domingo, outubro 24, 2021

André Esteves (BTG Pactual) descreve em áudio como monta o “Inside Job” no Brasil

O furo de reportagem do Portal 247 (aqui) que trouxe com a divulgação do áudio do banqueiro André Esteves em reuniões com investidores permite uma série de leituras em várias dimensões e profundidade. Link do áudio no Youtube: https://youtu.be/vwrSOb3m3sE

Uma primeira é no campo da política com as opiniões dele (setor financeiro da Faria Lima) sobre a pauta política no Brasil, sobre as eleições de 2022, sobre os candidatos e suas preferências. E ainda como este setor intervém sobre poder político, judiciário, mídia, etc. no Brasil atual.

Certamente este é o ponto do áudio que já gera e vai continuar gerando maior repercussão e produzirá ainda muitas discussões e debates. O banqueiro André Esteves fala como quem tem autoridade e muito poder e também expõe claramente a submissão que conquistou junto ao poder político, tanto o Executivo quanto o Legislativo. As pesquisas frequentes (quanti e quali) que banca – e que custa muito dinheiro - já é uma referência sobre como joga o “jogo do poder”.

Esteves deixa claro que hoje a Faria Lima tem maior interlocução com o Centrão de Arthur Lira, do que com os tucanos, que antes atuavam, basicamente, como os intermediários entre o mundo das finanças da avenida Paulista e o poder político central em Brasília.

Porém, escolhi chamar a atenção para uma outra dimensão da fala do banqueiro André Esteves: o modus operandi do setor financeiro no Brasil atual. O dono do BTG Pactual diz que o Brasil está entrando tardiamente - 20 anos depois – no esquema global da securitização das finanças. A máquina das dívidas que ganha mais no volume de endividamento e não apenas nos juros antes mais altos.

Esteves dá uma explicação muito clara sobre como o Brasil financeiro se insere tardiamente no que ele chama de movimento global “Financial Deep”, ou aprofundamento da financeirização. Ou seja, André fala como está sendo implantado aqui no Brasil, o conjunto de inovações financeiras através de múltiplos tipos de derivativos de forma semelhante ao que foi feito no entorno da virada de século nos EUA e centro do capitalismo. Um processo que cresce a partir de 2001 de forma completamente desregulada. O dono do Pactual deixa claro que é nessa linha que estão sendo implementadas mudanças na intermediação financeira (tardia) no Brasil.

O mais interessante deste processo é que André Esteves deixa ainda muito claro, quem são os agentes e que mudanças são essas nos processos de intermediação financeira em curso no país, com a implantação destas inovações, mais papeis, meios digitais, etc. no mercado.

Entre outras coisas, estes agente buscam ampliar a integração do mercado de ações e fundos financeiros (Anbima), Bolsa e bancos tradicionais, etc. para que estas inovações garantam maior capacidade de lucros e acumulação para o setor financeiro brasileiro.

Esteves expõe uma autossuficiência que só parece embutida na fala de quem tem realmente poder. Na maior parte das respostas o dono do BTG não fala de projetos, mas de transformações em curso. Esteves descreve a integração de uma “cadeia’ que é muito semelhante àquela que é descrita no documentário Inside Job (2010), que descortinou as estratégias e ações sobre como o setor financeiro americano (integrado a outros mercados) produziu a crise do subprime em 2008 em todo o mundo, a partir dos EUA e de uma completa desregulação, ou mesmo farra com as inovações financeiras através de papeis e derivativos.

O impactante filme Inside Job mostrou os mecanismos de aprofundamento do lançamento de “inovações financeiras”, controle do poder político (Deep State) e controle de instituições e poder judiciário que permitisse essa “autoregulação” do setor financeiro que a Anbima tem defendido abertamente no Brasil.  

De certa forma André Esteves descreve como pensa a “cadeia alimentar da securitização” no Brasil, de forma similar à “Securitization Food Chain” implantada nos EUA. De certa forma, aí André Estrves localiza o seu banco, o BTG Pactual onde tem o projeto de que ele possa assumir o papel de um novo BNDES, só que privado como são os bancos de investimentos americanos (Goldman Sachs, Morgan Stanley, Lehman Brothers, Meril Lynch).

Não é difícil imaginar como hoje Esteves desenha institucionalmente esta cadeia de securitização no Brasil, assim como ele vê a relação do seu e demais bancos e fundos de investimentos privados nacionais com os bancos tradicionais. De forma similar à articulação dos bancos de investimentos com os conglomerados financeiros americanos: CitiGroup e JP Morgan entre outros. E também, a relação entre as seguradoras e as agências de rating. Estas últimas que atuam no Brasil fariam o trabalho de controlar e monitorar esta cadeia de securitização brasileira para o andar de cima.

