quinta-feira, março 25, 2021

O controle direto das mídias pelo setor financeiro e de igrejas no Brasil: casos da CNN Brasil – MRV, o BTG Pactual - revista Exame e XP com InfoMoney

 A divulgação hoje de que o jornalista Douglas Tavalaro (próximo da igreja Universal) que tocou o projeto de implantação da CNN-Brasil, está deixando o controle da emissora para o empresário Rubens Menin, que já era seu investido. A partir daí dois movimentos precisam ser avaliados:

1) O que Tavalaro vai fazer nos EUA e na CNN de lá? A serviço de quem?

2) A outra pergunta é por que a MRV está interessada no controle total da CNN, no mesmo movimento já feito pelo setor financeiro e de fundos?

A XP (Itaú) do portal sobre corporações e o mundo das finanças, o InfoMoney e o BTG Pactual assumiu a revista Exame. Enquanto o que restou do grupo Abril (na maior parte dívidas) foi adquirido por um operador do setor financeiro que mexe com empresas em recuperação judicial.

Há relação entre estes movimentos? Quem é o grupo MRV?

Grupo que nasce em 1979 ligado à construção civil. Hoje é uma holding com 6 subsidiárias tendo a maior construtora do Brasil com mais de 500 mil unidades vendidas. A MRV teve receita de R$6 bilhões em 2019 e Ebidata de R$ 1 bilhão. Lucro líquido de R$ 690 milhões em 2019 e R$ 550 milhões em 2020 e R$ 7,35 desde lançamento de seu IPO. 35 mil unidades habitacionais lançadas em 2020 num valor de R$ 7,5 bilhões. MRV tem um Land Bank com estoque terras no valor de R$ 63,8 bilhões. 17,5 mil funcionários em obras mais cerca de 5 mil em outras atividades. Hoje trabalha com um SuperAPP e IA em negócios imobiliários, agilização de créditos, contratos eletrônicos, etc. É uma holding com ações em bolsas. Família Menin tem o controle de 37,7% das ações. Outros acionistas 44,7%. Fundo Atmos Capital 10%. Fundo Dynamo com 6%. No setor financeiro, a família Menim é também dona do Banco Inter, antigo Banco Intermedium, com sede em Belo Horizonte que é um destes bancos digitais do Brasil, ou fintechs que se deslanchou como o Nubank e o Original vinculados a meios de pagamento não bancários. O banco Inter patrocina o time de futebol do São Paulo, enquanto a família Menin é “mecenas” do Atlético Mineiro.

Por fim, é oportuno lembrar que a Igreja Universal também possui seu braço financeiro e vários outros negócios, para além da Rede de televisão e de rádios da Record.

A leitura que precisa ser aprofundada é como as pernas financeiras e midiáticas destes grupos cresceram tanto e deixaram ser contratadas e terceirizadas, passando a ser negócios próprios e diretos de seus grupos? Há ainda que se observar a integração destes veículos com as mídias e plataformas sociais.

Isenções tributárias, lavagem de dinheiro e densos fluxos financeiros parecem ser parte destes movimentos que mostram ainda relações de poder e com o Estado que é concessionário de muitos destes veículos de comunicação que seguem desregulados no que diz respeito não apenas, ao controle acionário, mas de conteúdos.

sábado, março 20, 2021

Dá para ressuscitar a Petrobras?, por Guilherme Estrella

O Guilherme Estrella é geólogo e funcionário aposentado da Petrobras, onde exerceu por último, o cargo de diretor de Exploração e Produção entre 2003 e 2012, período em que sua diretoria foi responsável pela atuação que redundou na descoberta do Pré-sal, que como ele diz em seu texto abaixo "é a maior província petrolífera do planeta nos últimos 50 anos".

Estrella como é suscintamente chamado, deixa evidente o seu caráter, quando gosta de ser identificado como "pai do pré-sal", porque atribui o resultado da colossal descoberta, a um trabalho coletivo de técnicos competentes e comprometidos com a empresa de todos os brasileiros. 

Tive prazer de conhecer o Guilherme no período final de minha pesquisa de doutorado sobre o tema do circuito econômico do petróleo. E de lá para cá, nós tivemos dois contatos pessoais e vários outros por telefone e/ou internet, num horizonte mais dilatado no tempo, mas sempre de muito aprendizado e diálogo construtivo, com trocas de informações e análises, imaginando uma reversão do quadro trágico atual pela qual passa a Petrobras e o Brasil. Ultimamente temos falado mais sobre o avanço dos fundos financeiros sobre os ativos da Petrobras.

Assim, recebi há pouco, este importante e sintético relato de Estrella, sobre a importância de uma empresa estatal de energia como a Petrobras, para qualquer projeto de desenvolvimento de inclusão social e com redução das desigualdades. 

O artigo foi publicado originalmente no site "Manifesto Petista" e autorizado por ele, para ser republicado neste blog. Um texto que faz um retrospecto histórico, mas acima de tudo fala da importância em "ressuscitar a Petrobras". Evidente que não se tratará de um caminho fácil e sem resistências e algumas perdas. Partes podem ser definitivas, mas parte é possível ser recuperada em sues objetivos estratégicos que coincidem com os interesses da nação. Tarefa necessária e possível. 

Por tudo isso, vale conferir o texto abaixo.
 

Dá para ressuscitar a Petrobras?

Por Guilherme Estrella

A Petrobrás foi a mais importante empresa estatal brasileira.

