65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
sábado, dezembro 11, 2021
Petabytes e inteligência artificial entre a ilusão e a realidade nas bolhas digitais
terça-feira, novembro 30, 2021
Fundos e ampliação da financeirização do agronegócio no Brasil
Assim como em outros setores econômicos, a financeirização e o instrumentos dos fundos financeiros estão se ampliando de forma expressiva no Brasil. O caso do agronegócio no Brasil merece uma observação mais atenta.
O controle da produção, circulação e distribuição deste
setor é cada vez mais realizada por grandes corporações que são controladas, em
boa proporção, por grandes fundos financeiros com enlaces entre o nacional e o
global. Vários fundos globais possuem participações em quase todas as grandes
empresas de agronegócio no Brasil.
Trata-se de um processo que se desenrola na agricultura, agropecuária
e ainda no controle e aquisição de terras (Land Grabing) que servem de base
para aquilo que se passou a chamar de agronegócios. São movimentos que levam ao
controle financeiro feito por movimentos duplos e simultâneos de valorização e
capitalização, onde muito se especula com promessas futuras de valor.
É um setor que nasceu e ainda tem muito forte o
financiamento estatal subsidiado, mas que paulatinamente, vai saindo do
controle de pequenos e médios produtores, em direção a grandes corporações (players)
que agem de forma articulada e com conexões em plataformas digitais e
financeiras globais.
Quanto mais financeirizada é uma empresa do setor, maior é a
exploração da produção real e das economias regionais, o que de certa forma
expõe a compensação do nível de especulação realizada pelos esquemas de ações (IPO,
quota de fundos), mercado futuro e outros.
A capitalização do setor cada vez conta com mais inovações financeiras
que em última instância busca capturar mais valor da atividade produtiva. Essa
capitalização vem de instrumentos já conhecidos, entre os quais estão os
Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e Letra de Crédito do
Agronegócio (LCA). Esta última, muito oferecida a correntistas/investidores
médios pelos gerentes de bancos tradicionais.
Neste processo de “inovações financeiras” – que se traduzem em formas de capitalizar o setor e remunerar ainda mais os donos dos dinheiros -, o Congresso Nacional, atendendo a expectativas e pressões do mercado, aprovou a lei nº 14.130/2021, em 29.03.2021, que instituiu o Fiagro (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais).
O Fiagro promete a junção de recursos de vários tipos investidores
para a aplicação em ativos de investimentos do agronegócio, desde os de
natureza imobiliária rural (propriedade) ou de atividades relacionadas a
produção do setor.
Após regulamentação feita pela CVM, neste segundo semestre
2021, cotistas e investidores se aliaram a gestoras de fundos e os primeiros Fiagros
foram surgindo. O mercado guardava uma expectativa de reunir algo próximo a R$
1 bilhão até o final do ano, porém foi muito superado.
Assim, segundo dados da CVM, desde agosto passado, já foram
protocolados para análise de oferta, um total de 28 Fiagros que reúnem mais de
9 mil cotistas que podem atingir, até o final do ano, um volume superior a 5
vezes, as expectativas chegando a mais de R$ 5 bilhões de investimentos.
O fato é um indicador empírico que mostra as transformações
na forma de intermediação financeira e na ampliação da hegemonia do setor
financeiro sobre a economia nacional. Os excedentes da poupança das famílias e
das empresa não são mais majoritariamente colocados nos bancos tradicionais e
na poupança. O Bolsa (B3, ex Bovespa) já possui mais de 4 milhões de
investidores pessoas físicas.
Os fundos não são um mal per si, mas o modus operandi desta
lógica do capitalismo da gestão de ativos, sim. Essas inovações financeiras
amplificadas pelo potencial da tecnologia e plataformas digitais, oferece
fluidez e uma hipermobilidade ao capital. Esse movimento em curso leva à
expansão de crédito privado, sob controle do mercado de capitais, que paulatina
e crescentemente vai substituindo o Estado.
Assim, a Anbima e as gestoras de fundos financeiros vão assumindo
o controle das políticas econômicas (deste e de outros setores econômicos) e se
tornando, o centro dinâmico da economia. Uma lógica acionária que extrai valor
da produção real oriunda das economias locais, exigindo sempre altas
rentabilidades e taxas de lucro de curto prazo, que nos relevam como resultado
a precarização do trabalho e perda de direitos progressiva neste capitalismo
contemporâneo.
Enfim, processo que segue a lógica neoliberal que deseja um
estado máximo para o mercado e mínimo para a maioria, na pretensão de
substituir o Estado no controle das políticas em diferentes setores, através do
controle do seu financiamento.
É evidente que estes movimentos não podem ser vistos
dissociados da política. São causas e consequências da manipulação política e
do controle do mercado sobre as relações de poder. Processo que retroalimentam estas
relações ao intensificar essas inovações que levam à hegemonia financeira no
capitalismo contemporâneo.
No Brasil, em especial, pelo volume e expressão do agronegócio
no PIB, esta articulação-relação entre o capital financeiro e este setor precisa
ser melhor acompanhada e entendida. No atual estágio, ela vai muito para além
daquilo que é exposto pelas representações classistas deste setor junto ao
poder político e colorido pela mídia corporativa-financeira.
O agronegócio brasileiro é cada vez mais parte da engrenagem
do circuito financeiro em várias escalas (do nacional ao global, do campo à
Faria Lima – Wall Street) e conquistou peso político que hoje contribui para transformar
as relações Estado-Mercado-Sociedade, alternado o protagonismo em favor do
mercado.
