quinta-feira, dezembro 15, 2022

Nº de matrículas entre 2003 e 2020 no ensino superior presencial nos municípios fluminenses: Instituições públicas dobraram matrículas, enquanto IES privadas perderam 10% de alunos. Em 2 anos matrículas em EaD ultrapassarão presencial no ERJ

O número total de matrículas na modalidade presencial nas Instituições de Ensino Superior (IES) no ERJ segue caindo desde o pico em 2018, quando chegaram a 544 mil matrículas. Em 2021 teve uma queda de 6,6% em 2021, e segue à queda de 4,3 em 2020 e de 5% em 2019.

O blog repete o que vem fazendo nos últimos anos ao divulgar os dados dos números de matrículas nos municípios fluminenses, a partir do microdados do Inep-MEC, tabulados pelo professor José Carlos Salomão Ferreira, a quem o blog agradece pelo dedicado trabalho

Em 2021, o Ensino Superior no ERJ, na modalidade presencial, chegou a 462.047 matrículas, ou 32.569 matrículas a menos que em 2020. Porém, a expansão de matrículas na rede pública segue avançando e quase que dobrou de tamanho.

Em 2003 eram 82.057 matrículas nas instituições públicas do ERJ. Já em 2021 foram contabilizadas 158.569, equivalentes a 52,2% do total de 462.047 matrículas, em 40 dos 92 municípios do ERJ. Desde 2003, o número de matrículas nas instituições privadas no ERJ caiu cerca de 10% de 338 mil para 303 mil matrículas.

Desde o golpe político-parlamentar-jurídico de 2016, houve um freio na expansão do número total de universitários, embora o movimento de crescimento no setor público tenha continuado, por conta do impulso dos programas das universidades e institutos federais no Estado do Rio de Janeiro pensado nos governos do PT.

No período de quinze anos, entre 2003 e 2018, houve uma evolução de 36% no nº de matrículas, saindo de 420 mil para 544 mil matrículas no ensino superior presencial. Já no ano de 2021, a partir deste último Censo 2021, o ensino superior presencial esteve presente em 40 (43%) dos 92 municípios fluminenses com 462.047 matrículas.

Tabela Nº matrículas ES presencial municípios fluminenses 2003-2021

[Para ver a tabela abaixo em tamanho maior clique sobre ela]


Um total de 40 dos 92 municípios fluminenses possuem matrículas em cursos presenciais no ensino superior. No ano de 2021, em apenas 10 deles, houve aumento no número de matrículas, enquanto outros 30 municípios perderam alunos.   

O dado mais significativo a ser ressaltado e analisado, enquanto política pública, é que o crescimento das matrículas de 124 mil matrículas entre 2003 e 2018, se inverteu em 2019, 2020 e manteve a queda também em 2022. Porém, vale destacar que a despeito desta redução no total, os resultados das instituições públicas segue positiva em 2021, em relação a 2020. Enquanto o número de matrículas nas instituições privadas caiu 34.954 matrículas, nas instituições públicas houve um crescimento de 1.756 matrículas. 

Tabela evolução matrículas IES Públicas e Privadas nos municípios ERJ

Este esforço é ainda resultado do governo federal no período Lula (1-2) e Dilma (1) que resultou na criação nas universidades públicas de mais 74 mil matrículas nos municípios fluminenses entre 2003 e 2020. Em números absolutos, as instituições públicas aumentaram de 82.057 matrículas em 2003 para 158.569 matrículas em 2021 no ERJ, com um crescimento em números relativos 93%.

É oportuno ainda registrar que essa redução de matrículas nas IES vem ocorrendo de forma seguida na virada de 2017 para 2018. Ou seja, na crise é o Estado que supre a demanda de vagas em todos os níveis de ensino.

Vale registrar que as matrículas no ensino superior nas instituições públicas (universidades e institutos) crescem ou se mantêm a despeito das crises econômicas, enquanto no setor privado o ciclo de recessão se refere imediatamente no número de matrículas, por conta da dificuldade de pagamento dos estudantes.

 Além disso, vale observar que quase que apenas nas instituições públicas há investimentos e articulação (mesmo que em graus variados) às duas outras duas pernas do tripé que dá qualidade ao ensino superior: a pesquisa e a extensão, para além do ensino. No caso das instituições privadas são raros e pontuais os investimentos em projetos e programas de pesquisas e pós-graduação. Isso em todo o país e não apenas no caso do ERJ.

