ganha mais com o Pix? E os riscos?

A tendência é que além de transferências e pagamentos o Pix avance para oferecer saques Pix que seriam feitos em pontos comerciais que tivessem dinheiro vivo em mãos. O pagamento por aproximação do celular, o uso do QR-code para pagamentos que deverá substituir a emissão de boletos. Aliás, o pagamento por transferência ou aproximação, praticamente, anulará a necessidade das “maquininhas de cartão”, eliminando um enorme mercado.

Enfim, o Estado, através do Banco Central, ao oferecer o Pix e tudo que virá por decorrência dele, assume essa infraestrutura de mediação. Resta saber se também fará o papel de regulador dos fluxos financeiros que mais que nunca seguem soltos e sem controle, inclusive sobre as fronteiras dos Estados-nações, quando o próprio BC diz que entre os próximos passos do Pix está a internacionalização do Pix.

O Banco Central do Brasil sabe que a regulação será um desafio ainda maior. Os riscos do descontrole são muito grandes. João Manoel Pinho de Mello, Diretor de Organização de Sistema Financeiro e de Resolução do Banco Central, afirmou que “nosso papel é colocar a infraestrutura e que o mercado faça as inovações”. [3]

Ou seja, o Estado está ofertando a plataforma (infraestrutura como condição geral), mas o resto fica com o mercado, mas se compreende que a regulação e o controle ainda terão que ser planejados e implantados. Ou não. Porque há neste governo muitos que pensam que se pode ou deve deixar que o mercado (no caso o financeiro) se autocontrole.

Sobre o tema, desde 2018, o FSB (Financial Stability Board), que é o Conselho de Estabilidade Financeira, vinculado ao G-20 (países ricos), vem produzindo seguidos boletins e relatórios falando sobre os imensos riscos do desenvolvimento do mercado das FinTechs e sua relação com as Big Techs para a estabilidade financeira a nível global. [4]

Enfim, nada mais, nada menos que os donos dos dinheiros a nível global, proprietários da maior parte do patrimônio financeiro global, hoje estimado em quase US$ 400 trilhões, estão alertando sobre os riscos que se tem pela frente. Ainda assim, a direção segue a mesma.

No livro “A ´indústria´ dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo” [1], p. 158-168, eu já chamava a atenção para estes relatórios do FSB e sobre os riscos decorrentes da “ampliação do uso das tecnologias digitais e plataformas informacionais a serviços da financeirização".

 

Referências:

[1] Matéria do G1 em 6/10/2020. Registros de 'chaves PIX' superam 10 milhões em dois dias, diz Banco Central. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/pix/noticia/2020/10/06/registros-de-chaves-pix-superam-10-milhoes-diz-banco-central.ghtml

[2] PESSANHA, Roberto Moraes. A `indústria´ dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo. Consequência: Rio de Janeiro, 2019.

[3] Valor em 6/10/2020. Inovação gera um desafio histórico de regulação do sistema financeiro, diz Campos Neto. Disponível em: https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/10/06/inovacao-gera-um-desafio-historico-de-regulacao-do-sistema-financeiro-diz-campos-neto.ghtml

[4] Financial Stability Board (FSB). BigTech in finance: Market developments and potential financial stability implications. [BigTech em finanças: desenvolvimentos de mercado e potenciais implicações para a estabilidade financeira]. Disponível em: https://www.fsb.org/2019/12/bigtech-in-finance-market-developments-and-potential-financial-stability-implications/

segunda-feira, outubro 05, 2020

Brasil vende Correios na xepa, enquanto a La Poste (Correios da França) é dona de uma das maiores transportadoras express no Brasil

Enquanto o Brasil quer vender os seus Correios a preço vil, a Le Poste (empresas de serviços postais, Correios da França) é dona da Jadlog, uma das maiores transportadoras express no país. Uma das muitas contradições.

Quem compra pela internet é muito provável que tá tenha sido atendido pela JadLog, que hoje tem a maior parte do seu faturamento no Brasil em entregas do e-commerce, onde atende aos grandes players do setor de varejo do país. 

Nos últimos quatro anos, a JadLog quadruplicou, os volumes de entrega e hoje possui cerca de 2,7 mil veículos, 5 mil funcionários e 500 franquias e 17 filiais para atender a mais de 40 mil clientes e tem uma estimativa de faturar R$ 1 bilhão com 35 milhões em entregas no Brasil.

A tamanho da transportadora JadLog é resultado da expansão e integração das empresas-plataformas de varejo de e-commerce no Brasil. Foi essa expansão que gerou o interesse da empresa global de logística DPPgroup, vinculada à Geopost que pertence à holding La Poste (Correios da França) que hoje tem atividade em 47 países, sendo 22 da União Europeia. Hoje, a Geopost é dona de 98% das ações da JadLog que atua no Brasil.  

A La Poste (Correios da França) é uma empresa pública, limitada por ações, que além da empresa Geopost, que atua em serviços logísticos, controla ainda um banco e uma seguradora (La Banque Postale) e ainda uma operadora de rede móvel, a La Poste Mobile.

Essas relações contraditórias indicam a concentração, já em curso também no setor de logística, na etapa de circulação material da produção fruto da expansão da plataformização dos negócios.

Essas relações também demonstram como o atual desgoverno Bolsonaro se incube de desmontar as instituições entregando sua expertise e seu colossal ao mercado aos grupos estrangeiros. Hoje, os Correios possuem enorme capilaridade no país com 11 mil agências próprias e franquias e no ano passado alcançou receita de R$ 18,3 bilhões com lucro de R$ 102 milhões.

sábado, outubro 03, 2020

Para o mercado, Guedes perdeu a serventia

O portal de notícias financeiras e corporativas, InfoMoney, publica mensalmente, um boletim repórter com acompanhamento sobre o poder político no Brasil. 

A publicação se chama “Barômetro do Poder”. A edição mais recente realizada entre os dias 28 e 30 de setembro contou com 13 participantes, sendo 10 de institutos e consultorias de análise de riscos e 3 analistas independentes. 

Entre as consultorias e Think Thanks estão gente do Insper, Ipespe, Eurasia Group, XP Política, Tendências Consultoria, Empower Consulto, Thomas Trauman, etc.

O relatório é muito usado pelos “donos dos dinheiros” (setor financeiro) para monitorar o poder políticos e os riscos. Seus organizadores usam questionários de plataforma online para obter as opiniões que são apuradas de forma quantitativa e qualitativa. Nesta edição de setembro foram avaliados três itens que foram observados em diferentes leituras: governabilidade, reformas e conjuntura.

Dentre os vários pontos levantados o que mais me chamou a atenção foi o desgaste que a turma que orienta o capital está com o ministro Paulo Guedes.

O relatório destaca: “venceu a validade de Paulo Guedes no Ministério da Economia”. “... aparentemente Paulo Guedes sairá do governo de qualquer maneira”. 69% consideram as chances dele deixar o governo: grande (38%) e regular (31%).

Sobre a governabilidade do desgoverno Bolsonaro, estes três comentários mereceram destaque: 
“Com o aumento da popularidade, aumenta o apoio no Congresso Nacional. O contrário é esperado para o ano que vem, quando escassearão os recursos para os auxílios”. “A aliança com o Centrão segue dando as cartas no governo”. “As janelas das reformas fechou. Agora, o Congresso vai se preocupar com as eleições municipais e das presidências das Câmara e do Senado e com a manutenção do auxílio emergencial”.

Ou seja, os dois temas parece que andaram juntos. Para o mercado, o Guedes perdeu a serventia. A conferir!

Confira no link abaixo a publicação de 33 páginas incluindo os três slides destacados.