Esteves diz abertamente que o Brasil já tem “um dos mercado de capitais mais vibrantes do mundo”. Não diz, mas se sabe, que os donos dos dinheiros, se orgulham de atuarem de forma autorregulada, sem poder de fato da CVM e nem do Banco Central, cujo presidente, Campos Neto, Esteves confessa no mesmo áudio, que lhe pede opiniões e sugestões na articulação deste “Inside Job tupiniquim”, que para ele é parte da implantação da “modernização e aprofundamento das inovações financeiras na linha do Financial Deep global.

Há muito mais a ser ainda compreendido a partir deste áudio. Na prática ele pode ser visto como uma miniaula (empírica) sobre o mundo real dos farialimers e de como o setor financeiro vem controlando a política e garantindo a hegemonia deste setor em nossas vidas.

domingo, outubro 17, 2021

Super Bom -Barcelos & Cia. Ltda - (Norte Fluminense) cresce menos que média nacional do setor de supermercados

Ampliando e regionalizando a análise da postagem abaixo (feita no perfil do FB e colada abaixo) com dados da Abras (Associação Brasileira de Supermercados) é possível observar que os Supermercados Super Bom (Região Campos e SJB no NF) ampliou seu faturamento de R$ 674 milhões em 2019 para R$ 733 milhões em 2020, segundo o ranking 2021.

Observa-se aí um crescimento do Super Bom de 8,7% no faturamento, num setor que cresceu 46% em 2020, em relação a 2019. O líder Carrefour cresceu cresce de 20%. O Super Bom, assim caiu da posição 57ª para 66ª na lista dos maiores supermercados do país.

Esse resultado não reflete a expansão de 13 para 15 lojas, de check-outs de 206 para 253 e de área de vendas de 19,7 mil para 25,3 mil m² do ano de 2019 para 2020. No que diz respeito ao número de funcionários, ele permaneceu, segundo informações da publicação, em 2.100 funcionários.

Esse menor faturamento apesar da expansão de lojas, área de venda e check-outs em relação à media dos supermercados no país no ano de 2020, pode estar ligado a dois fatores: empobrecimento da região e perda de espaço para os concorrentes. Neste caso, em especial, há que se observar o esquema de maior sucesso comercial conhecido como atacarejo, onde há outros fortes concorrentes no município, apesar do grupo Barcelos ter implantado uma loja neste esquema, instalado entre o bairro Imperial e Goytacazes, na direção da Baixada Campista. Também é possível que os dois fatores estejam se somando neste resultados.

Vale ainda observar que este setor de varejo de alimentação cresceu muito apesar da Pandemia e da violenta recessão econômica no país. É também um dos setores que mais investem em propaganda em rádio e TVs nas diversas regiões do país. Em 2020 este tipo de negócio movimentou R$ 554 bilhões, em 91.351 lojas, 47%, acima de 2019, algo próximo de 15% do PIB. Imagine de que estamos falando em termos de acesso a alimentos básicos e outros. Este setor de supermercado (hipermecado, varejo e atacarejo) ampliou enormemente a sua taxa de lucros e não apenas o faturamento.

Em 2020, o setor de supermercados anunciou que teve o maior lucro líquido da história no país. Apesar da enorme quantidade de grupos e empresas que atuam no setor a concentração vem crescendo, em especial no topo da lista dos maiores grupos, evidentemente. As 5 maiores corporações do setor já conseguem 31% de todo o faturamento nacional (R$ 554 bilhões). Quando passa para as 50 maiores isso equivale a 52%. Em 2018 era de 46,5%. Ou seja, a concentração está se ampliando.

Vale ainda comentar que este é um dos setores dentro do varejo (o de alimentos) o que mais jogou pesado a favor das chamadas "reformas da previdência e trabalhista" no Brasil, visando exatamente, ampliar a sua taxa de lucros. Fato que já pode ser percebido neste relatório/ranking de 2021. Interessante é identificar que isso se dá num setor que depende do volume de vendas e nº de compradores, em a maior distribuição de renda e melhores salários produzem resultados imediatos na ampliação das vendas. Porém, a lógica principal dos empresários do setor está calcada na "taxa de lucros" que passa por redução do peso do trabalho em seus negócios. Realidade também presente em outros setores do varejo (roupas - Riachuelo, Havan...; eletrodomésticos, farmácia, carros, papelaria, etc.

