quinta-feira, dezembro 15, 2022

Nº de matrículas entre 2003 e 2020 no ensino superior presencial nos municípios fluminenses: Instituições públicas dobraram matrículas, enquanto IES privadas perderam 10% de alunos. Em 2 anos matrículas em EaD ultrapassarão presencial no ERJ

O número total de matrículas na modalidade presencial nas Instituições de Ensino Superior (IES) no ERJ segue caindo desde o pico em 2018, quando chegaram a 544 mil matrículas. Em 2021 teve uma queda de 6,6% em 2021, e segue à queda de 4,3 em 2020 e de 5% em 2019.

O blog repete o que vem fazendo nos últimos anos ao divulgar os dados dos números de matrículas nos municípios fluminenses, a partir do microdados do Inep-MEC, tabulados pelo professor José Carlos Salomão Ferreira, a quem o blog agradece pelo dedicado trabalho

Em 2021, o Ensino Superior no ERJ, na modalidade presencial, chegou a 462.047 matrículas, ou 32.569 matrículas a menos que em 2020. Porém, a expansão de matrículas na rede pública segue avançando e quase que dobrou de tamanho.

Em 2003 eram 82.057 matrículas nas instituições públicas do ERJ. Já em 2021 foram contabilizadas 158.569, equivalentes a 52,2% do total de 462.047 matrículas, em 40 dos 92 municípios do ERJ. Desde 2003, o número de matrículas nas instituições privadas no ERJ caiu cerca de 10% de 338 mil para 303 mil matrículas.

Desde o golpe político-parlamentar-jurídico de 2016, houve um freio na expansão do número total de universitários, embora o movimento de crescimento no setor público tenha continuado, por conta do impulso dos programas das universidades e institutos federais no Estado do Rio de Janeiro pensado nos governos do PT.

No período de quinze anos, entre 2003 e 2018, houve uma evolução de 36% no nº de matrículas, saindo de 420 mil para 544 mil matrículas no ensino superior presencial. Já no ano de 2021, a partir deste último Censo 2021, o ensino superior presencial esteve presente em 40 (43%) dos 92 municípios fluminenses com 462.047 matrículas.

Tabela Nº matrículas ES presencial municípios fluminenses 2003-2021

[Para ver a tabela abaixo em tamanho maior clique sobre ela]


Um total de 40 dos 92 municípios fluminenses possuem matrículas em cursos presenciais no ensino superior. No ano de 2021, em apenas 10 deles, houve aumento no número de matrículas, enquanto outros 30 municípios perderam alunos.   

O dado mais significativo a ser ressaltado e analisado, enquanto política pública, é que o crescimento das matrículas de 124 mil matrículas entre 2003 e 2018, se inverteu em 2019, 2020 e manteve a queda também em 2022. Porém, vale destacar que a despeito desta redução no total, os resultados das instituições públicas segue positiva em 2021, em relação a 2020. Enquanto o número de matrículas nas instituições privadas caiu 34.954 matrículas, nas instituições públicas houve um crescimento de 1.756 matrículas. 

Tabela evolução matrículas IES Públicas e Privadas nos municípios ERJ

Este esforço é ainda resultado do governo federal no período Lula (1-2) e Dilma (1) que resultou na criação nas universidades públicas de mais 74 mil matrículas nos municípios fluminenses entre 2003 e 2020. Em números absolutos, as instituições públicas aumentaram de 82.057 matrículas em 2003 para 158.569 matrículas em 2021 no ERJ, com um crescimento em números relativos 93%.

É oportuno ainda registrar que essa redução de matrículas nas IES vem ocorrendo de forma seguida na virada de 2017 para 2018. Ou seja, na crise é o Estado que supre a demanda de vagas em todos os níveis de ensino.

Vale registrar que as matrículas no ensino superior nas instituições públicas (universidades e institutos) crescem ou se mantêm a despeito das crises econômicas, enquanto no setor privado o ciclo de recessão se refere imediatamente no número de matrículas, por conta da dificuldade de pagamento dos estudantes.

 Além disso, vale observar que quase que apenas nas instituições públicas há investimentos e articulação (mesmo que em graus variados) às duas outras duas pernas do tripé que dá qualidade ao ensino superior: a pesquisa e a extensão, para além do ensino. No caso das instituições privadas são raros e pontuais os investimentos em projetos e programas de pesquisas e pós-graduação. Isso em todo o país e não apenas no caso do ERJ.

 Outra questão observável na tabela é que no período entre 2003 e 2020 houve uma significativa interiorização da oferta de matrículas no ensino superior, apesar da ainda enorme concentração das vagas na capital fluminense.

Em 2003, 260 mil de 420 mil matrículas estavam na capital, equivalentes a 62%. Em 2021, a capital tinha 52,4% do total de matrículas em todo o ERJ. Um percentual ainda muito alto. Em 2003 eram 31 municípios com cursos superiores e em 2021, um total de 40 dos 92 municípios fluminenses possuíam cursos de graduação presenciais.

O ERJ possui 8 (oito) municípios com mais de 10 mil matrículas na modalidade presencial: 1- Rio de Janeiro 242.055 matrículas;2- Niterói 48.681 matrículas; 3- Nova Iguaçu 23.885 matrículas; 4 - Campos dos Goytacazes 17.452 matrículas; 5 - Duque de Caxias 12.948 matrículas; 6 – Volta Redonda 12.524 matrículas; 7 – São Gonçalo 10.820 matrículas; 8 – Seropédica 10.810 matrículas. Como se vê 6 destes 8 municípios estão na região metropolitana.  Somadas as matrículas presenciais nestes 8 municípios, elas equivalem a 82% do total no ERJ, evidenciando uma concentração, que pode também ser observada como polos regionais.

 

Polos de ensino superior no ERJ

Por fim, vale observar ainda 3 (treze) municípios-polos, com importância crescente no número de matrículas no Ensino Superior no ERJ que podem ser observados em três diferentes regiões: Metropolitana + Serrana; Norte e Noroeste Fluminense + Baixadas Litorâneas; Sul Fluminense.

São municípios de porte médio que podem ser observados como polos regionais do ensino superior no ERJ. Cinco deles reforçam o peso da quantidade vagas na Região Metropolitana do estado, aumentando a centralização já existente com os 52,4% das matrículas do ensino superior na capital.

Vale observar que nos últimos anos há variações nestes números de matrículas por município, devido à presença majoritária de instituições públicas de ensino superior (que se mantém ou crescem), enquanto as instituições privadas perdem matrículas rapidamente com a chegada das crises e com a expansão de EaD, basicamente adotada pelas instituições privadas como poderá ser visto adiante.

Região Metropolitana + Serrana: 2021 (2020)

Niterói: 48.681 matrículas (52.557 matrículas em 2020) = -3.876 matrículas.
Nova Iguaçu: 23.885 matrículas (24.811 matrículas em 2020) = -926 matrículas;

Duque de Caxias: 12.948 matrículas (14.454 matrículas em 2020) = -1.506 matrículas;

São Gonçalo: 10.820 matrículas (11.142 matrículas em 2020) = -322 matrículas;
Seropédica: 10.810 matrículas (11.855 matrículas em 2020) = -1.045 matrículas;
Petrópolis: 9.262 matrículas (9.961 matrículas em 2020) = -699 matrículas;

 

Região Norte e Noroeste Fluminense + Baixadas Litorâneas

Campos dos Goytacazes: 17.452 matrículas (18.050 matrículas em 2020) = -598 matrículas;
Macaé: 9.455 matrículas (9.509 matrículas em 2020) = -54 matrículas;
Itaperuna: 8.003 matrículas (7.717 matrículas em 2020)= +286 matrículas;
Cabo Frio: 6.882 matrículas (7.632 matrículas em 2020) = -750 matrículas;

Região Sul Fluminense

Volta Redonda: 12.524 matrículas (13.485 matrículas em 2020) = -961 matrículas;
Resende: 5.821 matrículas (6.594 matrículas em 2020) = -773 matrículas;
Barra Mansa: 3.932 matrículas (4.738 matrículas em 2020) = -806 matrículas.

Como pode ser visto na evolução de matrículas do ensino superior entre 2020 e 2021 nestes 13 municípios-polo, apenas um teve aumento de matrículas que foi Itaperuna com aumento de 286 matrículas. Todos os outros tiveram redução. Algumas fortes como Niterói (-3.876 matrículas) e Duque de Caxias (-1.506 matrículas).

O total de perda de matrículas entre 2020 e 2021 nesses 12 municípios-polo chegam a 12.316 matriculas. O fato se explica pela crise econômica, mas em especial com o aumento da oferta na modalidade em EaD nas IES privadas com mensalidades bem menores. Esse tipo de modalidade (EaD) também vai se tornando uma alternativa mais forte moradores de municípios de menor porte e densidade populacional.

 

EaD no ERJ

No quadro abaixo é possível ainda observar a evolução das matrículas em Educação à Distância (EaD) no ensino superior no ERJ nos últimos quatro anos (2017-2021). Neste período, as matrículas em EaD aumentaram em 2,5 vezes, saindo de 142.119 matrículas em 2017 para 355.633 matrículas em 2021. Abaixo a tabela com o número de matrículas presenciais e EaD em 88 dos 92 municípios fluminenses.


Tabela Nº matrículas ES em EaD nos municípios fluminenses 2020 e 2021

[Para ver a tabela abaixo em tamanho maior clique sobre ela]


Observa-se apenas entre 2020 e 2021, um aumento de 22,5%. Esse aumento da oferta de EaD no ERJ é bem maior nas IES privadas, superior a 300% e estão quase estabilizadas nas IES públicas. Com esse crescimento não é difícil prever que em 2 anos (2023), o nº de matrículas em EaD vá ultrapassar o número de matrículas presenciais no ensino superior no ERJ.

No ERJ, as matrículas em EaD estão majoritariamente nas IES privadas (90%) e concentradas espacialmente na capital com 40,1% das matrículas, embora a EaD seja mais pensada para atendimento da população mais afastadas dos polos de ensino superior. C 

O aprofundamento da investigação deste conjunto expressivo de dados permite análise em várias outras dimensões para além da evolução do número de matrículas ao longo dos últimos dezessete anos. 

 

Referência:

[1] Postagem do blog em 20 de abril de 2022. Entre 2003 e 2020, IES públicas do ERJ cresceram 91% das matrículas no ensino superior presencial, enquanto IES privadas perderam alunos. Disponível em: https://www.robertomoraes.com.br/2022/04/entre-2003-e-2020-ies-publicas-do-erj.html

segunda-feira, dezembro 12, 2022

Em 2021, nº de matrículas no ensino superior público ultrapassou às de instituições privadas em Campos dos Goytacazes, RJ

Este blog, há duas décadas, publica a evolução das matrículas nas instituições de ensino superior no município de Campos dos Goytacazes, RJ e demais municípios fluminenses.

Os números têm sido tabulados, em trabalho dedicado e pesado, feito exclusivamente para o blog (e pesquisadores que aqui colhem informações), pelo professor José Carlos Salomão Ferreira (IFF), usando a complexa "base de microdados" do Censo do Inep/MEC.

Esses microdados do Censo do Ensino Superior trazem informações sobre os números de matrículas no ensino superior (graduação) presencial nas 12 (doze) instituições que ofertam vagas no município de Campos dos Goytacazes, RJ e muitos outros dados como nº de professores, salário médio, receita por instituição, etc. E, pela segunda vez, também trazem os dados sobre a Educação a Distância (EaD) no Ensino Superior por município e instituições.

Os dados apresentados abaixo foram disponibilizados há cerca de um mês são os últimos divulgados pelo Inep/MEC e se referem ao Censo do Ensino Superior 2021. Primeiro publicaremos os dados do município de Campos dos Goytacazes e depois dos demais municípios fluminenses.

Os números de matrículas presenciais no município, em doze instituições (públicas e privadas) estão praticamente estáveis com redução de apenas 3,3%, saindo de 18.050 universitários em 2020, para 17.452 matrículas no ensino superior em Campos dos Goytacazes em 2022.

Porém, o fato que merece destaque é que é a primeira vez desde 2003, que as matrículas somadas nas quatro instituições públicas (IFF, UFF, UENF e Isepam) ultrapassam o nº de universitários somadas nas sete instituições particulares (Estácio, Isecensa, Universo, Ucam, Uniflu, FMC, Faberj e Redentor) no município de Campos dos Goytacazes, RJ.

Para se ter uma ideia dessa transformação no ensino superior em Campos dos Goytacazes, RJ, é só observar que em 2003 haviam 14.924 matrículas nas instituições privadas e em 2021 esse número é de 8.514 universitários, uma redução de 43%. Ao contrário, nas instituições públicas, as matrículas quase triplicaram, saindo de apenas 3.143 matrículas em 2013 para 8.938 matrículas em 2021. Não há como não atribuir esses resultados a políticas púbicas desencadeadas pelo governos Lula e Dilma, a partir de 2003.

O quadro abaixo elaborado pelo professor Salomão mostra a evolução do quantitativo de matrículas presenciais no município desde 2003 até 2021, a tabulação do quantitativo de matrículas pelas IES públicas e pelas IES privadas, em Campos dos Goytacazes, RJ, o principal polo de ensino superior no interior e para além da região metropolitana do ERJ. [Para ver a imagem do quadro em tamanho maior clique sobre ele].


