sexta-feira, abril 30, 2021

Fundos financeiros deitam na farra da entrega fatiada da Cedae

Como tenho comentado aqui com alguma insistência, os fundos financeiros (capital sem rosto) avançam sobre as empresas da economia real para ter o seu controle e propriedade que chamam de ativos. 

Em especial os fundos avançam para ter o controle das empresas que estavam sob controle estatal e estão sendo entregues, desde 2016, na bacia das almas, a preço de xepa. 

Agora foi a vez da Cedae esquartejada em blocos, por exigência do desgoverno federal, dentro do tal plano de recuperação do ERJ. Com todos os problemas, a Cedae dava lucros. Assim, mais uma estatal é entregue com forte apoio da mídia que ganha seu quinhão nessa farra patrocinada pelo fundos financeiros que merecem ser conhecidos. 

Na mídia o nome dos fundos e corporações aparecem encobertos com pela definição “consórcio” e um nome de fantasia. 

Engraçado é que mais de 80% do capital que estes grupos entram no leilão é financiado pelo BNDES que não se dispõe a emprestar para a própria Cedae expandir sua atuação como seria desejável. Para este leilão, a Cedae foi fatiada para os leões do mercado financeiro. 

No certame encerrado há pouco, o leilão teve como vencedor do Bloco 1, que envolve a Zona Sul do Rio e alguns municípios o Consórcio Aegea que também levou o Bloco 4, área do Centro e Zona Norte da capital e outros municípios. Esse "consórcio" é controlado pela empresa financeira Equatorial Energia, a mesma que tem participação na Light e controla diversas outras empresas, também concessionárias de serviços púbicos, só que de energia elétrica, no Rio Grande do Sul, Pará, Maranhão etc. 

Já, o Bloco 2 da Cedae que envolve Barra da Tijuca e outros municípios fluminenses, ficou com a Iguá Saneamento que é controlada pelo fundo FIP Iguá (Fundo de Investimento em Participações Multiestratégica) e também pelo fundo de pensão canadense, Pension Plan Investment Board (CPPIB) que, em março agora, de olho na concessão da Cedae aportou R$ 1,178 milhões no Iguá. 

Ou seja, uma ironia, os trabalhadores canadenses são donos agora de uma parte da Cedae esquartejada e privatizada. 

Assim, o setor de infraestrutura no Brasil (rodovias, concessionárias de energia elétrica e saneamento, aeroportos, petróleo, gás, etc.) é cada vez mais controlado pelos fundos financeiros e quase sempre com empréstimos generosos do BNDES. 

Ah, um detalhe, nenhum consórcio ou fundo quis a fatia do Bloco 3, a região mais pobre do Rio, a zona oeste. Por que será?


PS.: Atualizado às 01:58: A Iguá Saneamento é controlada pela gestora financeira IG4 Capital e tem como seus principais acionistas os fundos de pensão canadenses Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB) e Alberta Investment Management Corporation (AIMCo).

A Aegea Saneamento tem como acionistas o grupo Equipav (70,72%), o fundo de Cingapura GIC (19,08%) e a recém-entrada Itaúsa (10,2%), que anunciou um aporte na empresa nesta semana. A Aegea que já opera concessões de IE em vários municípios e estados tem participação crescente de agentes financeiros em sua direção.

A Equatorial Energia fez propostas mas não venceu nenhum deles. De qualquer forma, se vê a liderança dos fundos financeiros nós consórcios vencedores do leilão.

quinta-feira, abril 29, 2021

Quilombo da Barrinha e o projeto-prateleira do Porto Norte Fluminense em SFI

Em setembro de 2013 eu comentei (aqui) no blog sobre o projeto do Porto Canaã em São Francisco do Itabapoana levantando várias questões. De lá para cá, o projeto mudou de nome para Porto Norte Fluminense, recebeu a licença prévia (LP) e agora incorporou a ideia do terminal portuário de apoio offshore, um projeto de um hub de gás natural com duas usinas termelétricas (UTEs), uma unidade de processamento e de regaseificação de LNG. Trata-se do que chamo de projeto-prateleira, em que seus idealizadores organizam ideias para serem licenciadas em busca de investidores e fundos financeiros. Segundo a EPE (Empresa de Empresa Energética do MME) há 21 projetos de terminais portuários de LNG e UTEs na prateleira.

É sobre esse assunto que a professora Carolina Cássia me solicitou que retornasse ao tema dos projetos portuários. O convite foi para que participasse do debate com o lançamento do documentário sobre a Comunidade Quilombola da Barrinha que vive há séculos na área em que o projeto-prateleira está pretendendo se instalar e sequer foi mencionada nos estudos e relatórios de impacto amabiental (EIA/Rima). 

Ignora-se a presença histórica destas pessoas que vivem na Barrinha e que serão fortemente atingidas, em novo conflito socioambiental regional, se investidores financeiros interessados em rendimentos de curto prazo, ali resolverem alocar recursos, em capital fixo nestes empreendimentos voltados ao setor de petróleo e gás. Repete-se assim, a intenção violenta das desapropriações de terras que originou o Porto do Açu, mesmo que este seja um projeto de muito menor utilização de área.