 Outra questão observável na tabela é que no período entre 2003 e 2020 houve uma significativa interiorização da oferta de matrículas no ensino superior, apesar da ainda enorme concentração das vagas na capital fluminense.

Em 2003, 260 mil de 420 mil matrículas estavam na capital, equivalentes a 62%. Em 2021, a capital tinha 52,4% do total de matrículas em todo o ERJ. Um percentual ainda muito alto. Em 2003 eram 31 municípios com cursos superiores e em 2021, um total de 40 dos 92 municípios fluminenses possuíam cursos de graduação presenciais.

O ERJ possui 8 (oito) municípios com mais de 10 mil matrículas na modalidade presencial: 1- Rio de Janeiro 242.055 matrículas;2- Niterói 48.681 matrículas; 3- Nova Iguaçu 23.885 matrículas; 4 - Campos dos Goytacazes 17.452 matrículas; 5 - Duque de Caxias 12.948 matrículas; 6 – Volta Redonda 12.524 matrículas; 7 – São Gonçalo 10.820 matrículas; 8 – Seropédica 10.810 matrículas. Como se vê 6 destes 8 municípios estão na região metropolitana.  Somadas as matrículas presenciais nestes 8 municípios, elas equivalem a 82% do total no ERJ, evidenciando uma concentração, que pode também ser observada como polos regionais.

 

Polos de ensino superior no ERJ

Por fim, vale observar ainda 3 (treze) municípios-polos, com importância crescente no número de matrículas no Ensino Superior no ERJ que podem ser observados em três diferentes regiões: Metropolitana + Serrana; Norte e Noroeste Fluminense + Baixadas Litorâneas; Sul Fluminense.

São municípios de porte médio que podem ser observados como polos regionais do ensino superior no ERJ. Cinco deles reforçam o peso da quantidade vagas na Região Metropolitana do estado, aumentando a centralização já existente com os 52,4% das matrículas do ensino superior na capital.

Vale observar que nos últimos anos há variações nestes números de matrículas por município, devido à presença majoritária de instituições públicas de ensino superior (que se mantém ou crescem), enquanto as instituições privadas perdem matrículas rapidamente com a chegada das crises e com a expansão de EaD, basicamente adotada pelas instituições privadas como poderá ser visto adiante.

Região Metropolitana + Serrana: 2021 (2020)

Niterói: 48.681 matrículas (52.557 matrículas em 2020) = -3.876 matrículas.
Nova Iguaçu: 23.885 matrículas (24.811 matrículas em 2020) = -926 matrículas;

Duque de Caxias: 12.948 matrículas (14.454 matrículas em 2020) = -1.506 matrículas;

São Gonçalo: 10.820 matrículas (11.142 matrículas em 2020) = -322 matrículas;
Seropédica: 10.810 matrículas (11.855 matrículas em 2020) = -1.045 matrículas;
Petrópolis: 9.262 matrículas (9.961 matrículas em 2020) = -699 matrículas;

 

Região Norte e Noroeste Fluminense + Baixadas Litorâneas

Campos dos Goytacazes: 17.452 matrículas (18.050 matrículas em 2020) = -598 matrículas;
Macaé: 9.455 matrículas (9.509 matrículas em 2020) = -54 matrículas;
Itaperuna: 8.003 matrículas (7.717 matrículas em 2020)= +286 matrículas;
Cabo Frio: 6.882 matrículas (7.632 matrículas em 2020) = -750 matrículas;

Região Sul Fluminense

Volta Redonda: 12.524 matrículas (13.485 matrículas em 2020) = -961 matrículas;
Resende: 5.821 matrículas (6.594 matrículas em 2020) = -773 matrículas;
Barra Mansa: 3.932 matrículas (4.738 matrículas em 2020) = -806 matrículas.

Como pode ser visto na evolução de matrículas do ensino superior entre 2020 e 2021 nestes 13 municípios-polo, apenas um teve aumento de matrículas que foi Itaperuna com aumento de 286 matrículas. Todos os outros tiveram redução. Algumas fortes como Niterói (-3.876 matrículas) e Duque de Caxias (-1.506 matrículas).

