quarta-feira, novembro 18, 2020

Desintegração e desmonte da Petrobras nos leva ao fenômeno da “nigerização” e retorno à condição de colônia

Retorno ao tema que há quatro anos venho tratando aqui neste espaço. Ao olhar para a cadeia global do petróleo e sua geopolítica vemos a participação atual do Brasil nesse circuito econômico vivendo um processo de "nigerização". Não se trata de um menosprezo ao país africano, mas à sua realidade de país exportador da commodity petróleo cru, importador de derivados e que entrega sua maior riqueza mineral para petroleiras estrangeiras e controle de fundos financeiros globais.

É um processo instalado em 2016 (após o golpe institucional) e que nos dias atuais se amplia de forma importante. A venda anunciada (apelidada de desinvestimentos) nos últimos dias da venda total e/ou parcial de novos campos de petróleo nos polos de Marlim e Albacora se soma ao que já foi feito antes com entrega de áreas como o campo de Carcará, no colosso do pré-sal. Além de tudo que foi sendo entregue dia-a-dia, como as malhas de gasodutos, refinarias, petroquímicas, distribuidora de petróleo, etc. vão transformando o Brasil em uma nova Nigéria.

Mais uma vez repito, com todo respeito ao país africano, mas não se pode deixar de identificar como aquele importante país produtor de petróleo entregou a sua produção, beneficiamento e toda a cadeia produtiva do petróleo, às petroleiras estrangeiras e ao controle dos fundos financeiros globais.

Fonte: Tese de doutorado do blogueiro (p.205) cujo título é
"A relação transecalar e muldimensional "Petróleo-Porto" como produtora
de novas territorialidades". PPFH-UERJ, defendida em março 2017. P. 222
.

Sobre o tema, acesse duas postagens do blog: 1) A primeira em 19 janeiro de 2019: Desverticalização nacional e re-verticalização global no setor de gás no Brasil: a contradição liberal;
2) A segunda em 28 de fevereiro de 2019 O mercado desintegra a Petrobras para deixá-la sob controle do mercado global no exterior. Elas comentam a interpretação desse processo expondo um esquema gráfico que reproduzimos ao lado.

Assim, se observa que segue em velocidade acelerada (por motivos claros) a desintegração da Petrobras com o fatiamento e o desmonte criminoso de suas unidades de maior valor, que estão sendo vendidas a preço de final de feira, no momento de baixa do preço do petróleo e ativos do setor.

Bom que se diga entrega de unidades que estão prontas, em funcionamento e gerando lucros, para serem controladas pelos fundos financeiros estrangeiros que já comandam outras petrolíferas. As refinarias no Brasil estão sendo vendidas já ociosas. O setor de refino mesmo aberto ao exterior desde o fim do monopólio promovido por FHC, na década de 90, nunca recebeu um projeto de nova refinaria destas players do setor.

Junto disso, antes a ANP reduziu as exigências de conteúdo local, o que leva milhares de empregos do Brasil, na medida em que os novos donos destes ativos compram equipamentos, tecnologia, geram empregos e tributos em seus países e não no Brasil. Fato que contribui para um definhamento do circuito econômico do petróleo que chegou a ser responsável por cerca de 13% do PIB do Brasil e mais de 1/3 no ERJ.

Assim, na prática coube à Petrobras explorar, descobrir e colocar em produção os gigantes campos e potentes bacias de Campos, Santos e o Pré-sal, agora entrega a preço de xepa suas descobertas e seus ativos. Bom lembrar que seis dos maiores campos de petróleo descobertos no mundo estavam no Brasil.

E o pior de tudo isso é o fato que esses dirigentes criminosos a serviço dos interesses a quem representam, vão assim deixando para a Petrobras a parte mais onerosa que é a de seguir explorando áreas offshore, águas muito profundas, inovando em tecnologias, equipamentos, protocolos e expertise de técnicos, para depois entregarem tudo de bandeja, a preço de xepa, aos fundos financeiros. Isso é crime de lesa-pátria, não há outro nome.