Enfim, estes dados servem a vários outros tipos de análise. Por exemplo, nº de funcionários. 2.100 empregados é um número expressivo. Um dos maiores empregadores privados do município, só atrás do setor púbico. Em que pese a rede ter se expandido e informar a manutenção do número de empregos, mostra que o discurso muitas é diverso da realidade. Quanto ao número de empregados, a comparação deve ser feita com a Coagro (cooperativa de produtores de cana-de-açúcar) que está operando a Usina Sapucaia, mas na média anual, descontada a sazonalidade, é possível que esteja em patamar próximo.

Outra questão é a localização das lojas e sua expansão, certamente, muito vinculada ao adensamento urbano nas vários direções da cidade, em especial nas vias de circulação em direção aos municípios vizinhos para os quais Campos dos Goytacazes, exerce uma centralidade e polaridade.


PS.: Postagem sobre matéria de O Globo em 16 out. 2021, p. 16: "Com lojas Extra, Assaí prevê vendas de R$ 100 bi".
:
Mais concentração e também rearranjo a partir dos bons resultados comerciais do atacarejo que arrasta mais concentração com ameaça a grupos regionais. Carrefour e Assaí vão se transformando em oligopólios dos supermercados.

Infográfico O Globo 16 out. 2021, p.16.

quinta-feira, outubro 14, 2021

Ponte do futuro: duto que assalta o fundo público em direção a Faria Lima

Acredito que muitos de nós brasileiros ainda não entendemos que a “Ponte para o futuro” (2015/2016) de Temer e Bolsonaro é na essência o grande assalto (propinoduto) da Faria Lima sobre a economia real em quase todos os setores.

Assalto aos fundos públicos pelo setor privado das finanças feitas através de isenções, "incentivos fiscais", entrega da estatais estratégicas lucrativas, etc.

O maior vértice desta base de rapina é a MP do trilhão no setor de petróleo. As privatizações um outro vértice desta base em que o andar das altas finanças aspira a renda e a riqueza do Brasil que trabalha.

A terceira perna desta tríade deste vampirismo é a desregulação e o desmonte das instituições e legislações do Estado que tentavam cuidar do interesse público da maioria e da soberania da nação, na medida em que boa parte dos beneficiado se espalham em corporações e empresas offshore mundo afora.

Na realidade se trata daquele duto enferrujado (Globo-JN-Lava Jato), só que em sentido inverso, recolhendo a riqueza dos cofres públicos para o setor financeiro, tudo comandado pela Faria Lima.

A mídia corporativa é parte desta inversão do bilhões que cruzam os dutos. Quando eles são sugados em assalto aos cofres públicos, sonegações, offshores, isenções fiscais, rendimentos isentos, etc. não é considerado corrupção. É empreendedorismo e sagacidade lavados com caros advogados também da Faria Lima e ajuda a constituir potente renda derivada amparada no andar superior das finanças que lucra e se acumula nestes mesmos endereços de chegada dos dutos. 

Na realidade tem-se aí o ponto nevrálgico da rede de pipelines (dutos) que se espalha por diferentes setores e espaço. É onde os se acumulam os lucros em inovações financeiras e papeis do papel fictício, enlaçados, "livremente e sem regulação ou controle com os diferentes setores da economia no Brasil contemporâneo.

A reconstrução da nação passa pela compreensão desta realidade e pela ampliação com um diálogo franco, aberto e potente com a maioria que sofre as consequências do que acaba aspirado por estes dutos e aumentam o preço da gasolina, diesel, gás, energia elétrica, transportes, água, carne, o feijão, etc. 

quinta-feira, outubro 07, 2021

Mídia financeira & jornalistas de cativeiro no esconderijo fiscal do Pandora Papper

O caso das offshore do Pandora Pappers em que as duas maiores autoridades econômicas do Brasil são partes que escandalizam o mundo, traz evidências bem para além da mistura entre o público e o privado que derrubou a porta giratória da ética e da moral entre o Estado e a sociedade no país.

O esforço para esconder (ou escantear) o grave assunto por parte das mídias corporativas, demonstra o modus-operandi dessas “corporações verbo-verba”. Há muito elas se afastaram daquilo que antes se vangloriavam de ser: instrumentos de intermediação entre o Estado e a esfera pública para formar a opinião.