Criada em 1953, no governo Vargas, como operadora do monopólio estatal do setor de petróleo e gás brasileiro, a Petrobrás foi a ferramenta do Estado Nacional para resolver a dificuldade central que o Brasil enfrentava para construir um projeto de desenvolvimento soberano e voltado para os nossos reais interesses como nação: a falta de suprimento energético autônomo e abundante a longo prazo.

Esta missão da Petrobrás carregava em sua mais íntima essência o conceito universalmente aceito de que autossuficiência energética, sob o controle do Estado – a representar democraticamente o povo – é o pilar principal da soberania de qualquer nação que se queira minimamente soberana.

Até por que o período recente da história mundial nos ensina, à exaustão, que as mais importantes nações deste planeta construíram seus próprios projetos de país e suas respectivas proeminências geopolíticas globais a partir de contarem com fontes de energia abundantes e acessíveis dentro de seus próprios territórios, primeiro, e quando insuficientes, no exterior, por longo prazo.

Esta condicionante exclusiva provocou a 1ª Revolução Industrial – Inglaterra, Bélgica, Alemanha, França, em seguida a Confederação Alemã (unificada 1 século mais tarde), na Europa e Estados Unidos, após a independência. Segunda metade do Século XVIII.

Fonte primária de energia = o carvão.

Como consequência imediata, já no Século XIX, a industrialização europeia promoveu a construção, no hemisfério ocidental, das nações que surgiram como potências industriais e geopolíticas hegemônicas, com impérios coloniais que perduraram até mais da metade do Século XX.

Os Estados Unidos expandem seu território nacional até o Pacífico com seus trilhos e locomotivas.

Na segunda metade do Século XIX os Estados Unidos descobrem imensas jazidas petrolíferas – a 2ª Revolução Industrial – que os lançam à liderança mundial, construída ao longo de todo o Século XX. Esta base energética norte-americana foi complementada a partir da passagem séculos XIX/XX com o domínio da produção e distribuição de eletricidade.

A razão central da atividade industrial, como sabemos, é a criação de um processo virtuoso de causa e efeito entre desenvolvimento industrial e criação/inovação de ciência, tecnologia & engenharia, com toda a infraestrutura acadêmica/universitária a lhe dar permanente sustentação.

Mas e o Brasil? Como ficamos?

A metrópole lusitana não contava com reservas de carvão e assim também a joia de sua coroa colonial.

Isto lhe custou o golpe final em sua já há muito debilitada soberania, em favor da Inglaterra.

Não temos carvão de qualidade siderúrgica no Brasil.

“Independente” a partir de 1822 – passamos o Século XIX inteiro sustentados pelo tripé energético lenha-roda d’água-tração animal. Que era periférico quanto à real energia que viabilizava o Brasil como país e sociedade = o braço escravo.

Concretamente, depois dos lampiões a gás e as primeiras ferrovias– movidas a carvão importado da Inglaterra – por um curto período é com a eletricidade de origem hídrica que o real consumo de energia industrial chega ao Brasil e damos os primeiros passos, modestíssimos, no processo industrial. Mas com tudo importado, ciência, tecnologia, engenharia, máquinas as mais simples.

Chega Vargas, em 1930, retira o Brasil do Século XVIII e traz a “novidade” = energia (água e petróleo) é a base do desenvolvimento industrial e da soberania nacional. Como tal, deve ter sua gestão nas mãos do Estado. Para isso cria os instrumentos de governo para materializar este conceito fundamental.

Com Volta Redonda iniciamos, 200 anos depois dos europeus, um verdadeiro – ainda que pequeno com respeito às nossas riquezas naturais estratégicas – processo de industrialização.

Entretanto, um “calcanhar de Aquiles” nos enfraquecia = não tínhamos petróleo/gás natural e a hidroeletricidade sozinha era insuficiente para um processo industrial mais denso, abrangente, sem estar sujeito literalmente “à chuvas e trovoadas”. E, mais importante que tudo, soberano.

E criamos a Petróleo Brasileiro S.A. que, além de tudo, se materializa em decorrência de um grande movimento popular, nas ruas de todo o Brasil, o “Petróleo é nosso”! Empresa com simbolismo político inigualável para a autoestima do povo brasileiro.

Um detalhe importante: diferentemente da quase totalidade das empresas estatais brasileiras, a Petrobrás não teve origem em processos de estatização de empresas estrangeiras já existentes.

A Petrobrás foi criada como uma empresa estatal, de capital misto com a predominância do capital estatal para garantir a gestão direta por parte da União. E a ter como primeiros ativos instalações e competências genuinamente brasileiras oriundas do Conselho Nacional do Petróleo, ainda que muito modestas para enfrentar tamanho desafio de suprir de petróleo e gás este gigantesco país.

A Lei 2004 de 1953 concede à Petrobrás o monopólio de todo o segmento de petróleo e gás natural do Brasil, exclusive a atividade de distribuição.

Como monopólio estatal, a Petrobrás identificou e descobriu a Bacia de Campos e seus imensos campos petrolíferos que nos trouxeram a autossuficiência em 2006. Efêmera na medida em que os campos daquela bacia exibem uma acelerada perda de produção e, à época, o Brasil experimentava um processo de crescimento econômico acelerado, a ter como consequência direta o aumento rápido do consumo de combustíveis.

Desde a aprovação da lei 2004, grandes interesses não brasileiros, privados e estatais combatem a Petrobrás mais por ideologia do que por concretas razões materiais, na medida em que as bacias geológicas brasileiras, por serem geologicamente pouco conhecidas não exibiam potencial exploratório petrolífero importante.

Já o mundo a conviver – a partir da garantia do colapso próximo da URSS – com a hegemonia unipolar geopolítica norte-americana, o governo dos EEUU elabora, em 1989, o chamado “Consenso de Washington”, criado por instituições financeiras situadas na capital do país: FMI, Banco Mundial, Departamento do Tesouro.

