quarta-feira, agosto 13, 2025

Brasil enfrenta com coragem guerra híbrida dos EUA e extrema-direita tecnoplutocrata global aliada aos traidores locais

 

O caos já não é a arma dos rebeldes, mas a marca dos dominantes(Da Empoli) [1]


            O Brasil está, de forma literal e real, sob uma intensa, complexa e assimétrica guerra híbrida empreendida e direcionada pelos EUA sob o comando de Trump e com apoio da extrema-direita global. Não há como esconder ou negar essa realidade. Diariamente, sob a forma de provocativas pílulas, em doses variadas, se caminha na direção da abolição gradativa do sistema de regras e acordos entre nações.

Desmonta-se, na prática, todas as instituições que limitavam o poder do dominador, que, em desespero pelo fim da hegemonia, tenta se agarrar às técnicas algorítmicas do que seria, uma nova forma de dominação imperial, entre códigos e algoritmos das plataformas digitais que exercem um controle cognitivo em patamar acima do já forte complexo militar dos EUA que segue de stand-by.

           O líder desses agentes não conhece a história, não lê e sequer quer saber dela, mas sonha em reescrevê-la, tal qual o fuhrer alemão há um século, sonhando com um novo final. Para isso, trabalham em articulação e coalizão unindo gigantes corporações de tecnologia, lideranças do capital de risco, think thanks, estruturas jurídicas etc., todas articuladas e instrumentalizadas por plataformas digitais estruturadas para ação em captura, controle de dados e manipulação cognitiva, a serviço dos EUA.

            Está em curso, uma estratégia de uso intenso da tecnologia digital e guerra híbrida como armas de “recolonização” com o objetivo de recolocar o Brasil no espaço que os EUA sempre chamaram de seu quintal. O Brasil é um dos alvos e neste momento um epicentro, porque se posicionou, junto do Brics, na condição e intuito de construir alternativas independentes e soberanas, tanto em termos do mínimo de governança digital quanto em meios de pagamento e fluxos de capital.

Os EUA exigem vassalagem, ofertada pelos líderes da extrema-direita brasileira, não aceitando que o Brasil se posicione com soberania desafiando a nova ordem algorítmica de base tecnológica, cognitiva e política, que usa a máquina da guerra híbrida como ferramenta para alimentar a esperança de retomada do controle geopolítico sobre toda a AL.

            Nessa guerra, o modus-operandi está escancarado e se alicerça na cooptação das elites locais, a partir da aliança com o bolsonarismo, tendo como alvo o sistema brasileiro de justiça, mas se espalha como um polvo, em vários tentáculos com o tarifaço no fluxo de comércio; bloqueio financeiro individual (talvez, nacional) e guerra informacional com algoritmos controlados e direcionados dentro do intercâmbio das redes sociais das Big Techs americanas.

            Bons analistas [1,2,3,4] têm analisado as direções e intenções dessa atuação dos EUA. Elas parecem opostas, mas se unem no objetivo da recolonização e retomada do controle do império.

            De um lado está a guerra cultural e a tese do caos do Steve Bannon, que atua num movimento de massa e foco na manipulação digital e modulação cognitiva. Objetiva a destruição das instituições e do establishment tradicional. Intenta criar um vácuo de poder propício aos movimentos que levam a uma nova ordem conservadora e plutocrata.

            Na outra ponta, está a chamada República Tecnológica [5], sob a liderança ideológica do Peter Thiel, dono da companhia de tecnologia e defesa, Palantir [6], que objetiva desmontar o Estado-Nação por dentro, substituindo-o por estrutura e recursos humanos sob o controle privado das grandes corporações de tecnologia, as Big Techs.

             Juntos, dentro dos EUA, ambicionam destruir o Deep State (e instituições) para colocar no lugar uma estrutura tecnoplutocrata unindo os donos das Big Techs e o ideal revolucionário do movimento conservador MAGA. A liderança emergente do Vale do Silício para essa empreitada está centrada no vice J.D. Vance. Junto a Trump já avançam na cruzada por uma burocracia privatizada, sob comando da plutocracia como extensão do capital estadunidense.

             Segundo Aragon [2], Trump e Vance sabem que apenas o caos ideológico (reset), sozinho, do Bannon, não sustenta a retomada do império. Muito menos a captura do Estado de Thiel que não tem fervor popular para mobilizar a massa. Por isso, as duas opções não se excluem, ao inverso, servem a essa empreitada que tem na visão tecnoplutocrata, a base de sustentação do que chamam de nova ordem técnico conservadora que possui características fascistas.