Estudei, visitei e analisei portos instalados em muitos lugares do mundo, mas não tenho visto relações tão cruéis e violentas contra as comunidades nativas como tenho identificado aqui no país e, em especial no ERJ. Há um debate que contrapõe o crescimento econômico ao desenvolvimento que exigiria não digo comunhão (mas confrontação e exposição dos conflitos) de interesses de rendimentos financeiros e de capital ao de moradores e comunidades que estão sendo tornadas invisíveis, como se não existissem e não tivessem direitos. 

Os investidores que possam pretender apanhar este projeto na prateleira precisam saber destes conflitos socioambientais. Por tudo isso, eu qualifico o tema como importante. Assim, aceitei e reforço o convite da professora Carolina Cássia, para um diálogo aberto sobre o tema, a partir do documentário de sua autoria sobre a gente do Quilombo da Barrinha, que também só vou conhecer logo mais às 18:30 horas.



PS.: Atualizado às 13:42: Para breve acréscimo no texto.

sexta-feira, abril 23, 2021

O significado simbólico e trágico das flexibilizações do isolamento social em Campos dos Goytacazes

Deixe eu ver se entendi a situação da Covid em Campos, RJ. Até o dia 22 de abril sofremos 214 mortes. O maior número disparado de óbitos desde o início da pandemia, de um total de 1.056 mortes e com uma média – quase permanente - de aproximadamente 10 falecimentos por dia. Neste últimos quinze dias, a espera de leitos para UTI-Covid sempre esteve em torno de 30 na rede hospitalar do município. E ainda, a confirmação de que uma pesquisa em curso no município, já indica que a incidência da contaminação do Corona se pela nova cepa P1 do vírus, que é a mais contagiosa e grave.
 
Diante de tudo isso se falou que os alertas foram acesos. Quais alertas?

Porque o resultado de tudo isso foi um decreto com a ampliação da flexibilização com retorno de mais atividades e ampliação de horários. Isso baseado numa hipotética estimativa de promessa de melhora, mesmo diante de todos os riscos e indicadores? Difícil entender, mais ainda aceitar.

Infelizmente, é preciso dizer que isso é o resultado destas cores de faixas e protocolos incompreensíveis à maioria. Uma espécie de “meia boca das paralisações” feitas até aqui, em especial nas últimas duas semanas. Elas são bem intencionadas, mas não resolvem o problema sanitário, amplia a quantidade de vítimas e mortes e também nem atende aos comerciantes que vivem três crises superpostas. A crise econômica da falta de dinheiro, a pandemia e a pressão das mudanças do comércio eletrônico, das plataformas digitais que enforca os comércios locais.
 
Os esforços para a montagem de mais leitos de assistência e UTI para as vítimas da Covid também são bem intencionados, mas se colocam no plano de atender as consequências e não às causas. O mesmo em relação à vacinação - tão almejada, mas que é solução nos atende individualmente - até alcançar a marca de resultados coletivos.
 
Teríamos tido menos mortes, doentes e prejuízos materiais se lá no início do mês, quando a situação já era muito grave, tivesse sido decretado a paralisação total e o fechamento de tudo com auxílio financeiro e de alimentação àqueles de menor renda. Sei que isso não é medida fácil e que o município tem menor caixa, mas se trata de urgência. Entendo as dificuldades de setores da sociedade e das pessoas no plano individual e familiar, mas os exemplos no país e no exterior evidenciam os resultados que são rapidamente produzidos por uma paralisação total durante um período. "A meia boca" não resolve. O caso de Araraquara, SP, é claro e evidente, mesmo que muitos não queiram falar deste caso concreto.
 
Sei que todos, assim como eu estão cansados, angustiados e sofridos com tudo que vem ocorrendo. Sabemos que não é fácil a situação das autoridades, mas é preciso coragem em meio à diversidade de pressões de grupos e interesses. A maior parte legítima. Porém, não podem ser naturalizadas as mortes de 214 pessoas em 22 dias, com seguindo hospitais lotados e sem conseguir atender aos doentes que continuam a chegar. O pior caminho é o de numa situação destas da maior emergência da história se querer agradar a todos.

Infelizmente, sei que nada mudará e seguiremos assistindo a lógica que partiu do Planalto com a banalização da vida e do “cada um por si”, até que a vacina, lá pelo final do ano, possa produzir a proteção coletiva, que em última instância é o que se está a reivindicar, com a paralisação completa das atividades para interromper a quase livre contaminação. Minha solidariedade às vítimas e aos seus parentes e amigos neste momento de tanta dor e sofrimento. Tenhamos força para seguir em frente!

sexta-feira, abril 16, 2021

É urgente deter a precarização crescente no trabalho offshore na Bacia de Campos

A gestão do Castelo Branco e sua diretoria na Petrobras acelerou muitíssimo o processo de precarização do trabalho em diversos níveis e áreas de atuação da empresa. A precarização vai além da terceirização de atividades que acontecem cada vez mais em área, em que são extremamente especializadas e sensíveis, como a exploração de petróleo no ambiente offshore.