Pelo quadro/tabela acima é possível identificar e destacar várias outras questões. Faremos outros breves comentários além dos já destacados acima:

1) Como já foi dito acima, a queda de 3,3% em 2021, se segui à queda de 5% nas matriculas em 2020, quadro na ocasião que se relacionou à Pandemia. O pico de nº de matrículas presenciais se deu em 2018 com 19,8 mil universitários. Em 2021, se registrou 17,4 mil matrículas, número que parece se estabilizar, embora pressionado, pela ampliação seguida e constante, das matrículas em Educação a Distância (EaD) que de 2020 para 2021 foi 21,8% e já chegam a 8.940 matrículas no município. Se forem acrescidos aos números da matrículas presenciais de 17.452 em Campos, EJ com as 8.940 matrículas na Educação à Distância (EaD), elas totalizam 26.392 matrículas em 2021, uma diferença à mais de 1.003 matrículas (+4%), sobre os 25.389 graduandos que o município de Campos dos Goytacazes, possuía em 2020.

2) A redução de matrículas em 2021 em relação a 2020, em Campos dos Goytacazes, RJ, ocorreu em oito das instituições do total de doze instituições de Ensino Superior no município. O número caiu mais nas IES privadas (desceram em número absolutos de 9.543 universitários para 8.514 matrículas, menos 1.029 matrículas). Já nas quatro instituições públicas o número somado de matrículas, cresceu em números absolutos 431 matrículas, cerca de 5%. A Uenf ampliou em 393 matrículas, o IFF cresceu 95 matrículas, compensando a leve redução na UFF de 20 matrículas e 37 matrículas no Isepam. Entre todas as IES no município, as que mais perderam matrículas foi a UCam (-460 matrículas e já tinha perdido 468 matrículas em 2020) e Estácio (-371 matrículas).

3) Essa evolução em números absolutos e relativos e em termos percentuais do crescimento das vagas nas instituições públicas de 47% em 2020 para 51% em 2021 ou de 17% em 2003 para os atuais 51% no município de Campos dos Goytacazes, merece maiores registros, até porque tanto na modalidade presencial, quanto em EaD, as matrículas nas instituições privadas são maioria. Em todo o ERJ (66% na presencial) e em do país (64% na presencial). Na modalidade EaD a nível nacional 95% das matrículas das instituições privadas.

4) Além disso, não se pode deixar de considerar o enorme desmonte que vem sendo implementado nas instituições públicas de ensino superior em todo o Brasil, desde o golpe político de 2016, com redução de orçamento para investimentos, custeio e bolsas, fato merece registro e demonstra, não apenas a capacidade de resistência institucional, mas a disposição de atender à sociedade, a despeito do pouco caso dos atuais gestores do Ministério da Educação (MEC) do desgoverno Bolsonaro. Todo esse cenário expõe a resistência e a luta em defesa e expansão do ensino superior público em Campos dos Goytacazes, RJ. Ao contrário do que dizem os liberais, o Estado Social onde está o setor de Educação e seus equipamentos públicos, promovem empregos, desenvolvimento social e faz circular a renda. Por tudo isso, Campos dos Goytacazes, RJ, como polo de ensino superior merece ainda mais destaque com 51% das matrículas nas instituições públicas contra a média nacional de apenas 36% e 34% no ERJ.

5) Voltando à quantidade de matrículas no ensino superior em Campos dos Goytacazes, em 2020, o Instituto Federal Fluminense (IFF) continua sendo a instituição com maior quantidade de matrículas com 3.655 universitários.  Essa liderança foi alcançada no ano de 2017, quando o IFF ultrapassou pela primeira vez, a Estácio de Sá, para se tornar a instituição com o maior número de matrículas na graduação presencial no município de Campos dos Goytacazes, RJ. A segunda instituição com o maior número de universitários em Campos dos Goytacazes, deixou de ser e Estácio (2.405 matrículas) e passou a ser a UFF (2.433 matrículas). Logo em seguida com a quarta maior quantidade de matrículas vem, com valores muito próximos da UENF com 2.304 matrículas na graduação.

6) É oportuno ainda repetir que o total de graduandos no município de Campos dos Goytacazes, RJ. Juntando o número de matrículas de cursos de graduação presencial em Campos (17.452) com o número de matrículas em Educação à Distância no município (8.940) se chega a um total de 26.392 graduandos no município. Vale ainda explicar que o número de matrículas em Campos em EaD não são necessariamente destas 12 IES que atuam fisicamente no município. Apenas 4 delas possuem matrículas em EaD no município: Estácio EaD (3.568 matrículas eram 3.150 em 2020); UCam (759 matrículas eram 399 em 2020); Universo (134 matrículas eram 171 matrículas em 2020) e UENF (47 matrículas eram 25). Além destas 4 ofertantes de EaD no município há 36 outras IES que possuem alunos matriculados em Campos dos Goytacazes. Eram 30 instituições oferecendo EaD em 2020 em Campos. Destaca-se ainda a presença de matrículas em EaD em Campos, RJ, da UNOPAR-Pitágoras-Anhanguera com 1.455 matrículas (em 1.356 matrículas em EaD em 2020) e a UNIASSELVI de Santa Catarina com 1.404 matrículas (eram 711 matrículas em 2020). A UNICSUL (Universidade Cruzeiro do Sul) de SP tinham 468 matriculas, em 2021, na modalidade EaD no município de Campos dos Goytacazes.

7) É possível ainda estimar que juntando aos números de matrículas nas graduações presenciais, mais as matrículas em EaD e ainda as matrículas nos cursos de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado), estimadas em cerca de 4/5 mil, o número total de estudantes universitários no município de Campos dos Goytacazes deve estar se situando na faixa das 30 mil matrículas. [6] [7] [8] [9].

8) É necessário continuar observando os dados do próximo Censo ES (2022) para ver se ainda no prosseguimento dos efeitos da Pandemia de Covid e expansão das matrículas em EaD, que são em maior quantidade nas instituições privadas, os efeitos sobre os totais das matrículas presenciais no município. Os efeitos da expansão da oferta de EaD também podem afetar a redução de graduandos que são moradores de outros municípios e buscam o polo de ensino superior de Campos para sua formação.

9) Por fim, vale comentar que o nº de matrículas no ensino superior nos municípios, não apenas naqueles que são polos regionais, segue sendo um dos importantes potenciais a ser utilizado para pensar o território e a região. E nesse sentido vale ainda observar que além das investigações do nº de matrículas nas graduações em IES, é também importante registrar a atuação das instituições na pesquisa e na Extensão que compõem o tripé de formação acadêmica ou universitária. Características que, basicamente são desenvolvidas nas IES Públicas e, só pontualmente, nas IES privadas. 

10) Adiante, o blog publicará, como faz nos anos anteriores, o quantitativo de matrículas no ensino superior (graduação) presencial em todos os municípios do ERJ. Abaixo nas referências, o blog lista os links das postagens anteriores sobre o quantitativo de matrículas em Campos dos Goytacazes, RJ e comentários.

 

Referências:

[1] Postagem do blog em 18 de abril de 2022. Nº de matrículas no ensino superior presencial cai 5% em 2020, em Campos, RJ. Porém, somado à EaD chegam a 25 mil graduandos. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2022/04/n-de-matriculas-no-ensino-superior.html

[2] Postagem do blog em 1 de novembro de 2020. Nº de matrículas no ensino superior presencial cai 4% em Campos, RJ, mas com ligeiro aumento nas instituições públicas. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2020/11/n-de-matriculas-no-ensino-superior.html

[3] Postagem do blog em 22 de setembro de 2019. Nº de matrículas no ensino superior presencial se estabiliza em Campos nos últimos 4 anos: percentual aumenta nas públicas. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2019/09/n-de-matriculas-no-ensino-superior.html

[4] Postagem do blog em 23 de setembro de 2018. Apesar da crise, as matrículas no ensino superior em Campos se estabilizam em 20 mil graduandos. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2018/09/apesar-da-crise-as-matriculas-no-ensino.html

[5] Postagem do blog em 11 de novembro de 2017. Censo do Ensino Superior 2016: Campos com 19,8 mil universitários. E a qualidade? Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/11/censo-do-ensino-superior-2016-campos.html

[6] Postagem do blog em 8 de dezembro de 2017. Entre 2003 e 2016, as matrículas no ensino superior no ERJ cresceram 36%. Nas instituições públicas cresceram (82%). Mais de três vezes que (25%) o crescimento nas instituições privadas. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/12/entre-2003-e-2016-as-matriculas-no.html

[7] Postagem do blog sobre o Censo no anos anteriores. Em 23 nov. 2016. Campos aumenta nº estudantes no Ensino Superior para 19,3 mil matrículas. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/11/campos-aumenta-n-estudantes-no-ensino.html

[8] Postagem do blog em 1 de mar. 2016. Campos possui 18 mil alunos no Ensino Superior. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/03/campos-possui-18-mil-alunos-no-ensino.html

[9] Postagem do blog em 18 de ago. de 2015. Ensino superior em Campos perde 4 mil matrículas em 5 anos. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2015/08/ensino-superior-em-campos-perde-4-mil.html?m=1

[10] Postagem do blog em 31 jul 2015. Campos tem 17,1 mil alunos matriculados no Ensino Superior. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2015/07/campos-tem-171-mil-alunos-matriculados.html 

domingo, dezembro 04, 2022

A ‘indústria’ rentista de aluguel: caso de Barcelona

Estive em novembro passado quase vinte dias entre Portugal e Espanha. Uma passagem rápida, mais de apoio e passeio do que de observações. Mas, num período como esse, de grandes transformações no mundo, ninguém vai a outros lugares deixando de lado as manias de pesquisador.

Nos meus estudos sobre os fundos financeiros e suas gestoras, eu tento acompanhar sempre e em mais detalhes como os investidores de “capital de risco”, capturam oportunidades de altos rendimentos e de curto prazo com os ativos da economia real que estão transformando a forma de intermediação financeira.

Nesse movimento alguns setores e espaços (territórios) se alternam como atratividade para esses investidores que buscam ganhos e acumulação de capital. As plataformas digitais e empresas-aplicativos são cada vez mais instrumentos que auxiliam e ampliam essa captura.

É no meio desse processo que a renda da terra, desdobrada de forma resumida como “renda-imobiliária” vai se tornando ainda um maior atrativo para captura de excedentes econômicos em diferentes partes e regiões das nações, em especial, as capitais e metrópoles ao seu redor.

É nessa direção que alguns pesquisadores têm falado sobre o rentismo da ‘indústria’ (sim, entre aspas) dos aluguéis. Um atrativo cada vez mais forte, mesmo que segmentado e organizado no interior desse setor, entre os fundos imobiliários (FII), mas também para fundos híbridos, multimercados (hedge) e outros.

No Brasil passa também pelos FIPs (Fundo de Investimento em Participações, uma composição de recursos que se destinam à aplicação em companhias abertas, fechadas ou sociedades limitadas) que também envolve a área de infraestrutura que direta e indiretamente se liga ao setor e ao rentismo-imobiliária, velho conhecido desde o início do capitalismo.

Já vem sendo bastante comentado o aumento do custo de vida para moradores de cidades-metrópoles como Berlim, Paris e mesmo Lisboa e Madri no sul europeu, decorrentes do aumento do valor de moradias (pisos) em áreas mais centrais que empurram os moradores para as periferias cada vez mais distantes dos locais de trabalho e do centro.

Trata-se entre outros de fato ligado à migração de pessoas de maior renda de outras nações, mas também à destinação de moradias para aluguéis de temporada através de aplicativos tipo AirBnB. Isso também já é percebido no brasil, em especial São Paulo e Rio de Janeiro, atraindo, investidores e gestoras de fundos para esses ganhos acima da média.

Investidores estão sempre atrás de alta rentabilidade em curtos prazos. Assim, captam donos de poupança (excedentes) que como investidores se transformam em quotistas de fundos. Estes adquirem prédios mais antigos, reformam prédio e as unidades habitacionais, em especial de um ou dois quartos, que ganham tanto em valor de mercado quanto ampliam os ganhos com os aluguéis, contratados via aplicativos, mas com alta rentabilidade e dinheiro vivo. E uma razão alimenta a outra. Se produzem boa rentabilidade com aluguéis, também ganham valor de mercado para a venda.

Esses fatos já são conhecidos e bem estudados por pesquisadores que investigam a financeirização ligada ao setor imobiliário vinculado à moradia. Aluguéis de médio ou curto prazo que garantem grandes volumes de extração de renda e excedentes destas cidades que ficam com muito pouco ou nada dos ganhos deste processo, a não ser as consequências.

Os municípios e as regiões se movimentam, impõem taxas para essas locações de curto prazo, mas são reações que não modificam o quadro geral de uma quase indústria de vampirização de rendas locais que impacta negativamente as economias regionais e seus moradores, porém, seguem trazendo lucros extraordinários àqueles investidores do andar de cima, em especial, após a pandemia.