            A IA é base tecnológica mais recente em uso por esse movimento dos predadores digitais que funciona de forma acelerada e potente. Da Empoli (2025) [1] lembra que “os engenheiros do Vale do Silício há muito deixaram de programar computadores para se tornar programadores de comportamentos humanos”. E vai além afirmando que “a IA não é um simples acelerador de poder, mas uma nova forma de poder, que se distingue de todas as máquinas criadas pelo homem até então. Se a automação se concentrava nos meios, a IA se interessa pelos fins”.

A potência da IA está sustentada na ideia de alimentar o caos, fugindo de toda racionalidade, não se prendendo a regras nem a procedimentos, para extrair dele a surpresa que tanto sucesso faz entre os algoritmos e redes sociais, instrumentos desse movimento, mostrando, majoritariamente, seu viés opaco, antidemocrático, manipulador e de uma “inteligência autoritária, que centraliza os dados e os converte em poder”. [1, Da Empoli, 2025, p.78]

                Pela síntese aqui exposta, baseada em muitas outras leituras, e por tudo mais que se observa na atual conjuntura, não é simples a tarefa do povo e do governo brasileiro no presente momento. Não se trata da luta do homem contra a máquina e sim do seu uso como poder e arma dentro da assimetria que existe entre essas nações do continente americano.

    A saída é uma luta diuturna, corajosa, inteligente e conjunta tanto interna quanto externa. Dentro do Brasil a luta é contra as elites cooptadas e de mentes colonizadas. Uma nova etapa do combate que superou a tentativa de golpe em 2023 e que segue lutando em favor da construção de um Brasil soberano, inclusivo, menos injusto e desigual. E externamente, de forma articulada e em cooperação, junto a várias outras nações que também lutam pela superação da dependência, pelo multilateralismo e a favor da solidariedade entre os povos.

 

Referências e notas:

[1] DA EMPOLI, Giuliano. A hora dos predadores: como autocratas e magnatas digitais estão levando o mundo à beira de um colapso orquestrado. Vestígio. São Paulo, 2025.

[2] GONÇALVES, Reynaldo José Aragon. Afinal de contas, quem é J.D. Vance? O arquiteto da recolonização digital. Código Aberto. 2 de agosto de 2025. Disponível em: https://www.codigoaberto.net/post/afinal-de-contas-quem-%C3%A9-j-d-vance

[3] GONÇALVES, Reynaldo José Aragon. Os EUA querem provocar uma ruptura diplomática com o Brasil. Código Aberto. 7 de agosto de 2025. Disponível em: https://www.codigoaberto.net/post/os-eua-querem-provocar-uma-ruptura-com-o-brasil

[4] ARAGON, Reynaldo. Thiel vs. Bannon: A guerra entre os arquitetos do caos. Outras Palavras. 10 de junho 2025. Disponível em: https://outraspalavras.net/outrasmidias/thiel-vs-bannon-a-guerra-entre-os-arquitetos-do-caos/

[5] KARP, Alexander C. ZAMISKA, N. W. República Tecnológica: tecnologia, política e o futuro do Ocidente. Intrínseca. Rio de Janeiro. 2025.

[6] Palantir é uma corporação de tecnologia (software) dos EUA, especializada em serviços para o governo, especialmente na área de defesa dos Estados Unidos. Fundada em 2003 por Peter Thiel e Alex Carp (CEO e autor do livro “República Tecnológica” (2025). Desde 2010, A palantir passou a atuar também para clientes do mercado de capitais e da área financeira dos EUA. Nos governos Trump, a Palantir ampliou bastante seu valor de mercado e em 13 de agosto de 2025, alcançou US$ 437 bilhões, segundo dados do ranking Infinite Market Cap. Disponível em: https://8marketcap.com/?search=palantir

domingo, agosto 10, 2025

21 anos do blog entre contradições e agradecimentos!

Esse blog teve a sua primeira postagem no dia 10 de agosto de 2004. Hoje ele completa a sua maioridade. Nos aniversários anteriores, eu já confessei que ele nasceu como uma espécie de arquivo pessoal público. Um espaço digital para guardar dados, informações e análises que permitisse acesso público. Eram poucos acessos ou visitas diárias e isso nunca importou muito. Era mais curiosidade. 