Tratam-se de mudanças que vão se aprofundando na sociedade brasileira e
que à medida que avançam e reorganiza a sociedade, vão se tornando mais
difíceis de serem superadas, em favor de um projeto nacional, autônomo, soberano
de inclusão e menos desigual.
quinta-feira, novembro 25, 2021
Livro "Economia e desenvolvimento no NF: da cana-de-açúcar aos royalties do petróleo" disponibilizado versão PDF
sexta-feira, novembro 19, 2021
Mídias digitais (sociais), estruturas, distopia & resistência
quinta-feira, novembro 18, 2021
Alguns outros significados da viagem de Lula à Europa
Explico. É que diante do porte do que Lula conquistou nestes dias, ampliando o capital político e geopolítico que já possuía, a extrema direita sua adversária aqui no Brasil, fica praticamente impedida de tentar algo contra ele, seja a vida ou por instrumentos judiciais.
A Europa em seus movimentos entre a OTAN e a Eurásia, precisa de aliados transfronteira, penso que assim enxerga em Lula um pouco desse potencial. Não foi por outro motivo que Macron pediu para conversar com Lula, diante do enfrentamento da eleição daqui a cinco meses, quando disputará também com a extrema direita francesa, além da prefeita de Paris, como candidata de esquerda e que também esteve com Lula.
A enorme capacidade de articulação, respeito e carisma de Lula, parece se encaixar como uma luva para a Europa que ressente de lideranças globais como esse perfil de articulação, no espaço para além da Comunidade Europeia.
Se no plano internacional Lula obtém com esta vacina uma certa imunidade contra “maluquices direitistas”, no plano interno, aqui no Brasil, Lula ganha mais espaços, apesar do bloqueio comunicacional feito pela mídia corporativa, que age como correia de transmissão e como partido político do sistema financeiro.
Estas conversas de Lula com os líderes de Estados-nação e instituições internacionais europeias podem abrir possibilidades, diante de uma expectativa de vitória eleitoral daqui a dez meses, para um enfrentamento dos nossos problemas, agravados pelo desmonte radical nas políticas públicas que continua sendo feita por Bolsonaro-Guedes.
Reconstruir a nação não será tarefa fácil e nem rápida e trará muitos desgastes. É nesse ponto que este tipo de relações pode contribuir, embora mais importante sejam as nossas capacidades em realizar o que precisa ser feito, tanto para superar eleitoralmente esta fase trágica de nossa história, seja para reconstruir a nação e governar para a maioria. A ver!
terça-feira, novembro 16, 2021
Dubai-Davos, o consciente-inconsciente coletivo do "andar de cima"
segunda-feira, novembro 08, 2021
Big Techs: teia de aranha digital-financeira entra em novo patamar de acumulação e controle sobre o mundo real e o poder
Não é necessário nem ser um observador assim tão atento, para perceber que as Big Techs estão entrando num novo patamar de atuação, muito para além do que supõe o uso de um notebook ou celular conectados à internet.
Não é só o “clube dos trilhões de
dólares” em termos de valor de mercado que demonstra o porte destes maiores oligopólios
da história da humanidade, em termos de escala e capacidade de acumulação. Vale registrar
que juntas, as Big Techs americanas já passaram e bem dos US$ 10 trilhões.
Porém, faço questão de me referir
aos avanços do prática anticoncorrencial monopolista dentro dos setores
específicos de tecnologia em que atuam. Há até alguma concorrência entre elas
em algumas áreas de atuação comum, mas são quase um despiste para negar a
prática monopolista, mas no geral os ganhos em escala, são em setores muito
específicos de cada uma das Big Techs.
O fato é que existe uma
incapacidade regulatória nacional para um setor que usa atua globalmente. Isto é
o maior dos entraves. As Big Techs sabem disso e operam nesse veio. O mesmo acontece
na questão tributária, em que as gigantes de tecnologia possuem sedes regionais
localizadas em “esconderijos fiscais”, também chamados de paraísos fiscais.
Estes permitem sonegações bilionárias que juntas já passam da casa do trilhão
de dólares e alimentam a farra das chamadas “empresas offshores”.
A economia de plataformas realiza
um mixo de dataficação, financeirização e neoliberalismo. Não há como analisar
as Big Techs e a dominação tecnológica-digital que elas exercem na condição de
“empresa-plataformas-raiz” fora do contexto da hegemonia financeira do
capitalismo contemporâneo. Tanto na atração de capitais (fundo hedge e venture
capital) nos processos de capitalização, quanto na extração de valor da
economia real e da produção.
Fluxos de capitais, derivativos,
inovações financeiras APPficadas de todo o tipo, gestoras de fundos,
criptomoedas + outras moedas digitais, são partes desta utopia tecnocrática do
dinheiro apolítico e do descolamento da gestão dos Estados-nacionais.
As Big Techs já divulgam
abertamente que são bases fundamentais para todo esse movimento. Backbones (espinhas
dorsais) que criam as condições para essas inovações financeiras e para estes
fluxos colossais - e quase incontroláveis - de capitais mundo afora.
Diariamente, a Microsoft, que
está próximo de passar a Apple na liderança de valor de mercado entre as Big
Techs, rumo aos US$ 3 trilhões, divulga que a maioria das grandes empresas do
ocidente, de vários setores da economia, dependem do seu “Workspace”, para
continuar operando, existindo e capturando valor da economia real.
É aí que as Big Techs encontram
ponto de tangência para se imbricar à economia real no e-commerce, indústria
4.0, indústria das informações e mídia e também nos bancos digitais-fintechs,
moedas digitais, tokenização (divisão de propriedades com uso de metadados e
registros no blockchain), etc.