Os lucros hoje já são superiores aos que se tinha em 2019, antes dos impactos da redução no fluxo de pessoas em todo o mundo. Hoje, as pessoas querem e estão circulando mais do que antes da pandemia.

Os ganhos rentistas desses fundos nesse setor de locação de curto prazo dependem muito desse estímulo ao turismo (programas de TV e cadernos de jornais sobre viagens que parecem neutros), outro setor que se vende como ‘indústria’ e que depende muito da precarização dos serviços e das relações de trabalho.

Diante deste quadro, eu que me utilizei em algumas das cidades que passei destas locações - via aplicativos - e não de hotéis (porque hospedagem para três pessoas com esposa e filha é melhor), e assim foi possível entender um pouco mais do que se está passando.

 

O caso do rentismo imobiliário em Barcelona

Matéria no El País, 18/11/2022.
A percepção geral desse quadro me aguçou o olhar. Vi e  ouvi, pessoas (jovens que atuam nas oficinas) que ajudam os FII a gerirem essa relação de serviços de locação e tive a sorte de ler num café, uma matéria no jornal regional de Barcelona La Vanguardia e depois no El País, seção da Cataluña, em 19 de novembro de 2002, p. 20, sobre o tema cujo título era: “El 36% de los pisos de alquiler son de grandes tenedores” (36% dos apartamentos de aluguel são de grandes proprietários). [1] [2] [3] [4]

A reportagem traz dados da terceira edição (2021) do estudo sobre “Estrutura e concentração da propriedade de moradias em Barcelona” que foi realizado pelo Observatório Metropolitano de la Vivienda de Barcelona.

Os dados chamam a atenção: a) o percentual de moradores que vive de aluguel em Barcelona subiu cerca de 40% desde 2000, quando se situava em torno de 30% e que a maioria das moradias (pisos) alugados (51%) são de proprietários que possuem três ou mais moradias; b) 38,5% das moradias de Barcelona são atualmente de aluguel, que em números absolutos chega a 290 mil moradias do total de 754 mil existentes; c) A maioria (+de ¾) são dos grandes proprietários com dez ou mais moradias está nas mãos de pessoas jurídicas (77,3%), possivelmente, em boa parte, gestora de fundos de investimentos que enxergam no setor imobiliários ótimas possibilidades de boas rentabilidades de dinheiro vivo e a curto prazo.

Os responsáveis pelo estudo quantificaram em 720 mil pessoas vivendo de aluguel em Barcelona, dados que equiparam a região com Berlim e Paris que vivem problemas semelhantes e já implantaram algum tipo de controle para regulação de preços dos aluguéis.

Como se vê, o estudo traz indicadores claros sobre as razões da grande magnitude de moradias em situação de aluguel num momento de crise habitacional local decorrente com altos preços que estariam levando o governo provincial a propor um lei sobre a questão como vem sendo feita em algumas metrópoles do norte da Europa, em especial Belim e Paris.

Na maioria dos países da Europa, o governo não dá a titularidade de habitações públicas para moradores de menor renda, como no Brasil. Elas se mantêm públicas e moradores de menor renda, usufruem o direito de morar. Em Barcelona, as moradias de titularidade pública são apenas 12 mil, 1,7% do total e 4,4% do universo que estão em situações de aluguel e se situam todas em bairros periféricos.

 

Renda imobiliária alimentando os fundos, a lógica de investidores e as desigualdades sociais

Esses dados reforçam essa interpretação da ‘indústria’ dos aluguéis que se reforça com a demanda daquelas demandas por baixa temporada, em especial de turistas, que se dispõem a pagar valores maiores por menor período. As plataformas digitais e empresas-aplicativos de aluguéis e estadia se tornaram instrumentos indispensáveis para o crescimento dessa realidade.

Assim, os investidores ganham duplamente. Primeiro, com a valorização do imóvel e sua área, onde normalmente possuem e investem em outros prédios e apartamentos, mas com a sua alta rentabilidade, isenta da maior parte dos impostos. Perdem, os moradores locais que acabam impactados pelos turismo.

Tem-se aí um conjunto de problemas de ordem social e política. Surgem daí vários estranhamentos e incômodos que ajudam a explicar as reações e o surgimento de movimentos de extrema-direita (fascistas) que se apresentam como antiestablishment.

É um movimento paradoxal e contraditório, até porque os que mais ganham com tudo isso são os que controlam esse setor, os investidores que se situam no andar de cima, exatamente, os que mais faturam com esses processos e estratégias. Porém, esse já é outro assunto, embora, fortemente vinculado.

 

Referências:

[1] Matéria no jornal La Vanguardia, Barcelona, em 18 de novembro de 2022. El 36% de los pisos de alquiler de Barcelona son de grandes propietarios. VIVIENDA: El parque de alquiler representa el 38,5% de los tres cuartos de millón de viviendas de la ciudad. Disponível em: https://www.lavanguardia.com/local/barcelona/20221118/8611837/36-pisos-alquiler-barcelona-son-grandes-propietarios.html

[2] Matéria do El País, Madri, em 19 de novembro de 2022, Seção Cataluña, p. 20. (Edição Online em 18 de novembro 2022). El 365 de los pisos de alquiler son de grandes tenedores. Disponível em: https://elpais.com/espana/catalunya/2022-11-18/el-36-de-los-pisos-de-alquiler-en-barcelona-son-de-grandes-tenedores.html

[3] Prefeitura (Ayuntamento) de Barcelona repercute estudo e matéria dos periódicos. Disponível em: https://ajuntament.barcelona.cat/ciutatvella/es/noticia/los-grandes-tenedores-son-propietarios-del-36-de-los-pisos-de-alquiler-habitual-de-la-ciudad_1229148#:~:text=de%20la%20ciudad-,Los%20grandes%20tenedores%20son%20propietarios%20del%2036%20%25%20de%20los%20pisos,alquiler%20habitual%20de%20la%20ciudad

[4] Link para baixar a síntese da apresentação dos resultados do estudo Estructura i concentració de la propietat d’habitatges a Barcelona. Conjunt del parc i segment de lloguer 2021. Disponível em: https://www.ohb.cat/wp-content/uploads/2022/11/O-HB-Presentacio-Laboratori-Propietat-2022.


PS.: Atualizado às 00:42 de 05/12/2022

Abaixo um link de matéria do Dow Jones, traduzida e republicada pelo Valor (30/11/22) que detalha estratégias da empresa-plataforma AirBnB que articula relação entre fundos e proprietários de imóveis nos EUA, exatamente para expandir o que foi comentado no texto sobre o case de Barcelona. 

Destaco dois trechos da matéria cujo link está referenciado abaixo. Os grifos são meus:

"O Airbnb está apostando que, ao tornar mais rentável financeiramente para os proprietários permitir sublocações, mais pessoas o farão."

"Adicionar à sua plataforma mais apartamentos para alugar abriria um mercado amplamente inexplorado. Cerca de um terço das famílias americanas alugam suas casas, mas os apartamentos em prédios representaram apenas cerca de 14% dos anúncios do Airbnb em outubro, de acordo com a AirDNA, uma empresa de pesquisa de mercado."

Matéria do Valor em 30/11/2022: 
"Airbnb lança serviço de locação de imóveis de incorporadoras e fundos - O site funcionará como uma plataforma de listagem de apartamentos para aluguel, mas incluirá apenas unidades em que sublocações de curto prazo são permitidas". 
Disponível em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/11/30/airbnb-lanca-servico-de-locacao-de-imoveis-de-incorporadoras-e-fundos.ghtml?fbclid=IwAR15WGB5NfnlkrVqBufJrJyjXH-_eEydKS0QCAC-ErXGbE4_SV-NSDT468E 

quarta-feira, outubro 05, 2022

Contra o arrastão digital eleitoral, vamos à catação do voto nas ruas: Lula é o rosto da esperança, Bolsonaro é a cara do medo!

O melhor e mais potente antídoto contra o “arrastão digital eleitoral” das últimas 24/48hs da extrema-direita de Bolsonaro é rua. Visita em casas, conversas nas praças e supermercados nos bairros, onde a influência bolsonarista, a mentira e o medo conseguiram mais resultados. Há muita gente ainda em dúvida ou sem convicção do seu voto para o 2º turno.

A busca principal não é pela bolha de eleitores já com posição definida, mas pela franja de eleitores ainda em dúvida que oscila entre um lado e outro. Isso não quer dizer que os esforços digitais que expõem as contradições e ações de desgoverno de Bolsonaro e sua turma, sob a forma de vídeo, imagens e “memes” no campo da “memificação da política”, também não devam ser utilizados no esforço diuturno contra a extrema-direita.

Porém, é preciso saber que este artifício digital é - e sempre será - mais eficiente para os conservadores, autoritários e defensores do militarismo e do autoritarismo. A nossa conversa é mais difícil, mas ela precisa ser precedida da auscultação sobre “o que pega” para que aquele eleitor tenda a optar pelo medo e não pela esperança.

Não se trata de voluntarismo. É preciso ter organização e método de abordagem. E não se pode ter diálogo só falando. Repito, é preciso ouvir. Não adianta falar sobre tudo, em especial deve-se dialogar a partir daquilo que "está pegando para o nosso interlocutor", no campo dos valores, religião, economia e mesmo sobre a política, quem deve definir o campo do diálogo é o nosso(a) interlocutor(a). A pessoal com quem estamos conversando.

Eleição é esperança de dias melhores e não essa ideia da maluca de aceitar o que já é muito ruim, para evitar o pior pela ideologia do medo que a candidatura Bolsonaro tenta impor à força e muitas vezes com enorme violência.

Essa “catação” em casas, nos bairros, supermercados e outros espaços das cidades é o que deu mais resultados, nas disputas contra a extrema-direita autoritária. Todos sabemos que é mais fácil falar (aqui nas redes) do que fazer. Mas, é preciso saber o que fazer para ter melhores resultados.

O quadro a favor de Lula é bom e falta pouco, mas é preciso disputar posições na sociedade contra todas as ameaças que estão pairando sobre nossas vidas. Cumprimos bem, dentro do possível, a primeira etapa, agora vamos para a decisiva reta final. Lula é o rosto da esperança. Bolsonaro é a cara do medo.

domingo, setembro 11, 2022

Estadão destaca ganhos milionários dos escritórios de advocacia em ações de distribuição dos royalties

Uma matéria do Estadão desse domingo (no pé da postagem) volta a chamar a atenção para o que já comentamos no blog (aqui em 18 de agosto), sobre o absurdo pagamento que prefeituras estão fazendo para escritórios de advocacia que ficam com parcela dos royalties (renda petroleira), em ações bilionárias que questionam o critério de rateio dos royalties.
 
A Prefeitura de Campos dos Goytacazes é uma dessas que pagam 20% do recebido à mais a esse escritório. Só esse ano, a PMCG já pagou quase R$ 20 milhões ao escritório Falcão Advogados Associados. Veja extrato abaixo.


Esse é mais um exemplo de extração de renda que deveria ir para a população e acaba irrigando o andar superior, onde a financeirização cresce. Se transforma numa renda derivada. 

Essa farra de ações junto à ANP, a meu juízo, tende a auxiliar a decisão de redistribuição dos royalties do petróleo que se encontra no STF, em desfavor do ERJ, SP e ES como "produtores" e em benefício para um rateio geral a todos os municípios. A conferir!

PS.: Para ler a matéria clique sobre a imagem para ver em tamanho maio.






sábado, setembro 10, 2022

18 anos de blog. Obrigado!

O blog está completando sua maioridade. Na verdade, e para ser mais exato, foi há um mês no dia 10 de agosto. Neste longo tempo de vida - não imaginado - ele cumpriu um papel mais para esse autor do que aos seus mais variados e qualificados interlocutores entre os ainda expressivo número de visitantes diários.

Agradeço aos que ainda seguem interagindo aqui e cada vez mais no perfil do mesmo nas outras redes como o FB, Instagram e Twitter.

A maioria das minhas opiniões já são conhecidas, embora elas estejam - como cada um de nós - sempre em movimento. Mas, confesso que ando um pouco cansado com as repetições, sic. Assim, as postagens são cada vez mais esparsas, não apenas porque busco uma maior densidade nas análises, fugindo das questões factuais, mas porque algumas trocas de impressões são muitas vezes feitas diretamente nos perfis de outras redes sociais. 

O blog nasceu numa época em que seus similares eram raros e as redes sociais ainda engatinhavam e se tinha esperanças com a sua chegada. Hoje as redes sociais geram um pouco de medo e confusão. Uma consequência dos robôs e dos algoritmos sustentados pelos donos dos dinheiros que controlam a política e ameaçam cada vez mais a democracia.

Vivemos tempos muito difíceis. Autoritarismo, desumanização, idiotização e riscos acentuados de retorno à barbárie, com opiniões fragmentadas no âmbito nacional e global que nos levam a questionar o cenário futuro.

É certo que o blog hoje já tem muito mais passado que futuro. O seu ciclo e o seu período de existência já é muito maior do que eu poderia imaginar, quando pensei um espaço público (digital) para guardar informações, análises e para trocar algumas leituras sobre vários assuntos, mas em especial política e economia.