Me recordo na época que a Big Tech, Microsoft, fazia propaganda do seu pacote de softwares que depois passou a se chamar office (de escritório). Um processador de textos (word); uma planilha eletrônica (excel) e um banco de dados (acess). Esse terceiro não emplacou e depois vieram os pen drives, HDs externos, as nuvens, etc. 

Os blogs logo se popularizaram e depois se misturaram a outros tipos de mídias sociais para comunicação, um prato cheio para as Big Techs que há muito tempo vinham atrás da captura de dados e conteúdos para uso em propaganda digital direcionada e para treinamento de máquina dos vários tipos de processadores que passaram depois a serem chamados de inteligência artificial.

Hoje, esse espaço digital não tem mais o sentido que teve quando de sua criação em 2004. Ainda assim, fui mantendo o espaço, embora com bem menos postagens que antes. No entanto, os acessos diários que não são poucos, da ordem de 3/4 mil, tem ultimamente se multiplicado algumas vezes, chegando a 10/15 mil por dia. Não credito esse número de acessos ao interesse pelo seu conteúdo. 

Observando a origem (país) destes acessos externos, desconfio que boa parte deles, em especial, os mais recentes são de outros países. Visitas do Brasil estão na terceira posição, o que me leva a concluir que a quase totalidade dela, vem de robôs que devem exercer a captura automática de conteúdos para o treinamento de máquina (aprendizadem de máquina, machine learning). 

A origem disparada da maioria dos acessos dos últimos seis meses é dos EUA (43%), depois Singapura (13%) e só depois Brasil com 6%. Outros 38% de dezenas de outros países, o que reforça a intuição de acessos por robôs para armazenagem de conteúdos em datacenters que alimentam o treinamento de máquinas e pela localização dos Big Datas (datacenters).

Essa constatação me faz pensar em deixar de lado esse espaço digital que acaba servindo a interesses não desejados em sua origem. Outra razão para a desistência é o uso das redes socais para semelhantes publicações e comunicações antes feita no espaço do blog. 

Muitos bons blogs deixaram de existir e foram substituídos por perfis nas várias redes sociais hoje existentes. Elas são mais ágeis na comunicação e distribuição, mas servem igualmente à captura de conteúdos com fins de publicidade, treinamento de máquinas e algoritmos. 

Ou seja, atendem igualmente à vampirização das gigantes corporações de tecnologia que vivem do trabalho alheio. De outro lado, há que se pensar que se as máquinas forem treinadas apenas com conteúdos conservadores, neoliberais e de direita, os resultados das IA serão ainda piores do que o cenário estão nos apontando (sic).

Além disso, com o formato das redes socais seus algorítmos acabam por esconder muitas de nossas postagens antigas que se tornam extremamente difíceis de localizar, ao contrário do que acontece com o formato do blog, mesmo que esses estejam em nuvens e sobre o controle das gigantes corporações de tecnologia.

Se bem, que a atual forma de localização (busca) de postagens antigas, mesmo do blog, ficaram hoje bem mais difíceis que antes. Eu me utilizo bastante dos registros e postagens antigas destes 21 anos como uma espécie de arquivo pessoal, razão da criação do blog. A forma de localizar era, relativamente, fácil. Ia ao buscador da Google, colocava o nome do blog e algumas palavras-chave e aparecia entre as opções aquela(s) que me interessava(m) sob a forma de links em sequência. 

Hoje, essa estratégia se tornou ineficiente. A busca na Google é atendida diretamente com uma resposta pela sua IA (Google AI ou Gemini). As opções dos links ficam abaixo e o algoritmo de buscas ficou imprestável, exatamente para o usuário ter que intensificar e treinar o conteúdo de sua IA. 

Ou seja, capturaram o seu conteúdo que passam a ser as suas respostas da IA sem dar acesso direto ao seu material ou sua postagem. Verdade que desde que iniciei o blog sabia deste risco, porque uso um serviço gratuito (Blogger da Google) e quando isso acontece você e seu material se tornam produtos dessa companhia, apesar de há muito ter passado a utilizar um domínio próprio (robertomoraes.com.br) registrado no Comitê Gestor de Internet no Brasil (Nic do Registro.br). Para fugir desse problema, eu teria que alugar uma hospedagem própria do blog que demandaria recursos financeiros e técnicos para administrar e dar alguma manutenção no serviço de hospedagem que aqui é feita pela Blogger da Google.