Portanto, considerando o porte de nossa produção e do nosso mercado consumidor, bem maior que a da Nigéria, o "case" brasileiro, infelizmente, já permite que o mundo troque o termo "nigerização", pela expressão "brasileirização". O mundo hoje enxerga o Brasil como um caso, em que uma nação opta por retornar à condição de colônia, uma espécie de "condado" ou "protetorado". Seguiremos questionando esse crime de lesa pátria: Petrobras, fica!

segunda-feira, novembro 16, 2020

O Partido Militar e o bolsonarismo perderam com as eleições, mas precisamos voltar a disputar um projeto de nação na sociedade

O golpismo e o bolsonarismo perderam com as eleições de ontem de uma forma que eles não esperavam, mas a direita e os riscos do autoritarismo estão longe de estarem afastados.

O Partido Militar (e os generais haitianos) tem um projeto de poder de longo prazo (não de país) e não têm escrúpulos para com os seus aliados, executá-lo, para além dos ritos democráticos.

Porém, o golpismo não tem o que entregar para a população em termos de resultados. A crise se agravará e será mais intensa porque, após as eleições, com a crise econômica - e do Covid - ainda em curso, cairão ainda mais as bases sociais do golpismo.

Neste cenário, a centro-direita como representante daqueles do andar de cima, já se oferece como alternativa bradada pela mídia comercial e seus colunistas de coleira.

Estamos do outro lado. Saímos de ontem um pouco melhor do que em outubro de 2018, mas o caminho à frente exige organização e leitura política para ações que passam, ainda mais claramente, por uma frente de esquerda para disputar na sociedade o projeto de nação.

Sigamos em frente!

terça-feira, novembro 10, 2020

Participação Especial de novembro vem zerada para a maioria dos municípios da Bacia de Campos

Como já era esperado, na quarta (e última) parcela de 2020 das Participações Especiais (petróleo), só Quissamã, entre os municípios do Norte Fluminense, vai receber o valor de R$ 1,4 milhão que será depositado amanhã. Campos dos Goytacazes e Macaé não receberão nada, assim como Carapebus, São João da Barra, Rio das Ostras, Casimiro de Abreu e Armação de Búzios.

Cabo Frio terá direito a R$ 220 mil e Arraial do Cabo a apenas R$ 87 mil. Novamente, as maiores receitas destas parcelas trimestrais de Participações Especiais (PE) que se dá em função da produção em poços com grande volumes de extração de petróleo, serão pagas aos municípios confrontantes da Bacia de Santos e do Pré-sal. Maricá novamente tem a liderança com receita de 218 milhões, Niterói com R$ 192 milhões e Rio de Janeiro com R$ 36 milhões.

Os dados são da ANP com tabulação do superintendente de Petróleo da Prefeitura de São João da Barra, Wellington Abreu. O quadro abaixo traz as receitas dos dois últimos anos de Participações Especiais (PE), de novembro de 2018 até novembro de 2020,  que será depositada amanhã. Para ver a imagem do quadro abaixo em tamanho maior clique sobre ela.


O quadro acima reafirma mais uma vez o deslocamento dos municípios que dependem da petro-renda e da Economia dos Royalties do litoral do Norte Fluminense e da bacia de Campos para o litoral em direção ao Sul, na Bacia de Santos e Pré-sal que são aqueles de mais alta produção. 

Na região Norte Fluminense, de certa forma, apenas Macaé e São João da Barra mantiveram bases do que chamo de Economia do Petróleo que garante receitas e impostos derivados dessa cadeia produtiva. São dois municípios que possuem bases operacionais e empresas de serviços, apoio e insumos desta cadeia produtiva. 

Por isso, tanto tenho insistido para se compreender a diferença entre estes dois tipos de economias (do petróleo e dos royalties) que, embora tenha relações, produzem transformações distintas sobre o território, sobre os níveis de empregos, salário médio e receita de impostos, em especial o ISS (Imposto sobre Serviços). 

O desmonte da Petrobras em todo o Brasil e em especial no ERJ, assim como da Política de Conteúdo Local (PCL) traz também repercussões negativas para esse circuito econômico vinculado ao petróleo, mesmo que ainda represente grandes rendas para as petroleiras privadas que está ficando com os ativos que eram da Petrobras. 