O que se vê - cada vez mais - é a compra escancarada do imaginário de que a política é um estorvo e elite econômica é virtuosa. Nesta toada, a mídia corporativa ainda tenta pousar de árbitro de falsa neutralidade, numa disputa que tem lado. É jogador e agente escancarado do mercado, na captura tanto de dinheiro quanto de poder. Com o primeiro obtém mais poder, a partir de onde amplia os controles e os fluxos de informação e dinheiro em seu benefício.

Assim a mídia corporativa quer Estado para si e para os seus interesses e, desta forma, vai definindo pautas cada vez mais distantes do compromisso com a sociedade, escondendo o que atrapalha e marketeando os negócios financeiros que banca os seus crescentes lucros.

Difícil falar em democracia num cenário como este em que a esfera é privada e a opinião comprada com a riqueza vampirizada e capturada daqueles que a geram. A Hildegard Angel mandou bem ao se referir a “jornalistas de cativeiro” estes que sofrem a ditadura dos donos dessa mídia corporativa-financeira.

terça-feira, outubro 05, 2021

A pauta do BolsoCaro de 2 de outubro é a vacina contra o bolsonarismo digital!

Penso que não faz nenhum sentido procurar comparações entre tamanho as manifestações da extrema direita (7 set) e o movimento dos progressistas no dia 2 de outubro (2O). A diferença entre elas é que a ida às ruas dos democratas e progressistas no último sábado colocou, de forma bem clara, na pauta de lutas, a concretude e a realidade das mazelas do cotidiano da população. Essa nova pauta se soma e vem junto da defesa da democracia. Mas, esta é instrumento e uma questão ainda abstrata para a maioria.  

Essa nova pauta é o principal fato e resultado do 2 de outubro. Ter colocado no debate político, junto da defesa da Democracia, a luta concreta no campo da economia política do povo que sofre com a carestia, a inflação (alta dos preços do gás, gasolina, conta de luz, comida, materiais de construção, etc.), os baixos salários, o desemprego, a perda de direitos e a insuficiência dos serviços públicos de saúde, educação e transporte urbano. Esta luta conjunta e simultânea tem cheiro de povo e crescente poder de mobilização.

A classe em disputa com a extrema direita do bolsonarismo é exatamente esta mais atingida por estas mazelas e violência que em nosso dia a dia amplia as desigualdade, madastra das injustiças.

O bolsonarismo é um movimento da extrema direita, mas fundamentalmente ancorada, num esquema de redes e de mobilização digital, aprendida do movimento similar americano, bancada por um forte suporte financeiro de empresários brasileiros e americanos.

Não tenhamos dúvidas, novas estruturas digitais e de análise e direção dos algoritmos deste grupo social estão sendo, neste momento, filtrados e segmentados. Tudo pendurado a custosas empresas de análise de dados financiadas por empresas em centros offshore de "esconderijos fiscais". Adiante, este grupo em disputa no Brasil, será bombardeado com discursos (memes) falsos (fakes) e específicos como parte das eleições de 2022. O TSE novamente não dará conta disso.

Assim, do outro lado é preciso avançar na luta destas questões concretas. Uma pauta concreta poderá superar o discurso abstrato de valores que esta mobilização digital traz embutida. Assim, esses medos organizados pelas redes digitais terão imensa dificuldade para lidar com a realidade e com a concretude do BolsoCaro, que atinge em especial a base da pirâmide social, onde está a massa em disputa.

É exatamente aí que se deve ter a vacina para enfrentar a extrema direita ultraliberal que governa para o andar de cima, enquanto engana o andar de baixo com questões abstratas mesmo que presentes no imaginário conservador em boa parte dos brasileiros. Uma luta entre a materialidade do real empobrecido e massacrado e o medo abstrato imposto pela perda do que não possuem.  

Isso não quer dizer que não se deva também enfrenta-los na mobilização e nas redes digitais. A mensagem se torna mais clara – em qualquer meio - quando a concretude da realidade é exposta como necessidade de superação. É por isso, que eles tanto temem o BolsoCaro, que deixa exposto o desgoverno e a preocupação única do bolsonarismo com os ricos do andar de cima.

Evidentemente, a disputa não é se dá só nesse campo. Mas aí está a massa que se movimentou de um campo a outro entre 2016 e 2018 e agora retorna. É preciso estar mais próximo, ouvindo e dialogando com essa classe que vai até a classe média.

Essa maturação sobre a realidade e a necessidade de mudanças é mais potente vacina contra as notícias falsas das redes digitais. Assim, a nação será reconstruída e um projeto popular e democrático retomado.