Diante deessa realidade que divido aqui com vocês, acredito que ela acabe levando à sensação de que há mais razões para suspender o blog do que para mantê-lo, até porque por óbvio, ele hoje já está mais próximo do seu fim do que do começo (sic). 

Porém, há, de outro lado, um sentimento de resistência, meio que inexplicável. Tenho dito aqui em vários artigos (postagens) que a saída para a distopia atual não é a anti tecnologia. Não vamos repetir os ludistas (Ned Ludd) que há dois séculos em Londres, organizou grupos de trabalhadores para quebrarem as máquinas com a depois chamada Revolução Industrial, por conta do impacto das mesmas sobre parte do trabalho operário. A história sempre ensina. Embora eu avalie que a distopia e os impactos atuais da tecnologia digital pareçam bem maiores e não apenas sobre o trabalho e os trabalhadores.

Enfim, por enquanto, vamos seguindo em frente, outro lema aqui adotado, junto da frase do poeta espanhol Antonio Machado: "Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao andar". 

Penso que as informações, reflexões e análises aqui são compartilhadas com muita gente que sequer conheço e geram movas informações e análises que saem dessa interação digital e/ou física, a partir do que aqui é publicado ou republicado de outros. Aliás, muitos que leem o blog, não o fazem no endereço do mesmo e sim nos meus perfis nas redes sociais que sempre foram utilizadas com os mesmos propósitos do blog. 

Outros sites e blogs republicam textos aqui originados e vice-versa. E essa interação nos movem. E como seres humanos, mesmo com intermediação da tecnologia e das máquinas, nós sempre vivemos em movimento. Tal como ocorrem com as bicicletas, se pararmos de movimentar caímos.

Nestes 21 anos foram 19.353 postagens (incluindo essa). Alguma coisa interessante, entre muitas bobagens e brincadeiras. O total de visitantes (12,2 milhões de acessos) é um número pouco confiável. Primeiro porque sua contabilidade só foi instalada após um bom tempo de vida do blog e, além disso, muito dos acessos ao material das postagens, em especial da última década (mais ou menos a partir de 2015), foram feitas e comentadas nas redes sociais, em especial no Facebook, e/ou no Instagram e depois no X (Twitter), onde as interações e diálogos são mais frequentes e rápidas que nos espaços de comentário no blog, que com o tempo, passou a exigir uma moderação prévia, por conta de propagandas e/ou ofensas a terceiros e ao próprio autor do blog.

Enfim, mais uma vez agradeço a todos e todas que colaboraram e continuam colaborando com a existência desse espaço digital crítico. Nas passagens de outros 10 de agosto, eu escrevi sobre a gênese e sobre a visão que tenho desse espaço. Se desejar leia aqui nesse link uma dessas reflexões.  

quinta-feira, agosto 07, 2025

"Os EUA querem provocar uma ruptura diplomática com o Brasil", por Reynaldo Aragon

A conjuntura atual é conturbada e não é simples fugir da superficialidade e da fragmentação. A interpretação e análise é complexa e exige que se remeta a várias camadas e dimensões de observação para uma leitura mais totalizante. Nesse sentido, penso que o Reynaldo José Aragon Gonçalves tem trazido contribuições importantes que merecem ser repartidas, debatidas e transformada em ação. O texto abaixo foi publicado hoje no site (blog) Código Aberto.


Os EUA querem provocar uma ruptura diplomática com o Brasil

Sanções, narrativas e guerra híbrida: como Washington arma o teatro da crise para isolar o Brasil e justificar sua chantagem imperial

Por Reynaldo José Aragon Gonçalves
07 de agosto de 2025. 14 horas.


Os EUA estão forçando uma ruptura com o Brasil — e querem que o mundo acredite que fomos nós que batemos a porta. Sanções, chantagem diplomática, ataques ao STF e guerra narrativa são apenas a superfície de uma operação muito mais profunda. Este artigo revela, com nomes, estratégias e fatos, como Washington tenta sabotar nossa soberania e transferir a culpa pela crise. É hora de desmontar a farsa, defender o Brasil e nomear o inimigo.

A crise é fabricada

Os Estados Unidos não estão apenas impondo tarifas, sancionando ministros ou fazendo ameaças diplomáticas ao Brasil. Eles estão construindo uma narrativa geopolítica cuidadosamente arquitetada para justificar uma ruptura — e colocar a culpa em nós. O objetivo não é o diálogo. É o conflito. E mais: é fazer parecer que o Brasil se recusou a conversar, criando o ambiente ideal para aplicar sanções econômicas, chantagens políticas e isolamento internacional.