Tudo isso mostra como o imobilismo das gestões municipais diante deste desmonte da Petrobras será ainda muito mais danoso para a região do que a redução das petro-rendas dos royalties do petróleo. Infelizmente, alguns dos gestores destes municípios ajudaram neste desmonte da estatal e da PCL, agradando as autoridades da ANP e da Petrobras neste período pós-golpe de 2016 político de 2016 no Brasil.

sexta-feira, novembro 06, 2020

Matrículas no ensino superior no ERJ caem 5,1% em 2019. Redução de 7,7% nas instituições privadas e crescimento de 1,7% nas instituições públicas

O número total de 516.836 matrículas em 2019 no ensino superior presencial no Estado do Rio de Janeiro (ERJ) é 5,1% inferior ao números do ano anterior de 2018. Desde o golpe de 2016 houve um freio na expansão do número total de universitários, embora o movimento de crescimento no setor público tenha continuado, por conta do impulso dos programas das universidades e institutos federais no Estado do Rio de Janeiro, planejado e executado a partir dos governos do PT.

O blog repete o que vem fazendo nos últimos anos ao divulgar os dados dos números de matrículas nas graduações presenciais nos municípios fluminenses. As informações foram produzidas a partir dos dos microdados oficiais do Inep-MEC (Instituto Nacional de Estudos Educacionais (Inep) vinculado ao Ministério da Educação). 

Os dados foram tabulados mais uma vez pelo professor José Carlos Salomão Ferreira (IFF) que há muito tempo colabora com o blog, com a extração e organização de dados referentes à evolução das matrículas no ensino superior em todos os municípios fluminenses. São dados que precisam ser desagregados da base do Inep/MEC que permitem tabulações e a criação de indicadores bastantes interessantes tanto por instituição (de natureza pública ou privada), por curso, por município e vários outros incluindo custo-aluno, etc.

Nesta postagem vamos analisar a evolução das matrículas nos municípios fluminense entre 2003 e 2019, No período de 15 anos, entre 2003 e 2018 houve uma evolução de 36% no número total de matrículas no Estado do Rio de janeiro, quando se saiu de 420 mil matrículas para 544 mil universitários no ensino superior presencial, que em 2019 já era desenvolvido em 42 (46%) dos 92 municípios fluminenses.

O dado mais significativo a ser ressaltado e analisado, enquanto política pública, é o crescimento de 124 mil matrículas entre 2003 e 2018, que se inverteu em 2019, quando se identificou uma redução de 27.891 matrículas em todo o ERJ.

Porém, vale destacar que a despeito desta redução no total de matrículas no ERJ, os resultados das instituições públicas segue positiva em 2019, em relação a 2018. Enquanto o número de matrículas nas instituições privadas caiu 30.414 matrículas, nas instituições públicas aconteceu um crescimento de 2.523 matrículas. Mesmo que o número de matrículas totais nas universidades privadas siga superior ao das instituições públicas, o crescimento de vagas nesta última é extraordinárias para esse período analisado. 

Este esforço é ainda resultado do governo federal no período Lula (1-2) e Dilma (1) que resultou na criação nas universidades públicas de mais 71 mil matrículas nos municípios fluminenses entre 2003 e 2019. Em números absolutos, as instituições públicas aumentaram de 82.057 matrículas em 2003, para 153.871 matrículas em 2019 no ERJ, com um crescimento em números relativos 86%. 

Neste mesmo período, as instituições privadas saíram de 338.432 matrículas em 2003, para 363.055 matrículas em 2019, ou seja, uma ampliação de apenas 24.623 matrículas, equivalentes a apenas 7%, doze vezes menor do que o crescimento de matrículas nas instituições públicas. Abaixo dois quadros. O primeiro mostra a evolução de matrículas por município fluminense entre 2003 e 2019 e seus percentuais. Abaixo um segundo quadro com as matrículas totais na graduação presencial no ERJ por setor público (federal, estadual e municipal) e do setor privado.

Para ver a imagem abaixo dos quadros em tamanho maior clique sobre ela.


Vale registrar que as matrículas no ensino superior nas instituições públicas (universidades e institutos) crescem ou se mantêm a despeio das crises econômicas, enquanto no setor privado o ciclo de recessão se refere imediatamente no número de matrículas, por conta da dificuldade de pagamento dos estudantes.

