Os algoritmos parecem um sistema muito poderoso e obscuro para a maioria da população, apesar do imenso alcance dele sobre todos nós que utilizamos intensamente a internet. Ora, os algoritmos parecem onipresentes e de controle total, ora simples demais, burro e mesmo incapaz.
Os algoritmos são direções dadas aos zilhões de dados produzidos por todos nós na vida contemporânea digitalizada, que, após serem capturados, armazenados, classificados, organizados e processados, por potentes sistemas computacionais nos datacenters (big datas), passam a servir aos seus proprietários, como produto a ser mercantilizado, para a realização de negócios de toda a natureza na contemporaneidade.Todos nós, já há algum tempo, percebemos essa realidade quando ao procurar um produto ou serviço em qualquer site de buscas, ou rede social, somos logo depois entupidos de ofertas. Isso define a expansão da "digitalização de quase tudo" e o surgimento da plataformização dos negócios de todo tipo e em diferentes territórios, embora sob o domínio centralizado e sob o controle dos oligopólios das grandes corporações de tecnologia.
Já escrevi outras vezes sobre essas coisas, mas essa postagem tem objetivo mais simples. Desejo apenas compartilhar a observação empírica que indica que o poder de hipersonalização dos algoritmos destes oligopólios possui limitações simples.
O fato. Ao adquirir um celular novo, diante da realidade que o mais usado já tinha quase uma década e estava com parte de sua tela quebrada depois que caiu do bolso num giro de bike, eu resolvi deixá-lo para uso doméstico, para acessar aplicativos de bancos que, assim, estariam mais protegidos.
No celular novo baixei um aplicativo (App) de uma fintech, onde tenho reduzido valor em conta e com limitações de pagamentos para baixos valores, para um uso no dia-a-dia dos pagamentos na rua. Além disso, deixei alguns aplicativos de rede social sem identificação de perfil, enquanto passei a utilizar bem menos e no ambiente doméstico esse celular mais antigo.
Pois bem, atirei no que vi e acertei no que não vi. Daí em diante, eu passei a observar como o algoritmo, mesmo que utilizando o mesmo wi-fi doméstico, não me identificava nas navegações da internet e nos acessos aos aplicativos de e-commerce e nas redes sociais.
Sei que isso não se trata algo novo ou extraordinário. Alguns chamam de "busca cega", ou algo parecido, e é muito utilizado por pessoas para fugir dos algoritmos, por exemplo, na procura de passagens aéreas, em outras compras e/ou na contratação de hospedagens, em que se busca preços mais em conta, tentando fugir dos algoritmos que passam seus dados já classificados, seus desejos e intenções de aquisição para os potenciais fornecedores, através das plataformas.
Ou seja, a hiperpersonalização dos nossos perfis organizados nos algoritmos é uma vigilância muito potente e lucrativa, mas têm brechas simples e de resultados interessantes. Não por outro motivo, vem passando ser considerado também "cult" ou chique, algumas pessoas se mostrarem offline por longos períodos do dia.
As contradições sempre acompanharam o desenrolar do capitalismo e do uso que esses fazem das tecnologias emergentes e isso não é diferente no cotidiano presente.
Quem puder e/ou quiser faça essa experiência. Relembre sua infância e volte à velha brincadeira do "pique esconde" com os seus perfis na internet e veja se o algoritmo vai te encontrar. No caso das redes sociais ou de negócios, é como se você estivesse em outras plataformas diferentes dessas mesmos que você já utilizava, porque o algoritmo não tem como lhe descobrir e nem lhe associar aos dados do seu perfil. A não ser por uso fora desses algoritmos padrões, como em casos de hackeamentos.
Não sou da área de Tecnologia da Informação (TI), mas é muito provável que daí já possam estar sendo pensadas formas de proteção contra esse poder quase totalizante de vigilância e de hiperpersonalização de todos nós usuários da internet, dos aplicativos e redes sociais.