Tudo isso está se dando dentro de uma lógica irresponsável de pura redução de custos que está impondo uma nova “ordem no trabalho embarcado” que pode custar caro à empresas e seus acionistas que também pensam em altos rendimentos e de curto prazo.

Assim, a Petrobras e as empresas contratadas já se aproveitam da dilapidação que foi feita na CLT com a chamada “reforma” trabalhista e a previdenciária, impondo tipos de contratos de oferta de mão de obra que não existiam antes.


Um "caso" como referência da ampliação da precarização

Para ser mais preciso e localizar o início desses processos, eles começaram a ser desenhados desde 2016, quando na gestão Temer, o Pedro Parente assumiu a presidência ada Petrobras. O estímulo aos Planos de Demissão Incentiva e Voluntária (PDIV), aumento das terceirizações, quase sem limites em termos de tipos de serviços (abrangendo os especializados) e áreas, inclusive nas atividades fins.

Para ampliar a compreensão do que já está em curso, vale citar uma licitação realizada no fim de 2020, da qual participou 66 empresas (pasmem, 66 empreiteiras!), que prevê no contrato junto à Petrobras, já operado desde o fim de fevereiro deste ano, atividades de “apoio técnico especializado On e Offshore” nos ativos da Unidade de Negócios da Bacia de Campos (UN-BC).

O contrato de oferta de serviços atende as áreas em especial de Manutenção, Gestão de Materiais, Controle da Produção e SMS (Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho). Bom lembrar que o trabalho embarcado em unidades marítimas exigem para segurança operacional - de todos a todo o tempo -, já que o ambiente profissional e de habitabilidade são os mesmos na plataforma de produção.

O detalhamento do contrato e das atividades previstas deixa claro que se trata de função de planejamento e gerência, além da própria execução/operação, em atividades que são básicas e de responsabilidade direta da estatal e que evidentemente não se trata de “apoio técnico” e sim responsabilidade efetiva. Esse contrato específico, envolve quase cinco centenas de trabalhadores que já estão atuando em várias plataformas, segundo informações obtidas junto aos mesmos.

A questão ainda mais impressionante é que a Petrobras como empresa contratante, admitiu que o contrato fosse feito com “prazo determinado” e com remuneração vinculada às atividades (individual) e não a horas-homens (HH) trabalhadas, a partir de relatórios do trabalho específico de cada trabalhador que são submetidos aos fiscais de contrato.

Se já não fosse suficiente esses problemas, há que se registrar, ao contrário do que imagina, a maior parte das pessoas, se trata de serviços bem especializados, só que com remunerações que giram em torno de apenas dois salários mínimos, só acrescidos, de alguns extras pela condição de embarcado offshore e com cortes de direitos como plano de saúde para a família que agora foi cortado.

Além disso, não se pode alegar que se trata de “trabalho por tempo determinado”, se na verdade é um serviço permanente de produção de óleo e gás, sem delimitação de início, meio e fim.


É urgente deter a precarização do trabalho no setor petróleo

Do jeito que as coisas estão caminhando, sem limites e responsabilidades, dentro de pouco tempo, a Petrobras, já estará aceitando, mesmo no ambiente de operação offshore, prestação de serviços por trabalho intermitente, em que o trabalhador só será remunerado pelo tempo trabalhado e embarcado.

Não causará espanto se a empreiteira passar a apanhar qualquer trabalhador na esquina, para embarque e exercício de atividades nas plataformas, a partir da exigência apenas dos certificados mínimos de segurança previstos em lei.

O Ministério do Trabalho, a ANP, o Ministério Público do Trabalho e os Legislativos (Congresso e Assembleias Estaduais) precisam rapidamente exercer a reponsabilidade que possuem diante desta realidade.

Essas desigualdades de remuneração do trabalho é que levam a esta precarização que apenas engorda os lucros de intermediários de mão de obra. Assim, ele atuam como uma espécie de donos de escravos especializados e explorados. Na verdade, uma espécie de parasitas certificados pela estatal Petrobras.

Os trabalhadores acabam se submetendo a estas condições de exploração, porque não encontram alternativas. Desta forma, assim como os entregadores de aplicativos digitais, eles acabam implorando e aceitando a exploração, em troca das suas sobrevivência e das suas famílias.

Eu que desde a década de 90 acompanho e pesquiso – mais ou menos diretamente - as relações de trabalho no circuito econômico do petróleo, no ERJ e outras regiões do país, sequer poderia imaginar que chegaríamos a uma situação, próxima e similar, à servidão do feudalismo.

É inadmissível que as autoridades locais e regionais só pensem no setor de petróleo sob a lógica do petrorrentismo dos royalties do petróleo que chegam aos cofres dos municípios e dos estados.

A sociedade também não pode aceitar tudo isso passivamente. O petróleo tem sido fundamental para o Brasil, sua soberania, economia, desenvolvimento de tecnologia e para a geração de empregos, etc. Até por isso não é aceitável que não se olhe para os trabalhadores do petróleo de forma ampla, solidária e responsável.

segunda-feira, abril 12, 2021

Brasil chegou a 32 milhões de trabalhadores em plataformas digitais e aplicativos

Pesquisa do Instituto Locomotiva (ex Data Popular), divulgada nesta segunda-feira (12 abr. 2021), identificou que o Brasil saiu de um patamar 13% da população adulta trabalhando em aplicativos, em fevereiro de 2020, para um total de 32,4 milhões trabalhadores atuando em aplicativos digitais. Um percentual , subindo para 20% da força de trabalho, agora em março de 2021. 