O total de perda de matrículas entre 2020 e 2021 nesses 12 municípios-polo chegam a 12.316 matriculas. O fato se explica pela crise econômica, mas em especial com o aumento da oferta na modalidade em EaD nas IES privadas com mensalidades bem menores. Esse tipo de modalidade (EaD) também vai se tornando uma alternativa mais forte moradores de municípios de menor porte e densidade populacional.

 

EaD no ERJ

No quadro abaixo é possível ainda observar a evolução das matrículas em Educação à Distância (EaD) no ensino superior no ERJ nos últimos quatro anos (2017-2021). Neste período, as matrículas em EaD aumentaram em 2,5 vezes, saindo de 142.119 matrículas em 2017 para 355.633 matrículas em 2021. Abaixo a tabela com o número de matrículas presenciais e EaD em 88 dos 92 municípios fluminenses.


Tabela Nº matrículas ES em EaD nos municípios fluminenses 2020 e 2021

[Para ver a tabela abaixo em tamanho maior clique sobre ela]


Observa-se apenas entre 2020 e 2021, um aumento de 22,5%. Esse aumento da oferta de EaD no ERJ é bem maior nas IES privadas, superior a 300% e estão quase estabilizadas nas IES públicas. Com esse crescimento não é difícil prever que em 2 anos (2023), o nº de matrículas em EaD vá ultrapassar o número de matrículas presenciais no ensino superior no ERJ.

No ERJ, as matrículas em EaD estão majoritariamente nas IES privadas (90%) e concentradas espacialmente na capital com 40,1% das matrículas, embora a EaD seja mais pensada para atendimento da população mais afastadas dos polos de ensino superior. C 

O aprofundamento da investigação deste conjunto expressivo de dados permite análise em várias outras dimensões para além da evolução do número de matrículas ao longo dos últimos dezessete anos. 

 

Referência:

[1] Postagem do blog em 20 de abril de 2022. Entre 2003 e 2020, IES públicas do ERJ cresceram 91% das matrículas no ensino superior presencial, enquanto IES privadas perderam alunos. Disponível em: https://www.robertomoraes.com.br/2022/04/entre-2003-e-2020-ies-publicas-do-erj.html

segunda-feira, dezembro 12, 2022

Em 2021, nº de matrículas no ensino superior público ultrapassou às de instituições privadas em Campos dos Goytacazes, RJ

Este blog, há duas décadas, publica a evolução das matrículas nas instituições de ensino superior no município de Campos dos Goytacazes, RJ e demais municípios fluminenses.

Os números têm sido tabulados, em trabalho dedicado e pesado, feito exclusivamente para o blog (e pesquisadores que aqui colhem informações), pelo professor José Carlos Salomão Ferreira (IFF), usando a complexa "base de microdados" do Censo do Inep/MEC.

Esses microdados do Censo do Ensino Superior trazem informações sobre os números de matrículas no ensino superior (graduação) presencial nas 12 (doze) instituições que ofertam vagas no município de Campos dos Goytacazes, RJ e muitos outros dados como nº de professores, salário médio, receita por instituição, etc. E, pela segunda vez, também trazem os dados sobre a Educação a Distância (EaD) no Ensino Superior por município e instituições.

Os dados apresentados abaixo foram disponibilizados há cerca de um mês são os últimos divulgados pelo Inep/MEC e se referem ao Censo do Ensino Superior 2021. Primeiro publicaremos os dados do município de Campos dos Goytacazes e depois dos demais municípios fluminenses.

Os números de matrículas presenciais no município, em doze instituições (públicas e privadas) estão praticamente estáveis com redução de apenas 3,3%, saindo de 18.050 universitários em 2020, para 17.452 matrículas no ensino superior em Campos dos Goytacazes em 2022.

Porém, o fato que merece destaque é que é a primeira vez desde 2003, que as matrículas somadas nas quatro instituições públicas (IFF, UFF, UENF e Isepam) ultrapassam o nº de universitários somadas nas sete instituições particulares (Estácio, Isecensa, Universo, Ucam, Uniflu, FMC, Faberj e Redentor) no município de Campos dos Goytacazes, RJ.

Para se ter uma ideia dessa transformação no ensino superior em Campos dos Goytacazes, RJ, é só observar que em 2003 haviam 14.924 matrículas nas instituições privadas e em 2021 esse número é de 8.514 universitários, uma redução de 43%. Ao contrário, nas instituições públicas, as matrículas quase triplicaram, saindo de apenas 3.143 matrículas em 2013 para 8.938 matrículas em 2021. Não há como não atribuir esses resultados a políticas púbicas desencadeadas pelo governos Lula e Dilma, a partir de 2003.