É nesse sentido que o meta(verso)
anunciado pelo Facebook, mas já presente no planejamento também da Microsoft,
Google, Amazon e Tesla, como paradoxo do mundo real capturado para um universo
abstrato - a partir de nossos dados -, vão fazer ressurgir, sob a forma de
avatares, entre o mundo real e o fictício. Um movimento que é similar ao que faz
o capital e também as informações, quando misturam o que é fato real daquilo
que é falso (fake), como instrumento de manipulação e controle sobre o poder
político e o Estado.
O uso das técnicas digitais faz
parte do desenvolvimento da ciência e tecnologia, mas a sua direção e seu
controle não são naturais. Os algoritmos têm dono. Os donos dos dinheiros. É
dessa relação que se tem o imbricamento entre o digital e o real, o valor
fictício e o valor da produção e o enlace entre o global o nacional.
Porém, este novo patamar de
atuação das Big Techs e de controle sobre a economia, a política e o cotidiano ganham
maior potência quando e onde ocorre o enlace do mundo da tecnologia com o mundo
das finanças. São vários os cruzamentos e interfaces entre um e outro e esse é
um dos pontos que merece um olhar, ou uma mirada em especial.
Um espaço em rede e crescente,
assim como uma teia de aranha tecida dia a dia, a partir de pontos (origem e
destinos) transfronteiriços, por onde circulam as finanças digitalizadas que
deram origem, retroalimentam e expandem os modelos de negócios das Big Techs
não pensados em sua gênese.
Ainda é pouco percebido a forma
como a dominação tecnológica subtraiu do Estado - e a favor do mercado -, o
poder de monopólio não apenas de emissão de moedas e meios de circulação, mas
de registro de fluxos de negócios e de garantia, que antes só o Estado exercia.
A transferência de quatrilhões de
dados diariamente também contribui para desmaterializar o dinheiro que se transforma
apenas em informação e assim ampliam a extração de mais valor da economia real.
Essa de crises em crises, tenta conviver com os conflitos da desigualdade
crescente que vai multiplicando os milhões de trabalhadores precarizados e sem
direitos. Eles atuam na produção, serviços (inclusive das plataformas digitais)
e na circulação material via explosão do e-commerce. Tudo isso cria novos
oligopólios e suga as economias regionais.
As empresas-plataformas-raiz atuam
na intermediação (circulação). São meios de comunicação e de produção e também -
e cada vez mais - meios de troca (e pagamentos) articulados em rede. Trata-se
de um sistema integrado e terrivelmente disruptivo (até aqui) em termos civilizacionais.
Produzem desejos e controlam os
nossos imaginários a partir da ideia-gênese do neoliberalismo controlado pelo
mercado. Um processo que avança sob total controle do mercado, fortalecendo a
plutocracia que emerge, em meio ao autoritarismo de um Estado pós-democrático.
Estado máximo para o mercado e
mínimo para a maioria mantida sob controle, num contexto histórico de
intensificação do neoliberalismo. Uma espécie de neoliberalismo digital.
Será que seguiremos assistindo o
desenrolar destes fatos-movimentos ou será possível alterar o curso essa teia
de aranha tecnocrática-financeira que nos aprisionam?
PS.: Esse texto se refere mais às Big Techs americanas e sua relação com o mundo ocidental. A análise das Big Techs asiáticas e chinesas merecem uma análise à parte e/ou complementar sobre o fenômeno da dominação tecnológica-digital e sua relação com a ampliação da hegemonia financeira.
domingo, outubro 24, 2021
André Esteves (BTG Pactual) descreve em áudio como monta o “Inside Job” no Brasil
O furo de reportagem do Portal 247 (aqui) que trouxe com a divulgação do áudio do banqueiro André Esteves em reuniões com investidores permite uma série de leituras em várias dimensões e profundidade. Link do áudio no Youtube: https://youtu.be/vwrSOb3m3sE
Uma primeira é no campo da política com as opiniões dele (setor
financeiro da Faria Lima) sobre a pauta política no Brasil, sobre as eleições de
2022, sobre os candidatos e suas preferências. E ainda como este setor intervém
sobre poder político, judiciário, mídia, etc. no Brasil atual.
Certamente este é o ponto do áudio que já gera e vai
continuar gerando maior repercussão e produzirá ainda muitas discussões e
debates. O banqueiro André Esteves fala como quem tem autoridade e muito poder
e também expõe claramente a submissão que conquistou junto ao poder político,
tanto o Executivo quanto o Legislativo. As pesquisas frequentes (quanti e
quali) que banca – e que custa muito dinheiro - já é uma referência sobre como
joga o “jogo do poder”.
Esteves deixa claro que hoje a Faria Lima tem maior
interlocução com o Centrão de Arthur Lira, do que com os tucanos, que antes
atuavam, basicamente, como os intermediários entre o mundo das finanças da
avenida Paulista e o poder político central em Brasília.
Porém, escolhi chamar a atenção para uma outra dimensão da
fala do banqueiro André Esteves: o modus operandi do setor financeiro no Brasil
atual. O dono do BTG Pactual diz que o Brasil está entrando tardiamente - 20
anos depois – no esquema global da securitização das finanças. A máquina das
dívidas que ganha mais no volume de endividamento e não apenas nos juros antes
mais altos.
Esteves dá uma explicação muito clara sobre como o Brasil financeiro
se insere tardiamente no que ele chama de movimento global “Financial Deep”, ou
aprofundamento da financeirização. Ou seja, André fala como está sendo implantado
aqui no Brasil, o conjunto de inovações financeiras através de múltiplos tipos
de derivativos de forma semelhante ao que foi feito no entorno da virada de
século nos EUA e centro do capitalismo. Um processo que cresce a partir de 2001
de forma completamente desregulada. O dono do Pactual deixa claro que é nessa linha
que estão sendo implementadas mudanças na intermediação financeira (tardia) no
Brasil.
O mais interessante deste processo é que André Esteves deixa
ainda muito claro, quem são os agentes e que mudanças são essas nos processos de
intermediação financeira em curso no país, com a implantação destas inovações,
mais papeis, meios digitais, etc. no mercado.
Entre outras coisas, estes agente buscam ampliar a integração
do mercado de ações e fundos financeiros (Anbima), Bolsa e bancos tradicionais,
etc. para que estas inovações garantam maior capacidade de lucros e acumulação para
o setor financeiro brasileiro.
Esteves expõe uma autossuficiência que só parece embutida na
fala de quem tem realmente poder. Na maior parte das respostas o dono do BTG não
fala de projetos, mas de transformações em curso. Esteves descreve a integração
de uma “cadeia’ que é muito semelhante àquela que é descrita no documentário
Inside Job (2010), que descortinou as estratégias e ações sobre como o setor
financeiro americano (integrado a outros mercados) produziu a crise do subprime
em 2008 em todo o mundo, a partir dos EUA e de uma completa desregulação, ou
mesmo farra com as inovações financeiras através de papeis e derivativos.
O impactante filme Inside Job mostrou os mecanismos de
aprofundamento do lançamento de “inovações financeiras”, controle do poder
político (Deep State) e controle de instituições e poder judiciário que
permitisse essa “autoregulação” do setor financeiro que a Anbima tem defendido
abertamente no Brasil.
De certa forma André Esteves descreve como pensa a “cadeia
alimentar da securitização” no Brasil, de forma similar à “Securitization Food
Chain” implantada nos EUA. De certa forma, aí André Estrves localiza o seu
banco, o BTG Pactual onde tem o projeto de que ele possa assumir o papel de um
novo BNDES, só que privado como são os bancos de investimentos americanos
(Goldman Sachs, Morgan Stanley, Lehman Brothers, Meril Lynch).
Não é difícil imaginar como hoje Esteves desenha
institucionalmente esta cadeia de securitização no Brasil, assim como ele vê a relação
do seu e demais bancos e fundos de investimentos privados nacionais com os
bancos tradicionais. De forma similar à articulação dos bancos de investimentos
com os conglomerados financeiros americanos: CitiGroup e JP Morgan entre outros.
E também, a relação entre as seguradoras e as agências de rating. Estas últimas
que atuam no Brasil fariam o trabalho de controlar e monitorar esta cadeia de
securitização brasileira para o andar de cima.
Esteves diz abertamente que o Brasil já tem “um dos mercado
de capitais mais vibrantes do mundo”. Não diz, mas se sabe, que os donos dos
dinheiros, se orgulham de atuarem de forma autorregulada, sem poder de fato da
CVM e nem do Banco Central, cujo presidente, Campos Neto, Esteves confessa no mesmo áudio, que
lhe pede opiniões e sugestões na articulação deste “Inside Job tupiniquim”, que
para ele é parte da implantação da “modernização e aprofundamento das inovações
financeiras na linha do Financial Deep global.
Há muito mais a ser ainda compreendido a partir deste áudio. Na prática ele pode ser visto como uma miniaula (empírica) sobre o mundo real dos farialimers e de como o setor financeiro vem controlando a política e garantindo a hegemonia deste setor em nossas vidas.
domingo, outubro 17, 2021
Super Bom -Barcelos & Cia. Ltda - (Norte Fluminense) cresce menos que média nacional do setor de supermercados
Infográfico O Globo 16 out. 2021, p.16. |
quinta-feira, outubro 14, 2021
Ponte do futuro: duto que assalta o fundo público em direção a Faria Lima
Acredito que muitos de nós brasileiros ainda não entendemos que a “Ponte para o futuro” (2015/2016) de Temer e Bolsonaro é na essência o grande assalto (propinoduto) da Faria Lima sobre a economia real em quase todos os setores.
Assalto aos fundos públicos pelo setor privado das finanças feitas através de isenções, "incentivos fiscais", entrega da estatais estratégicas lucrativas, etc.
O maior vértice desta base de rapina é a MP do trilhão no setor de petróleo. As privatizações um outro vértice desta base em que o andar das altas finanças aspira a renda e a riqueza do Brasil que trabalha.
A terceira perna desta tríade deste vampirismo é a desregulação e o desmonte das instituições e legislações do Estado que tentavam cuidar do interesse público da maioria e da soberania da nação, na medida em que boa parte dos beneficiado se espalham em corporações e empresas offshore mundo afora.
Na realidade se trata daquele duto enferrujado
(Globo-JN-Lava Jato), só que em sentido inverso, recolhendo a riqueza dos
cofres públicos para o setor financeiro, tudo comandado pela Faria Lima.
A mídia corporativa é parte desta inversão do bilhões que cruzam os dutos. Quando eles são sugados em assalto aos cofres públicos, sonegações, offshores, isenções fiscais, rendimentos isentos, etc. não é considerado corrupção. É empreendedorismo e sagacidade lavados com caros advogados também da Faria Lima e ajuda a constituir potente renda derivada amparada no andar superior das finanças que lucra e se acumula nestes mesmos endereços de chegada dos dutos.