Além disso, vale observar que quase que apenas nas instituições públicas há investimentos e articulação (mesmo que em graus variados) às duas outras duas pernas do tripé que dá qualidade ao ensino superior, que são: a pesquisa e a extensão. No caso das instituições privadas são raros e pontuais os investimentos em projetos e programas de pesquisas e pós-graduação. Isso em todo o país e não apenas no caso do ERJ.

Outra observação a ser feita antes de apresentar a tabela é que entre 2003 e 2019 é que neste período houve uma significativa interiorização da oferta de matrículas no ensino superior, apesar da ainda enorme concentração das vagas na capital fluminense. Em 2003, um total 260 mil de 420 mil matrículas estavam na capital, equivalentes a 62%. Em 2019, a capital tinha 54% do total de matrículas em todo o ERJ. Um percentual ainda muito alto. Em 2003 eram 31 municípios com cursos superiores e em 2019, um total de 42 dos 92 municípios fluminenses possuíam cursos de graduação presenciais.


Polos de ensino superior no ERJ

Por fim, vale observar ainda 13 (treze) polos, com importância crescente no número de matrículas no Ensino Superior no ERJ. Eles estão em municípios de porte médio e se desdobram de outros polos regionais. Cinco deles reforçam o peso da quantidade vagas na Região Metropolitana do Estado aumentando a centralização já existente com as 54% das matrículas do ensino superior na capital.

Vale observar que nos últimos anos há variações nestes números de matrículas, por município devido à presença majoritária de instituições públicas de ensino superior que se mantém ou cresce ou das instituições privadas que perdem matrículas rapidamente com início de crises econômicas, como já comentado.

Região Metropolitana + Serrana
Niterói - 54.197 matrículas;
Nova Iguaçu - 24.818 matrículas;
Duque de Caxias – 16.643 matrículas;
São Gonçalo - 11.398 matrículas;
Seropédica - 10.625 matrículas;
Petrópolis – 9.918 matrículas.

Região Norte e Noroeste Fluminense + Baixadas Litorâneas
Campos dos Goytacazes - 19.037 matrículas;
Macaé - 9.398 matrículas;
Itaperuna - 8.691 matrículas;
Cabo Frio - 7.228 matrículas;

Região Sul Fluminense
Volta Redonda - 13.861 matrículas;
Resende - 6.353 matrículas;
Barra Mansa – 5.011 matrículas.

O aprofundamento da investigação destes dados permite análise em outras dimensões para além da evolução do número de matrículas ao longo dos últimos dezesseis anos.

terça-feira, novembro 03, 2020

Disputa no e-commerce de varejo no Brasil: entre o intangível do digital e a materialidade da infraestrutura de logística

Este texto-ensaio com o título acima dá prosseguimento a um artigo anterior também publicado na revista ComCiência, editada pelo Labjor (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo) da Unicamp e pela SBPC. 

O primeiro ensaio “Commoditificação de dados, concentração econômica e controle político como elementos da autofagia do capitalismo de plataforma” [íntegra aqui], trouxe uma síntese como contribuição para o aprofundamento e debates sobre o fenômeno da plataformização que produz significativas transformações no modo de produção capitalista no mundo contemporâneo. Nele foram apresentadas interpretações teóricas sobre o capitalismo de plataformas, dados empíricos e análises sobre a expansão do uso das redes sociais e dos streamings e a relação disto com o processo de plataformização.

Nesse segundo texto "Disputa no e-commerce de varejo no Brasil: entre o intangível do digital e a materialidade da infraestrutura de logística" [íntegra aqui] o foco são as dimensões econômica e espacial sobre o movimento do comércio eletrônico (e-commerce) no Brasil nos últimos anos. As análises nessas dimensões permitem que se avance nas investigações sobre o processo de plataformização, como importante elemento que contribui para o deslocamento do capitalismo contemporâneo. 

O comércio eletrônico (e-commerce) do varejo no Brasil e no mundo se expandiu com a pandemia e com o uso massificado das plataformas digitais. O e-commerce representa a articulação entre o virtual da plataforma digital e o real da logística de entrega da mercadoria, uma junção que explica a plataformização neste tipo de negócios e deixam claras, entre outras, as razões e as motivações que cercam a privatização dos Correios no Brasil.