Esses números se referem aos trabalhadores que atuam no processo que denomino como a APPficação. O termo (ou conceito) é porque vai além do trabalho no aplicativo da Uber, exatamente, aquele que deu início e popularizou o uso dessas ferramentas. A criação de aplicativos hoje é uma febre e um recurso fácil de usar. 

Essas versáteis ferramentas marcam a ampliação do domínio da tecnologia sobre todos os demais setores. O aplicativo é um software adaptado ao celular, que é a internet móvel ou embarcada. A pesquisa tabulou os que trabalham integralmente para os aplicativos, quanto ao que assim se movimentam para aumentar a renda familiar. 

Esses números não se referem apenas aos prestadores de serviços, como de transporte e entregas (delivery), mas também os milhões de trabalhadores que captam clientes no mundo da internet e, ainda  àqueles técnicos, mais qualificados e melhores remunerados, que atam na criação, desenvolvimento e manutenção destas ferramentas digitais. Em apenas um ano (2020, da Pandemia), o número adicional de brasileiros que passaram a trabalhar com a APPficação subiu em 11,4 milhões de trabalhadores.

Todos os números da pesquisas são espantosos e demonstram mostra como está se deslocando o Modo de Produção Capitalista (MPC), em que o processo de Appficação através das plataformas digitais servem aos vários setores da economia e da vida em sociedade. E assim, foram se transformando nos maiores empregadores (informais), como apontam estes números no Brasil.

A pesquisa qualitativa do Instituto Locomotiva, coordenado por Renato Meirelles, ex Data Popular, parte de uma amostragem da Pnad (Pesquisa Nacional Amostragem Domiciliar) do IBGE e ouviu 1,5 mil trabalhadores. As entrevistas foram feitas entre os dias 12 e 19 de março. Portanto, como amostragem, esses dados precisarão depois serem confirmados em pesquisa direta, mas já são dados super interessantes, porque vão além do mercado formal dos trabalhadores com careira assinada. 

O trabalho digital é um tema derivado do assunto mais geral do capitalismo de plataformas ou economia de plataforma. As plataformas devem ser vistas como meios (intermediação) de produção (comércio eletrônico, o e-commerce) e também como meios de comunicação, como no caso das redes sociais.

Infográfico do autor [1].
A tecnologia ganhou mais importância como instrumento digital que realiza esta intermediação entre a produção e o consumo. Na prática, uma infraestrutura que atua remetendo a uma "quase revolução da etapa de circulação da mercadoria", dentro da leitura da tríade marxiana: "produção, circulação e consumo". [2]

As plataformas digitais são estas infraestruturas de intermediação entre grupos de produtores e consumidores de produtos serviços e também comunicação que estão produzindo transformações no Modo de Produção Capitalista com a chegada da etapa do "Plataformismo". [3]

O que nos ensina o dicionário sobre o termo "plataforma"? Trata-se de uma “superfície plana e horizontal, mais alta que que a área circundante” ou um “programa político, ideológico ou administrativo de candidato a cargo eletivo”. 

Desta forma, pode-se inferir que as plataformas digitais aparecem no mundo como um instrumento que se coloca acima do que lhe circunda oferendo uma direção. E isso pode explicar a sua potência quando consideramos as plataformas como meios (intermediação) de produção e como meio de comunicação. Exatamente "dois fatores" que podemos considerar como fundantes do “plataformismo”. 

As plataformas digitais transformam as relações de trabalho (produção) e a forma como interagimos (comunicação) e vivemos em sociedade. Na prática, produção são “meios distintos”, mas se interligam, se fundem e atuam de forma imbricada, o que aumenta muito o poder das empresas que manejam a tecnologia de integração entre elas.

O capitalismo de plataformas é movido por dois fatores fundamentais: a) enorme extração de valor do trabalho e de suas rendas no território, no lugar onde as pessoas vivem, na base da pirâmide social; b) a escala nacional global em que essas infraestruturas podem atuar descontruindo economias regionais de onde recolhem seus excedentes, eliminando parte do comércio e outros empregos e alterando as economias locais, no processo chamado de "glocal".

O resultado disso tem sido a transformação das empresas em plataformas, umas imbricadas às outras que possuem um relação entre o domínio  do “intangível digital" e a "materialidade da produção e da infraestrutura de logística” que atendem aos consumidores, de forma especial e crescente, após a pandemia.

O resultado disso tem sido uma precarização do trabalho e uma superexploração do trabalho como comentamos aqui em nosso último artigo "Amazon, símbolo da superexploração do Plataformismo" em que citamos a Big Tech em sua luta conta a organização destes trabalhadores. Estamos falando de uma nova fase do Modo de Produção Capitalista (MPC), o plataformismo que está expressa nos números acima. 