Na realidade tem-se aí o ponto nevrálgico da rede de pipelines (dutos) que se espalha por diferentes setores e espaço. É onde os se acumulam os lucros em inovações financeiras e papeis do papel fictício, enlaçados, "livremente e sem regulação ou controle com os diferentes setores da economia no Brasil contemporâneo.
A reconstrução da nação passa pela compreensão desta realidade e pela ampliação com um diálogo franco, aberto e potente com a maioria que sofre as consequências do que acaba aspirado por estes dutos e aumentam o preço da gasolina, diesel, gás, energia elétrica, transportes, água, carne, o feijão, etc.
quinta-feira, outubro 07, 2021
Mídia financeira & jornalistas de cativeiro no esconderijo fiscal do Pandora Papper
O caso das offshore do Pandora Pappers em que as duas maiores autoridades econômicas do Brasil são partes que escandalizam o mundo, traz evidências bem para além da mistura entre o público e o privado que derrubou a porta giratória da ética e da moral entre o Estado e a sociedade no país.
O esforço para esconder (ou
escantear) o grave assunto por parte das mídias corporativas, demonstra o modus-operandi dessas
“corporações verbo-verba”. Há muito elas se afastaram daquilo que antes se vangloriavam
de ser: instrumentos de intermediação entre o Estado e a esfera pública para
formar a opinião.
O que se vê - cada vez mais - é a
compra escancarada do imaginário de que a política é um estorvo e elite econômica é virtuosa. Nesta toada, a mídia
corporativa ainda tenta pousar de árbitro de falsa neutralidade, numa disputa
que tem lado. É jogador e agente escancarado do mercado, na captura tanto de
dinheiro quanto de poder. Com o primeiro obtém mais poder, a partir de onde
amplia os controles e os fluxos de informação e dinheiro em seu benefício.
Assim a mídia corporativa quer Estado
para si e para os seus interesses e, desta forma, vai definindo pautas cada vez mais
distantes do compromisso com a sociedade, escondendo o que atrapalha e
marketeando os negócios financeiros que banca os seus crescentes lucros.
Difícil falar em democracia num
cenário como este em que a esfera é privada e a opinião comprada com a riqueza vampirizada e capturada daqueles que a geram. A Hildegard Angel mandou bem ao se referir a “jornalistas de
cativeiro” estes que sofrem a ditadura dos donos dessa mídia corporativa-financeira.
terça-feira, outubro 05, 2021
A pauta do BolsoCaro de 2 de outubro é a vacina contra o bolsonarismo digital!
Essa nova pauta é o principal fato e resultado do 2 de outubro. Ter colocado no debate político, junto da defesa da Democracia, a luta concreta no campo da economia política do povo que sofre com a carestia, a inflação (alta dos preços do gás, gasolina, conta de luz, comida, materiais de construção, etc.), os baixos salários, o desemprego, a perda de direitos e a insuficiência dos serviços públicos de saúde, educação e transporte urbano. Esta luta conjunta e simultânea tem cheiro de povo e crescente poder de mobilização.
A classe em disputa com a extrema direita do bolsonarismo é exatamente esta mais atingida por estas mazelas e violência que em nosso dia a dia amplia as desigualdade, madastra das injustiças.
O bolsonarismo é um movimento da extrema direita, mas fundamentalmente ancorada, num esquema de redes e de mobilização digital, aprendida do movimento similar americano, bancada por um forte suporte financeiro de empresários brasileiros e americanos.
Não tenhamos dúvidas, novas estruturas digitais e de análise e direção dos algoritmos deste grupo social estão sendo, neste momento, filtrados e segmentados. Tudo pendurado a custosas empresas de análise de dados financiadas por empresas em centros offshore de "esconderijos fiscais". Adiante, este grupo em disputa no Brasil, será bombardeado com discursos (memes) falsos (fakes) e específicos como parte das eleições de 2022. O TSE novamente não dará conta disso.
Assim, do outro lado é preciso avançar na luta destas questões concretas. Uma pauta concreta poderá superar o discurso abstrato de valores que esta mobilização digital traz embutida. Assim, esses medos organizados pelas redes digitais terão imensa dificuldade para lidar com a realidade e com a concretude do BolsoCaro, que atinge em especial a base da pirâmide social, onde está a massa em disputa.
É exatamente aí que se deve ter a vacina para enfrentar a extrema direita ultraliberal que governa para o andar de cima, enquanto engana o andar de baixo com questões abstratas mesmo que presentes no imaginário conservador em boa parte dos brasileiros. Uma luta entre a materialidade do real empobrecido e massacrado e o medo abstrato imposto pela perda do que não possuem.
Isso não quer dizer que não se deva também enfrenta-los na mobilização e nas redes digitais. A mensagem se torna mais clara – em qualquer meio - quando a concretude da realidade é exposta como necessidade de superação. É por isso, que eles tanto temem o BolsoCaro, que deixa exposto o desgoverno e a preocupação única do bolsonarismo com os ricos do andar de cima.
Evidentemente, a disputa não é se dá só nesse campo. Mas aí está a massa que se movimentou de um campo a outro entre 2016 e 2018 e agora retorna. É preciso estar mais próximo, ouvindo e dialogando com essa classe que vai até a classe média.
