Atualmente, passou-se também a considerar e chamar esse processo como Cadeia de Valor dos Dados (CVD ou DVC, em inglês). A CVD se inicia na criação e coleta de dados, passa pelo armazenamento, depois processamento (mineração, fusão), a seguir “uso ou consumo” (visualização e compartilhamento, direção, algoritmização, IA) e monetização (business plan). [1] Nem sempre a sequência desse processo se dá nessa ordem, mas quase sempre segue todas essas etapas, com algumas se repetindo, alternadamente, a outras.
É nesse sentido que se deve compreender, também, o papel altamente estratégico dos cabos de rede óptica (terrestres e submarinos), as torres das operadoras de telefonia e os datacenters (Big datas), também chamados de nuvens. [2]
São gigantes investimentos em infraestruturas físicas com milhares de equipamentos digitais e enormes capacidades de memória com colossal consumo de energia elétrica que produz extraordinários e preocupantes impactos socioambientais. [3]
O esquema gráfico abaixo mostra as articulações entre equipamentos e redes técnico-digitais e tentou resumir e expor essa enorme e potente teia desde a produção e captura dos dados, circulação, armazenamento, processamento, distribuição, uso, consumo, monetização, reprogramação, algoritmização, etc.
Essa colossal teia realça a importância das infraestruturas no sistema digital integrado, interligado dentro dos países e articulado em redes intercontinentais e globais que para muitos passam como se fossem abstratas ou simplesmente virtuais. Não. Elas são digitais, mas reais e estão implantadas como capital fixo no território e são bancadas geralmente por investidores ligados a fundos financeiros e oligopólios.
Cada email lido, acesso e👍🏼 em qualquer rede social, interliga seu celular (tablet ou computador) ao datacenter (nuvem), através do uso de torres e cabos. Tudo em milissegundos. O uso da internet móvel e o barateamento dos smartphones tornou a produção de dados e acessos num regime 24x7, durante todos os sete dias da semana, na residência, no trajeto, trabalho, casa, lazer, etc.
Esses dados de todos nós, armazenados aos zetabytes nestes datacenters, são o insumo básico para o aprendizado de máquinas que permite à IA se manifestar próximo ao desejo humano. O volume de dados produzidos no mundo deve passar dos 33 zetabytes que estava em 2018, para 175 zetabytes em 2025. [Um zettabyte é uma unidade de medida de dado digital. Um zettabyte é igual a um sextilhão de bytes ou 1021 (1.000.000.000.000.000.000.000) bytes, ou, um zettabyte é igual a um trilhão de gigabytes]. [4]
Apenas, nos últimos seis meses, foram vários anúncios, todos na casa das dezenas de US$ bi em investimentos das Big Techs e de grandes corporações de infraestruturas digitais, controladas por gestoras de fundos financeiros ou bancos de investimentos. [5] [6] [7] [8]
A interligação entre os datacenters e os usuários da internet (cada vez mais móvel e via celulares) se dá hoje em boa parte via cabos submarinos (95%). Apenas 5% ficam com os satélites. Em 1995 a transmissão de dados era de 50% por cabos e 50% por satélites.
A interligação entre os datacenters e os usuários da internet (cada vez mais móvel e via celulares) se dá hoje em boa parte via cabos submarinos (95%). Apenas 5% ficam com os satélites. Em 1995 a transmissão de dados era de 50% por cabos e 50% por satélites.
Na 2ª década deste século, os cabos representam 95% e os satélites têm apenas 5% na transmissão de dados. Os satélites continuam como boa alternativa para conectar comunidades mais isoladas, ou onde os cabos de financiamento óptica não chegam, ou para distribuição de conteúdos de um para vários pontos.
Os cabos são capazes de transmitir mais dados a um custo menor. Por isso, a utilização dos cabos ópticos em terra ou submarino entre os continentes ganharam a dimensão e proporção que chegaram atualmente. É nesse contexto de aumento de demanda de datacenters para a infraestrutura digital e para a ampliação do uso em IA que se deve observar a expansão desses também Brasil.
Além do forte movimento das Big Techs (Amazon, Microsoft, Google, OpenAI, etc.) na construção e/ou aquisição de datacenters em todo o mundo, com investimentos totais que superam a centena de bilhões de dólares, bancados em boa parte por fundos financeiros e capital de risco que eles estão chegando ao Brasil. Repito, essa demanda de mais e potentes Big Datas, tem a ver com o avanço da captura e armazenamento de dados para uso intenso em IA Generativa.
Além do forte movimento das Big Techs (Amazon, Microsoft, Google, OpenAI, etc.) na construção e/ou aquisição de datacenters em todo o mundo, com investimentos totais que superam a centena de bilhões de dólares, bancados em boa parte por fundos financeiros e capital de risco que eles estão chegando ao Brasil. Repito, essa demanda de mais e potentes Big Datas, tem a ver com o avanço da captura e armazenamento de dados para uso intenso em IA Generativa.