O Plataformismo é uma fase posterior ao Fordismo e ao Toyotismo, embora mantenha, nas suas entranhas, um ciclo mais agudo e intenso de acumulação. Essa nova fase do MPC, de certa forma significa um "neo-Taylorismo", na medida em que exerce uma controle e uma supervisão total sobre o tecno-trabalhador - comandado pelos algoritmos das plataformas digitais -, além de também adicionar a ideia da acumulação flexível do Toyotismo. 

Essas transformações nos trouxeram a esta nova etapa do Modo de Produção Capitalista (MPC) e também à ampliação da financeirização que se tornou hegemônica no capitalismo atual.

Há alguns autores que se referem a esta passagem no modo de produção no capitalismo contemporâneo, com o resgate de uma passagem do processo histórico, como uma nova rodada do feudalismo, agora sob o domínio da tecnologia que seria, o tecnofeudalismo. 

Teríamos como no passado, a retomada e a ampliação da servidão, numa etapa da atual precarização das relações de trabalho, quando o trabalhador (servo) chega ao ponto de agradecer e até reverenciar o patrão (senhor), pelo seu direito de ser superexplorado para sobreviver. O Hipercapitalismo que segue sendo questionado.


Referências:
[1] Matéria no Estadão/InfoMoney em 12 de abril de 2021: Brasileiro depende mais de aplicativos para ter renda: O Brasil tem hoje aproximadamente 20% de sua população adulta que utilizam algum tipo de app para trabalhar. Disponívl em: https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/brasileiro-depende-mais-de-aplicativos-para-ter-renda/

[2] PESSANHA, Roberto Moraes. Commoditificação de dados, concentração econômica e controle político como elementos da autofagia do capitalismo de plataforma. Revista ComCiência do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp e SBPC. Disponível em: https://www.comciencia.br/commoditificacao-de-dados-concentracao-economica-e-controle-politico-como-elementos-da-autofagia-do-capitalismo-de-plataforma/

[3] PESSANHA, Roberto Moraes. Disputa no e-commerce de varejo no Brasil: entre o intangível do digital e a materialidade da infraestrutura de logística", deste autor, publicado em 2 de novembro de 2020, na revista ComCiência do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp e SBPC. Disponível em: https://www.comciencia.br/disputa-no-e-commerce-de-varejo-no-brasil-entre-o-intangivel-do-digital-e-a-materialidade-da-infraestrutura-de-logistica/

PS.: Atualizado às 13:24 de 13/04/2021 para acrescentar esse parágrafo:
O capitalismo de plataformas é movido por dois fatores fundamentais: a) enorme extração de valor do trabalho e de suas rendas no território, no lugar onde as pessoas vivem, na base da pirâmide social; b) a escala nacional global em que essas infraestruturas podem atuar descontruindo economias regionais de onde recolhem seus excedentes, eliminando parte do comércio e outros empregos e alterando as economias locais, no processo chamado de "glocal".

sábado, abril 10, 2021

Amazon, símbolo da superexploração do Plataformismo

O New York Times (NYT) informa (aqui) que a gigante de tecnologia (Big Tech) Amazon, ganhou dos sindicatos + Democratas (Biden e Sanders) e garantiu relações trabalhistas diretas com seus 1,3 milhão de trabalhadores, quase 70% nos EUA.

Em síntese, uma vitória do tecnofeudalismo e da servidão, quando o trabalhador agradece e reverencia o patrão, pelo seu direito de ser superexplorado para sobreviver. PLATAFORMISMO!

Trata-se de um fase posterior ao Fordismo e ao Toyotismo dentro do Modo de Produção Capitalista (MPC).
 
O Plataformismo não é apenas exatamente uma nova etapa, mas faz parte de um ciclo mais agudo e intenso de acumulação, porque de certa forma significa um "neo-Taylorismo", na medida em que exerce uma controle e uma supervisão total sobre o tecno-trabalhador que é comandado pelos algoritmos das plataformas digitais. 

Além disso, o Plataformismo também adiciona a ideia da acumulação flexível do Toyotismo que levou o modo de produção capitalista à ampliação da financeirização e do rentismo como forma de extrair e expropriar a renda da economia real nos diversos cantos do planeta.
 
A inovação passou a ser completamente capturada pelo andar de cima (processo de startupização), enquanto o atual sistema de extração de valor amplia, em níveis colossais, a renda do trabalho que se torna ainda mais precarizado com desigualdade recorde e ampliada.

Por isso é importante situar e debater o "Plataformismo" neste momento do capitalismo contemporâneo, quando a dominação tecnológica reforça a hegemonia financeira.

Referência
Sobre o tema leia o artigo "Disputa no e-commerce de varejo no Brasil: entre o intangível do digital e a materialidade da infraestrutura de logística", deste autor, publicado em 2 de novembro de 2020, na revista ComCiência do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp e SBPC. Disponível em: https://www.comciencia.br/disputa-no-e-commerce-de-varejo-no-brasil-entre-o-intangivel-do-digital-e-a-materialidade-da-infraestrutura-de-logistica/

quinta-feira, abril 08, 2021

Globo & Google: de tubarão nacional a sardinha global da gigante de tecnologia

O acordo anunciado ontem entre a Globo e Google (veja aqui) traz evidências sobre a dominação tecnológica das Big Techs americanas no ocidente. A Globo vai de tubarão nacional a sardinha global da gigante de tecnologia.