Pela definição original de seu próprio inspirador, o texto daí originado significa “o mínimo denominador comum de recomendações de políticas econômicas cogitadas pelas referidas instituições financeiras e que deveriam ser aplicadas nos países da América Latina …”

Este conjunto de “regras” – um decálogo – na verdade, se transformou nos Dez Mandamentos da política capitalista liberal e imperialista do “grande irmão do norte”.

Deles constavam, entre outros: abertura comercial; câmbio de mercado; investimento estrangeiro direto e sem restrições; privatização das estatais; desregulamentação das leis econômicas e trabalhistas. Parece com o que estamos a enfrentar hoje ou é apenas uma coincidência?

Estas regras começam a ser implantadas no Brasil principalmente a partir dos anos 1990, com destaque para os dois períodos dos governos FHC.

FHC, entretanto, não consegue vender o controle da Petrobrás mas revoga a Lei 2004, abre todo o nosso setor de petróleo e gás ao mercado e imprime à Petrobrás uma gestão privada e já com roupagem claramente não industrial mas financista.

A começar pela área de exploração e produção domésticas, na medida em que implanta uma política de abandono de regiões com menor produção e concentração na área onde os investimentos exibiam o carimbo indelével das operações bancárias = maior lucro, no menor tempo possível, com o menor risco. Na Bacia de Campos.

O restante do território nacional aberto às empresas privadas, a aguardar seus investimentos.

Na distribuição, abre o capital da BR.

Esta política inicia a quebra, o desmonte do caráter essencial da própria fundação da Petrobrás como empresa estatal, a estar presente em todo o território nacional, em todas suas áreas de atuação. No caso da exploração e produção, em todas as áreas que exibissem prospectividade para novas descobertas.

Foi assim que o governo Lula, em 2003, encontrou a Petrobrás. Quadro que foi revertido, por determinação direta do acionista controlador da empresa, a União.

A Petrobrás retoma seu compromisso com o povo brasileiro – seu verdadeiro proprietário – com o desenvolvimento nacional e reassume seu protagonismo no setor de petróleo e gás brasileiro. E não só em exploração e produção, mas como uma empresa integrada de energia e atividades diretamente decorrentes de petróleo e gás natural, em todo o amplo espectro de sua atuação – refino, distribuição (fecha o capital da BR), combustíveis renováveis, geração termoelétrica, fertilizantes, petroquímica em todo o território nacional.

A Petrobrás reativa a sua grande competência técnica, científica, tecnológica desenvolvida em 50 anos de pesados investimentos em seu quadro profissional e se consolida como a maior empresa brasileira e uma das maiores empresas petrolíferas mundiais, internacionalmente reconhecida.

A descoberta, pela Petrobrás, em 2006, da maior província petrolífera do planeta nos últimos 50 anos, o nosso pré-sal, é consequência direta da competência de seu quadro de empregados e da firme decisão política de um governo comprometido com um projeto de desenvolvimento nacional integrado e soberano.

Mas, para o “outro lado da mesa” – os representantes do poder do grande capital transnacional, os obedientes, submissos seguidores daqueles que conceberam os Dez Mandamentos do Consenso de Washington – estes fatos não passaram despercebidos.

A maior e mais importante empresa estatal brasileira surge como o principal alicerce de um projeto integrado de Brasil afinal soberano, com a total participação da empresa privada brasileira, a universidade brasileira, alicerçado numa base energética de gigantescas dimensões, a garantir energia abundante e a custos baixos, durante as próximas 4 ou 5 décadas, para a indústria e para a sociedade em geral era – e é!- inaceitável.

Um Brasil soberano certamente abalaria, a médio prazo, a segurança de suas posições geopolíticas de hegemonia, de poder.

Ainda mais com o Brics!

Desde então, como é conhecido por todos, este processo político está acelerado para arrasar com estas pretensões brasileiras.

E absolutamente nada poderia limitar as ações praticadas com este objetivo, desde espionagem a roubo de computadores do campo de Lula.

No centro de tudo estão as grandes reservas de petróleo e gás natural do nosso pré-sal, que eles enxergam como uma espécie de reserva energética estratégica, na medida em que o Oriente Médio, seu tradicional supridor, é palco de crescente e incontrolável instabilidade política apesar de sua forte presença militar na região.

O pré-sal, a ter a Petrobrás como operadora única e a representar um governo nacionalista, confronta-se diretamente com este interesse. Tornou-se imprescindível derrubar o governo e destruir a Petrobrás.

Surge a Operação Lava Jato, que tem origem no combate à corrupção mas que traz como meta central a destruição da Petrobrás e das grandes empresas de engenharia brasileiras.

Seus operadores, servidores públicos remunerados para fazer cumprir a lei brasileira, a desrespeitam de maneira grosseira e inaceitável. Todos a mando do governo norte-americano e com um só objetivo = condenar o Brasil a uma colônia do grande capital financeiro mundial.

Seus mentores estrangeiros através de seus representantes locais provocam o golpe de 2016 e instala um governo que inicia o processo de desconstrução da soberania brasileira, Petrobrás no centro de tudo.

Em processo ilegal e fraudulento, corrompem as eleições de 2018, prendem sem provas e impedem a candidatura do cidadão brasileiro que as venceria.

Este crime é fato comprovado, retira a legitimidade e torna, irremediavelmente nulas as suas decisões tomadas por esta atual governo brasileiro.