Desde que o presidente Lula assumiu um protagonismo soberano no cenário global — ampliando os BRICS, defendendo a regulação das big techs, fortalecendo a democracia interna e colocando limites à extrema-direita — o Brasil passou a ser visto como um obstáculo a ser neutralizado. E a neutralização, como mostram todas as guerras híbridas modernas, não começa com tanques, mas com narrativas.

A atual crise diplomática, portanto, não deve ser lida como um tropeço acidental ou como resultado de falhas de comunicação. Ela é uma provocação planejada, parte de uma ofensiva híbrida que visa isolar o Brasil, atacar suas instituições e reverter sua autonomia internacional. E a peça central desse tabuleiro é a tentativa de destruir politicamente o ministro Alexandre de Moraes — hoje, o principal símbolo da resistência institucional contra o neofascismo bolsonarista e seus patrocinadores internacionais.

Este artigo parte da hipótese de que estamos diante de uma operação de guerra narrativa, na qual os EUA pretendem empurrar o Brasil para o papel de inimigo “irracional” e “hostil”, pavimentando o caminho para agressões mais duras com apoio internacional. Nossa missão agora é desmontar essa armadilha, nomear os fatos e entender com precisão o que está em jogo.


O manual do invasor: Guerra híbrida versão 2025

A lógica por trás da ofensiva americana contra o Brasil segue um padrão já conhecido nos manuais de guerra híbrida e operações psicológicas. Primeiro, cria-se uma crise artificial. Depois, amplifica-se essa crise por meio de narrativas fabricadas, instrumentalizando veículos de comunicação, embaixadas, redes sociais e parlamentos aliados. Em seguida, projeta-se a culpa sobre o país-alvo — que, ao reagir, é enquadrado como autoritário, irracional ou antidemocrático. Por fim, com o ambiente já contaminado, aplicam-se sanções, chantagens e medidas unilaterais com o respaldo da “comunidade internacional”.

Essa é exatamente a estratégia em curso hoje contra o Brasil.

O aumento brutal das tarifas comerciais, as sanções contra membros do Supremo Tribunal Federal, os tuítes agressivos da embaixada americana, as declarações de Donald Trump desafiando Lula a “ligar quando quiser” — tudo isso é parte de uma coreografia típica da guerra híbrida. O alvo não é apenas a economia, nem só Alexandre de Moraes. O alvo é a soberania do Brasil como um ator independente no cenário mundial.

Essa tática é antiga, mas atualizada com novas ferramentas: as redes sociais, a diplomacia coercitiva e o lawfare. O mesmo roteiro já foi aplicado contra governos que tentaram afirmar projetos soberanos em seus territórios — como Hugo Chávez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador, Cristina Kirchner na Argentina e, mais recentemente, Andrés Manuel López Obrador no México. Sempre com o mesmo pano de fundo: a criminalização da política soberana como “ameaça à democracia” e o uso de instituições infiltradas para desestabilizar governos legítimos.

Agora é o Brasil que ocupa o centro desse tabuleiro. Não por acaso.

O país lidera o movimento global pela regulação das plataformas digitais, impulsiona a reconfiguração dos BRICS com novos membros estratégicos, assume posição de mediação em conflitos internacionais e, internamente, resiste ao retorno da extrema-direita. Isso faz do Brasil um caso a ser sufocado antes que sirva de exemplo. A guerra híbrida contra o país é, portanto, também um alerta ao restante do Sul Global: ousar ser soberano ainda é imperdoável aos olhos do império.

A figura de Moraes: o alvo simbólico da vez

Alexandre de Moraes não é apenas um ministro do Supremo Tribunal Federal. Ele se tornou o símbolo da contenção institucional do neofascismo no Brasil, o principal agente do Judiciário no enfrentamento à guerra informacional, ao golpismo digital e às redes de desinformação estruturadas por Bolsonaro e seus aliados — com amplo financiamento de elites empresariais, plataformas tecnológicas e think tanks internacionais.

Por isso mesmo, destruir politicamente Moraes é um passo central no projeto de desestabilização do Brasil. Ele é a muralha jurídica que não se rendeu à lógica do caos. E por isso precisa ser desmoralizado, isolado e anulado — não só dentro do país, mas no cenário internacional. A campanha dos EUA contra ele segue esse roteiro com precisão cirúrgica.