O quadro abaixo elaborado pelo professor Salomão mostra a evolução do quantitativo de matrículas presenciais no município desde 2003 até 2021, a tabulação do quantitativo de matrículas pelas IES públicas e pelas IES privadas, em Campos dos Goytacazes, RJ, o principal polo de ensino superior no interior e para além da região metropolitana do ERJ. [Para ver a imagem do quadro em tamanho maior clique sobre ele].


Pelo quadro/tabela acima é possível identificar e destacar várias outras questões. Faremos outros breves comentários além dos já destacados acima:

1) Como já foi dito acima, a queda de 3,3% em 2021, se segui à queda de 5% nas matriculas em 2020, quadro na ocasião que se relacionou à Pandemia. O pico de nº de matrículas presenciais se deu em 2018 com 19,8 mil universitários. Em 2021, se registrou 17,4 mil matrículas, número que parece se estabilizar, embora pressionado, pela ampliação seguida e constante, das matrículas em Educação a Distância (EaD) que de 2020 para 2021 foi 21,8% e já chegam a 8.940 matrículas no município. Se forem acrescidos aos números da matrículas presenciais de 17.452 em Campos, EJ com as 8.940 matrículas na Educação à Distância (EaD), elas totalizam 26.392 matrículas em 2021, uma diferença à mais de 1.003 matrículas (+4%), sobre os 25.389 graduandos que o município de Campos dos Goytacazes, possuía em 2020.

2) A redução de matrículas em 2021 em relação a 2020, em Campos dos Goytacazes, RJ, ocorreu em oito das instituições do total de doze instituições de Ensino Superior no município. O número caiu mais nas IES privadas (desceram em número absolutos de 9.543 universitários para 8.514 matrículas, menos 1.029 matrículas). Já nas quatro instituições públicas o número somado de matrículas, cresceu em números absolutos 431 matrículas, cerca de 5%. A Uenf ampliou em 393 matrículas, o IFF cresceu 95 matrículas, compensando a leve redução na UFF de 20 matrículas e 37 matrículas no Isepam. Entre todas as IES no município, as que mais perderam matrículas foi a UCam (-460 matrículas e já tinha perdido 468 matrículas em 2020) e Estácio (-371 matrículas).

3) Essa evolução em números absolutos e relativos e em termos percentuais do crescimento das vagas nas instituições públicas de 47% em 2020 para 51% em 2021 ou de 17% em 2003 para os atuais 51% no município de Campos dos Goytacazes, merece maiores registros, até porque tanto na modalidade presencial, quanto em EaD, as matrículas nas instituições privadas são maioria. Em todo o ERJ (66% na presencial) e em do país (64% na presencial). Na modalidade EaD a nível nacional 95% das matrículas das instituições privadas.

4) Além disso, não se pode deixar de considerar o enorme desmonte que vem sendo implementado nas instituições públicas de ensino superior em todo o Brasil, desde o golpe político de 2016, com redução de orçamento para investimentos, custeio e bolsas, fato merece registro e demonstra, não apenas a capacidade de resistência institucional, mas a disposição de atender à sociedade, a despeito do pouco caso dos atuais gestores do Ministério da Educação (MEC) do desgoverno Bolsonaro. Todo esse cenário expõe a resistência e a luta em defesa e expansão do ensino superior público em Campos dos Goytacazes, RJ. Ao contrário do que dizem os liberais, o Estado Social onde está o setor de Educação e seus equipamentos públicos, promovem empregos, desenvolvimento social e faz circular a renda. Por tudo isso, Campos dos Goytacazes, RJ, como polo de ensino superior merece ainda mais destaque com 51% das matrículas nas instituições públicas contra a média nacional de apenas 36% e 34% no ERJ.

5) Voltando à quantidade de matrículas no ensino superior em Campos dos Goytacazes, em 2020, o Instituto Federal Fluminense (IFF) continua sendo a instituição com maior quantidade de matrículas com 3.655 universitários.  Essa liderança foi alcançada no ano de 2017, quando o IFF ultrapassou pela primeira vez, a Estácio de Sá, para se tornar a instituição com o maior número de matrículas na graduação presencial no município de Campos dos Goytacazes, RJ. A segunda instituição com o maior número de universitários em Campos dos Goytacazes, deixou de ser e Estácio (2.405 matrículas) e passou a ser a UFF (2.433 matrículas). Logo em seguida com a quarta maior quantidade de matrículas vem, com valores muito próximos da UENF com 2.304 matrículas na graduação.