Este processo de destruição do Brasil, do Estado Nacional brasileiro é escancarado. A sociedade brasileira, estarrecida, é informada todos os dias, de crimes contra a ordem legal e constitucional de nosso país. A atentarem contra a soberania nacional porque dirigido diretamente pelo Departamento de Justiça de um governo estrangeiro anti-brasileiro.

Na verdade, o Brasil é um país ocupado por forças políticas estrangeiras, desde o golpe de 2016.

Como resultado direto, a Petrobrás não existe mais como empresa estatal. Tampouco é gerida como uma empresa privada de capital produtivo, mas sim de capital rentista.

O acionista controlador é formalmente o governo. Mas este governo – ilegítimo – é privatista, entreguista, escravo não do capitalismo liberal mas fundamentalista ideológico, de fazer corar os mais fanáticos “Chicago boys”.

Em 2019 a direção da Petrobrás torna pública sua decisão, já de há muito praticada, de reorientar os objetivos da empresa, consonante com as metas estratégicas de redução das dívidas e centradas na geração de valor para os acionistas – 64% privados, 42 % estrangeiros.

Quem dirige a empresa são os fundos transnacionais de investimentos financeiros que nada têm de compromisso com o Brasil e com o povo brasileiro. Venderam a BR Distribuidora, venderam o sistema tronco de gasodutos, venderam a refinaria de Mataripe, venderam os campos da Bacia de Campos e destruíram o complexo operacional de Macaé, vão vender todos os campos terrestres inclusive a área de Urucú, onde a Petrobrás criou um centro de produção de petróleo e gás natural em plena floresta amazônica, um patrimônio da humanidade, que é exemplo mundial de integração indústria-meio ambiente, vão vender todas as refinarias fora do eixo Rio-São Paulo, fecharam as fábricas de fertilizantes, venderam a área de bio-combustíveis.

Reduziram o Centro de Pesquisas a um “balcão de negócios”.

Apequenam a empresa e por isso reduzem drasticamente o corpo de empregados, praticam uma política de expulsão de empregados, gente da mais alta qualificação técnica, caminham para a privatização do fundo de pensão …

Todo este processo – já claramente tornado público – deverá ser acelerado neste ano e em 2022, para estar concluído antes da posse do novo governo.

A ficha precisa cair, a Petróleo Brasileiro S.A. não existe mais como empresa estatal tampouco como empresa privada brasileira!

A Petrobrás não existe mais como uma empresa estatal, é hoje apenas uma sigla a denominar uma instituição privada de investimentos financeiros cujo único e central objetivo é maximizar a remuneração de seus acionistas.

E atualmente quem são seus acionistas? Governo = 37%, acionistas privados= 63%, dos quais a maioria (42%) são estrangeiros. Logo, 63% – praticamente 2/3 – dos lucros da Petrobrás se destinam não ao povo brasileiro, representado pelo governo, mas aos proprietários privados, cuja grande maioria é de estrangeiros.

Em 2010 o governo detinha 58% das ações e os acionistas estrangeiros 30%.

Vamos então à pergunta que dá título a este texto: dá para ressuscitar a Petrobrás?

A resposta não é simples, mas há uma pré condição excludente: em razão das dimensões e do significado estratégico da Petrobrás, sua restauração como empresa estatal está irremediavelmente associada à própria recuperação da soberania brasileira, pelo povo brasileiro.

Em outras palavras, tomar de volta a Petrobrás para o Brasil vai simbolizar, material e politicamente o início do processo de recuperação da soberania nacional e da reconstrução das bases de um novo projeto de desenvolvimento do nosso país.

E, no meu modesto entender, não foi por outro motivo que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, em seu histórico discurso da última quarta-feira, nos metalúrgicos de São Bernardo do Campo tocou no único ponto específico de sua extraordinária mensagem ao povo brasileiro e ao mundo: em outras palavras, “estejam avisados todos aqueles que compraram partes da Petrobrás. Nós vamos tomá-las de volta”.

Não há espaço político para uma abordagem menos contundente em relação a esta matéria. Posições que levantam dificuldades de toda ordem para adotá-la cometem a impropriedade de considerar como atos jurídicos perfeitos decisões de um ilegítimo governo de ocupação estrangeira.

Juristas importantes e cidadãos brasileiros com consistência e prestígio político de total credibilidade apontam caminhos legais para esta proposta.

O ex-presidente Lula está certíssimo!

Esta deve ser uma cláusula pétrea, clara e inquestionavelmente incluída no programa de reconstrução nacional do Partido dos Trabalhadores apresentado ano passado ao povo brasileiro.

Somente com este posicionamento o Partido dos Trabalhadores cumprirá com seus compromissos originais para com a soberania nacional e o povo brasileiro.

Guilherme Estrela, geólogo e ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras (2003-2012)

sexta-feira, março 19, 2021

Royalties de março tem aumento de 20% na média

 As quotas mensais dos royalties do petróleo dos municípios neste mês de março de 2021, estão na média 20% maior do que as quotas do mês de fevereiro. As razões são o maior valor do barril do petróleo e o dólar, moeda em que se faz as contas das participações governamentais decorrentes da produção de petróleo e gás no Brasil.

Mais uma vez, Maricá é o município com a maior receita: R$ 90,1 milhões. A seguir vem Macaé com R$ 65, milhões; Saquarema com R$ 57,8 milhões; Niterói com R$ 54,2 milhões. Campos dos Goytacazes tem a quinta maior receita com R$ 34, 9 milhões. Cabo Frio com R$ 21,4 milhões; Armação de Búzios com 17,7 milhões; Quissamã com R$ 15,9 milhões; Rio das Ostras com 12,5 milhões; Angra dos Reis com R$ 13,4 milhões e São João da Barra com R 11,3 milhões.