Esse estudo avalia os movimentos das maiores varejistas do e-commerce no Brasil: Magazine Luíza; B2W (Americanas, Submarino e Shoptime); Via Varejo (Casas Bahia e Ponto Frio); Mercado Livre e Amazon. E também comenta a atuação da chinesa Alibaba no Brasil que já é o seu quinto maior mercado no mundo.

O varejo é a atividade comercial em pequenas quantidades. É a última etapa do modo do produção capitalista que depende ainda da circulação para fazer chegar a produção ao consumidor. O varejo é classificado em vários setores de comércio em pequenas quantidades, mas o e-commerce tornou as fronteiras extremamente tênues, porque essas empresas cada vez vendem quase todo tipo de produto.

A pandemia só acelerou um processo que já estava em curso. No início do segundo semestre de 2020, o varejo vive uma expansão extraordinária do comércio eletrônico (e-commerce) em todo o mundo. O uso das plataformas digitais tornou essas fronteiras entre os tipos de varejo ainda mais tênues. As empresas-plataformas ao investirem no e-commerce e no marketplace (venda entre outros lojistas dentro de suas plataformas) passaram a ter uma atuação mais ampla, mesmo que mantendo foco e a prioridade nos ramos originais de seus negócios.

Sobre essas transformações, a UNCTAD (Agência das Nações Unidas para o Comércio e do Desenvolvimento) afirmou, após pesquisa feita em nove países, incluindo o Brasil, que a “pandemia da covid-19 mudou o consumo on-line para sempre” ... “acelerou a mudança para um mundo mais digital, transformando a maneira como o consumidor faz suas compras via internet.” É sobre essa realidade no Brasil que esse ensaio aborda, analisando fatos, agentes e os processos mais recentes desse setor de e-commerce do varejo. A análise contemporânea do setor de varejo permite identificar a relação existente entre o universo digital e o mundo real, quando o intangível do fluxo informacional se encontra com o tangível da logística de transportes dos produtos como etapa e elemento do capitalismo de plataformas.

As grandes corporações do varejo têm como projeto reduzir a descentralização que historicamente o setor possuía no Brasil. As empresas projetam uma atuação maciça apenas das players que, se levada a cabo, reduzirá significativamente parcelas dos comércios locais. O comércio local está sendo, paulatinamente, reduzido a alguns setores e em muitos casos também ligados às redes nacionais e às franquias, que em boa parte são hoje também controladas pelos fundos financeiros. Desta forma, os excedentes econômicos regionais estão sendo capturados pelas plataformas digitais que são, em última instância, também controladas pelas Big Techs que funcionam como plataformas-raiz. 

A captura da distribuição e das vendas diretas de mercadorias (que antes eram realizadas pelos comércios locais) por parte das empresas-plataformas digitais já provoca desdobramentos importantes que também necessitam ser melhor investigados, no que diz respeito aos arranjos e aos circuitos econômicos regionais e de organização das cidades. 

O crescimento em ritmo muito acelerado do varejo online (e-commerce) está também produzindo uma expressivo rearranjo do setor de logística, atrelado às empresas-plataformas e aos seus esquemas de marketplace. O universo digital do e-commerce – considerado como atividade intangível (virtual) por alguns – se vinculou ao mundo real e material da infraestrutura de logística através das plataformas digitais.

As plataformas digitais (empresas-plataformas) conectam e fazem a intermediação entre dois mundos reais: o digital dos fluxos informacionais e o material da logística. Os fluxos digitais são intangíveis, mas também não prescindem do que também é material e tangível, como as infraestruturas com instalações de cabos, redes, computadores, expertises qualificadas em tecnologia da informação e comunicação (TIC), da mesma forma que precisam dos caminhões e armazéns gigantes da infraestrutura de logística.

Ambas as estratégias se desenvolvem na etapa de circulação da mercadoria, exatamente onde as empresas-plataformas lucram, ao extrair valor dessa etapa em si, mas também da produção e ainda da fase da distribuição para o consumo, que antes era feita, direta e exclusivamente, pelos comércios locais. Assim, o controle desse processo passa a ser feito pela etapa de circulação das mercadorias. É nessa etapa que a arquitetura digital-logística confisca enormes volumes de renda que agigantam essas empresas a partir do trabalho de intermediação que realizam.

