Faço aqui mais uma sugestão. Neste caso para que assistam ao belo documentário “De Paranapiacaba ao Peabiru” (abaixo). Em época de correrias, aviso que ele é relativamente curto. Apenas 57 min e foi recém-lançado pela Prefeitura de Santo André, SP.
O “case” da criação da Vila de Piranapiacaba, como base para construção da ferrovia
(funicular) que rompeu a Serra do Mar, em direção a Santos, atendendo à
demanda exportadora de café é bem conhecido. Ela está ligada à construção de um
conjunto de infraestruturas no final do século XIX e início do século XX e
que inclui o Porto de Santos e todo o desenvolvimento paulista e parte do
Sudeste.
Muitos bons pesquisadores da área da urbanização, geografia,
economia, história e outras áreas conhecem e já descreveram muito disso que
este bom documentário registra e aponta. Insisto que é um documentário muito
bem feito e que vale o tempo investido.
O vídeo (filme) expõe questões que permitem leituras num
ciclo mais longo. Seus idealizadores começam comentando informações da
geografia física sobre a posição de Paranapiacaba (origem do nome) na Serra do
Mar, desde a separação dos continentes.
A seguir relembra o caminho dos índios (Peabiru) naquela
região, o período da colonização e embate com os índios, os tropeiros, a
chegada da ferrovia, com projeto do Barão de Mauá, dinheiro dos Rotschilds e
engenharia inglesa; o Porto de Santos, industrialização de Cubatão, poluição da
Baixada Santista, expansão dos terminais do porto, pressão fundiária e
imobiliária para uso da terra e ... vai até a compra da área da ferrovia, pela
Prefeitura de Santo André em 2013, quando avançam os processos de preservação e
recuperação histórico-turística da região.
Em meio a tantos filmes assistidos e sem muito sentidos nos “streamings
da vida contemporânea”, penso que é um documentário bastante interessante,
mesmo para quem já conhece bem a região e as questões que envolvem essa vila
criada pelos ingleses, como uma espécie de vila industrial para montagem da
ferrovia que corta a Serra do Mar.
Penso que há várias dimensões possíveis de serem exploradas
no documentário. É um bom case como exemplo de como fazer um "campo"
(com pré-campo e pós-campo) para investigações empíricas de pesquisa em
"espaço e economia" e outras áreas.
Entre as dimensões possíveis de serem trabalhadas estão a questão fundiária, ambiental, os ciclos longos, a relação do homem com a natureza e a tecnologia, urbanização, redes técnicas, infraestrutura como Condições Gerais de Produção (CGP) - Economia Política -, impactos socioambientais, análise do processo histórico da ocupação e do desenvolvimento paulista que ganhou um novo patamar depois que se rompeu a barreira da Serra do Mar, além das mudanças decorrentes da relação entre o modelo agroexportador para industrial, etc.
Enfim, entendo que é um documentário que pode e deve ser
utilizado como background para muitas das discussões de estudiosos e
pesquisadores deste campo, mas também como cultura geral sobre importantes problemas
contemporâneos.
https://www.youtube.com/watch?v=UVHVDNzxRtA