Esses valores serão depositados na próxima segunda-feira nas contas das prefeituras pela ANP. Os dados são da ANP e foram tabulados e enviados ao blog pelo Wellington Abreu, superintendente de Petróleo e Gás da Prefeitura de São João da Barra. Os dados do quadro abaixo apresentam as quotas de 21 municípios, sendo 19 do ERJ e 2 de São Paulo entre os meses março de 2020 e março de 2021. Para ver a tabela em tamanho maior clique sobre ela.


  

quinta-feira, março 18, 2021

Opinião crítica, corajosa e clarividente de Marcelo Pimentel no Podcast Roteirices: "Os miliares e a crise brasileira"

Vale muito conferir a entrevista que o Marcelo Pimentel Jorge de Souza ao jornalista Carlos Alberto Jr. e seu Podcast Roteirices, episódio Nº 110 que teve como título: “Os militares e a crise brasileira”.
 
Marcelo, coronel da reserva e chefe de estado-maior da região militar sediada no Recife*, tem sido uma voz altiva e crítica do caminho adotado pelos generais de politização do Exército e das Forças Armadas e a militarização da sociedade. Pimentel, utiliza diariamente as redes sociais, em especial o Facebook, para emitir opiniões críticas e corajosas em defesa da democracia.
 
Marcelo rejeita, compreensivamente, ser citado pelo cargo que tece quando esteve ativo na corporação que foi aqui descrito, apenas a título de referência, mas acima de tudo, ele não abre mão do direito eu consta da lei que garante aos militares da reserva o direito de expressarem suas opiniões.
 
Marcelo Pimentel é um dos autores do livro como o mesmo título do Podcast “Os militares e a crise brasileira, organizado pelo professor João Roberto Martins, junto de outros quinze pesquisadores que investigam o papel dos militares e das Forças Armadas no poder político do país.
 
Por tudo isso, vale conferir a entrevista e entender um pouco mais como o Partido Militar chegou ao Planalto, através do Bolsonaro, feito como instrumento, para um projeto de poder que abandona a ideia das Forças Armadas como instrumento de Defesa da nossa soberania.

Link do Podcast abaixo:



PS.: Atualizado às 13:38: corrigindo informação equivocada que dizia que Marcelo Pimentel tinha sido comandante do Exército do Nordeste, quando na verdade, seu último posto na ativa foi como chefe de estado-maior da região militar sediada no Recife

PS.: Atualizado às 00:20 de 19/03/2021: Vale ainda mais conferir a segunda parte da entrevista com o Marcelo Pimentel Jorge de Souza, coronel da reserva que pede para ser identificado pelo nome e não pelo cargo no Exército. Marcelo fala sobre as origens e o modo de operação do Partido Militar, que passa a desenvolver o projeto de poder, agora de dentro do Palácio do Planalto. Na postagem abaixo é possível ver a primeira parte da entrevista no ótimo Podcast, Roteirices, do jornalista Carlos Alberto Jr.

Link: 

PS.: Atualizado às 15:52: Terceira e última parte da entrevista do Podcast Roteirices com o Marcelo Pimentel sobre "os militares e a crise brasileira". Com ela se fecha a trilogia com os episódios 110, 111 e 112.

Link:
 

terça-feira, março 16, 2021

Plataformas digitais e Big Techs: inovação, financeirização e monopólio

Há algum tempo, ao abordar as plataformas digitais e o capitalismo de plataformas, eu venho tentando chamar a atenção para a relação entre inovação e financeirização no mundo atual.

Elas são almas-gêmeas e estão fortemente imbricadas e inter-relacionadas. Não existiriam as Big Techs sem a financeirização hegemônica no capitalismo contemporâneo. Assim, esse oligopólio da dominação tecnológica vai em direção ao desejo original de monopólio do capitalismo.

A financeirização apoiada pela tecnologia se aproxima da obtenção do monopólio de controle sobre o sistema que extrai o valor do trabalho e elimina, sem nenhum pudor, a concorrência de mercado.

 plataformização, as empresas-raiz-plataformas, não apenas transformam o Modo de Produção Capitalista (MPC), mas avançam com a força do poder de monopólio que manipula a política e controla o Estado.

As plataformas-raiz são as corporações que exercem a dominação tecnológica e avançam como predadores ou vampiros, capturando e engolindo as concorrências e promovendo aquilo que já foi amplamente estudado, só que como hipótese, que agora está prestes a ser realizar o antimercado. 

Essas primeiras leituras são partes das investigações científicas sobre dois movimentos que venho acompanhando mais de perto. Elas buscam compreender a extensão do fenômeno do capitalismo de plataformas ou do processo que venho chamando de “plataformização” ou “plataformismo”.

Trata-se de uma etapa mais recente do Modo de Produção Capitalista (MPC), que antes passa pelo taylorismo (fordismo) e pelo Toyotismo, mas sem deixar de conviver com estas fases anteriores, agora, sob novas roupagens, como o neo-taylorismo do trabalho precarizado e supervisionado pelos aplicativos. Já abordei esse assunto no artigo “Commoditificação de dados, concentração econômica e controle político como elementos da autofagia do capitalismo de plataforma”. [1]

 

E-commerce de varejo, meios de pagamento, rentismo e financeirização

Os dois processos a que me refiro, substantivando-o, passa ainda pela migração do comércio tradicional para o e-commerce de varejo e para a startupização. Assim, a inovação tecnológica e o empreendedorismo, estão sendo capturados pelo setor financeiro que desta forma elimina os custos e os riscos da inovação, ao mesmo tempo em que garante o controle dos “ativos vencedores” da economia real na atualidade.

