Zuckeberg (vide manchete hoje nos jornais - ao lado) ao chamar diretamente as decisões do STF de "secretas" comete um profundo desrespeito como dono dessa grande corporação digital americana às instituições de uma nação que é uma das maiores usuárias das redes sociais, entre essas, o Facebook, Instagram e Whatsapp, do mundo.
Porém, na verdade, as Big Techs (Grandes Corporações Digitais - GCDs) americanas seguem um roteiro que tem pontos muitos claros que vão sendo paulatinamente divulgados ainda antes da posse do presidente Donald Trump. Esses pontos colocam o universo digital como um dos pilares desse seu segundo mandato e para o qual tem o apoio explícito dos CEOs e dirigentes dessas companhias (GCDs).
O objetivo é unificar as ações das Big Techs ocidentais no enfrentamento da guerra comercial, financeira, política e geopolítica com a China, tendo esse setor digital como estratégico em termos de relações de poder, num esforço de retomar uma espécie de nova guerra fria, embora, esse seja um termo desgastado para explicar o tripé do capitalismo contemporâneo em que se baseia as ideias ultraliberais e plutocratas de Trump/Musk.
Uma disputa que trabalha a partir do alinhamento de todas as grandes corporações digitais do Vale do Silício, em que o partido Republicano e Trump entendem ser contra o Brics para colocar os EUA na liderança - sem competição - de microprocessadores, datacenters (nuvens) e inteligência artificial com atuação ampla e transversal em várias atividades como drones militares, criptomoedas, capitais de riscos e fundos financeiros, além de outros negócios. Tudo isso já envolve batalhas ligadas às sanções, tarifas e incentivos à unificação em torno dos EUA, como de praxe.
O Zuckeberg com essa decisão de suspender as checagens e liberar todas de postagem, apenas pula para a primeira fila desse enfrentamento, se juntando ao Musk nessa empreitada. Processo que já vinha se desenhando na Meta e outras Big Techs dos EUA, que antes anunciaram apoio econômico à posse de Trump e também trocaram diversos diretores das companhias, alocando pessoal historicamente ligado à direita e ao Partido Republicano.
As ideias fundamentais passam pela total desregulação do setor digital, com pressões para derrubar as ações antitruste nas Cortes americanas e de outros países importantes na Europa, AL e Ásia com os quais mantém uma relação de ascendência.
A desregulação digital leva também à exigência de desregulação ambiental para ampliação da disponibilidade de energia e água para datacenters e outras atividades produtivas, como partes de um plano de tentativa de enfrentamento à oferta de produtos da China. A economia digital e de dados é uma dessas estratégias que se articulam desde a infraestrutura para o setor, desenvolvimento da Inteligência Artificial livre e sem amarras, vinculadas ao esforço para retomar espaços no comércio exterior.
As estratégias de Musk são truculentas como se sabe e já se conhece. O que Zuckeberg fez hoje, reproduz exatamente esse estilo que deve seguir se ampliando. Nesse processo se ampliarão as ameças mundo afora, não apenas contra empresas, políticos, mas contra as nações, suas instituições e as pessoas que as dirigem e se coloquem contra essa diretriz Musk/Trump, que, aparentemente, se vincula ao projeto da extrema-direita global resumido no repetido argumento da "defesa de liberdade de expressão".
Essas decisões surgem num momento que encontra a Europa envolta em várias crises e seus problemas, desde que a OTAN puxou os estados mais fortes do continente para o embate Rússia e Ucrânia e deixou de utilizar o gás e a energia barata da Rússia para importar o gás americano (liquefeito e trazido por navios gaseiros) que chegam bem mais caro e se torna uma das origens da crise econômica alemã e dos demais países.
Outros países europeus enfrentam crises internas, assim como o Canadá. Isso tudo, cria oportunidades para a aceleração dessa estratégia que busca produzir alinhamento também nesse campo, dos europeus aos EUA, como aconteceu na questão militar via Otan e assim, um relaxamento da ideia de soberania digital.
O jogo já começou a ser jogado por mais Big Techs, para além da Meta, Tesla/Twitter. As americanas Amazon, Microsoft, Apple, Google (Alphabet), Open IA, NVidia, etc. têm, cada uma, os seus interesses e já entendem o que chamam de oportunidades. Assim, tendem também a pressionar sua cadeia de relações comerciais em seus territórios, ligados à construção de valor com parceiros locais/nacionais, assim como pressão direta e indireta contra os próprios países e autoridades de suas principais autoridades.
Os EUA avançam para uma estratégia, tipo Estado-corporação, que ao cabo visa ampliar a hegemonia financeira, enfrentar as opções que tentam reduzir o domínio do dólar para assim retomar os desgastados tentáculos do império americano, agora, cada vez mais ancorado nas grandes corporações digitais. A ver!
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