Um caso clássico da dependência revisitada com a Globo deixando só de apanhar, perdendo receitas e aumentando despesas e dando murro em água e passa a aceitar a dominação da Big Tech, Google, a mesma que controla o poderoso YouTube. 

É a Globo se submetendo às veias abertas da América Latina do saudoso Eduardo Galeano. Que nessa fase da dominação digital depende do que eu chamo da "plataforma-raiz", no caso, o trilionário Google, a que todos setores econômicos, corporações e indivíduos, acabam se submetendo. 

Google, contra a qual a Globo lutava até ontem, sem resultado. A Big Tech hegemônica das buscas na internet, dos vídeos on-demand do YouTube e das clouds, as estranhas nuvens que não estão no ar e sim, no território, onde a gigante de tecnologia desossa os nossos dados já extraídos, para ganhar valor nos negócios tocados pela máquina trituradora de algoritmos sob o comando da Inteligência Artificial (IA). 

Isso que a Globo anunciou não é parceria é contrato de dependência e extrativismo de dados. Colonialismo digital. Esse contrato mira garantir a dominação do espectro nacional que estava se diluindo. 

Na essência, o velho acordo do hipercapitalismo de laços entre o gigante do império e a elite econômica nacional de outrora. Neocolonialismo digital que ao invés de entregar o pau brasil e o ouro, entregam  ao império os nossos dados. 

O contrato garante ao império digital global, o controle dos nossos mercados no varejo e a manipulação política no controle sobre o Estado nacional. Não se enganem essa "parceria" é o acordo Time Life revisitado seis décadas depois e mira também limitar e podar aquilo que se chama de mídia alternativa aqui nos trópicos.

Os acertos da Globo com a Google Cloud é só o começo, mas já levará para longe, algumas centenas de empregos de gente qualificada na área de tecnologia da informação. Colonialismo digital na veia. Sim, há quem não queira enxergar o que está em curso. Entregar comida ao tubarão, desde que este deixe as migalhas para a elite econômica nacional. 

Não há progresso nisso. Há mais submissão. Trata-se de etapas predatórias do esgarçamento do capitalismo contemporâneo. Como temos insistido, ele possui base tecnológica-digital que já exerce a dominação global sob o controle das Big Techs e do Deep State dos EUA, onde se encontra com a hegemonia financeira de Wall Street do mercado de capitais e dos grandes fundos financeiros globais.

Os Marinhos? Há mais de meio século o acordo já erra esse. Aceitar ser cabeça de sardinha, desde que  com poder de manipular os mercados e o controle da política (Estado) no Brasil. Essa nova etapa da dominação da tecnologia apenas atualizou o acordo. Agora com um novo agente: a Big Tech, Google.
 

PS.: Atualizado às 13:07: Vale lembrar a matéria do Valor do correspondente Assis Moreira, em Genebra, mostrando com as Big Techs, entre elas o Google, paga no Brasil 75%de impostos que os outros setores no Brasil. Link: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/04/06/gigantes-da-internet-pagam-at-75-pontos-percentuais-menos-impostos-do-que-outros-setores-no-brasil.ghtml


O Globo, 8 de abril de 2021, p.23.

terça-feira, abril 06, 2021

Salários nas petroleiras Petrobras, Shell, BP, Total e Equinor expõem as mentiras que sustentam o desmonte e a entrega de nossa estatal e do Pré-sal

O levantamento feito por Marcelo Gauto com dados oficiais que constam dos Relatório Anuais (2019 e 2020) destas corporações petroleiras, joga por terra os argumentos fantasiosos contra a estatal Petrobras e seus funcionários, no que diz respeito tanto ao quantitativo de funcionários, quanto aos seus salários. 

É oportuno ainda informar que além da Petrobras, a petroleira norueguesa Equinos (ex-Statoil) é também estatal e a Total ainda mantém forte participação do governo francês. 

A Petrobras dentre as cinco petroleiras (mais Shell, BP, Total e Equinor), a estatal brasileira possui menor número de funcionários, 49 mil trabalhadores em 2020, só ficando atrás da Equinor que possui 21,7 mil trabalhadores. 

No que diz respeito aos salários médios, os da Petrobras são os menores, com valor médio mensal de US$ 5.198, enquanto os salários médios mensais da francesa Total é de US$ 7.032; da anglo-holandesa, Shell US$ 8.832; da inglesa BP, US$ 9.300 e da norueguesa Equinor, US$ 10.061.

Abaixo o infográfico com as tabelas que mostram ainda a evolução entre 2018 e 2020 dos número de empregados, os custos com as folhas salariais e os salários médios mensais e anuais destas cinco petroleiras. 

É evidente que a análise destes números remete a um debate mais complexo que envolve, o custo de vida em cada um destes países, as estratégias diversas de cada corporação dentro da geopolítica do petróleo e da energia, etc.. 