Mas é também tempo de esperanças no Brasil. De romper com o fascismo e a ameaça de sua expansão. Isso, por si, justifica a resistência e a manutenção deste espaço, por um pouco mais de tempo. Obrigado a todas e todos e sigamos em frente! 

quinta-feira, setembro 08, 2022

Por que Zé Maria para deputado federal? 13 razões para votar em Zé Maria (Nº 1350)

Zé Maria Rangel é um candidato natural para um mandato necessário para a região Norte Fluminense, o ERJ e todo o Brasil. A candidatura de Zé Maria Rangel a deputado federal é natural por várias razões. Não por acaso, elenquei abaixo treze razões, entre outras:

1 - Pela defesa do setor trabalho e dos trabalhadores na difícil disputa pelos interesses em nossa sociedade. Num momento em que o golpe político retirou estes direitos, é preciso alguém nesta linha com firmeza de posição e com capacidade de diálogo para encontrar formas de mediação que interessem à maioria da população.

2 - Zé Maria deverá ter, sim, uma representação mais classista, mais de defesa da classe do Trabalho, num momento importante para o país, nosso estado RJ e da nossa região. Zé Maria será mais que um deputado local. Zé pode superar essa coisa atual de deputado distribuidor de emendas, como desvirtuamento do papel do parlamentar na reconstrução de um projeto nacional-desenvolvimentista do país.
 
3 - Zé Maria também ganhou credenciais para representar politicamente, vários movimentos sociais: o setor agrário, do pequeno produtor rural, da agricultura familiar e do MST; a Educação Pública, Ciência & Tecnologia, em especial a serviço da inclusão, do emprego e do desenvolvimento socioeconômico inclusivo, a Cultura e muitos outros.

4 - As transformações na estrutura produtiva do país (e global) com a expansão da digitalização e da transformação de tudo em plataforma digital (comércio, serviços, aula, consulta médica, etc.) está modificando a forma como o trabalho é concebido e organizado. Embaralhou o que é produção, circulação e consumo e isso exige um olhar de quem sempre representou a categoria do Trabalho e dos trabalhadores.

5 - Essas transformações estão levando o trabalhador a, paulatinamente, sair das fábricas e dos seus ambientes operários, entrando na área de serviços, no trabalho sob a gestão de aplicativos digitais, ao home-office que mistura tudo e em quase todas as esferas da vida social. A internet móvel interfere nas nossas subjetividades, na nossa forma de pensar, na nossa vida cotidiana de uma forma nunca percebida antes no capitalismo.
 
6- No meio de todo esse processo, muitas vezes nos sentimos meios que tontos, sem saber exatamente onde estamos e para onde vamos. Seguimos para um pós-capitalismo ou para um hipercapitalismo com esgarçamento deste sistema e dessa ordem capitalista que suga e vampiriza tudo? Precisamos construir o futuro que não está dado e nem definido.

7 - Em momentos como estes, a representação classista de Zé Maria e da defesa de classe do trabalhador, precisa e irá muito para além da categoria petroleira, mas também em defesa desta classe e desse setor que, aliás, precisa voltar a servir a todos os brasileiros como uma “Petrobras de todos e para todos”, incluído a questão dos preços dos combustíveis e da Política de Conteúdo Local e da industrialização no Brasil.
 
8 - O conhecimento que Zé Maria tem do setor petróleo faz com que ele amplie a defesa estratégica da Petrobras como uma empresa estatal a serviço do povo brasileiro. Zé Maria sabe e atuará a favor do Fundo Soberano gerado pela riqueza do petróleo; pela suspensão do PPI (Programa de Paridade de Importação) que encareceu o preço dos combustíveis; pela retomada da Política de Conteúdo Local (PCL) para a devolução dos milhões de empregos que ela gerou em todo o país e em especial no estado do RJ; e pela reversão da venda dos campos do pré-sal, de outras subsidiárias da Petrobras, refinarias e BR Distribuidora e outras. A indústria do petróleo necessita, urgentemente, voltar a se inserir e ser um dos centros do projeto nacional-desenvolvimentista do Brasil.

9 – Zé Maria sempre teve uma atuação regional, para além dos municípios do ERJ, compreendendo que os nossos maiores problemas são estruturais e supramunicipais. Como no caso do emprego e do desenvolvimento regional vinculado à cadeia do petróleo (porto-petróleo-indústria de apoio à exploração - naval), da necessidade da diversificação econômica como alternativa à dependência com articulação e adensamento com outras cadeias produtivas no espaço fluminense; vinculados a projetos de inclusão social de cunho regional e de alternativas de transporte que ajudem na integração das pessoas que hoje no interior fluminense, já vivem mais em suas regiões do que isoladamente nos municípios.

10 - Em síntese, Zé Maria nos representa pelo via do Trabalho, daqueles que constroem a riqueza do Brasil. Zé Maria representa a base da pirâmide social onde estão os trabalhadores e representa uma via da redução das desigualdades sociais.
 
11 – Zé Maria representa a via da inclusão social contra o rentismo e o maior enriquecimento dos já muitos ricos do andar de cima, daqueles que ganham sem trabalhar. Ganham com os rendimentos isentos das empresas privatizadas, das corporações controladas pelos fundos financeiros e aquelas do mercado de capitais que querem maiores rendimentos e de curto prazo e por isso querem mudar a previdência e a legislação trabalhista para ampliar suas margens de lucro.

12 – Assim, a candidatura de Zé Maria é natural porque é novamente surgida do seio da luta coletiva, sempre por boas causas. É uma candidatura, além de natural, necessária, para contribuir com a difícil transição que teremos pela frente em Brasília, junto ao governo Lula, para assim, superar os traumas da sociedade derivados deste período de desgoverno, destruidor e genocida, atuando e em defesa da reorganização de um projeto de nação a favor da maioria do povo brasileiro e fluminense.

13 - Por tudo isso, somos Zé Maria Nº 1350, o federal de Lula no Norte Fluminense e no ERJ. Ele tem assim o meu empolgado voto e o meu decidido apoio. Desta forma, solicito também, o seu voto e o seu apoio. Sigamos em frente!
 
Campos dos Goytacazes, 8 de setembro de 2022.
Roberto Moraes Pessanha
Professor do Instituto Federal Fluminense.

quarta-feira, agosto 31, 2022

Bloqueio político-algorítmico nas redes sociais, em especial FB e Instagram. É preciso derrotar esse Golias Digital!

É muito perceptível que os perfis do Facebook/Instagram com tendência de esquerda, centro-esquerda e de apoio a Lula estão sofrendo um fortíssimo bloqueio algorítmico, em especial nos últimos 30 dias.
 
Não estou aqui falando especificamente de meu caso, mas também dele. A percepção é generalizada. As formas e a intensidade do bloqueio são os mais variados. Gente com conta suspensa, outros com audiência limitada.

O caso pode estar também em outras plataformas e redes digitais como Google que hospeda a plataforma de blogs, a Blogger. Tenho, esse blog há 18 anos, e mesmo que ele hoje, seja menos ativo, a redução de visitas nesse último mês é enorme.

São vários os depoimentos. Há muitos pesquisadores e analistas das plataformas, mídias e redes socais, tocando no assunto: Sérgio Amadeu (UFABC), Wilson Ferreira do blog Cinegnose entre outros. Porém, há também quem ainda não consiga perceber ou não se atente para a forma de atuação e de poder dos donos dessas gigantes corporações de tecnologia, as chamadas Big Techs.

É um sentimento estranho e de impotência, porque a sua percepção pode ser considerada apenas uma ideia persecutória ou conspiratória. Não há a quem questionar ou reclamar. Engraçado e contraditório é que se pode até fazer essa crítica no próprio FB, ou neste espaço do Google (Blogger), mas nada muda.

Sabendo que esse controle e desvios podem ser feitos, até com certa facilidade, por programação algorítmica, a partir dos dados sobre seu perfil, fica fácil deduzir que isso pode estar sendo feito por dinheiro. Por monetização.

Claro, se a principal receita dessas empresas-plataformas é com a renda de publicidade, essa pode estar sendo obtida não apenas com anúncios e impulsionamentos, mas com bloqueios de seus concorrentes de mercado ou de opinião e/ou posição política.

Em muitos outros países isso já foi reclamado nos períodos pre-eleitorais e ficou por isso mesmo. Quase sempre os beneficiados com esse tipo de programação algorítmica são de direita e antidemocráticos.

Não por coincidência, aqueles que têm mais dinheiro para pagar por essas monetizações que ultrapassam quaisquer ideias de ética, quando se se sabe da existência de fábrica de likes e de operações desenfreadas como uso de robôs digitais que não são controladas e nem regulados pelos Estados.

É a isso que chamei lá atrás de batalhas de uma guerra cibernética eleitoral de 2022 no Brasil. Essas batalhas estão em curso e tendem a aumentar os ataques a apenas 30 dias do pleito de 1º turno. E todos sabemos que a concorrência eleitoral nas redes sociais é hoje, o maior espaço de disputa pelo poder de representação política desse tipo de "democracia ocidental".

Quem executa essas ações não aparecem, não têm rosto e nem as programações que desenvolvem são avaliadas. As Big Techs se dizem éticas e possuem conselhos (e Cortes supremas) que agem. E ficamos nas autodeclarações de quem tem um poder que se apresenta como incontestável.

O filósofo francês, Pierre Lévy, já dizia em seu livro, Cibercultura (1999) que o acesso à informação é, simultaneamente, remédio e veneno. E hoje podemos afirmar que a enorme atratividade das redes digitais é também repugnante, porque serve, em especial, aos donos dos dinheiros e do poder.

Em síntese, essa desconfiança não tem como ser resolvida, porque você acaba tendo que passar por cima de tudo isso. É preciso construir uma opinião de maioria, mesmo com esses bloqueios algorítmicos em curso.

Enfrentemos, mas é preciso, a despeito a descrença como em 2018, arguir os nossos tribunais. Apesar disso, sigamos em frente. Será preciso derrotar o fascismo com todos os recursos que eles dispõem. A maioria expressiva - e uma vitória ainda no 1º turno -, poderá ser a forma para contornar como muitos Davids, esse Golias digital.

quinta-feira, agosto 18, 2022

Decisão liminar produz mudanças expressivas nas quotas da Participação Especial (royalties) do 3⁰ Trim. 2022

As Participações Especial (royalties) do 3⁰ Trim. 2022 que são pagas trimestralmente, trazem mudanças expressivas por conta de decisão liminar que obrigou a ANP a incluir na condição de municípios produtores, alguns que até aqui estavam fora dessa condição.

Os dados são da ANP tabulados por Wellington Abreu, consultor de petróleo e gás. A surpresa é a decisão judicial que retirou as maiores receitas de Maricá, Niterói e Rio de Janeiro para São Gonçalo que receberá amanhã R$ 219 milhões, Magé com R$ 186 milhões e Guapimirim com R$ 121 milhões, respectivamente. 

Esses três municípios pela 1ª vez recebem essas Participações Especiais. As receitas a menor de Maricá e Niterói em relação ao repasse anterior são de cerca de menos R$ 300 milhões cada um e o Rio de Janeiro de menos R$ 46 milhões. 20% a menos é da queda da receita fruto do preço menor do barril e do câmbio e o restante é da redistribuição de cerca de R$ 500 milhões.



Maricá receberá ainda R$ 263 milhões e Niterói com R$ 152 milhões. Campos receberá R$45 milhões. A capital, o Rio de Janeiro também caiu a PE de R$ 92 milhões para R$ 46 milhões.

As reduções e redistribuição das receitas trimestrais das Participações Especiais (PE) para os "municípios petrorrentistas" que hoje recebem mais royalties foi muito expressiva. As perdas Até seria uma distribuição mais justa, do ponto de vista das demandas dos municípios.

Porém, a questão é um marco jurídico ser revisto por ação impetrada por um escritório de advocacia que lucrará, só com esse repasse da PE, mais de R$ 100 milhões (20% do valor recebido pelos municípios que bancaram a ação). Valor superior a muitos ao repasse que será recebido pela maioria dos municípios.

Na prática, a petrorrenda alimentando escritórios de advocacia com enorme poder junto aos tribunais. Isso no curto prazo. No médio prazo, além da captura da renda petroleira pelos escritórios de advocacia, essas decisões tendem a produzir mudanças nas leis. Inclusive voltando à redistribuição dos royalties por todos os municípios brasileiros, decisão que está ainda suspensa, por outra liminar no STF. São contenciosos sobre outros num imbróglio complexo que produzem vantagens a poucos e prejuízos a muitos. A conferir!

terça-feira, agosto 02, 2022

Taiwan é parte da disputa EUA x China na dimensão da guerra tecnológica-digital

Os EUA parecem caminhar para o que Maquiavel desaconselhava, estabelecer duas frentes de disputa ao mesmo tempo. Pior quando se trata de duas superpotências, o que pode unir ainda mais o que estas grandes potências afirmaram no início deste ano ser “uma relação em todos os níveis”.

No caso da guerra na Ucrânia dos EUA-OTAN x Rússia se trata de uma guerra por procuração contra a Rússia. Essa outra em Taiwan, se apresenta como mais direta com a China, sem procuração.

Uma guerra ou disputa por hegemonia em três dimensões: 1) Tradicional e híbrida; 2) Sanções financeiras e comerciais; 3) Cibernética ou de controle tecnológico-digital e comunicacional.