De forma breve, é possível observar o movimento no comércio e circulação das mercadorias em que atuam as empresas-plataformas do e-commerce de varejo, tema tratado no meu artigo “Disputa no e-commerce de varejo no Brasil: Entre o intangível do digital e a materialidade da infraestrutura de logística” [2].

Em síntese, identifica-se nesse processo, uma migração da era do boleto, passando pelo cartão de fidelidade, chegando agora ao “superAPP”, os aplicativos que integram as vendas no e-commerce de varejo às operações financeiras decorrentes dos meios de pagamento.

Só para ter uma ideia, o Mercado Pago, um braço da empresa-plataforma de e-commerce de varejo, o Mercado Livre, hoje, movimenta duas vezes e meia mais dinheiro, do que a venda de mercadorias no shopping virtual, incluindo o marketplace. Em 2020, foram US$ 50 bilhões em transações financeiras contra US$ 20 bilhões na venda de mercadorias. Números da atuação do Mercado Livre nos 18 países em que está presente na América Latina.

Sem tomar muito tempo, vou citar dois outros exemplos que demonstram bem, como o rentismo entra no interior da economia real para extrair excedentes, promovendo um ciclo de acumulação financeira, ainda mais potente, a partir da base tecnológica das Big Techs (que ficam com sua parte).

O rentismo avança através da inovação dos meios de pagamentos digitais. Ele migra do esquema dos bancos tradicionais e é potencializado pelas fintechs (financeiras tecnológicas), com articulação dos fundos financeiros, que estão na base (background) deste movimento do capital junto aos fluxos financeiros que circulam no potente comércio do varejo hoje ampliado pelas vendas digitais.

Outro caso é do ramo da mídia corporativa. Enquanto a rentabilidade do grupo Folha de São Paulo patina com as suas várias empresas, a Pag Seguro (das maquininhas), teve um lucro líquido em 2020, ano da pandemia, de nada mais nada menos, que R$ 1,4 bilhão.

O terceiro caso empírico para explicitar a relação entre a economia real e a financeirização é de uma corporação do varejo, a Riachuelo através do seu braço financeiro, a Midway (em vias de ser oficializada como banco).

A Midway com o seu cartão (RCHLO) além de ser responsável por cerca de metades das vendas do grupo (nas lojas ou e-commerce), possuía em 2020, uma carteira de crédito com R$ 3,7 bilhões e ativos de R$ 6,2 bilhões. A Midway já possuía em 2020, uma das 10 maiores bases de clientes perante o Banco Central, sendo a maior entre as financeiras do segmento varejo, trabalhando com 32,4 milhões de cartão de crédito para vendas, empréstimos pessoais, cobranças digitais, etc.

Poderia citar vários outros exemplos em que lucros financeiros definem os lucros líquidos totais de grandes grupos e corporações. Os três exemplos acima (e-commerce, mídia e varejo) são ilustrativos para identificar como o rentismo e a financeirização foram se tornando parte dos negócios das empresas (o mais rentável) e não um setor à parte como antes. A digitalização e as plataformas estão aumentando a potência destes negócios imbricados ao esquema rentista-financeiro.

Por isso, a discussão sobre taxas de juros passa a ser uma questão mais complexa, que supera a dualidade que se fazia entre o setor bancário e financeiro e a economia real. Tema que gerava (e ainda gera) tantos debates, em termos de regulação financeira e políticas públicas desenvolvimento e que o movimento do capital foi superando.

 

Fundos financeiros, inovação tecnológica e startupização

A financeirização e o rentismo se tornaram partes integrantes e vinculadas à economia real. A fluidez disso tudo só se tornou possível no volume que é hoje, por conta do uso intensivo dos fundos financeiros que oferece uma hipermobilidade setorial e espacial ao capital. Trato disso, no meu livro “A ‘indústria’ dos fundos financeiros potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo”. (Imagem ao lado) [3]

Ainda sobre o movimento mais recente do capital vale ainda descrever uma outra linha de investigação que descrevo num texto “Inovação, financeirização e startups como instrumentos e etapas do capitalismo de plataformas” que está saindo no livro “Geografia da Inovação: Território, Redes e Finanças”. Neste texto, destaco a relação direta entre os fundos financeiros e o lançamento de startups (processo que chamo de startupização).

Em um processo paulatino, mas crescente, as gestoras de fundos financeiros passaram a controlar as ideias inovadoras, o lançamento de editais e aportes de capitais, deixando clara a forma e o processo como o capital passou a capturar todas as novas empresas inovadoras e de sucesso que despontam, sem os conhecidos riscos do mercado.

Segundo a Abstartups (Associação Brasileira de Startups) [4], em 2011, ano de criação da associação, o país contabilizava 600 startups instituídas. Em 2019, o Brasil já havia multiplicado em mais de 20 vezes esse número em relação a 2011, alcançando um total de 12.727 startups, a grande maioria (3/4) empresas-plataformas ou aplicativos digitais.

Em 2018, surgiram o que o mercado chama de primeiros unicórnios, startups cujo valor de mercado ultrapassa US$ 1 bilhão. Em 2020, já eram 12 unicórnios e previsão em 2021 (anos da crise econômica e pandêmica) desse número chegar a 20. Esses dados reforçam a interpretação da relação umbilical entre inovação e financeirização, através também do processo de startupização.