Essa maturação sobre a realidade e a necessidade de mudanças é mais potente vacina contra as notícias falsas das redes digitais. Assim, a nação será reconstruída e um projeto popular e democrático retomado.
quinta-feira, setembro 30, 2021
Controle sobre projeto porto-gás-UTEs do Terpor em Macaé reafirma a economia do petróleo e o uso corporativo do território no NF
PS.: Para ver a reportagem em tamanho maior clique sobre ela.
sábado, setembro 25, 2021
China e o seu baita desafio da “prosperidade comum” como superação da armadilha e riscos da financeirização
A China em seu socialismo de mercado (outros chamam de capitalismo de Estado) abriu espaços para o setor privado no setor imobiliário e de alta tecnologia e assim produziu um colossal crescimento econômico, em meio ao aumento da especulação, enlaces e cruzamentos desses setores com o mundo das finanças que também fez surgir muitos enriquecimentos pessoais.
O projeto chinês desembocou em processos de expansão da
economia para dentro (reduzindo pobreza) e para fora que gerou uma potente e
crescente integração global. A propriedade (imóveis e dinheiro) e a tecnologia,
desenvolvidas a partir de políticas do Estado, foram de maneira paulatina e
consciente, entregues à iniciativa privada através de empresas que adiante se
transformaram e ganharam a condição de conglomerados e gigantes corporações.
Essa estratégia gerou um cenário de colossal crescimento
econômico, mas também produziu muitos riscos, decorrentes das inovações financeiros
(papeis) e lançou ao mercado dezenas (talvez centenas) de bilionários
individuais. Casos do Jack Ma (Alibaba), Xu Jiain (Evergrande Real Estate Group)
e Ren Zhengfei (Huawei) entre outras dezenas
ou centenas. Junto, tudo isso agora se apresenta como ameaças e como desafios.
Não é uma tarefa simples regular estes setores da economia
que ajudaram a China a crescer neste século, acima de 10% ao ano na primeira década
e quase 8% (em média) na 2ª década. Hoje, o setor imobiliário responde por algo
em torno de 29% do PIB da China. Já o setor de alta tecnologia de internet, redes
e plataformas digitais, através de suas Big Techs - em alguns casos maiores que
suas congêneres americanas – transversalmente, se tornou meio (condições gerais
de produção) indispensável, a todos os demais setores da economia chinesa em
suas múltiplas conexões intranacionais e global.
Também transversalmente, mas de forma potente, foi exatamente
no interior destes dois setores (imobiliário-urbano e tecnologia), que a
financeirização se imbricou desde os últimos anos dos anos 90. Sofisticadas inovações
ajudaram a produzir uma “expansão desordenada do capital”, vinculada à ideia-mãe
de transformar quase tudo em gestão de ativos, com a lógica majoritária do
valor de troca (especulação), mesmo que enlaçada ao desenvolvimento da economia
real e da produção com valor de uso que atrais massas enormes dos vilarejos do
interior para as grandes cidades.
No processo de desenvolvimento da China há ainda que se
observar a realidade do seu federalismo e relações com o planejamento e a
gestão estatal. Assim como em outras nações, trata-se de uma complexa distribuição
de responsabilidades entre o governos central, os provinciais e os locais,
tanto em termos de arrecadação de tributos, composição de fundos públicos,
orçamentos e investimentos, quanto na provisão dos gastos para manutenção da
infraestrutura e equipamentos públicos.
Essa questão federativa tem, aliás, profunda relação com as
questões que atualmente emergem no setor imobiliário-urbano (construção
habitacional e comercial) na China, em que pese o fato de que hoje, as
questões-chaves da China pareçam, em boa medida, mais setoriais e
intersetoriais (órbita da nação), embora com profundas conexões matriciais com
o território e com o desenvolvimento regional e locais, onde vivem as pessoas e
se desenvolvem os problemas da sociedade chinesa, em seus locais de trabalho,
moradia e vida
Porém, também é real, o fato de que o governo chinês dispõe,
como nenhuma outra nação no mundo contemporâneo, de recursos, instrumentos e
capacidades institucionais estatais e políticas para superar as ameaças e os
desafios expostos. Será necessário ainda mais planejamento para enfrentar a conhecida
crise cíclica do capitalismo, hoje hegemonicamente financeiro, que alcançou os
meandros e interstícios da economia chinesa, mas também é certo que isso demandará
poupança interna que antes tinham sido planejados para uso em vários
megaprojetos dentro e fora da China.
A história seguirá seu curso diante das ações e dos
movimentos dos agentes na sociedade. O mundo acompanhará a implantação, já é
curso, da denominada “transição para a prosperidade comum”, política (mais que
programa e projeto) do governo chinês (e PCC), observando como serão
administrados os interesses nacional e geopolíticos em suas dimensões e escalas.
Em síntese, o esforço da China é o de construir uma ponte que salte sobre o pântano da armadilha da financeirização - fortemente imbricada nos setores imobiliários e de alta tecnologia - para um desenvolvimento que mantenha as atividades econômicas, mas continue a garantir a elevação do bem-estar da população chinesa. Um baita desafio, muito além do debate ideológico.
quarta-feira, setembro 22, 2021
Capitalismo financeiro: em 4 anos, o Hortifruti rendeu cerca de 10 vezes aos investidores!
Tem-se aí, aquilo que tenho chamado de um "duplo movimento entre valorização e capitalização", em que os instrumentos dos fundos financeiros servem a este recolhimento de excedentes da produção material nas economias regionais, para levá-lo após estratégias duplas ao andar superior das finanças e também permite que os dinheiros destes rendimentos venham a ser transferidos para processos semelhantes em outros setores (frações do capital).
Referências:
[1] Postagem no blog em 6 de nov. 2018. Fundos financeiros agora também nos hortifrutis: seu avanço e mobilidade estão moldando o capitalismo contemporâneo e o modus de vida das pessoas. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2018/11/fundos-financeiros-agora-tambem-nos.html
[2] PESSANHA, Roberto Moraes. A ‘indústria’ dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Consequência, 2019.