Esse novo espaço de disputa em Taiwan tem a ver com a disputa tecnológica e cibernética em que Taiwan é base da produção de semicondutores e microprocessadores.

A disputa na dimensão tecnológica-digital entre EUA e China é mais complexa que a ideia de reprodução de uma “nova guerra fria”. Segundo dados empíricos e de análise da pesquisadora Ester Majerowicz (UFRN), num dos capítulos do livro “A China no capitalismo contemporâneo” lançado no mês passado, em que ela é uma das organizadoras.

Na publicação, Majerowicz afirma que “os EUA e a China possuem relações de complementariedade econômica muito forte”, em especial nesse setor de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação). A TIC é hoje globalizada e centralizada no Ocidente nos EUA e no Oriente na Ásia.

Porém, a China tem um gargalo que é a produção de semicondutores/microprocessadores. A China avançou bastante e segue correndo, mas, ainda hoje, só produz 16% dos microprocessadores que usa. E destes, só 6% é de fabricantes chineses. 

Microprocessadores tem a ver com a produção de redes de telecomunicações (5G) mais avançadas, equipamentos digitais mais sofisticados e autônomos, Internet das Coisas (IoT), ou Indústria, 4.0, Inteligência Artificial, celulares ágeis, ou seja, outra etapa do desenvolvimento tecnológico e cibernético digital e mais transformações no Modo de Produção Capitalista na linha do Plataformismo.

Assim, a viagem da Nancy Pelosi, presidente da Câmara de Representante dos EUA a Taiwan é uma ação do Deep State dos EUA. Os EUA pretendem confrontar a China e ver os limites desta tensão. No geral e, na prática, os EUA estão caminhando para frear e adiar a fronteira tecnológica contendo o desenvolvimento na área para limitar a China nessa dimensão que envolve as Big Techs e de certa forma, também os interesses financeiros de Wall Street.

Como as relações econômicas e financeiras entre EUA e China são entrelaçadas em muitos campos, essas ações tendem a produzir muitas transformações. Elas mexem com muitos interesses de frações do capital.

Além disso, devem acelerar processos que tendem a ampliar rompimento de cadeias de valor global (CVG), apesar dos interesses capitalistas cruzados tanto no Ocidente quanto na Ásia.

No meio da hipótese de formação de uma nova ordem global há que se avaliar se isso levaria à desglobalização como muitos afirmam, porque o capitalismo sempre prescindiu de sua expansão. A situação mundial é tensa e os desdobramentos podem não ser racionais. Acompanhemos!

domingo, julho 31, 2022

A ilusão de progresso com a expansão das redes de varejo e franquias nas cidades médias

É interessante e, ao mesmo tempo, lamentável, essa ideia colonizada - e mesmo provinciana - de se comemorar a abertura de lojas de rede ou de franquia em cidades de médio porte, como sinal de prosperidade.

Sim, o fato identifica haver capitais locais e interesse em sua captura. Porém, o que se ganha com isso? O resultado disso, é a vampirização de uma parte da renda do comércio local para outros centros que concentram as sedes destas redes.

Hoje, o comércio local já é minoria expressiva na maioria das cidades médias, mesmo no chamado circuito inferior da economia, onde se situam aqueles de baixa renda. A maior parte já é redes de lojas e/ou franquias. E isso já acontece em diferentes setores do comércio (farmácia, roupas, utensílios, etc.) e até serviços em meio às alternativas das plataformas digitais e aplicativos.

Estas franquias e lojas de redes, mesmo que tenham proprietários locais, dividem a renda do seu comércio com andar de cima. Chama-se isso de renda das marcas que é uma renda derivada, uma renda da chamada "propriedade intelectual" (RPI) sendo cada vez mais expressiva que a renda oriunda da produção.

A RPI é o "cercamento" da produção por complexos arcabouços jurídicos que aprisionam o conhecimento, como propriedade e serve para capturar rendas de vários setores e lugares. O marketing que é outra renda derivada -porque não produz riqueza -, ajuda transferir esse valor da produção para os proprietários dessas marcas.

As elites econômicas locais fazem escaramuças com as mídias corporativas dessas regiões para criar essa falsa noção de prosperidade que não se sustenta para a comunidade na totalidade, onde as desigualdades se ampliam com a precarização do trabalho e a periferização dos excluídos (sobrantes) sendo a população de baixa renda cada vez mais expressiva.

Na essência, se trata de um processo que reproduz local/regionalmente essa lógica e suas desigualdades, não sendo muito diferente do extrativismo de renda que acontece no e-commerce (comércio eletrônico) que, paulatinamente, vem engolindo setores do comércio e serviços nestas cidades de porte médio.

Esse texto visa chamar a atenção para a importância em se identificar esses movimentos que incluem as burguesias locais/regionais que navegam na ideologia da "ficção meritocrática".

Com a redução dos espaços da intermediação antes realizada pelo comércio local, que estão sendo capturados pelas redes e franquias, essa elite em boa parte caminhou para o rentismo imobiliário e financeiro.

A renda da terra das periferias destes municípios se transformaram em negócios de incorporação com valorização e capitalização de condomínios horizontais e verticais. Várias pesquisas indicam que antigos e grandes comerciantes locais destes municípios de médio porte, são hoje proprietários imobiliários e rentistas com aluguéis ou vendas relacionados à renda da terra e valorização imobiliária. Outros se transformaram em investidores de ativos financeiros, inclusive criptomoedas, ou esquemas de especulação rentista-financeira. Não por acaso, alguns caíram em negócios de pirâmide financeira.

O percentual da franquia ou os ganhos da intermediação das lojas das redes de varejo (muitas controladas como ativos por fundos financeiros) são direcionadas para a sede corporação das redes de lojas. A parte da renda que fica no município são dos salários dos empregados na loja local, impostos que em muitos casos são subsidiados com incentivos e redução de alíquotas e a parte do franqueado.

Processos de captura de rendas regionais em que as cidades de porte médio, que como polos, servem de base para essa extração de uma renda do comércio (intermediação) que antes ficava em sua maior parte da região, com a burguesia comerciante local.

Hoje, parte dessa burguesia, se transformou em rentista financeira ou rentista imobiliária e outra em franqueado, condição em que entrega parte da renda obtida com o franqueador, proprietário da marca.

Por tudo isso é possível afirmar que esses movimentos se encaixam na leitura de que eles são partes do tripé do capitalismo contemporâneo cujos três vértices são: reestruturação produtiva-digitalização / financeirização/ neoliberalismo.

A tendência desse sistema é forte, mas vale ir em sua contramão, ao apoiar o comércio e as marcas locais, ou os movimentos de cooperativa de produção serviços (escolas de idiomas, clínicas, etc.), créditos ou plataformas digitais, enquanto elas ainda sobrevivem.

Ações contra-hegemônicas como cooperativas financeiras, de produtos, serviços ou plataformas são desejadas e devem ser incentivadas, mas são processos que ainda demandam aprendizados na linha do "comum".

domingo, julho 17, 2022

“A ficção meritocrática”

O sentimento da meritocracia é inimigo da solidariedade e irmão da soberba e da vaidade. A meritocracia funciona como um “tapa olhos” que inibe que se enxergue o contexto e a sociedade como produtoras coletivas do que poderia haver de melhor em nós humanos. Ao inverso, a meritocracia realça o maniqueísmo entre poucos vencedores e a maioria de perdedores que se sentem sobrantes de uma sociedade globalizada e cada vez mais desigual.

O resultado disso tem sido o ódio, o ressentimento e a apartação violenta produzida pelo aumento das desigualdades e pelo individualismo com abandono da solidariedade como alternativa para as fases de colapso de nossos ciclos de vida individuais que poderiam ser compensados pelas fases de bonança de outros. Fora daí o que resta é o fascismo da superioridade étnica, racial e de títulos, pior que a barbárie, porque os bárbaros nunca foram assim, tão bárbaros.

Essa síntese surge da leitura de “A ficção meritocrática: executivos brasileiros e o novo capitalismo” (2022, 244 p.), livro e pesquisa organizados pelo professor Fabricio Maciel, junto com um ótimo grupo de pesquisadores. Devorei em dois dias a excelente publicação.

O livro oferece elementos empíricos e teóricos interessantes para compreendermos a sociedade produzida pelo capitalismo contemporâneo e seus agentes.

Estudar os executivos e gerentes é jogar luz sobre a origem e o percurso destes agentes, de certa forma escamoteados, que operam na alta e média direção das empresas e corporações que hoje atuam, cada vez mais sob a lógica do "capitalismo da gestão de ativos" e o controle das gestoras dos fundos financeiros. E também, em boa parte, daquilo que tenho chamado de "plataformismo", como etapa contemporânea do Modo de Produção Capitalista. 

A publicação nos ajuda a conhecer e começar a compreender o perfil, origem e "habitus" dos executivos que operam os ativos reais e financeiros do capitalismo contemporâneo. O livro faz uma análise empírica sobre a construção e naturalização do falso e individualista discurso da meritocracia que tenta expor o novo capitalismo flexível (Sennet) é estruturada em três eixos: origem social e familiar (habitus de classe), estilo de vida e o posicionamento político dos brasileiros.

É uma pesquisa e uma análise bastante rica, potente e que fortalece os argumentos teóricos de um conjunto de importantes autores do campo da sociologia como Pierre Boudier, Richard Sennet, Boltanski e Chiapello, Eric Fromm, Jessé de Souza, Wright Mills, Michael Sandel e o próprio Fabrício Maciel da UFF/UENF. 

A coletânea editada e publicada em e-book pela editora da Universidade Estadual do Norte Fluminense (edUENF) tem capítulos do organizador Fabricio Maciel e ainda dos pesquisadores: Carine Passos, Gabriel Duarte, Carolina Zetterman e Kimberly Gutierrez.

Parabéns a todos pesquisadores pela belíssima publicação que nos oferecem e que merece ser lida e aprofundada, bem para além da academia, por tudo que nos oferece para uma compreensão mais ampla da sociedade desigual em que vivemos e sobre o papel, a tirania e o totalitarismo que representa essa “ficção tecnocrática” sobre a maioria da população.

No link abaixo acesse ao PDF na integra do livro (e-book): https://drive.google.com/file/d/13-kJfzGgj3ISiexdkfom6GnZZjvmlvbl/view

terça-feira, julho 12, 2022

Sugestão aos amigos professores

Sei que por esse perfil passam muitos professores. Não quero aumentar as suas já altas cargas de trabalho. Não importa se professor de escola pública ou privada. Penso que a partir da 6ª ou 7ª série (inclusive), já seria uma idade suficiente para a abordagem. De forma especial, a partir do Ensino Médio.

Sem deixar o conteúdo próprio de cada disciplina de lado, a ideia que apresento é o de usar uma aula - ou parte dela -, para uma conversa com os alunos. Sim, diálogo. Bidirecional. Ouvir e falar, ou dialogar. Sugerir e intermediar a discussão.

O tema? É um assunto transversal e, na verdade, cabe em qualquer e em todos os conteúdos disciplinares, porque ele é também meio e método.

Sugiro que nem seja muito planejado e nem algo improvisado, mas que o colega professor se prepare minimamente sobre o tema que é algo do seu cotidiano e também dos alunos, para assim ajudar na mobilização intelectual.

Talvez seja um dos temas mais importantes para os adolescentes, jovens e estudantes maduros na atualidade. O professor não precisa dominar o assunto da tecnologia digital. Aliás, é bom que não queira saber demais sobre o tema. A ideia é que como mediador ele traga ao centro do debate um assunto que ele possa mais ouvir.

Assim, penso que o assunto não será enfadonho. Ao inverso, imagino que vá gerar ânsia para falar e ouvir os colegas. Refiro-me a um debate crítico sobre as mídias digitais e as redes sociais. Plataformas digitais como instrumento de trabalho e de comunicação. As redes sociais se tornaram onipresentes depois que entraram nos celulares (internet móvel). Informação (desinformação ou fake news). Estamos imersos em bolhas ou em guetos de grupos digitais? O que é feito com nossos dados? É legítimo a restrição de idade para uso das redes sociais? Em qual idade? Nossas relações em sociedade estão mudando muito ou sempre foi assim? Porque as tecnologias digitais são tão atrativas e simultaneamente preocupantes?

Não pretendo com esse pequeno detalhamento sugerir subtemas. Também não sugiro que apresente eles para os alunos. Eles até podem surgir, mas listo aqui apenas para ajudar o professor a pensar sobre o que poderá surgir da conversa e, se for o caso, inserir um ou outro ponto, como ponderação e reflexão na discussão, a partir do seu papel de mediador. Aliás, é um bom exercício para aquele professor que ainda vai para as aulas professar o que sabe, quando a escola e nós professores, já devíamos ter saltado para um papel que considero ainda mais importante e desafiador.

A sugestão é que seja uma conversa livre, mesmo que mediada, ou intermediada, para dar voz aos argumentos do maior número de alunos possível. Lembro que essa minha sugestão não é para aula específica de informática. Até penso que lá deveria ter espaço para essa “análise crítica”, mas a ideia é que se vá além da tecnologia como ferramenta, mas pensar como ela já influencia as nossas vidas pessoais e em sociedade num mundo em veloz transformação.