A informação do dia é sobre a da compra do controle de datacenters que já opera no Brasil. A americana Park Place Tecchologies, controlada por fundos financeiros (fundo GTCR), e tem ainda como sócio o banco Charlesbank, está adquirindo a empresa brasileira Unitech que nasceu no Rio de Janeiro em 1989 e hoje possui vários datacenters no Brasil. [9]
A Unitech presta serviços de infraestrutura de datacenter (armazenamento) e proteção de dados para a Petrobrás, Forças Armadas, BB, Anac, ANP, Anvisa, Bradesco, Embraer, Esso, Fiocruz, Furnas, IBGE, INSS, Siemens, STF, etc. tendo ainda como parceiros com grandes companhias globais como Dell Technologies, VMware, Quantum, Commvault, Juniper, etc.
Hoje, em 2024, o Brasil possui cerca de meia centena de instalações de datacenters distribuídos entre cerca de 17 empresas provedoras. Entre elas, A Unitech, Ascenty (ao lado foto do Datacenter da Ascenty em Vinhedo, SP), Equinix, Scala e Odata.
Assim, observando e analisando numa perspectiva de totalidade e de sistema, deve-se realçar nesses movimentos, os processos não apenas de expansão da infraestrutura digital - de controle privado -, mas também quem são os agentes que se desenvolvem juntos aos processos de financeirização, centralização e concentração desse setor estratégico das infraestruturas digitais (cabos, torres, redes, ramais de cabos ópticos, operadoras de telefonia, datacenters, etc.). [3]
Vale registrar que tudo isso é muito incrementado pelas demandas geradas pelo avanço não apenas da "digitalização de quase tudo", mas pelo uso ampliado da Inteligência Artificial (IA/AI) em todo o mundo.
O avanço em velocidade muito acelerada da digitalização torna o controle centralizado dos dados e dessas gigantes instalações, um enorme risco, em especial, no que diz respeito à soberania nacional, aos direitos dos cidadãos e à democracia.
É tudo muito pior e mais grave do que tudo que foi denunciado por Edward Snowden sobre o uso do poder americano da NSA para espionar os demais países considerados aliados. Exatamente, o que os EUA acusam que o TikTok chinês poderia fazer.
Os agentes, os processos e as estratégias estão evidentes demais para não serem compreendidos em sua integralidade. É preciso dar musculatura à estatalidade das infraestruturas digitais, assim como repensar as bases da internet no Brasil e no mundo.
Notas e referências:
[1] GÖRGEN, James. A imprescindível refundação da Internet. Portal Outras Palavras, em 25 de abril de 2024. Disponível em: https://outraspalavras.net/tecnologiaemdisputa/a-imprescindivel-refundacao-da-internet/
[1] GÖRGEN, James. A imprescindível refundação da Internet. Portal Outras Palavras, em 25 de abril de 2024. Disponível em: https://outraspalavras.net/tecnologiaemdisputa/a-imprescindivel-refundacao-da-internet/
[2] Para uma compreensão mais detalhada do porquê se chama esse armazenamento de dados de "nuvens", faço uma sugestão da série-documentário na Netflix (não sem contradição, por conta de ser outra plataforma, de streaming). É uma sérei daquele jeitão americano meio caricato, mas que serve para explicar porque de onde vem o nome de "nuvem", para algo que está efetivamente no território como capital fixo e instalação. Série: "A era dos dados: a ciência por trás de tudo, Netflix. 6 episódios, 2020".
[3] PESSANHA, Roberto Moraes. Infraestrutura digital, extrativismo Hi-Tech (ExHT) e capitalismo de plataformas: artérias digitais escancaradas da AL – Uma homenagem a Galeano. No prelo, In: Geografias da economia política na América Latina. Editora Consequência. Rio de Janeiro, 2024.
[5] Valor/Dow Jones em 01/04/2024. Microsoft e OpenAI planejam data center de US$ 100 bilhões, com supercomputador de IA. Disponível em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/04/01/microsoft-e-openai-planejam-data-center-de-us-100-bilhoes-com-supercomputador-de-ia.ghtml
[6] Valor em 29/03/2024. IA deve acelerar a expansão de data centers no Brasil. Disponível em:
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/03/29/ia-deve-acelerar-a-expansao-de-data-centers-no-brasil.ghtml
[7] Valor em 10/04/2024. Microsoft investirá US$ 2,9 bi em data centers no Japão para atender inteligência artificial. Disponível em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/04/10/microsoft-investir-us-29-bi-em-data-centers-no-japo-para-atender-inteligncia-artificial.ghtml
[8] Olhar Digital em 27/04/2024. Google quer investir R$ 10,23 bilhões em construção de data center nos EUA. Ideia é impulsionar IA da companhia. Disponível em: https://olhardigital.com.br/2024/04/27/pro/google-quer-investir-r-10-23-bilhoes-em-construcao-de-data-center-nos-eua/?
[9] O Globo, 30/04/2024. Com data centers ‘bombando’, gigante americana Park Place faz aquisição no Brasil. Disponível em: https://oglobo.globo.com/google/amp/blogs/capital/post/2024/04/com-data-centers-bombando-gigante-americana-park-place-faz-aquisicao-no-brasil.ghtml?
PS.: Atualização às 17:58 para breve acréscimo de texto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário