Sem deixar o conteúdo próprio de cada disciplina de lado, a ideia que apresento é o de usar uma aula - ou parte dela -, para uma conversa com os alunos. Sim, diálogo. Bidirecional. Ouvir e falar, ou dialogar. Sugerir e intermediar a discussão.
O tema? É um assunto transversal e, na verdade, cabe em qualquer e em todos os conteúdos disciplinares, porque ele é também meio e método.
Sugiro que nem seja muito planejado e nem algo improvisado, mas que o colega professor se prepare minimamente sobre o tema que é algo do seu cotidiano e também dos alunos, para assim ajudar na mobilização intelectual.
Talvez seja um dos temas mais importantes para os adolescentes, jovens e estudantes maduros na atualidade. O professor não precisa dominar o assunto da tecnologia digital. Aliás, é bom que não queira saber demais sobre o tema. A ideia é que como mediador ele traga ao centro do debate um assunto que ele possa mais ouvir.
Assim, penso que o assunto não será enfadonho. Ao inverso, imagino que vá gerar ânsia para falar e ouvir os colegas. Refiro-me a um debate crítico sobre as mídias digitais e as redes sociais. Plataformas digitais como instrumento de trabalho e de comunicação. As redes sociais se tornaram onipresentes depois que entraram nos celulares (internet móvel). Informação (desinformação ou fake news). Estamos imersos em bolhas ou em guetos de grupos digitais? O que é feito com nossos dados? É legítimo a restrição de idade para uso das redes sociais? Em qual idade? Nossas relações em sociedade estão mudando muito ou sempre foi assim? Porque as tecnologias digitais são tão atrativas e simultaneamente preocupantes?
Não pretendo com esse pequeno detalhamento sugerir subtemas. Também não sugiro que apresente eles para os alunos. Eles até podem surgir, mas listo aqui apenas para ajudar o professor a pensar sobre o que poderá surgir da conversa e, se for o caso, inserir um ou outro ponto, como ponderação e reflexão na discussão, a partir do seu papel de mediador. Aliás, é um bom exercício para aquele professor que ainda vai para as aulas professar o que sabe, quando a escola e nós professores, já devíamos ter saltado para um papel que considero ainda mais importante e desafiador.
A sugestão é que seja uma conversa livre, mesmo que mediada, ou intermediada, para dar voz aos argumentos do maior número de alunos possível. Lembro que essa minha sugestão não é para aula específica de informática. Até penso que lá deveria ter espaço para essa “análise crítica”, mas a ideia é que se vá além da tecnologia como ferramenta, mas pensar como ela já influencia as nossas vidas pessoais e em sociedade num mundo em veloz transformação.
Em escolas púbicas e com alunos de baixa renda, mesmo sabendo que se vive com exclusão digital e dificuldades de acesso à internet, o tema poderá instigar a pensar sobre as desigualdades (sim, no plural) que eles vivem. Avaliações críticas surgirão tanto sobre a disponibilidade e captura de dados pelas empresas de telefonia e tecnologia, quanto a privacidade e o tempo que nos é roubado, assim como a quê e a quem tudo isso tem servido?
A ideia não é dirigir o debate para conclusões que, obviamente, podem ser produzidas por alguns, mas instigar reflexões e questões. Sugerir pesquisas relacionadas à disciplina do professor e, especialmente, estimular para tentarem “ligar as pontas das informações” que já possuem e outras que possam capturar, a partir desse diálogo, para a construção de leituras surgidas dessa mobilização intelectual.
Interessa menos o resultado e mais o processo. Aliás, é assim toda vez que se trata de construção de conhecimento e não da já superada e conhecida transferência de conteúdo.
Esse processo tende a produzir conhecimento potente, transversal e transdisciplinar. Apropriação e construção de saber (há quem prefira chamar de competência). Razão de ser (stricto-sensu) da escola. Ao final, se não for pedir demais, sugiro ainda que contem suas experiências aqui em suas redes (para nós) e para outros professores.
Se julgar a sugestão impertinente, deixe-a de lado. Apenas, guardo uma curiosidade sobre os processos que elas possam suscitar tanto aos estudantes quanto aos professores e também à escola.
2 comentários:
Prof Roberto Moraes
Gostei bastante do texto que publicou "Sugestão aos amigos professores".
Como no momento um dos assuntos que está em evidencia é a da kripto moeda
gostaria de pedir ao mestre Um texto sobre o assunto.
O Passado (inicio) meio e o atual estágio em que se encontra as moedas digitais.
Se elas tem futuro, mudando assim todo o sistema no mundo capitalista.
Que o texto seja explicativo do que é, foi e sera a moeda digital ou se é
mais um "negocio" onde como sempre o rico ganha mais e pobre menos ainda.
Aborde o objeto kripto moeda(como funciona) para que possamos entender um pouco que tipo de mercadoria ela é realmente....se uma nova opção ou uma conspiração com um novo tipo de commodities!
abs
Caro Torres,
O que me pede pode ser lido no livro do Edemilson Paraná: "Bitcoin: a utopia do dinheiro apolítico".
Abs.
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