Em escolas púbicas e com alunos de baixa renda, mesmo sabendo que se vive com exclusão digital e dificuldades de acesso à internet, o tema poderá instigar a pensar sobre as desigualdades (sim, no plural) que eles vivem. Avaliações críticas surgirão tanto sobre a disponibilidade e captura de dados pelas empresas de telefonia e tecnologia, quanto a privacidade e o tempo que nos é roubado, assim como a quê e a quem tudo isso tem servido?

A ideia não é dirigir o debate para conclusões que, obviamente, podem ser produzidas por alguns, mas instigar reflexões e questões. Sugerir pesquisas relacionadas à disciplina do professor e, especialmente, estimular para tentarem “ligar as pontas das informações” que já possuem e outras que possam capturar, a partir desse diálogo, para a construção de leituras surgidas dessa mobilização intelectual.

Interessa menos o resultado e mais o processo. Aliás, é assim toda vez que se trata de construção de conhecimento e não da já superada e conhecida transferência de conteúdo.

Esse processo tende a produzir conhecimento potente, transversal e transdisciplinar. Apropriação e construção de saber (há quem prefira chamar de competência). Razão de ser (stricto-sensu) da escola. Ao final, se não for pedir demais, sugiro ainda que contem suas experiências aqui em suas redes (para nós) e para outros professores.

Se julgar a sugestão impertinente, deixe-a de lado. Apenas, guardo uma curiosidade sobre os processos que elas possam suscitar tanto aos estudantes quanto aos professores e também à escola.

sábado, julho 09, 2022

Alzheimer digital: risco a ser evitado!

Alzheimer é uma terrível, dolorosa e conhecida doença que afeta os idosos. Trata-se de uma demência neurodegenerativa desenvolvida no sistema nervoso que decorre, possivelmente, do processamento de certas substâncias.
 
Num paralelo, surgido da mania de “pensar alto”, é possível estimar que essa nossa mania digital de guardar nossas memórias nas “nuvens” e nos socorrer do buscador Google e outros, pode estar nos levando ao risco de um humano contemporâneo, em processo acelerado de desmemorização.

Um sujeito - ainda prematuramente - solto no tempo e no espaço, sem (ou com poucas) memórias, identidades, história e com vínculos mais frágeis com o passado que parecerá sempre ser de outro.

Cada vez mais nos sentimos nessa situação. Faltam palavras para exprimir ideias, para lembrar datas, pessoas, fatos, nomes e conceitos e, dessa forma, recorremos a essa muleta digital. Em troca ela recebe e arquiva nossos dados, realizando assim, uma “guarda” externa de partes importantes de nossa memória.

A memória é algo interessante. Uma capacidade de reter fatos, ideias, sensações, pensamentos. Mais ligada a um passado vivido, mas também pode ser prospectiva e mistura impressões que outros viveram. Podendo ser ainda memórias destas relações comparativas.

A memória é abstrata nas intenções e concreta nos arquivos. Individual e coletiva. Psicológica e importante para reter singularidades que ajudam na sanidade mental, mas também sociológica das lembranças das relações entre pessoas

A sua falta leva à perda do sujeito. Recuperar ou reter a memória é questão humana. Vacinas e remédios também se tornam urgentes contra o “Alzheimer digital”.

Medidas para deter o novo-velho distúrbio cerebral, interrompendo a progressividade ou mesmo buscando sua reversibilidade com retomada da memória e das habilidades de pensamento daí derivadas.

Ao contrário da doença original, esse distúrbio tende a afetar a todos que vivemos imersos no mundo digital que nos invade por longos períodos diários entre computadores, tablets e celulares.

Porém, de forma especial nesse caso, as maiores vítimas, podem ser as gerações mais novas (Z e Y), exatamente, aquelas que ainda possuem pouco passado e memórias, hoje já transmutadas, quase autonomamente e, de forma tenra, para os drives e nuvens das Big Techs: Google, Microsoft e Amazon.

O pensamento crítico que articula as várias pontas desse potente fenômeno é uma forma de cuidar da nossa memória, mas também de articulá-las para interpretações e leituras sobre essas transformações contemporâneas. 

Seria dever do Estado cuidar da saúde coletiva e da sanidade dos sujeitos. Nesse mundo distópico e encantado de forma pueril com a tecnologia observamos que estamos nos distanciando desse dever. Assim, cuidemo-nos, pois!

quinta-feira, junho 30, 2022

Processo e estratégias do Rentismo e do Centrão no cerco ao provável governo Lula

O artigo abaixo é oriundo da apresentação e debate realizado online, atendendo ao convite do Instituto Amsur, na útima 2ª feira, 27 de junho 2022, ao lado de Ladislaw Dowbor com o título: “Eleições: interesses econômicos em conflito” e que está disponível no YouTube no link: https://youtu.be/nJo7qwLfYLs



Processo e estratégias do Rentismo e do Centrão no cerco ao provável governo Lula [1]

 

Roberto Moraes Pessanha [2]

Resumo

A avaliação dos conflitos de interesses em disputa num processo eleitoral pode ser realizado em várias dimensões e enfoques. Os interesses econômicos em conflito no Brasil em 2022, são mais que nunca os que se dão entre o andar de cima da elite financeiro-rentista e a base da pirâmide social. Aí sim, uma polarização, com recortes de classe, num nível e intensidade de desigualdades ainda não vivenciado no país, hoje, tão densamente povoado e complexo. Uma disputa que põe de uma lado a ameaça do avanço do autoritarismo com claros sinais de fascismo e de politização crescente das Forças Armadas, e em lado diametralmente oposto, a maioria da população, empobrecida com dezenas de milhões de brasileiros, vítimas da fome, do desamparo e do desemprego. No plano global assiste-se ao fim de uma era de hegemonia industrial com o avanço da digitalização e a um fluxo desregulado e transfronteiriço do capital, somados a um tenebroso período de Pandemia, guerra e conflitos entre grandes nações, estagnação econômica, inflação, alteração de fluxos comercias e financeiros e disputa por uma nova ordem global. É no interior dessas complexas transformações estruturais e de sistemas a nível global e nacional que a disputa pelo poder político no Brasil acontece. É um contexto de complexa análise, mas que versa sobre a hegemonia rentista-financeira e sobre o tipo de capitalismo que impera no Brasil, onde se vê uma ampliação da ingerência do poder econômico sobre o poder político. Processo que ganhou novos contornos a partir do golpe político-jurídico-parlamentar-midiático de 2016 e teve no documento “Ponte para o futuro”, o passaporte através do qual, a elite-financeira-rentista, constituiu aliança política do período Temer, pressionou pela prisão de Lula, impedimento sua participação no pleito de 2018 e que redundou na eleição de Bolsonaro. Nos três anos e meio de mandato de Bolsonaro vivemos e sofremos a intensificação da crise econômica, a pandemia, o desemprego, o desmonte institucional e das políticas públicas, paradoxalmente acompanhada de altos ganhos rentistas do andar de cima, como reflexo do aumentos das taxas de lucro, índices da Bolsa, mais rendimentos financeiros colossais e isentos de tributação. Neste breve artigo se buscou um método com eixo de análise centrado no processo de crescente financeirização da economia para maior extração de renda da base de nossa pirâmide social, observando os agentes mais simbólicos dessa mudança (em especial o BTG Pactual), seus movimentos e objetivos. O texto é uma contribuição que pontua questões relativas às estratégias mais gerais dessa elite econômico-financeira e busca interpretar como essa fração de classe se posta diante da disputa pelo poder político no Brasil. Identifica-se que os interesses mais específicos desse setor é o de avançar ainda mais nas transferências das estatalidades para o setor privado; e junto a isso, ampliar as garantias através de mais amplo arcabouço legal que mantenham as proporções de ganhos obtidos desde então. Reafirmando a hegemonia do mercado e a lógica financeiro-rentista sob a governança implantada de um capitalismo de gestão de ativos. Com a aliança formada com o Centrão no Congresso Nacional, esse setor financeiro-rentista procura ainda, avançar em novos marcos legais que possa emparedar, cercar e controlar o provável e futuro governo Lula.

 

1.     Introdução

As várias pesquisas de intenção de votos (publicizadas ou não) trazem à tona a possibilidade concreta de eleição em outubro, já no primeiro turno, do ex-presidente Lula. O fato vem detonando um processo de aceleração, por parte da elite financeira-rentista que atua no Brasil, no avanço sobre as estatalidades da União, visando não apenas capturar e vampirizar, mas sobretudo delimitar e controlar um futuro governo do Lula.

A elite econômica de países periféricos são cada vez mais financeiro-rentistas do que produtivas e vinculadas a uma lógica global do capitalismo da gestão de ativos, interligada numa rede global das finanças e muito pouco à economia real e produtivas nacionais.

Para se entender esse processo penso que é necessário ir à estrutura e raiz de pressupostos que explicam esses movimentos. Neste percurso, há que se avaliar o contexto atual, em que as relações Estado-sociedade estão em grande velocidade se alterando com o Estado sendo deslocado e perdendo o protagonismo para o Mercado.

O capitalismo sob a hegemonia financeira avançou na captura do poder político no Brasil de forma similar ao que faz em outras partes do mundo. Esse é contexto de análise que aqui se reflete (pensa alto), sobre como essa “elite financeira-rentista” se articula para garantir seus interesses no processo eleitoral e de disputa do poder no Brasil. [1]

No plano global e do sistema, estamos assistindo a saindo de uma “era de hegemonia industrial” para um capitalismo baseado no tripé da reestruturação produtiva/digitalização – financeirização – neoliberalismo. Nesse tripé se desenvolve um circuito financeiro que convive com a alteração do Modo de Produção Capitalista (MPC).

O antigo circuito financeiro fazia a intermediação entre a produção e o consumo; hoje esse capital circula nas plataformas digitais e os excedentes das famílias e das empresas não ficam apenas nos bancos tradicionais, passaram para um circuito mais amplo do rentismo, dos derivativos, dos fundos e outras inovações financeiras, tudo passando pelo mercado de capitais. 

Hoje, o Brasil hoje e sua elite econômica são muito diferentes daquela de duas décadas atrás em 2002, muito mais rentista e que vai bem para além do tradicional setor bancário da avenida Paulista. A mudança para a Faria Lima talvez tenha trazido junto um simbolismo que mostra alterações que significam também o aumento da complexidade da nossa realidade. O rentismo passou a atravessar, de forma mais expressiva e densa, todos os demais setores da economia e da sociedade. O setor produtivo não reclama mais permanentemente dos juros (como fazia José de Alencar), porque passou a participar desse processo, em que os ganhos da produção estão entremeados aos ganhos financeiro-rentistas na contabilidade geral e final de seus negócios.

 

2.      Linhas de ação da elite financeira-rentista no comando da política e do poder no Brasil

Uma breve avaliação (de médio prazo) do pós-golpe de 2015/2016 no Brasil, permite identificar um conjunto de pelo menos 6 (seis) grandes linhas de ação que explica as direções e a velocidade do processo de ampliação do rentismo no país, que ampliou a hegemonia financeira e reduziu o papel dos ativos produtivos e da economia real no Brasil:

1)   A Ponte para o futuro como marco da entrada (passaporte) reforça a evidência da entrada da elite econômica na disputa do poder e da política em defesa do golpe, logo após a eleição de 2014;

2)   Primeiras medidas implementadas deste documento são a independência do BC, o teto de gastos (EC 95/2016) e a PPI (Programa de Paridade dos Preços) dos combustíveis;

3)   Política de desindustrialização e valorização da exportações de commodities (minerais e agronegócios) comandadas cada vez mais por corporações controladas pelo enlace entre grandes fundos globais e nacionais;

4)   Mercado financeiro recebe incentivos para ampliar sua sofisticado com inovações e maior agilidade a partir do uso intensivo das plataformas digitais, internet banking, APPs das fintechs, etc. E ainda do mercado futuro com derivativos e debêntures, oriundas mais do mercado de capitais do que de bancos públicos e BNDES. A articulação rentista foi passando a ter peso em todos os setores com novas e criativas fórmulas para extrair valor da economia real e do trabalho. Mercado de capitais passou ter papel mais dinâmico na economia brasileira, dentro de uma lógica acionária que se torna responsável por novas formas de governança empresarial, baseada, especialmente na Gestão de Ativos;

5)   Avanço do Mercado na captura das “estatalidades” através do processo de privatizações, encaminhadas de diferentes formas: capitalização, leilão de concessões, venda e transferência de ações do setor público para o privado, etc. feitas por setor (energia, petróleo, gás, eletricidade, pipelines, rodovias, ferrovias, portos, saneamento, etc.) A maioria sendo realizada a partir de fatiamento da holding e vendas das partes ou das subsidiárias.

6)   Marcos legais (como a Ponte do futuro e outros) servem para garantir (ainda mais), o aumento das taxas de lucro dos ativos vinculados à produção material como nos casos da reforma trabalhista, previdenciária, etc. E ainda, a garantia que os rendimentos dos ativos financeiros continuem isentos. Isso ampliou as margens de lucro de todos os setores, independentemente de onde atuam majoritariamente. Todos são atravessados pela renda financeirizada e desregulada com ganhos ampliados com altos lucros e dividendos isentos.