A sanção inédita imposta por Washington com base na Lei Magnitsky, alegando supostos abusos de autoridade, inaugura um novo patamar de agressão à soberania institucional do Brasil. Nunca, em nenhuma democracia do Ocidente, um ministro de Suprema Corte havia sido alvo de retaliação diplomática por decisões internas amparadas na Constituição do próprio país. Essa sanção é um recado: ou se curva, ou será punido.

Em seguida, a embaixada americana no Brasil passou a operar como braço de guerra narrativa. Tweets e declarações oficiais acusando Moraes de censura, autoritarismo e perseguição política ganharam destaque, inclusive com traduções para o português. A função desses ataques não é apenas diplomática — ela é estratégica: alimentar o discurso interno da extrema-direita e legitimar, perante a opinião pública internacional, uma possível ruptura ou ação mais dura contra o Brasil.

Ao mesmo tempo, parlamentares da oposição — perfeitamente alinhados com essa operação externa — iniciam o processo de impeachment contra Moraes, alegando abuso de poder e violação de liberdades. O timing não é coincidência. As forças internas e externas convergem em um só objetivo: desmontar a barreira institucional que impediu a consumação do golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023. E Moraes é esse obstáculo.

O que está em jogo não é apenas o destino de um ministro. É a integridade das instituições democráticas brasileiras. E, mais do que isso: é a possibilidade de que um país do Sul Global possa ter um Judiciário autônomo o suficiente para enfrentar o fascismo, mesmo quando esse fascismo é alimentado por Washington.

A ofensiva coordenada: diplomacia, Congresso e milícia digital

O que está em curso contra o Brasil é uma operação multifacetada, articulada em três frentes principais: diplomática, institucional e informacional. E essas frentes se movem de forma sincronizada, como peças de uma mesma engrenagem — cujo objetivo é provocar uma ruptura institucional e consolidar a narrativa de que o Brasil é um país autoritário, isolado e inimigo da democracia liberal ocidental.

A primeira frente é a diplomática. A embaixada dos Estados Unidos no Brasil ultrapassou todos os limites da convenção diplomática tradicional. Publicou, em seus canais oficiais, declarações que atacam diretamente o ministro Alexandre de Moraes, acusando-o de ser o “arquiteto da censura” no Brasil. Mais que um gesto simbólico, trata-se de uma ação deliberada de guerra narrativa, cujo propósito é internacionalizar uma acusação que possa embasar futuras sanções, isolamento político e pressão sobre aliados.

A segunda frente é o Congresso Nacional, onde senadores da extrema-direita e da base bolsonarista — articulados com think tanks conservadores e assessores ligados ao aparato trumpista — iniciaram uma campanha aberta pelo impeachment de Moraes. A coleta de assinaturas, as ocupações do plenário, os discursos inflamados e sincronizados com os tweets da embaixada configuram uma operação híbrida com rosto institucional, cujo objetivo é transferir o conflito para o Legislativo e forçar uma crise entre os Poderes.

A terceira frente é a milícia digital, a mesma que atuou no 7 de setembro de 2021, na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 e em todas as campanhas de desinformação desde 2018. Essa rede, alimentada por dinheiro estrangeiro, publicidade fraudulenta e apoio direto de plataformas tolerantes à radicalização, entrou em modo de ataque total. Os algoritmos estão sendo mobilizados para disseminar a ideia de que o Brasil vive sob “ditadura do Judiciário”, e que Moraes seria um “inimigo da liberdade”. A estratégia não mira apenas o STF — ela mira a credibilidade da democracia brasileira como um todo.

Essas três frentes atuam com sincronia porque fazem parte de um mesmo projeto: empurrar o Brasil para o colapso institucional e oferecer ao mundo uma imagem deformada da realidade — a de que o país virou uma ameaça à liberdade. Essa inversão é central para a doutrina das guerras de quinta geração, em que o campo de batalha é a percepção pública, e a vitória se mede pela capacidade de deslegitimar o inimigo antes mesmo de um tiro ser disparado.

O plano é simples: provocar, contaminar a narrativa e forçar uma reação. Se o Brasil responde, está “radicalizando”; se não responde, está se curvando. Um jogo de armadilha dialética onde só há uma saída: romper o script, nomear a operação e assumir a soberania narrativa dos fatos.


Quem ganha com isso?