As plataformas digitais e logísticas são em boa parte ativos das gestoras de fundos financeiros que, como proprietários dessas corporações, controlam a etapa de circulação informacional e material e assim completam e realizam a captura e a concentração das rendas extraídas de todo esse processo que está emergindo da nova etapa da reestruturação do modo de produção capitalista. 

Na condição de oligopólios, as corporações constituem na prática uma potente arquitetura do fenômeno da plataformização, que se desenvolve com tendências monopolistas conferidas pelo avanço tecnológico dos meios de circulação (digital e logístico) que constituem a hegemonia atual do capitalismo financeiro-informacional, como etapa posterior às fases comercial e industrial.

Enfim, esse ensaio sobre o e-commerce do varejo, além de expor a relação entre o universo digital e o mundo real, quando o intangível do fluxo informacional e o tangível da logística de transportes dos produtos se encontram, também demonstram como as plataformas digitais, como instrumento do capitalismo de plataformas, extraem valores e riqueza da produção e da distribuição para o consumo das mercadorias. Assim, essas empresas-plataformas contribuem para ampliar a precarização sobre o trabalho e a retirada de direitos sociais visando garantir maiores lucros e acumulação de capital no andar superior. É neste andar superior que o setor de tecnologia foi abraçado pela hegemonia financeira dos capitais de riscos e fundos e, assim, constituíram, esse novo oligopólio, quase que onipresente, sobre quase tudo que envolve a sociedade no mundo global na contemporaneidade.

É neste contexto que apresento mais este texto-ensaio que também buscou uma interpretação que une uma extensa pesquisa empírica sobre o desenvolvimento das plataformas digitais com a teoria, conceitos e categorias, na expectativa de estar contribuindo para ampliar a compreensão sobre as profundas transformações que o fenômeno do “plataformismo” exerce sobre o “modo de produção capitalista” no mundo contemporâneo.

PS.: 1- Abaixo, o quadro sobre as cinco maiores (players) Empresas-plataformas digitais de e-commerce de varejo que atuam no Brasil.

2 - Link para o texto na íntegra para este segundo ensaio: “Disputa no e-commerce de varejo no Brasil: entre o intangível do digital e a materialidade da infraestrutura de logística”: https://www.comciencia.br/disputa-no-e-commerce-de-varejo-no-brasil-entre-o-intangivel-do-digital-e-a-materialidade-da-infraestrutura-de-logistica/

                  Elaboração do autor: PESSANHA, 2020.

domingo, novembro 01, 2020

Nº de matrículas no ensino superior presencial cai 4% em Campos, RJ, mas com ligeiro aumento nas instituições públicas

O blog há quase duas décadas publica a evolução das matrículas nas instituições de ensino superior no município de Campos dos Goytacazes, RJ e demais municípios fluminenses. Os números têm sido tabulados para o blog pelo professor José Carlos Salomão Ferreira, usando a base de microdados do censo do Inep/MEC.

Os últimos dados divulgados há poucos dias são referentes ao ano de 2019. Eles trazem informações sobre os números de matrículas no ensino superior (graduação) presencial nas 12 (doze) instituições que ofertam vagas no município de Campos dos Goytacazes. Os quadros abaixo mostram ainda a evolução do quantitativo de matrículas gerais no município desde 2003 até 2019. Para ver a imagem do quadro em tamanho maior clique sobre ele:



Pelos quadros acima é possível identificar e destacar várias questões que merecem comentários:

1) Uma pequena queda de 3,94% em relação aos dados de 2018. Em números absolutos a queda foi de 19.818 para 19.037 universitários.

2) A queda de matrículas de 2019 em relação a 2018 em Campos dos Goytacazes, RJ, ocorreu nas oito instituições privadas que desceram de 11.350 universitários para 10.487. Já nas quatro instituições públicas o número de matrículas cresceu de 8.468 para 8.550 universitários. As variações são pequenas, mas com crescimento na UFF, UENF e Isepam e breve redução no IFF.

3) Em termos percentuais o crescimento das vagas nas instituições públicas subiu para 45%, quando em 2003 era de apenas 17%, Ao passo que nas instituições privadas reduziu de 73% para 55%, embora ainda seja maioria no município de Campos dos Goytacazes, assim como em quase todo o país.