[3] Potal do Partners Group Holding AG: https://www.partnersgroup.com/en/
[4] Matéria de O Globo em 14 de maio de 2021. Coluna Capital. Na fila para estrear na B3, Hortifruti inaugura loja conceito no Rio, após reforma de R$ 6 milhões. Disponível em: https://blogs.oglobo.globo.com/capital/post/na-fila-para-estrear-na-b3-hortifruti-inaugura-loja-conceito-no-rio-apos-reforma-de-r-6-milhoes.html
terça-feira, setembro 14, 2021
"Nova" licitação da concessão da BR-101 (RJ) revela interesses imediatos de grupos financeiros
segunda-feira, setembro 06, 2021
Entrega bilionária do campo de Albacora é mais um crime de lesa pátria, por Francismar Cunha
As potencialidades dos campos de Albacora e Albacora Leste ignoradas pela Petrobras
Mapa 01: Infraestrutura de produção e escoamento de petróleo e gás dos campos de Albacora e Albacora Leste
[1]
Ver mais sobre em: https://www.agenciapetrobras.com.br/Materia/ExibirMateria?p_materia=982726
quarta-feira, agosto 25, 2021
Capital x trabalho: pandemia produz mortos entre petroleiros e lucros bilionários aos acionistas
quinta-feira, agosto 19, 2021
Saneamento: "Universalização é apenas mais uma palavra...", por Carlos Frederico Ribeiro
Universalização é apenas mais uma palavra...*.
Assim como “sustentabilidade” e outras palavras que foram apropriadas pelo capital, a garantia da universalização se tornou um marketing muito fácil de ser vendido, acatado e incorporado pelo senso comum; empresas privadas não só se apropriaram desse discurso, como o garantiram em Lei. O processo de discussão e aprovação do Novo Marco Legal (Lei 14.026/20) mostra exatamente para quem esses novos arranjos do setor estão sendo construídos. Não é para a população.
A
Lei institucionaliza a tão sonhada segurança jurídica do setor privado,
funcionando como um espelho que reflete as contradições que existem no discurso
do acesso aos serviços por parte desse grupo. O mesmo já não precisa mais gastar
a mesma energia para tentar convencer que o setor privado é mais eficiente que o
público, uma vez que sua participação já está sendo viabilizada e facilitada
sem a necessidade de elaboração e apresentação estudos e planejamentos que a
justifique.
As
regionalizações impostas pela Lei já estão ocorrendo em diversos estados, e de
maneiras bem controversas. Estamos vendo uma progressiva participação de
entidades privadas nesse processo, enquanto os municípios e a população têm
ficado de fora ou apresentam um baixo grau de relevância nessas decisões. Um
exemplo disso é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
que tomou as rédeas junto ao governo estadual para regionalizar a CEDAE e está
à frente de outros projetos em outros estados.
O
bloco 3, incialmente composto de 22 bairros da Zona Oeste do Rio e mais 6
municípios, foi abertamente negligenciado por não ter se mostrado atrativo ao
capital. Esse caso já é o suficiente para comprovar que a realização do lucro é
a contrapartida para compra dos blocos. Mas onde estava a preocupação e a pressa
em ofertar os serviços para as milhares de pessoas que carecem dos mesmo?
Em
2010, o acesso a água e ao esgotamento sanitário foram reconhecidos enquanto
Direitos Humanos, mas pouco tem sido feito para o avanço de políticas
direcionadas a esse fim. O que temos visto nos últimos anos é o aprofundamento
da financeirização do setor e a transferência da responsabilidade para a
iniciativa privada. Para o capital, essa mudança que já vinha acontecendo
anteriormente mas de forma lenta é interessante, pois o setor é em sua natureza
um monopólio natural, ou seja, não demanda competição na oferta dos serviços.
Essa
característica gera vantagem não apenas para as empresas, por eliminar a
competitividade no território, mas também para os fundos de investimento. A
população é dependente das tarifas para ter os serviços, e esse pagamento regular
securitizado pode transformado em títulos a serem multiplicados. Dessa forma,
cria-se um grande mercado do saneamento.
O
capital financeiro e o início de uma nova Era
A
partir do momento em que a privatização se torna meta no setor, as
oportunidades se abrem para as concessionárias privadas e o arranjo
político-institucional é alinhado com os projetos neoliberais, inicia-se uma
nova era do saneamento. De acordo com a pesquisa realizada em 2018 [1], cinco
grandes empresas dominam o setor no Brasil. Todas elas são controladas por
bancos e/ou fundos de investimento internacionais (Singapura, Japão, Coreia,
Canadá e Espanha).
A
Aegea Saneamento e Participações, GS Inima Brasil, Iguá saneamento, BRK
Ambiental e o Grupo Águas do Brasil controlavam juntos, até então, cerca de
85,3% dos contratos em municípios com presença do prestador privado (Não há
dúvidas que essa porcentagem cresceu). Esses “proprietários do saneamento” são
apenas 5 dos 26 grupos privados que atuam no setor.
Esse modelo restringe uma
competitividade entre as maiores empresas, colocando as menores ainda mais de
escanteio no mercado. Os leilões estão sendo um bom exemplo para se verificar
como isso tem se manifestado, ainda mais quando maior valor de outorga é
estabelecido como critério, como está sendo com a maioria das Companhias e como
foi o caso da CEDAE, a qual sua legitimidade foi colocada em cheque [2]
O
setor privado chega como única resposta para alcançar a universalização, como a
solução de todos os males que a gestão pública provocou em todos esses anos. É
uma lógica tão rasa quanto suas promessas. A financeirização reestrutura a
composição do capital das empresas privadas e elas passam a responder as expectativas
de seus acionistas, e não da população. A universalização entra como um cavalo
de Troia.