Porém, é também claro que esses números são representativos para se fazer comparações menos irreais e injustas do que aquelas que normalmente, são realizadas para difamar a estatal e seus funcionários - que descobriram a maior bacia petrolífera nas últimas décadas no mundo que é o nosso Pré-sal - com interesse de seguir vendendo suas fatias a preço de final de feira.

segunda-feira, abril 05, 2021

Eike, os fundos financeiros, os negócios do Porto do Açu e a região

É possível saber em quais negócios os fundos financeiros investem - até porque eles precisam desta divulgação para manter e ampliar os investidores -, mas não se sabe quem coloca dinheiro nas gestoras de fundos de investimentos, tanto no Brasil quanto no exterior.

Há algum tempo eu passei a chamar a atenção para o papel dos fundos como instrumento da financeirização no capitalismo contemporâneo, em especial, após a crise do subprime em 2008/2009.

No Brasil, a ação dos fundos financeiros globais - enlaçados aos fundos nacionais - ficaram mais claros e expostos, após o golpe político de 2016 (documento Ponte para o Futuro) com o processo de privatização de diversos setores da economia. Porém, de forma mais especial me refiro àqueles empreendimentos vinculados ao setor de óleo e gás. Vários ativos foram e continuam sendo vendidos, a preços irrisórios (subsidiárias da Petrobras) para esses fundos canadenses, franceses e americanos.

Em 2013, quando da debacle dos negócios de Eike Batista, na holding EBX, em especial na subsidiária de petróleo, a OGX, o empresário viajou por uma semana aos EUA e de lá voltou com o negócio do Porto do Açu, da empresa LLX, entregue ao fundo financeiro americano, EIG Global Energy Partners.

Vale ainda recordar que outro fundo, neste caso de pensão dos professores da província canadense de Ontário, OTPP, tinham sido um dos primeiros investidores a aportar capital, na recém criada LLX, empresa de logística responsável pelo planejamento e construção do Porto do Açu e Porto Sudeste.

Assim, sob o controle do fundo EIG, a empresa LLX se transformou em Prumo e logo depois também se converteu numa holding (grupo). Hoje possui várias subsidiárias e negócios instalados na colossal área de cerca de 90 Km², em boa parte desapropriada de pequenos agricultores (maioria não indennizada), pelo governo do estado a favor da empresa.

Esse processo foi manejado via um acordo que usou a Codin, para criar o Distrito Industrial de São João da Barra (DISJB), que na prática é controlado - e de forma privada - pela Prumo Logística Global, que era uma Sociedade Anônima (S.A.), com capital na Bolsa, B3, e mais adiante fechou o seu capital.

 

A debacle da holding EBX de Eike e os negócios com os fundos americano e agora chinês

No segundo semestre 2013, Eike informou e a mídia corporativa engoliu que ele entregou esse ativo da LLX, em troca de investimentos do fundo americano EIG. Mas não foi dito e nem perguntado o que Eike ganhou com isso, além de proteger a LLX da debacle dos seus negócios.

Há quem afirme – e garanta -, que Eike tenha também alocado na EIG, uma parte do lucro da venda do Sistema Minas-Rio por US$ 3,3 bilhões à mineradora, anglo-africana, Anglo American e que hoje exporta mensalmente cerca de duas dezenas de milhões de toneladas de minério de ferro pelo terminal T1 do Porto do Açu, através de empresa joint-venture, a Ferroport, com a holding Prumo.

Aliás, vale recordar, que na época, a Receita Federal abriu um processo questionando empresa´rio Eike Batista, sobre o pagamento de impostos federais, devido pela valorização mobiliária que redundou nessa venda bilionária do Sistema MMinas-Rio, tendo a maior parte deste dinheiro permanecido nos EUA. Daí se surge a ligação com a hipótese do investimento no fundo EIG na LLX, transformada em Prumo da qual, Eike passaria a invstidor.

Durante todo, este tempo, de cerca de 7 anos, é bastante conhecida as incursões frequentes de Eike Batista na área do Porto para “visitas” e prospecção e discussão de “novos” negócios. Visitas que sempre poderiam ser consideradas que o a “engorda do boi depende do olhos do dono”.  

Há algum tempo, há discussões para saber se essa hipótese, hoje já teria elementos para se transformar em tese, sobre a manutenção de um controle indireto sobre parte dos negócios do Açu, conforme acordos mantidos com a gestora do fundo EIG, em dezembro de 2013, nos EUA.

O fato é que Eike, agora, ao invés do acordo com fundo financeiro americano, foi buscar aliança com um fundo financeiro chinês, o China Development Integration Limited (CDIL), que tem relações e negócios com o governo da China, inclusive na nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative), mas possui sede na financeira cidade de Hong Kong.

Como quase todo o negócio financeiro, sempre há outros intermediários nestes negócios de captura de investidores e decisão sobre aquisição de ativos para investimentos. Diz-se que os chineses vão entrar com capital e Eike “as ideias” e os projetos.

Mas pode ser além disso. Por trás das conversas há algum aporte de capital nas demais subsidiárias da finada holding EBX, como a MMX, OGX, OSX (essa tem enorme área alugada no Porto do Açu onde fica o terminal T2) e que ficaram em recuperação judicial desde 2014, devendo a muita gente Brasil e mundo afora.