4) Considerando o enorme desmonte que vem sendo implementado nas instituições públicas de ensino superior em todo o Brasil, desde o golpe político de 2016, com redução de orçamento para investimentos, custeio e bolsas, o fato merece registro e demonstra, não apenas a capacidade de resistência institucional, mas a disposição de atender à sociedade, a despeito do pouco caso dos gestores do Ministério da Educação (MEC) do desgoverno Bolsonaro.

5) Voltando à quantidade de matrículas no ensino superior em Campos dos Goytacazes, em 2019, o Instituto Federal Fluminense (IFF) continua sendo a instituição com maior quantidade de matrículas com 3.811 universitários, embora tenha perdido 72 alunos em relação a 2018. Essa liderança foi alcançada no ano de 2017, quando o IFF ultrapassou pela primeira vez a Estácio de Sá, para se tornar a instituição com o maior número de matrículas na graduação presencial no município de Campos dos Goytacazes, RJ. A Estácio de Sá continua sendo a instituição com o segundo maior número de universitários em Campos dos Goytacazes, embora tenha perdido 16% de alunos (508 estudantes) tendo em 2019 com 2.667 universitários, seguido de perto, em terceiro lugar pela UFF-Campos com 2.442 universitários.

6) Ainda pelo Censo 2019 (MEC/Ineep-2019), no município de Campos dos Goytacazes, a seguir estão: 4) a UCAM-Campos com 2.127 matrículas (-315 universitários); 5) Isecensa com 1.898 (-105 matrículas); e 6) a Uenf com 1.712 universitários.

Por fim, é possível ainda estimar que juntando aos números de matrículas nas graduações presenciais com aquelas nos cursos de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) estimadas em cerca de 5 mil, o número total de estudantes universitários no município de Campos dos Goytacazes deve continuar se situando na faixa das 25 mil matrículas. [5] [6] [7] [8].

É provável que esta realidade tenha sido muito alterada em 2020 com a ocorrência da Pandemia. De qualquer forma, vale registrar, em ano de debates e eleições municipais que este segue sendo um dos maiores potenciais a ser utilizado para pensar o território e a região. Interessante que ele resista à debacle da economia petrorrentista em decadência desde 2015 na região Norte Fluminense.

Adiante, o blog vai publicar o quantitativo de matrículas no ensino superior (graduação) presencial em todos os municípios do ERJ. Abaixo nas referências, o blog lista os links das postagens anteriores sobre o quantitativo de matrículas em Campos dos Goytacazes, RJ.


Referências:
[1] Postagem do blog em 22 de setembro de 2019. Nº de matrículas no ensino superior presencial se estabiliza em Campos nos últimos 4 anos: percentual aumenta nas públicas. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2019/09/n-de-matriculas-no-ensino-superior.html

[2] Postagem do blog em 23 de setembro de 2018. Apesar da crise, as matrículas no ensino superior em Campos se estabilizam em 20 mil graduandos. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2018/09/apesar-da-crise-as-matriculas-no-ensino.html

[3] Postagem do blog em 11 de novembro de 2017. Censo do Ensino Superior 2016: Campos com 19,8 mil universitários. E a qualidade? Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/11/censo-do-ensino-superior-2016-campos.html

[4] Postagem do blog em 8 de dezembro de 2017. Entre 2003 e 2016, as matrículas no ensino superior no ERJ cresceram 36%. Nas instituições públicas cresceram (82%). Mais de três vezes que (25%) o crescimento nas instituições privadas. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/12/entre-2003-e-2016-as-matriculas-no.html

[5] Postagem do blog sobre o Censo no anos anteriores. Em 23 nov. 2016.
Campos aumenta nº estudantes no Ensino Superior para 19,3 mil matrículas. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/11/campos-aumenta-n-estudantes-no-ensino.html

[6] Postagem do blog em 1 de mar. 2016. Campos possui 18 mil alunos no Ensino Superior. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/03/campos-possui-18-mil-alunos-no-ensino.html

[7] Postagem do blog em 18 de ago. de 2015. Ensino superior em Campos perde 4 mil matrículas em 5 anos. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2015/08/ensino-superior-em-campos-perde-4-mil.html?m=1

[8] Postagem do blog em 31 jul 2015. Campos tem 17,1 mil alunos matriculados no Ensino Superior. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2015/07/campos-tem-171-mil-alunos-matriculados.html