domingo, janeiro 12, 2025

Porto do Açu como território de passagem exportou em 2024 R$ 34,8 bilhões, só em petróleo e minério de ferro

Petróleo bruto (valor equivalente a US$ 3,558 bilhões ou R$ 21,5 bilhões) e minério de ferro (valor equivalente a US$ 2,154 bilhões ou R$ 13,1 bilhões) foram as duas mercadorias mais movimentadas e exportadas pelo Porto do Açu, São João da Barra, RJ. As exportações de petróleo (62%) e minério de ferro (38%) somadas em valores US$ FOB, chegaram em 2024 no Porto do Açu a US$ 5,712 bilhões ou R$ 34,8 bilhões. 

Terminal T-Oil da Vast Infraestrutura no Açu.
Fonte: Brasil Energia (BE)

A exportação de outras mercadorias pelo Açu são irrisórias diante do volume de saída dessas duas commodities. O volume de importações que passou pelo Porto do Açu, também em 2024, foi US$ 731 milhões, ou R$ 4,45 bilhões. Somando os movimentos de exportação (88,6%) importação (11,4%) do Porto do Açu, eles chegam a US$ 6,443 bilhões ou R$ 39,3 bilhões.

Os dados são oficiais do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Os valores sobre as exportações de minério de ferro são de Conceição do Mato Dentro, MG, onde se situam as minas e de onde tem origem o mineroduto de 529 quilômetros que corta 33 municípios mineiros e fluminenses até chegar ao Porto do Açu, onde a pasta é filtrada, desidratada e o minério secado até seguir pelas esteiras até o terminal T1, processo de beneficiamento realizado pela empresa Ferroport (joint-venture entre as companhias, Porto do Açu e mineradora anglo-sul-africana Anglo American. 

Já as exportações de petróleo se originam na produção offshore nas bacias de Campos e de Santos e passam por transbordo (transferência de pequenos navios para grandes navios petroleiros para seguir viagem intercontinental), também através do terminal T1 do Porto do Açu. 

A responsabilidade do terminal de transbordo de petróleo do Porto do Açu é da companhia Vast Infraestrutura (ex- Açu Petróleo) que em seus três berços de atracação atende aos negócios de nove diferentes petroleiras: Petrobras, Shell, Equinor, Total, Galp, Petrochina, CNOCC, Petronas e PRIO. Outro dado expressivo é que em 2024, o Brasil exportou quase metade de toda a sua expressiva produção nacional de petróleo, sendo que o Porto do Açu tem sido responsável, por sua vez, de quase metade de todo o petróleo exportado pelo país.

Esse blog já havia comentado em relação à movimentação de cargas e riquezas pelo Porto do Açu em 2022 e 2023 [postagem em 17 de fevereiro de 2024: "Por que os R$ 21 bilhões da movimentação de 2023 do Porto do Açu são tão pouco comentados?"] sobre a estranheza das razões pelas quais a companhia Prumo Logística, holding controladora do Porto do Açu, ou mesmo o fundo americano, EIG Global Energy Partners, controlador da holding Prumo, não terem interesse na divulgação desses valores de cargas e riquezas movimentadas pela sua companhia subsidiária no seu terminal portuário.

Esses dados são públicos e podem ser acessados por qualquer pessoa, jornalista ou a mídia corporativa, sem necessidade de ser pesquisador. Como afirmei na postagem no ano passado, muitas hipóteses podem ser levantadas sobre essa proposital omissão dos valores de movimentação portuária em dólar ou real. Porém, já destaquei uma das razões em se escamotear esse dado.

As informações corporativas e financeiras são em sua grande maioria fruto de releases produzidos pelas próprias corporações e sob a ótica dos seus interesses. E como a própria companhia, grupo ou o seu fundo controlador não divulgou, ela não saiu divulgada mais amplamente. 

Assim, a hipótese para essa omissão seria o desinteresse em divulgar o volume de riqueza que passa pelo Porto do Açu e pela região deixando tão pouco em impostos e mesmo empregos, proporcionalmente, aos negócios que acabam, usando, especialmente, a região como "território de passagem", num empreendimento que até aqui, se caracteriza como um enclave, com pouquíssimas conexões com a região, reforçando a caracterização de um porto como base logística transescalar, mais ligada ao extrativismo.

Os proprietários do porto desejam fluidez das cargas para ampliar seus lucros na produtividade do porto, pouco se interessando por enlaces com as comunidades locais, vistas, na realidade, mais como problemas do que como solução e oportunidade. 

Uma enorme riqueza que pela região (quase R$ 40 bilhões apenas em um ano) apenas circula no que tenho chamado de "território de passagem", uma das características principais de um porto de 5ª geração com conexões na escala global (interligando pontos de uma cadeia de valor global - CVG) e até aqui muito pouco de agregação de valor em indústria (porto-indústria, Zona Industrial Portuária - ZIP ou MIDAs, Maritime Industrial Development Area) na enorme retroárea de mais de 90 Km², fruto, em boa parte, de centenas de desapropriações, em boa parte, violenta, de pequenos produtores rurais. 

As exceções são a unidade de geração de energia elétrica da GNA (UTE) e a FMC-Technip com a produção de tubos flexíveis para uso nas instalações offshore das petroleiras para extração de petróleo e agora, ao projeto já licenciado de hidrogênio verde. 

Porém, também o projeto de hidrogênio verde, se for destinado basicamente à exportação de amônia e não ao uso em industrialização no distrito industrial do porto, manterá essa característica de um porto de movimentação de cargas e riquezas de cadeias de valor global (CVG) e não de agregação de valor, com produção local ampliando aquilo que os economistas chamam de externalidades dessa importante infraestrutura portuária do Açu, no Norte do Estado do Rio de Janeiro.

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