6) É oportuno ainda repetir que o total de graduandos no município de Campos dos Goytacazes, RJ. Juntando o número de matrículas de cursos de graduação presencial em Campos (17.452) com o número de matrículas em Educação à Distância no município (8.940) se chega a um total de 26.392 graduandos no município. Vale ainda explicar que o número de matrículas em Campos em EaD não são necessariamente destas 12 IES que atuam fisicamente no município. Apenas 4 delas possuem matrículas em EaD no município: Estácio EaD (3.568 matrículas eram 3.150 em 2020); UCam (759 matrículas eram 399 em 2020); Universo (134 matrículas eram 171 matrículas em 2020) e UENF (47 matrículas eram 25). Além destas 4 ofertantes de EaD no município há 36 outras IES que possuem alunos matriculados em Campos dos Goytacazes. Eram 30 instituições oferecendo EaD em 2020 em Campos. Destaca-se ainda a presença de matrículas em EaD em Campos, RJ, da UNOPAR-Pitágoras-Anhanguera com 1.455 matrículas (em 1.356 matrículas em EaD em 2020) e a UNIASSELVI de Santa Catarina com 1.404 matrículas (eram 711 matrículas em 2020). A UNICSUL (Universidade Cruzeiro do Sul) de SP tinham 468 matriculas, em 2021, na modalidade EaD no município de Campos dos Goytacazes.

7) É possível ainda estimar que juntando aos números de matrículas nas graduações presenciais, mais as matrículas em EaD e ainda as matrículas nos cursos de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado), estimadas em cerca de 4/5 mil, o número total de estudantes universitários no município de Campos dos Goytacazes deve estar se situando na faixa das 30 mil matrículas. [6] [7] [8] [9].

8) É necessário continuar observando os dados do próximo Censo ES (2022) para ver se ainda no prosseguimento dos efeitos da Pandemia de Covid e expansão das matrículas em EaD, que são em maior quantidade nas instituições privadas, os efeitos sobre os totais das matrículas presenciais no município. Os efeitos da expansão da oferta de EaD também podem afetar a redução de graduandos que são moradores de outros municípios e buscam o polo de ensino superior de Campos para sua formação.

9) Por fim, vale comentar que o nº de matrículas no ensino superior nos municípios, não apenas naqueles que são polos regionais, segue sendo um dos importantes potenciais a ser utilizado para pensar o território e a região. E nesse sentido vale ainda observar que além das investigações do nº de matrículas nas graduações em IES, é também importante registrar a atuação das instituições na pesquisa e na Extensão que compõem o tripé de formação acadêmica ou universitária. Características que, basicamente são desenvolvidas nas IES Públicas e, só pontualmente, nas IES privadas. 

10) Adiante, o blog publicará, como faz nos anos anteriores, o quantitativo de matrículas no ensino superior (graduação) presencial em todos os municípios do ERJ. Abaixo nas referências, o blog lista os links das postagens anteriores sobre o quantitativo de matrículas em Campos dos Goytacazes, RJ e comentários.

 

Referências:

[1] Postagem do blog em 18 de abril de 2022. Nº de matrículas no ensino superior presencial cai 5% em 2020, em Campos, RJ. Porém, somado à EaD chegam a 25 mil graduandos. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2022/04/n-de-matriculas-no-ensino-superior.html

[2] Postagem do blog em 1 de novembro de 2020. Nº de matrículas no ensino superior presencial cai 4% em Campos, RJ, mas com ligeiro aumento nas instituições públicas. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2020/11/n-de-matriculas-no-ensino-superior.html

[3] Postagem do blog em 22 de setembro de 2019. Nº de matrículas no ensino superior presencial se estabiliza em Campos nos últimos 4 anos: percentual aumenta nas públicas. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2019/09/n-de-matriculas-no-ensino-superior.html

[4] Postagem do blog em 23 de setembro de 2018. Apesar da crise, as matrículas no ensino superior em Campos se estabilizam em 20 mil graduandos. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2018/09/apesar-da-crise-as-matriculas-no-ensino.html

[5] Postagem do blog em 11 de novembro de 2017. Censo do Ensino Superior 2016: Campos com 19,8 mil universitários. E a qualidade? Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/11/censo-do-ensino-superior-2016-campos.html

[6] Postagem do blog em 8 de dezembro de 2017. Entre 2003 e 2016, as matrículas no ensino superior no ERJ cresceram 36%. Nas instituições públicas cresceram (82%). Mais de três vezes que (25%) o crescimento nas instituições privadas. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/12/entre-2003-e-2016-as-matriculas-no.html

[7] Postagem do blog sobre o Censo no anos anteriores. Em 23 nov. 2016. Campos aumenta nº estudantes no Ensino Superior para 19,3 mil matrículas. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/11/campos-aumenta-n-estudantes-no-ensino.html

[8] Postagem do blog em 1 de mar. 2016. Campos possui 18 mil alunos no Ensino Superior. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/03/campos-possui-18-mil-alunos-no-ensino.html

[9] Postagem do blog em 18 de ago. de 2015. Ensino superior em Campos perde 4 mil matrículas em 5 anos. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2015/08/ensino-superior-em-campos-perde-4-mil.html?m=1

[10] Postagem do blog em 31 jul 2015. Campos tem 17,1 mil alunos matriculados no Ensino Superior. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2015/07/campos-tem-171-mil-alunos-matriculados.html 

domingo, dezembro 04, 2022

A ‘indústria’ rentista de aluguel: caso de Barcelona

Estive em novembro passado quase vinte dias entre Portugal e Espanha. Uma passagem rápida, mais de apoio e passeio do que de observações. Mas, num período como esse, de grandes transformações no mundo, ninguém vai a outros lugares deixando de lado as manias de pesquisador.

Nos meus estudos sobre os fundos financeiros e suas gestoras, eu tento acompanhar sempre e em mais detalhes como os investidores de “capital de risco”, capturam oportunidades de altos rendimentos e de curto prazo com os ativos da economia real que estão transformando a forma de intermediação financeira.

Nesse movimento alguns setores e espaços (territórios) se alternam como atratividade para esses investidores que buscam ganhos e acumulação de capital. As plataformas digitais e empresas-aplicativos são cada vez mais instrumentos que auxiliam e ampliam essa captura.

É no meio desse processo que a renda da terra, desdobrada de forma resumida como “renda-imobiliária” vai se tornando ainda um maior atrativo para captura de excedentes econômicos em diferentes partes e regiões das nações, em especial, as capitais e metrópoles ao seu redor.

É nessa direção que alguns pesquisadores têm falado sobre o rentismo da ‘indústria’ (sim, entre aspas) dos aluguéis. Um atrativo cada vez mais forte, mesmo que segmentado e organizado no interior desse setor, entre os fundos imobiliários (FII), mas também para fundos híbridos, multimercados (hedge) e outros.

No Brasil passa também pelos FIPs (Fundo de Investimento em Participações, uma composição de recursos que se destinam à aplicação em companhias abertas, fechadas ou sociedades limitadas) que também envolve a área de infraestrutura que direta e indiretamente se liga ao setor e ao rentismo-imobiliária, velho conhecido desde o início do capitalismo.

Já vem sendo bastante comentado o aumento do custo de vida para moradores de cidades-metrópoles como Berlim, Paris e mesmo Lisboa e Madri no sul europeu, decorrentes do aumento do valor de moradias (pisos) em áreas mais centrais que empurram os moradores para as periferias cada vez mais distantes dos locais de trabalho e do centro.

Trata-se entre outros de fato ligado à migração de pessoas de maior renda de outras nações, mas também à destinação de moradias para aluguéis de temporada através de aplicativos tipo AirBnB. Isso também já é percebido no brasil, em especial São Paulo e Rio de Janeiro, atraindo, investidores e gestoras de fundos para esses ganhos acima da média.

Investidores estão sempre atrás de alta rentabilidade em curtos prazos. Assim, captam donos de poupança (excedentes) que como investidores se transformam em quotistas de fundos. Estes adquirem prédios mais antigos, reformam prédio e as unidades habitacionais, em especial de um ou dois quartos, que ganham tanto em valor de mercado quanto ampliam os ganhos com os aluguéis, contratados via aplicativos, mas com alta rentabilidade e dinheiro vivo. E uma razão alimenta a outra. Se produzem boa rentabilidade com aluguéis, também ganham valor de mercado para a venda.

Esses fatos já são conhecidos e bem estudados por pesquisadores que investigam a financeirização ligada ao setor imobiliário vinculado à moradia. Aluguéis de médio ou curto prazo que garantem grandes volumes de extração de renda e excedentes destas cidades que ficam com muito pouco ou nada dos ganhos deste processo, a não ser as consequências.

Os municípios e as regiões se movimentam, impõem taxas para essas locações de curto prazo, mas são reações que não modificam o quadro geral de uma quase indústria de vampirização de rendas locais que impacta negativamente as economias regionais e seus moradores, porém, seguem trazendo lucros extraordinários àqueles investidores do andar de cima, em especial, após a pandemia.

Os lucros hoje já são superiores aos que se tinha em 2019, antes dos impactos da redução no fluxo de pessoas em todo o mundo. Hoje, as pessoas querem e estão circulando mais do que antes da pandemia.

Os ganhos rentistas desses fundos nesse setor de locação de curto prazo dependem muito desse estímulo ao turismo (programas de TV e cadernos de jornais sobre viagens que parecem neutros), outro setor que se vende como ‘indústria’ e que depende muito da precarização dos serviços e das relações de trabalho.

Diante deste quadro, eu que me utilizei em algumas das cidades que passei destas locações - via aplicativos - e não de hotéis (porque hospedagem para três pessoas com esposa e filha é melhor), e assim foi possível entender um pouco mais do que se está passando.

 

O caso do rentismo imobiliário em Barcelona

Matéria no El País, 18/11/2022.
A percepção geral desse quadro me aguçou o olhar. Vi e  ouvi, pessoas (jovens que atuam nas oficinas) que ajudam os FII a gerirem essa relação de serviços de locação e tive a sorte de ler num café, uma matéria no jornal regional de Barcelona La Vanguardia e depois no El País, seção da Cataluña, em 19 de novembro de 2002, p. 20, sobre o tema cujo título era: “El 36% de los pisos de alquiler son de grandes tenedores” (36% dos apartamentos de aluguel são de grandes proprietários). [1] [2] [3] [4]

A reportagem traz dados da terceira edição (2021) do estudo sobre “Estrutura e concentração da propriedade de moradias em Barcelona” que foi realizado pelo Observatório Metropolitano de la Vivienda de Barcelona.

Os dados chamam a atenção: a) o percentual de moradores que vive de aluguel em Barcelona subiu cerca de 40% desde 2000, quando se situava em torno de 30% e que a maioria das moradias (pisos) alugados (51%) são de proprietários que possuem três ou mais moradias; b) 38,5% das moradias de Barcelona são atualmente de aluguel, que em números absolutos chega a 290 mil moradias do total de 754 mil existentes; c) A maioria (+de ¾) são dos grandes proprietários com dez ou mais moradias está nas mãos de pessoas jurídicas (77,3%), possivelmente, em boa parte, gestora de fundos de investimentos que enxergam no setor imobiliários ótimas possibilidades de boas rentabilidades de dinheiro vivo e a curto prazo.

Os responsáveis pelo estudo quantificaram em 720 mil pessoas vivendo de aluguel em Barcelona, dados que equiparam a região com Berlim e Paris que vivem problemas semelhantes e já implantaram algum tipo de controle para regulação de preços dos aluguéis.

Como se vê, o estudo traz indicadores claros sobre as razões da grande magnitude de moradias em situação de aluguel num momento de crise habitacional local decorrente com altos preços que estariam levando o governo provincial a propor um lei sobre a questão como vem sendo feita em algumas metrópoles do norte da Europa, em especial Belim e Paris.

Na maioria dos países da Europa, o governo não dá a titularidade de habitações públicas para moradores de menor renda, como no Brasil. Elas se mantêm públicas e moradores de menor renda, usufruem o direito de morar. Em Barcelona, as moradias de titularidade pública são apenas 12 mil, 1,7% do total e 4,4% do universo que estão em situações de aluguel e se situam todas em bairros periféricos.