Fundo chinês CDIL aparece no Açu da mesma forma que surgiu o fundo americano EIG

O fundo chinês já atua junto à MMX que tem mina no Quadrilátero Ferrífero e exportação via Porto Sudeste, planejado também por Eike, em Itaguaí, na Baía de Sepetiba, mas também com controle acionário repassado, como o Porto do Açu para da grande trading holandesa de commodities: Trafigura.

Porém, não é difícil intuir que os negócios maiores entre Eike e os fundos financeiros passam pelo ativo do Porto do Açu, controlado pela Prumo/EIG e que hoje tem no governo do ERJ, um grande "aliado", o secretário de Desenvolvimento Econômico. Digamos que uma espécie de “despachante de luxo” dos vários interesses da Prumo no que diz respeito a um conjunto enorme de projetos, entre licenciamentos e articulações para financiamentos de fundos públicos e privados.

Esquema gráfico slide de apresentação da tese PESSANHA, R.M. (2017, PPFH-UERJ), "A relação transescalar e multidimensional "Petróleo-Porto" como produtora de novas territorialidades".[1] 


Entre os “novos negócios” está a um megaprojeto de geração de energia com potência de 1,1 MW, quase similar à capacidade da UTE-1 da GNA, que está prestes a entrar em funcionamento no Porto do Açu. As placas solares seriam fornecidas por outra empresa chinesa com tradição na produção destes equipamentos e que o CDIL tem participação acionária, a Trina Solar.

O site BrazilJournal, controlado pela gestora do fundo BR Partners, que também participa das negociações, informa hoje (aqui) [2] que os primeiros 300 MW da usina solar seriam instalados numa área adjacente ao Porto do Açu, que se supõe, que passa ser no terreno que a OSX dispõe, alugado ainda na época da LLX.

 

É necessário entender o circuito financeiro por trás dos negócios destas corporações e suas relações com o Estado

É nesse contexto que é importante observar os movimentos financeiros dos fundos junto aos negócios do Porto do Açu. Para a população da região, o empreendimento não tem mais um dono conhecido como foi no passado. 

Fundo financeiro não tem cara e muito menos coração. Parece que o empreendimento não tem dono, embora, os seus gerentes atuem como se fossem, atrás de cumprir as metas para bem remunerar os investidores curto-prazistas desses fundos, mesmo que explorando a muitos.

A Prumo, a EIG, os fundos, o Porto do Açu todos têm poucas ou nenhuma relação com a comunidade regional. Na verdade, eles a evitam. Funcionam, como uma espécie de enclave, que vê a comunidade local, como problema à fluidez de seus negócios.

Um porto ganha com a fluidez das cargas, ainda mais um porto de 5ª geração (ZIP-Zona Portuária-Industrial) que como o complexo do Açu está instalado em área mais afastada dos circuitos urbanos, exatamente para evitar essa relação que o empreendedor e seus investidores entendem como problemas.

Enfim, esse relato com a ligação de fatos pretéritos e atuais, tem o objetivo de permitir que se tenha uma leitura mais integrada e mais ampla dos negócios do Porto do Açu. Uma interpretação sobre vínculos e interesses dos diversos agentes envolvidos nos negócios, para além da propaganda enganosa da mídia corporativa regional e nacional.

Os agentes financeiros, as corporações controladas pelos fundos, os agentes públicos das diversas escalas, a mídia corporativa, a Justiça e outros fazem parte destas relações de poder. 

Assim, só conhecendo um pouco mais quem são estes agentes. Como operam, as suas estratégias e vinculações em diferentes escalas e dimensões será possível entender melhor os reflexos sobre a comunidade regional, onde o capital fixo destes fundos chegam para extrair valor, lucros e acumulação no território. 

É preciso compreender o papel destes diversos agentes, as escalas em que atuam, as funções, suas posições na estrutura de poder e nas relações política. Só desta forma, os interesses da sociedade e das comunidades, mais ou menos atingidas do entorno regional, poderão ser melhor questionados e, eventualmente, negociados.

 

PS.: Detalhes e mais informações de muitos fatos citados podem ser vistos em centenas de postagens do blog (desde 2007 e de forma especial deste 2015 na seção ao lado direito, (“Últimas do Porto do Açu) sobre os investimentos no complexo logístico portuário do Açu, litoral Norte do ERJ.

Referência:

[1] Tese do autor PESSANHA, Roberto M., defendida em mar. 2017, no PPFH-UERJ: A relação transescalar e multidimensional “Petróleo-porto” como produtora de novas territorialidades. Disponível no Banco de Teses da UERJ: http://www.bdtd.uerj.br/tde_busca/processaPesquisa.php?pesqExecutada=1&id=7433&PHPSESSID=5vd3hsifip5hdg3n1icb57l9m6

[2] Matéria do BrazilJournal em 05 de abril de 2021. Os Chineses que estão apostando em Eike Batista - e querem investir bilhões no Brasil. Disponível em: https://braziljournal.com/os-chineses-que-estao-apostando-em-eike-batista-e-querem-investir-bilhoes-no-brasil https://braziljournal.com/os-chineses-que-estao-apostando-em-eike-batista-e-querem-investir-bilhoes-no-brasil