Nenhuma guerra híbrida se move sem propósito. Toda operação de desestabilização serve a interesses concretos — e, no caso do ataque em curso contra o Brasil, o rastro do lucro, do poder e da dominação geopolítica é nítido. É preciso perguntar com clareza: quem se beneficia da tentativa de destruir a credibilidade do STF, desmoralizar Alexandre de Moraes, isolar o governo Lula e desorganizar o pacto democrático brasileiro?

A resposta começa pela extrema-direita internacional, que vê no Brasil uma peça estratégica no xadrez da reação global contra as democracias progressistas do Sul. A prisão de Bolsonaro, as investigações sobre os financiadores do 8 de janeiro e a reconstrução institucional promovida desde 2023 ameaçam o projeto de poder transnacional que conecta Trump, Javier Milei, Viktor Orbán, Netanyahu e outros representantes do neofascismo global. O Brasil, ao recusar-se a ser laboratório de autoritarismo digital, se tornou um problema.

Em segundo lugar, aparecem as big techs. O governo brasileiro é hoje uma das únicas potências emergentes que propôs abertamente a regulação democrática das plataformas, o combate ao discurso de ódio algorítmico e a responsabilização das empresas pela disseminação de mentiras e violência política. Ao atacar Alexandre de Moraes e deslegitimar o STF, abre-se espaço para que essas corporações se livrem de sua principal barreira legal no país — e, por tabela, possam operar livremente, lucrando com o caos informacional.

A terceira camada é o complexo industrial-financeiro norte-americano, que se incomoda com a política externa altiva e ativa do Brasil, com o fortalecimento dos BRICS+, com o protagonismo diplomático no Sul Global e, principalmente, com a recusa brasileira em aceitar passivamente as ordens da Casa Branca. As tarifas de Trump, as sanções contra membros do STF e a tentativa de provocar uma ruptura têm um objetivo claro: colocar o Brasil de volta no cercadinho da dependência, da subordinação e do servilismo econômico.

Por fim, há o fator recursos naturais e soberania energética. O Brasil está no centro da nova disputa global por minerais críticos, tecnologia de energia verde e alimentos. Ao criar instabilidade política, pressiona-se o governo a recuar em políticas de soberania, privatizações e exploração nacional do pré-sal e da Amazônia. Desestabilizar é abrir o mercado à pilhagem. E, nesse caso, o caos é sempre um ótimo negócio.

Não é o Brasil que ameaça a ordem global. É a ordem global, em sua face imperial e neoliberal, que não tolera um Brasil soberano.

A armadilha do discurso da paz

Donald Trump declarou, com cinismo estudado, que "Lula pode me ligar quando quiser". A frase percorreu as manchetes internacionais como uma demonstração de suposta abertura ao diálogo. Mas ela é, na verdade, o pilar psicológico de uma armadilha discursiva construída com precisão cirúrgica. Trata-se de uma performance milimetricamente ensaiada para transferir a responsabilidade da crise ao Brasil e apresentar os EUA como a parte “racional”, “aberta” e “pacífica” — quando, na verdade, foram os agressores desde o primeiro ato.



O gesto de oferecer “diálogo” depois de impor tarifas de 50%, sancionar um ministro da Suprema Corte, publicar mensagens ofensivas pela embaixada e pressionar o Congresso para sabotar o Judiciário brasileiro é, tecnicamente, um tipo de guerra psicológica baseado em inversão moral. A lógica é clara: criam o incêndio, oferecem um copo d’água, apontam que você se recusou a aceitar — e então dizem que você é intransigente.


Essa inversão faz parte de um repertório sofisticado das guerras de quinta geração. O discurso da paz é usado não como ferramenta de resolução, mas como arma para deslegitimar a resistência. É a mesma tática usada contra países que ousaram manter sua soberania diante do imperialismo: o Irã “não quis negociar”, a Venezuela “recusou ajuda humanitária”, a Rússia “foi agressiva”, a Palestina “é radical”. Agora, a mesma narrativa está sendo montada contra o Brasil.



O gesto de Trump não é diálogo — é controle de dano geopolítico com manipulação de percepção pública. Internamente, os EUA seguem com o projeto de estrangulamento econômico e institucional do Brasil. Externamente, tentam construir a aparência de razoabilidade, como se estivessem prontos para conversar, mas tivessem sido rejeitados por um governo irracional. É a encenação perfeita para aplicar novas sanções com o apoio do Ocidente.

Cair nessa armadilha é entregar de bandeja a soberania do país à propaganda do agressor. Responder com "diálogo" nesse cenário não é diplomacia — é rendição.