7)   Políticas setoriais foram deixando de fazer parte do planejamento do Estado que foi sendo desmantelado e colocado a serviço do setor financeiro-rentista. Paulatinamente, esses setores da economia passaram a ser objetos do desenvolvimento de ações que visam o interesse direto do mercado em suas várias frações. Assim, foram se desenhando os projetos, apresentados aos gestores governamentais para facilitar licenciamento, obter isenções (argumento da geração de empregos e desenvolvimento regional) para serem colocados em prateleira (projeto-prateleira) para captura de investidores e fundos. Eventuais entraves legais (chamados de burocracia) são resolvidos com os gestores do Estado, tendo os governos estaduais como despachantes desses interesses junto à União e ao Congresso Nacional.

Com essas principais ações, foi se configurando um enorme conjunto de as alterações nas relações Estado-Mercado-Sociedade no Brasil pós-golpe.

 

3.      Aliança entre setor financeiro-rentista e o Centrão operam a captura do Estado no Brasil

A partir do contexto e da estrutura exposta acima é possível avançar na análise sobre as bases em que se desenhou e se desenrola a aliança entre sistema financeiro, militares (generais) e o Centrão, compondo o que chamo de Arenão, que hoje amplia as articulações para delimitar (cerca e tentar controlar), o futuro governo Lula, candidato favorito, segundo todas as grandes pesquisas de opinião.

Nesse contexto é muito possível que boa parte dos interesses dessa elite econômica já estejam precificados (usando o conhecido jargão do mercado), para o caso da vitória do Lula. Assim, usam a mídia corporativa para construir e pressionar para que o PT e seus aliados definam nomes e projetos. O objetivo desse setor é “construir cercas” sobre o que não admitem (alegando rompimento de contratos) e aquilo que podem admitir negociação. Assim, a estratégia hoje em curso é a de “jogar a cerca mais para dentro do campo que consideram adversário”, para buscar adiante, negociações de um meio termo – um recuo da cerca, mas ainda mais próximo do campo e dos interesses do mercado e de suas frações. O caso da imposição do orçamento secreto liderado pelo Centrão a partir de 2023 é apenas um dos muitos exemplos deste objetivo de cercar o provável novo governo Lula-3.

Penso que este setor financeiro-rentista ainda não considera perdida a eleição para Lula. Eles, já desistiram de pensar as chances para uma terceira via e seguem preferindo, em sua maioria, o Bolsonaro. Não morre de amores pelo governo militar, gostam e valorizam o papel que faz o Centrão, encaminhando seus interesses legais, até porque a troca vai com vantagens do Orçamento Secreto e não de suas contas. Usando outro jargão do mercado e que passaram a adotar em profusão, Bolsonaro e Guedes “entregam a maior parte do que o setor econômico-financeiro deseja”: maiores margens de lucro na economia real e produtiva e a não taxação e regulação dos ganhos rentistas-financeiros. Não por acaso Guedes segue indicando o seu time todo oriundo do setor financeiro para direções da Petrobras, CEF, etc.

Esse é o butim, como diz o meu amigo, o professor Eduardo Costa Pinto ao falar dos interesses do “bloco no poder”. Esse é o butim, o saque. Hoje querem ainda um pouco mais, até para poder adiante, se for o caso, abrir mão de alguma parte, mas nunca de tudo que conseguiram no pós-golpe. O “bloco no poder” trabalha para avançar ainda mais nos próximos seis meses, adentrando a cerca sobre o terreno do adversário, objetivando entrar em melhores condições, nas negociações futuras, de um possível “novo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social” do eventual governo Lula-3.

 

4.      BTG é símbolo do rentismo e da mudança da Paulista para a Faria Lima no lugar da FIESP

A avaliação dos conflitos de interesses em disputa num processo eleitoral pode ser realizado em várias dimensões e enfoques. Porém, é interessante que mesmo que em análise breve, se busque algum método. Penso que assim, se pode lançar mão de um método da investigação científica com potencial para aprofundar análises econômico-políticas. Nesse sentido, é importante buscar identificar alguns agentes envolvidos nesse processo, seus objetivos e seus movimentos, para a partir daí interpretar seus interesses e suas estratégias.

Assim, buscando aprofundar um pouco mais a leitura sobre esse setor, considero que no Brasil, o caso do BTG Pactual talvez, seja um dos símbolos dessa mudança para a Faria Lima. Um dos principais agentes do “bloco no poder”, os donos dos dinheiros. Não mais e apenas como financistas-rentistas, mas como donos de investimentos, tanto de ativos da economia real (que passaram a controlar), quanto dos ativos e inovações financeiras.

Assim, observando a leitura e o movimento de alguns de agentes deste setor, avalio que é oportuno resgatar duas exposições do André Esteves, dono (controlador) do BTG Pactual. Falas ou exposições que se revestem de significados e símbolos: a 1ª e mais importante é um áudio de outubro de 2021, quando Esteves falava numa reunião para investidores e trainers de seu negócio financeiro. A 2ª foi na última 6ª feira (24/06), numa pequena entrevista no Valor, sobre a hipótese da total privatização da Petrobras. [2]

O áudio de outubro de 2021 é esclarecedor para o que aqui pretendemos. A “fala solta e à vontade” do Esteves, exposta naquele áudio, permite uma série de leituras em várias dimensões e profundidade. Nele, Esteves emite opiniões dele (e também do que seria a do setor financeiro da Faria Lima) sobre a pauta política no Brasil, sobre as eleições de 2022, sobre os candidatos e suas preferências. E ainda sobre como este setor já intervém sobre o poder político, o poder judiciário, a mídia, etc. no Brasil atual.

O banqueiro André Esteves fala como quem tem autoridade e muito poder e também expõe claramente a autoridade que conquistou junto e sobre o poder político, tanto o Executivo quanto o Legislativo. As pesquisas frequentes (quanti e qualitativas, ex. BTG/FSB, a maior agência de publicidade do país que trabalha basicamente em contas de governo) que o BTG banca – e que custam muito dinheiro – e foi se tornando uma referência sobre como esse setor passou a jogar o “jogo do poder”. Esteves deixa claro que hoje a Faria Lima tem maior interlocução com o Centrão de Arthur Lira, do que antes com os tucanos, que atuavam, basicamente, como os intermediários entre o mundo das finanças da avenida Paulista e o poder político central em Brasília.

 

5.      Esteves, o farialimer do Inside Job Tupiniquim

Em outras passagens, a exposição do dono do BTG, André Esteves deixa evidente o modus operandi do setor financeiro no Brasil atual, ao afirmar que “o Brasil está entrando tardiamente - 20 anos depois – no esquema global da securitização das finanças”. Assim, ele deixa mais claro que com a máquina das dívidas, seu setor financeiro-rentista ganharia mais no volume de endividamentos e não mais e apenas nos juros que já foram mais altos. [2]

Esteves aprofundou ainda que o Brasil financeiro se insere tardiamente no que ele chama de movimento global “Financial Deep, ou aprofundamento da financeirização. Ou seja, Esteves detalha como está sendo implantado no Brasil, o conjunto de inovações financeiras através de múltiplos tipos de derivativos, de forma semelhante ao que foi executado, no entorno da virada de século, nos EUA e no centro do capitalismo. Um processo que cresce a partir de 2001 e de uma forma completamente desregulada. O dono do Pactual deixa claro que é nessa linha que estão sendo implementadas mudanças na intermediação financeira (“tardia”) no Brasil.

O mais interessante deste processo é que Esteves deixa ainda muito ás claras quem são os agentes e que mudanças são essas nos processos de intermediação financeira em curso no país, com implantação de mais inovações, mais papeis, meios digitais, etc. no mercado. Entre outras coisas, estes agentes buscam ampliar a integração do mercado de ações e fundos financeiros (Anbima), Bolsa e bancos tradicionais, etc. para que estas inovações garantam maiores lucros e acumulação em favor do já muito favorecido setor financeiro brasileiro.

A exposição do Esteves, como um “farialimer”, é na prática uma miniaula (empírica) sobre o mundo real e sobre os interesses do setor financeiro. Seu depoimento expõe uma autossuficiência que só aparece nas falas daqueles que avaliam o poder que realmente têm na direção de também ser parte importante do poder político com hegemonia também sobre a sociedade no país.

Na maior parte das respostas, o dono do BTG não fala de projetos, mas de transformações em curso. Esteves descreve a integração de uma “cadeia” que é muito semelhante àquela que é descrita no documentário Inside Job (2010), que descortinou as estratégias e ações sobre como o setor financeiro americano (integrado a outros mercados) produziu a crise do subprime em 2008 em todo o mundo, a partir dos EUA e de uma completa desregulação, ou mesmo uma farra com as inovações financeiras através de papeis e derivativos de diversos tipos. O impactante filme “Inside Job” mostrou os mecanismos de aprofundamento do lançamento de “inovações financeiras”, controle do poder político (Deep State) e controle de instituições e poder judiciário que permitisse essa “autorregulação” do setor financeiro. Exatamente, o que a Anbima tem defendido abertamente no Brasil. [3]

De certa forma, André Esteves apresenta como pensa a “cadeia alimentar da securitização” no Brasil, de forma similar à “Securitization Food Chain” implantada nos EUA. É neste espaço que Esteves localiza o seu banco, o BTG Pactual com o projeto de assumir o papel de “um novo BNDES”, só que privado como são os bancos de investimentos americanos (Goldman Sachs, Morgan Stanley, Lehman Brothers, Meril Lynch). Todos esses grandes bancos (+ Bank of America, Citigroup, etc.) atuam em consórcio com seus agentes no Brasil. Assim, não é difícil imaginar como hoje, Esteves desenha institucionalmente esta cadeia de securitização no Brasil, da mesma forma que vê a relação do seu BTG, dos demais bancos e fundos de investimentos privados nacionais com os bancos tradicionais. Um forma similar à articulação dos bancos de investimentos com os conglomerados financeiros americanos: CitiGroup e JP Morgan entre outros, assim como a relação entre as seguradoras e as agências de rating que atuam no Brasil com o objetivo de controlar e monitorar a cadeia de securitização brasileira na direção do andar de cima.

Esteves diz abertamente que o Brasil já tem “um dos mercado de capitais mais vibrantes do mundo”. Nisso, ele está certo. O Brasil hoje tem 13 milhões de CPFs operando na Bolsa de valores em renda fica e variáveis, boa parte dela de assalariados atraídos para uso da sua parte do FGTS. Em abril de 2019, esse número era de pouco mais de 1 milhão. O Brasil é o 3º maior mercado de derivativos, 10º maior ´indústria´ de fundos financeiros e o 12º maior mercado de capitais do mundo. Tudo isso se ampliando, rapidamente, após a captura do Estado com o golpe de 2016.

Esteves, não diz, mas se sabe, que os donos dos dinheiros, se orgulham de atuarem de forma autorregulada, sem poder de fato da CVM e nem do Banco Central, cujo presidente, Campos Neto - e Esteves confessa no mesmo áudio -, que lhe pede opiniões e sugestões com frequência. Na prática, uma articulação no estilo tipo “Inside Job Tupiniquim”, que para ele é parte da implantação do que chama de “modernização e aprofundamento das inovações financeiras” no Brasil, na direção do “Financial Deep global”.

Nessa linha, vale recordar que há pouco tempo, o BTG Pactual esteve por trás de todo o esquema e processo de privatização e entrega da Eletrobrás. Esteves sabe que os ganhos com a eletrificação tende a aumentar no mundo como forma de energia renovável e o uso mais amplo da eletricidade nos transportes. Assim, o setor privado ganhou uma infraestrutura (IE) toda pronta e feita durante décadas com recurso da União (população). Desta forma, a fala recente de Esteves de que a privatização completa da Petrobras deve não vai sair agora, mas aos poucos, mostra que para esse setor, pode ser mais interessante por ora, ficar com partes da estatal, talvez, deixando de lado os riscos da exploração e do que chamo de “ciclo petro-econômico” entre fases de booms e colapso deste setor. A Eletrobrás pode ser mais estratégica e menos dispendiosa, considerando a reeletrificação, uma energia que atende tanto à indústria, consumo doméstico, quanto os transportes para carros. Parece estratégia, deixar o tronco da Petrobras para nova investida à frente, quando investidores já terão captado ganhos e caixa com o controle da Eletrobrás/Furnas. E ainda podem avaliar os desdobramentos da conjuntura econômica e política no Brasil, sem arriscar e provocar, a parcela da população que resiste à privatização. Mas, convém, não descuidar. O mercado tem faro para antecipar posições de seus interesses.

Assim, o BTG é hoje, um espaço simbólico do interesse de importantes “donos dos dinheiros”, da elite econômica nacional e a conversa com seu dono se tornou mais importante do que o diálogo institucional com o setor produtivo com a Fiesp, Firjan, Fiemg e mesmo a CNI. O BTG é um dos principais agentes deste setor financeiro-rentista que faz a ponte entre a colônia e o centro do capital global. É com essa perspectiva que essa turma atua no Brasil, exatamente, nessa linha descrita no áudio do Esteves. Como disse antes, essa avaliação só é possível com método que identifica agentes e processos para interpretar seus interesses e suas estratégias.