Segundo dados da consultoria Distrito, que atua fazendo essa intermediação entre capital e as startups – que chamam de “aceleração no ecossistema de startups” -, o volume de investimentos em startups no Brasil alcançou US$ 1,39 bilhões em 2018; US$ 2,96 bilhões em 2019 e chegaram a US$ 3,14 bilhões, em 2020, ano da pandemia. Sendo metade, apenas das Fintechs que receberam aportes de US$ 1,5 bilhão. Ainda segundo previsão da Distrito, em 2021, esse volume de investimentos deve chegar a US$ 5 trilhões [5] [6]. Assim, em apenas quatro anos (2018 a 2021), os investimentos em startups no Brasil somarão US$ 12,5 bilhões.

 

Considerações finais

Enfim, considerando a leitura mais totalizante deste processo e de suas estratégias, não há como analisar nenhum destes fenômenos da plataformização, financeirização e startupização de forma isolada. Eles só existem da forma conjunta e complementar e são responsáveis pelos maiores oligopólios da história da humanidade, num patamar acima do que foram as corporações do setor de óleo (Big Oil), as grandes siderúrgicas e as montadoras de automóveis nos primórdios do capitalismo.

A escala de concentração econômica é gigantescamente maior e com o agravante de agir de forma direta, ou transversal, sobre todos os demais setores da economia, ou frações do capital, na direção da dominação tecnológica e do rentismo num ambiente que já é de hegemonia financeira.

Tem-se aí um novo tipo de oligopólio que exerce um nível de domínio de mercado nunca visto antes, com poder anticoncorrencial e de certa forma, também como antivalor na leitura da Economia Política (Oliveira, 1988) [6] no que diz respeito ao desenvolvimento das forças produtivas, das relações no interior do MPC e entre as classes sociais e o Estado.

Os enormes oligopólios atuam como predadores com tendências ao monopólio e ao antimercado, sonho original do capitalismo. Assim, o capitalismo contemporâneo avança em termos de acumulação de capital e das relações de poder sobre o Estado, quando a regulação passou a ser apenas uma quimera, diante do processo de dominação total.

 

Referências:

[1] PESSANHA, Roberto Moraes. Commoditificação de dados, concentração econômica e controle político como elementos da autofagia do capitalismo de plataforma. Revista ComCiência do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp e SBPC. 16 de setembro de 2020. Disponível em: <https://www.comciencia.br/commoditificacao-de-dados-concentracao-economica-e-controle-politico-como-elementos-da-autofagia-do-capitalismo-de-plataforma/>

[2] PESSANHA, Roberto MoraesDisputa no e-commerce de varejo no Brasil: Entre o intangível do digital e a materialidade da infraestrutura de logística. Revista ComCiência do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp e SBPC. 2 de novembro de 2020. Disponível em: <https://www.comciencia.br/disputa-no-e-commerce-de-varejo-no-brasil-entre-o-intangivel-do-digital-e-a-materialidade-da-infraestrutura-de-logistica/>

[3] PESSANHA, Roberto Moraes. A ‘indústria’ dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo. Rio de Janeiro.  Editora Consequência. 2019.

[4] Associação Brasileira de Startups (Abstartup), criada em 2011 com o objetivo de promover e representar as startups brasileiras. Tem sede no município de São Paulo, e seu portal informa que possui mais de 1000 startups inscritas na associação: <https://abstartups.com.br/>.

[5] O Globo, 4 janeiro 2021, P.21. MATSUURA, Sérgio. Apetite para o risco – Após captação recorde de US$ 3,1 bi em 2020, start-ups seguem na mira de investidores. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/start-ups-batem-recorde-em-2020-com-us-31-bi-em-aportes-seguem-na-mira-dos-investidores-1-24821880>.

[6] O Globo, 7 de março de 2021, p.32. ROSA, Bruno. Brasil terá 20 unicórnios em 2021, prevê especialista. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/brasil-tera-20-unicornios-em-2021-preve-especialista-24913183>

[7] OLIVEIRA, Francisco de. O surgimento do antivalor: capital, força de trabalho e fundo público. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n.11, p8-28, out.1988. Disponível em: < http://novosestudos.uol.com.br/v1/files/uploads/contents/ 56/20080623_o_surgimento_do_antivalor.pdf>

sexta-feira, março 05, 2021

A geopolítica da vacina: Taiwan troca microprocessadores por vacinas


A disputa que envolve a luta (guerra) pelas vacinas vai muito para além do que as Big Pharmas (grandes farmacêuticas) globais fazem, para garantir os seus espaços na extração de riqueza dos países, onde atuam fornecendo medicamentos e vacinas. Em especial, neste momento de desespero diante do combate ao vírus corona, suas mutações e à doença da Covid.

Embora, as primeiras vacinas tenham sido produzido por grandes farmacêuticas globais, com apoio científico e tecnológicos das grandes universidades e seus centros de pesquisas em biotecnologia, outras estão sendo desenvolvidos por instituições públicas de pesquisas, mesmo que em ritmos menos velozes e, em breve, estarão disponíveis.

Essas vacinas das Big Pharmas não teriam saído sem os vultuosos aportes de fundos públicos seja nos EUA, União Europeia ou na China. Chamamos a isso, Condições Gerais de Produção, onde a participação do Estado é condição “si ne qua non”, como já mostrou a Mariana Mazzucatto, em seu livro “O Estado empreendedor”.

No meio desse processo muitas articulações entre gestores públicos, negociações comerciais e financeiras foram e continua sendo acertadas. Porém, mais do que isso, interesses de nações estão em curso envolvendo a geopolítica, que pode ser traduzida como supremacia de uns em relação a outros.