O
Grupo Águas do Brasil – Saneamento Ambiental Águas do Brasil (SAAB) atua em
Campos desde 1999 ofertando os serviços de Água e Esgoto pela concessionária
Águas do Paraíba, com lucros incontestados pelo município. Além de Campos, o
SAAB atua em mais 15 municípios e conta com mais 12 concessionárias
distribuídas pelos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais
O
blog já mostrou anteriormente [3] como a Águas do Paraíba vem cobrando da
população tarifas altas (uma das maiores da América Latina) e reafirmando a
necessidade de auditoria para revisão do contrato. No dia 06 de maio deste ano,
foi protocolada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar e
questionar a conduta da prestação e gestão dos serviços da concessionária no
município, no entanto, já passamos da metade do mês de agosto e ainda não temos
notícias sobre sua procedência.
Em
2020, no contexto de crise econômica, política e sanitária, intensificada pela pandemia
do Covid-19 (é importante lembrar que Campos se encontra dentre as cidades com
maiores números de casos de contaminação e óbitos pela doença), a empresa
obteve um lucro líquido de 40,8 milhões de reais. Esse lucro corresponde cerca
de 17,5% do lucro líquido total do SAAB, de 232,598 milhões em 2020 (13% a mais
do lucro de 2019).
Esses
dados mostram que Campos contribui significantemente para a concentração de
riqueza do Grupo SAAB e de seus controladores. E quem são eles? De acordo com a
pesquisa [1], Carioca Christiani-Nielsen Engenharia controla 54% (acionista
majoritário), New Water Participações Ltda possui 17% do controle, o grupo
japonês Itochu e Queiroz Galvão Saneamento possui 12% cada um.
Enquanto
a concessionária e seus acionistas se enriquecem, a população mais vulnerável
do município permanece sem a garantia dos seus direitos. Um artigo publicado em
2020 faz uma análise crítica da política de saneamento de Campos, investigando
o monitoramento feito pelo site oficial da prefeitura no que diz respeito ao
avanço do município rumo à universalização e como o Plano Diretor vem tratando o
saneamento com base no direito humano à água potável e ao esgotamento sanitário
(DHAES) [4].
A
pesquisa aponta diversas contradições em relação ao avanço do acesso. Os
rankings divulgados são questionáveis e a diferença do atendimento dos serviços
nos bairros da sede em relação aos distritos é significante. Além disso, há uma
suposta Tarifa Residencial Social de água e esgoto, sancionada pelo DECRETO Nº
308/2017, mas que foi pouco divulgada em veículos oficiais da prefeitura e
negligenciada pela concessionária.
No
que diz respeito ao Plano Diretor (PD), instituído a
partir da Lei Complementar nº 0015 de 07 de janeiro de 2020, o texto se
encontra praticamente igual ao PD de 2007, o que mostra que a prefeitura não
tem se preocupado com as mudanças necessárias que o setor tem demandado, como por
exemplo o próprio reconhecimento do DHAES.
Em
geral, podemos perceber que o setor tem substituído a garantia do acesso (à
população) pela garantia do lucro (aos seus controladores). Depois da aprovação
do novo Marco Legal e com os leilões dos serviços das companhias estaduais,
começamos a experimentar uma reestruturação da atuação das empresas privadas
nos contratos, no entanto, reestruturar não significa garantia de
competitividade, pelo contrário, o que se mostra é uma consolidação de um
oligopólio e o aumento da concentração de riqueza.
Agora
que as empresas privadas estão expandindo seus tentáculos sobre concessões
municipais do Brasil inteiro, o Grupo Águas do Brasil, bem como seus
acionistas, não perderão a oportunidade de elevar seus lucros e patrimônio. Em
2019, o contrato da Águas do Paraíba completou 20 anos sem sequer passar por
alguma revisão, fiscalização ou auditoria. A prefeitura entregou o saneamento
de Campos nas mãos do capital privado e não tem apresentado muita preocupação
com os efeitos sobre o município.
Enquanto
isso, a universalização permanece distante, apenas como uma palavra, sem
horizonte visível.
Referências:
*Inspirado no título capítulo 1 (Liberdade é apenas mais
uma palavra...) do livro “O Neoliberalismo: histórias e implicações” de David
Harvey, traduzido por Adail Sobral e Maria Stela Gonçalves.
[1] https://www.fnucut.org.br/pesquisa-revela-quem-sao-os-proprietarios-do-saneamento-no-brasil-2/
[2] https://ondasbrasil.org/carta-denuncia-irregularidades-no-leilao-da-cedae/
[3] http://www.robertomoraes.com.br/2017/06/aguas-do-paraiba-lucro-liquido-de-r-55.html
[4] RIBEIRO, Carlos Frederico Rangel de Almeida; BARBOSA, Lucas Queiroz. O direito humano à água e ao esgotamento sanitário: análise da política de saneamento de Campos dos Goytacazes/rj. In: DA SILVEIRA, C.F.G.C.; BORSATO, L.; SALLES, S. de S.; VIDAL, T.J. (Orgs.). Direitos Humanos e Fundamentais. Vol. 1. Rio de Janeiro: Pembroke Collins, 2020. P. 501-518. Disponível em: < https://www.caedjus.com/wp-content/uploads/2020/11/direitos-humanos-e-fundamentais-Vol1.pdf>.