 

6.      Enlace entre rentismo nacional e global: colonização e neoextrativismo

Há uma rede rentista-financeira global dirigida e concentrada no norte global, mas ramificada e com enorme capilaridade para vampirizar as rendas e os excedentes das nações do sul global. Aqui operam esses agentes como o BTG que lubrifica esse fluxo rentista-extrativista do sul em direção aos donos do capital global retendo seus quinhões. Na articulação entre a elite financeira e colonizada e o centro do capitalismo global é possível perceber que, hoje, os interesses dos investidores internacionais sobre o Brasil, se baseiam na lógica contemporânea do capitalismo da gestão de ativos. Assim, talvez, seja possível classifica-las hoje com duas grandes direções:

1)   Maior interesse na parcela da economia real ligada às commodities para ganhos na valorização, circuito do valor e também na capitalização (ativos financeiros) ligados ao controle das corporações que atuam nesse setor. Observar Black Rock, J.P. Morgan Asset M., Pimco, Capital Group, fundos soberanos (SPU da Noruega, ADIA dos EAU, Abu Dhabi) e fundos private equity. Em 2º lugar, conforme a conjuntura política e econômica (global) também na valorização de longo prazo (private equity) investimentos em IE ou controle de concessões articulados aos seus fluxos.

2)   Enlace nos instrumentos de financeirização e capitalização investidores nacionais via o mercado de capitais, através do mercado de ações, grandes fundos de pensão das (ex)estatais e big Family office interessados em investimentos cruzados no exterior. 

É um neoextrativismo de controle de ativos que pode se dar tanto sobre a economia real, como nos casos da produção do agronegócio, minérios e energia de fontes nacionais, quanto na gestão de inovações e papeis financeiros de títulos, debêntures, fundos, etc. com altos rendimentos e visão, em geral, de curto prazo.

Os fundos financeiros se tornaram de forma especial um instrumento que lubrifica a hegemonia financeira no capitalismo contemporâneo. Uma ferramenta com grande capacidade de atuação que confere mobilidade intersetorial e espacial (infra e supranacionais) para o fluxo de capitais entre os ativos da economia real e financeiros entre os diversos setores da economia. Uma atuação na economia real (circuito do valor) e também nas inovações financeiras em processos simultâneos de valorização e capitalização que atendem aos interesses dos donos dos dinheiros. O resultado disse é que hoje, boa parte dos ativos da economia real é controlada pelos investidores e não por capitalistas donos de multinacionais e grandes corporações, na lógica do capitalismo da gestão de ativos. [4]

 

7.    A enorme e crescente distância entre o andar de cima e a base da pirâmide social no Brasil

Esses movimentos do andar de cima (como dizia Arrighi) explicam nossa realidade. Praticamente, não temos mais elite produtiva nacional a não ser nas pequenas e médias empresas regionais. Hoje, com poucas exceções, só restou as médias e pequenas empresas, mas aí não se pode falar de elite econômica que é financeiro-rentista, articulada na escala global e com controle concentrado no norte global. Elite simbolicamente visível no BTG da Faria Lima.

Mas, não apenas o Esteves do BTG. Há poucos dias, o CEO do Bradesco fez questão de dar seu recado alinhado à politização do Exército. O diálogo na CNN entre os rentistas Abílio Diniz e Jorge Paulo Lemann também expôs como os rentistas olham a população, pensando em migalhas e não em direitos. Uma “elite econômica-financeiro-rentista-globalista” que aceita com empolgação a condição e a localização submissa na ponta dessa rede global financeira, desde que tenham garantias sobre percentuais dos ganhos obtidos sobre a maioria da população.

Não pretendo aqui reforçar uma leitura dual ou maniqueísta, mas não há como não contrapor essa realidade. Essa sim, uma real e triste polarização. Seria legítimo, nesse estilo de democracia liberal ocidental em que vivemos, que as frações lutassem pelos seus interesses. O que não é normal e nem aceitável é a assimetria em que essa disputa se dá, tanto no campo econômico, quanto político e geopolítico.

Assim, observamos que no lado contrário do setor financeiro-rentista está a imensa maioria da população brasileira. De um lado, 13 milhões de CPFs operando na Bolsa entre títulos, derivativos e quotas de fundos e ações de ativos reais e financeiros, enquanto 33 milhões de brasileiros passam fome e mais de 100 milhões podem ser considerados subalimentados e sobreviventes. Essa realidade talvez, esteja exposta nos números das principais pesquisas eleitorais no Brasil.

A última pesquisa do Datafolha, expôs esse claro recorte de classes entre o andar de cima e a última linha da base de nossa pirâmide social no Brasil. Por exemplo: apoio Bolsonaro com renda mais de 10 SM: 47% x 35% Lula. Entre 5 e 10 SM: 44% x 29% Lula; Apoio a Lula até 2 SM: 56%x 22% Bolsonaro. Maior rejeição a Lula: 61% empresários; 57% entre os mais ricos e 41% entre os homens. Maior apoio a Lula: 56% x 20% Bolsonaro entre os de renda até 2 SM. Maior rejeição Bolsonaro (ou maior apoio Lula): 66% entre os desempregados; 63% pretos; 62% nordestinos; 62% estudantes; 61% mulheres; 60% jovens e 60% mais pobres. Ou seja, um recorte de classe mais claro desde o reinício das eleições diretas no Brasil e que percorre as opções eleitorais por segmento de renda; gênero e região. É o receio dessa realidade que o Arenão pretende cercar e controlar o possível novo governo Lula.

 

8.      Considerações finais

A elite financeiro-rentista atravessa todos os outros setores da economia e da sociedade. Avalio que ao olhar essa realidade de desigualdades sociais e de crescente tensionamento, já leve em conta os ciclos da economia e do capitalismo em diferentes partes do mundo. Assim, é possível avaliar que essa elite rentista e parasitária pondera e pensa que possa alternar períodos de ganhos ampliados (tanto em ativos produtivos quanto financeiros), com outra fase de ganhos reduzidos em um outro tipo de ativo.

Uma parte dessa elite, mais conectada à rede financista global já trabalha com a lógica de saltar o espaço entre nações, em busca da maior rentabilidade e em menor prazo, até aguardar nova fase de maior acumulação no espaço do Brasil. É nessa linha que enxergam as eleições. Períodos de ganhos ou perdas nas nações. Por isso, são globalistas, saltam as escalas e as fronteiras, quando necessário. Assim, ameaçam e fogem dos governos das nações que lutam e conseguem governos que defendem a soberania e a maioria da população. Outra parte desta elite se manterá no plano nacional e poderá se articular com redes de pequenas e médias empresas, mais ligadas à produção material do que aos ativos financeiros, aos papeis de derivativo, criptomoedas e outros. 

Como vimos, nesse contexto não é difícil perceber os movimentos em curso no Brasil, a apenas 100 dias do pleito eleitoral. O Arenão (Centrão, militares e rentistas) já controla, quase totalmente, boa parte das ações do governo via Paulo Guedes e cia. e tem no Congresso, em especial a Câmara do presidente Artur Lira, as pontas de lança destes seus interesses. Uma articulação entre setor financeiro (fundos) com o Arenão, seu braço político, dividindo o butim (saque), com cada um levando a sua parte.

Nos seis meses que faltam para o fim do governo Bolsonaro, tentarão avançar ainda mais com a privatização das estatais e com os tais marcos legais para dar garantias contratuais e também tornar impositiva as emendas de dezenas de bilhões do orçamento secreto. Assim, juntos, o sistema financeiro-rentista nacional e o Centrão, planejam com a manutenção da aliança, garantir a manutenção deste “paraíso neoliberal”, sobre um novo governo Lula, após esse desgoverno dos militares e do Arenão. Quanto mais clara fica a hipótese da vitória de Lula, mais serão as medidas que tentarão delimitar, cercar e tentar controlar o futuro governo Lula.

Penso que o Arenão além de tentar salvar eleitoralmente Bolsonaro, buscará acelerar ainda mais o avanço sobre o que resta das estatalidades da União, não apenas com o interesse da vampirização e captura do controle destes ativos, mas sobretudo com o objetivo delimitar e controlar um futuro governo do Lula com dois objetivos claros:

1) acelerar os tais desinvestimentos e privatizações de ativos estatais em direção ao setor privado, quase todos entregues a grupos de investidores reunidos em fundos financeiros (nacionais e estrangeiros);

2) ampliar garantias e marcos legais que impeçam que o futuro governo possa desatar os nós dos marcos legais do teto de gastos, independência do BC, com debulho dos direitos trabalhistas e previdenciários que, hoje, já garantem a enorme taxa de lucros dos investimentos em ativos reais, etc.  

É exatamente nesse contexto que o setor financeiro se tornou hegemônico no capitalismo contemporâneo e nessa condição a elite que controla esse setor, aumentou sua capacidade de interferir e tentar definir a disputa do controle político e a gestão do Estado.

Por tudo isso, não há como considerar simples a luta que o campo progressista nacional tem pela frente. É um baita desafio, empreender uma luta contra o fascismo, o autoritarismo, a gestão político-militar e também, o enfrentamento contra o extrativismo rentista da elite financeira nacional articulada globalmente. Avalio que necessariamente, essa luta terá que ser, simultaneamente, para dentro e para fora. Ela deverá ser ao mesmo tempo nacional e supranacional ou regional. Não haverá saída fora daí, exatamente onde entra a discussão e a dimensão da luta em favor da soberania do Brasil e de um Estado-nacional autônomo.

E nesse sentido, o momento atual de crise na globalização e de redesenho da ordem global, pode ser uma possibilidade a mais, em termos de maior reintegração e adensamento da América Latina, com a participação do Brasil, em cadeias produtivas menos globais e mais regionalizadas. Isso poderá ser uma entre outras tantas hipóteses na direção de voltar a valorizar e retomar a economia produtiva real e a materialidade que ela sugere, em termos de infraestruturas, reindustrialização de várias cadeia produtivas que foram detonadas, com inovação e, acima de tudo, com geração de empregos e renda realizando inclusão social e ampliando as ofertas de serviços públicos de educação e saúde.

Para ultrapassar e superar esses desafios é preciso ampliar ainda mais e consolidar o apoio da base política que a frente em prol da candidatura Lula está formando. Essa superação dependerá destes dois movimentos: para dentro, de reconstrução do projeto de Nação, com forte base de apoio político e popular interno, para afastar os riscos autoritários, antidemocráticos e fascistas, superando as desigualdades em suas várias dimensões; e para fora, através de uma forte, densa e competente articulação internacional que terá na liderança global reconhecida de Lula, um expoente que pode rearticular o Mercosul (e Unasul), aumentar nosso poder no Brics+ e avançar para outras relações bilaterais em vários continentes. Um movimento em que a geoeconomia puxa a geopolítica em favor da maioria de nossa população no projeto de reconstrução na Nação brasileira. Oxalá!

 

9. Referências:

[1] PESSANHA, Roberto Moraes. Capitalismo sob a hegemonia financeira e o poder no Brasil. Revista Espaço e Economia, nº 21, 2012. Disponível em: https://journals.openedition.org/espacoeconomia/19705

*O artigo derivado do debate ao lado de Ladislaw Dowbor promovido pelo Instituto Amsur e intitulado Capital financeiro: hegemonia e poder no Brasil em 4 de julho de 2021. Disponível em: https://youtu.be/TC5ghTh1VC8

[2] PESSANHA, Roberto Moraes. André Esteves (BTG Pactual) descreve em áudio como monta o “Inside Job” no Brasil. Portal 247, em 25 de outubro de 2021. Disponível em https://www.brasil247.com/blog/andre-esteves-btg-pactual-descreve-em-audio-como-monta-o-inside-job-no-brasil

[3] Artigo no Valor, em 18 de dezembro de 2018, do superintendente geral da Anbima, José Carlos Doherty. Autorregulação tem desafio de ultrapassar novas fronteiras. Disponível em: https://valor.globo.com/financas/coluna/autorregulacao-tem-desafio-de-ultrapassar-novas-fronteiras.ghtml

*Neste artigo no Valor, superintendente geral da Anbima, José Carlos Doherty, se vangloria que a instituição regula o mercado de capitais e o funcionamento dos fundos financeiros no Brasil, dizendo ainda que “a autorregulação da Anbima, é um dos principais motivos para a atração de investimentos nos fundos financeiros no Brasil. Se trata de um modelo privado criado de forma voluntária e 
independente.

[4] PESSANHA, R. M. A ‘indústria’ dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Consequência, 2019.



[1] Texto oriundo da apresentação e debate ao lado de Ladislaw Dowbor, promovido pelo Instituto Amsur com o título: “Eleições: interesses econômicos em conflito”, em 27 de junho 2022. Disponível em: https://youtu.be/nJo7qwLfYLs

[2] Professor titular do Instituto Federal Fluminense (IFF). Doutor pelo PPFH-UERJ. Autor do livro “A ´indústria´ dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo”. Consequência. Rio de janeiro. 2019. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Autor do blog do Roberto Moraes, criado em 10 agosto de 2004. Disponível em: http://robertomoraes.com.br.