Vacinar as populações garantem poder às nações e isso já é razão de disputa de alinhamentos e preferências comerciais. É nesse escopo que o isolamento quase total do Brasil é calamitoso. Não apenas pelo negacionismo, como pela obtusidade com que o Partido Militar viu essa questão durante todo o tempo com olhar ideológico que negou a realidade, por exemplo, em relação à China e ao acordo do Butantã com a farmacêutica chinesa Sinovac, criadora da vacina Coronavac.

Neste contexto não é difícil compreender que a procura pelas vacinas colocam em riscos a liderança dos governos diante de suas populações. Repito, a luta pelas vacinas é basicamente uma disputa entre governos e suas nações no jogo da geopolítica global.

Aliás, a geopolítica se dá tanto na via das nações produtoras de vacina (China, EUA, Índia, Rússia, RU) que adquirem poder com o produto que todos querem, quanto para aqueles que precisam comprar, admitindo concessões não usuais que podem envolver para além de dinheiro, mas outros tipos de garantias e barganhas. Interessante que entre as nações do Brics, só Brasil e África do Sul, não estão no rol dos produtores e são dependentes das vacinas estrangeiras.

Nesta conjuntura é que surge o caso de Taiwan, uma ilha-nação do sul asiático. Taiwan é hoje o país onde está instalada a maior indústria de semicondutores do mundo, a TSMC, que atende todos os grandes fabricantes mundiais de celulares, equipamentos e rede de informática, televisões, etc. e está no centro da guerra tecnológica entre EUA x China no fornecimento de microchips.

Pois bem, Taiwan, onde moram cerca de 24 milhões de pessoas, no meio de algumas dificuldades do governo para ter acesso à vacina para sua população colocou à disposição dos países produtores de vacina na Europa, lotes de seus microprocessadores (microchips) em troca de outros tantos de vacina contra a Covid.

Não, não se trata da estória da introdução de chips dentro das vacinas os negacionistas e terraplanistas. 

É sim, uma espécie de escambo emergencial inusitado nos tempos atuais. O fato, já noticiado no final de janeiro [1] foi citado ontem, pelo cientista Miguel de Nicolellis, em conversa com cientistas estrangeiros [2], ilustra bem como a supremacia científica e industrial de um país em relação a outros num momento emergencial e dramático como o que vivemos.

A Índia mesmo, chegou a humilhar o Brasil em janeiro passado, ao retardar a entrega de dois milhões de vacinas da Oxford fabricada em seu país, por posição a seu favor na ONU. Outros casos estão vindo à tona de troca de vacinas, por garantias e aberturas comerciais e de mercado para quem precisa desesperadamente do imunizante.

Consta que a própria China estaria impondo, condições para exportações do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) - insumo principal de todo medicamento ou vacina -, assim como para o produto acabado.

Quem atua no mercado internacional sabe como funciona o pragmatismo das relações comerciais e de negócios que envolvem a geopolítica e os interesses das nações.

No Brasil, o Partido Militar no (des)governo, mesmo que formado para atuar na guerra, acredita que alinhamento automáticos e dependência consentida fossem resolver os problemas de uma nação que se tornou pária no mundo.


Referências:

[1] Matéria do WCCFTECH, em de 31 de janeiro de 2021. ZAFAR, Ramish. Troca de 'chip por vacina' da TSMC para atrasar a produção de chip de circuito integrado. Disponível em: https://wccftech.com/tsmcs-chip-for-vaccine-swap-to-delay-integrated-circuit-chip-production/

[2] Miguel de Nicolellis em entrevista ao GGN do Luiz Nassif em 04 de março de 2021. Nicolellis defende intervenção no Ministério da Saúde: “Salvação Nacional”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XRj7dTGQw1w

PS.: Atualizado às 13:56: para corrigir o termo Big Fharmas, que incorretamente estava grifado como Big Farms. Agradeço ao comentário do leitor alertando para o erro.

segunda-feira, março 01, 2021

A construção da guerra federativa do desmonte nacional!



A guerra federativa do desgoverno do Partido Militar contra governadores é muito profunda e de riscos incalculáveis.

Essa disputa não é só de Bolsonaro é de todo o Partido Militar que tenta proteger os generais - como o sem noção Pazuello e demais - e vai arrumando sempre inimigos na guerra do ódio.

Essa disputa federativa chega a nós cidadãos com o efeito da máxima de que "cada se vire como puder".
 
Isso começou com a negação da pandemia, se ampliou com a propaganda de remédios sem efeitos, seguiu com o enrolo em relação às vacinas e agora com relação à distribuição orçamentária, como se as pessoas não vivessem nas cidades e estados, mas de um único país. Ninguém mora na nação, sem morar num município ou estado.
 
O desgoverno da boquinha não consegue resolver nenhum problema. Assim, indefinidamente arruma inimigos para jogar a culpa.

Hoje, os governadores e prefeitos sofrem a pressão das vítimas dos hospitais, leitos e UTIs lotadas e o desgoverno acha pouco. E fica jogando uma parte da população contra outra.
 
Por isso, insisto, não há colapso. O que há é genocídio, não apenas do capitão, mas de todo o Partido Militar.

O resultado disso é a redução e a perda da identidade, do sentimento de pertencimento à nação Brasil. União sem soberania e sem articulação e cooperação federativa não é nação.
 
Isso tudo parece cada vez mais a antessala da guerra de todos contra todos. Não diga que ela está surgindo naturalmente. Ela está sendo paulatina e criminosamente construída diante de reações ainda brandas do desmonte nacional.

Cretinos. Assassinos. Genocidas!

PS.: Atualização às 16:14: para breve acréscimo no penúltimo parágrafo.