 

Renda imobiliária alimentando os fundos, a lógica de investidores e as desigualdades sociais

Esses dados reforçam essa interpretação da ‘indústria’ dos aluguéis que se reforça com a demanda daquelas demandas por baixa temporada, em especial de turistas, que se dispõem a pagar valores maiores por menor período. As plataformas digitais e empresas-aplicativos de aluguéis e estadia se tornaram instrumentos indispensáveis para o crescimento dessa realidade.

Assim, os investidores ganham duplamente. Primeiro, com a valorização do imóvel e sua área, onde normalmente possuem e investem em outros prédios e apartamentos, mas com a sua alta rentabilidade, isenta da maior parte dos impostos. Perdem, os moradores locais que acabam impactados pelos turismo.

Tem-se aí um conjunto de problemas de ordem social e política. Surgem daí vários estranhamentos e incômodos que ajudam a explicar as reações e o surgimento de movimentos de extrema-direita (fascistas) que se apresentam como antiestablishment.

É um movimento paradoxal e contraditório, até porque os que mais ganham com tudo isso são os que controlam esse setor, os investidores que se situam no andar de cima, exatamente, os que mais faturam com esses processos e estratégias. Porém, esse já é outro assunto, embora, fortemente vinculado.

 

Referências:

[1] Matéria no jornal La Vanguardia, Barcelona, em 18 de novembro de 2022. El 36% de los pisos de alquiler de Barcelona son de grandes propietarios. VIVIENDA: El parque de alquiler representa el 38,5% de los tres cuartos de millón de viviendas de la ciudad. Disponível em: https://www.lavanguardia.com/local/barcelona/20221118/8611837/36-pisos-alquiler-barcelona-son-grandes-propietarios.html

[2] Matéria do El País, Madri, em 19 de novembro de 2022, Seção Cataluña, p. 20. (Edição Online em 18 de novembro 2022). El 365 de los pisos de alquiler son de grandes tenedores. Disponível em: https://elpais.com/espana/catalunya/2022-11-18/el-36-de-los-pisos-de-alquiler-en-barcelona-son-de-grandes-tenedores.html

[3] Prefeitura (Ayuntamento) de Barcelona repercute estudo e matéria dos periódicos. Disponível em: https://ajuntament.barcelona.cat/ciutatvella/es/noticia/los-grandes-tenedores-son-propietarios-del-36-de-los-pisos-de-alquiler-habitual-de-la-ciudad_1229148#:~:text=de%20la%20ciudad-,Los%20grandes%20tenedores%20son%20propietarios%20del%2036%20%25%20de%20los%20pisos,alquiler%20habitual%20de%20la%20ciudad

[4] Link para baixar a síntese da apresentação dos resultados do estudo Estructura i concentració de la propietat d’habitatges a Barcelona. Conjunt del parc i segment de lloguer 2021. Disponível em: https://www.ohb.cat/wp-content/uploads/2022/11/O-HB-Presentacio-Laboratori-Propietat-2022.


PS.: Atualizado às 00:42 de 05/12/2022

Abaixo um link de matéria do Dow Jones, traduzida e republicada pelo Valor (30/11/22) que detalha estratégias da empresa-plataforma AirBnB que articula relação entre fundos e proprietários de imóveis nos EUA, exatamente para expandir o que foi comentado no texto sobre o case de Barcelona. 

Destaco dois trechos da matéria cujo link está referenciado abaixo. Os grifos são meus:

"O Airbnb está apostando que, ao tornar mais rentável financeiramente para os proprietários permitir sublocações, mais pessoas o farão."

"Adicionar à sua plataforma mais apartamentos para alugar abriria um mercado amplamente inexplorado. Cerca de um terço das famílias americanas alugam suas casas, mas os apartamentos em prédios representaram apenas cerca de 14% dos anúncios do Airbnb em outubro, de acordo com a AirDNA, uma empresa de pesquisa de mercado."

Matéria do Valor em 30/11/2022: 
"Airbnb lança serviço de locação de imóveis de incorporadoras e fundos - O site funcionará como uma plataforma de listagem de apartamentos para aluguel, mas incluirá apenas unidades em que sublocações de curto prazo são permitidas". 
Disponível em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/11/30/airbnb-lanca-servico-de-locacao-de-imoveis-de-incorporadoras-e-fundos.ghtml?fbclid=IwAR15WGB5NfnlkrVqBufJrJyjXH-_eEydKS0QCAC-ErXGbE4_SV-NSDT468E