É por isso que a recusa do presidente Lula em entrar nesse teatro foi não apenas correta, mas estratégica. O Brasil não pode aceitar que o agressor defina o tom da conversa nem que a vítima aceite a farsa de uma “negociação” armada para culpá-la por não se curvar.

O que o Brasil deve fazer agora

Diante de uma ofensiva híbrida que envolve sanções, lawfare, sabotagem institucional e guerra de narrativas, não basta indignar-se. É preciso reagir com inteligência estratégica, articulação internacional e fortalecimento interno da soberania. A provocação é real, o cerco está montado — e a história nos ensina que responder de forma passiva ou improvisada só fortalece o agressor.

A primeira medida é blindar institucionalmente o Supremo Tribunal Federal e defender, com firmeza, o ministro Alexandre de Moraes. Isso não é uma defesa de indivíduo — é a defesa de um princípio: nenhum país soberano pode aceitar que potências estrangeiras sancionem seus juízes com base em decisões internas amparadas pela Constituição. Silenciar diante disso seria admitir que os EUA têm autoridade sobre o sistema de Justiça brasileiro. O governo Lula, o Congresso progressista e as instituições republicanas precisam agir com unidade e clareza.

A segunda é não cair no teatro do diálogo manipulado. O Brasil não deve aceitar conversar sob chantagem nem sob o verniz falso da paz encenada. Qualquer tentativa de retomada do diálogo precisa partir de uma revogação incondicional das sanções, suspensão das tarifas e retratação diplomática pública. Não se trata de orgulho: trata-se de impedir que a diplomacia coercitiva se torne um precedente para outras ofensivas imperiais. Ou se negocia entre iguais — ou não se negocia.

Terceiro: o Brasil precisa acelerar a consolidação de alianças com o Sul Global. Os BRICS+, a CELAC, a União Africana e fóruns multilaterais precisam ser mobilizados com urgência como escudos diplomáticos e comerciais. A tentativa dos EUA de isolar o Brasil deve ser respondida com mais integração, mais comércio entre pares, mais pactos de cooperação tecnológica, educacional e de infraestrutura. É hora de mostrar ao mundo que o país tem alternativas — e não depende da tutela imperial para existir.

Quarto: é preciso fortalecer internamente a soberania informacional e tecnológica. A guerra em curso também se dá no campo dos dados, dos algoritmos e das plataformas. Isso exige investir em infraestrutura digital própria, regular as big techs com rigor, proteger os cientistas e os jornalistas da desinformação e estabelecer protocolos nacionais de segurança cognitiva. A soberania do século XXI se decide nos cabos, nas nuvens e nos metadados — e o Brasil não pode continuar vulnerável.

Por fim, é necessário que o povo brasileiro compreenda que essa não é apenas uma disputa entre governos. É uma disputa entre a submissão eterna e a construção de um projeto autônomo de nação. Defender o STF, defender a diplomacia brasileira, defender a regulação das plataformas, defender a integridade da democracia é, neste momento, defender o Brasil da mais sofisticada ofensiva imperial das últimas décadas.

A hora de agir é agora. E agir com inteligência é não seguir o script do inimigo.

A ruptura já começou. Só não podemos ser nós a fechá-la

A ruptura já está em curso. Foi iniciada pelos Estados Unidos com tarifas unilaterais, sanções diplomáticas, ataques públicos ao sistema de Justiça brasileiro e ingerência direta em processos internos da nossa democracia. A embaixada americana se transformou num braço operacional de guerra híbrida. O Congresso Nacional, infiltrado por interesses externos, atua como peça de pressão interna. E a extrema-direita digital, financiada por capital internacional, tenta incendiar a opinião pública com a narrativa de que o Brasil virou uma ditadura.

Neste contexto, a única atitude verdadeiramente irracional seria esperar que o agressor recue por boa vontade. Não há diplomacia possível quando o outro lado está mobilizando todos os instrumentos de sabotagem para destruir sua autonomia. Não há diálogo honesto com quem transforma a paz em arma. E não há democracia que sobreviva sem coragem para enfrentar o cerco.

O Brasil não iniciou essa crise — mas precisa decidir se a enfrentará como Nação soberana ou como Estado submisso. Ceder à chantagem, aceitar as sanções em silêncio, negociar com uma faca no pescoço ou abandonar Alexandre de Moraes à sanha imperial é abrir caminho para a completa desintegração institucional. E mais: é enviar ao mundo a mensagem de que basta ameaçar para que o Brasil se ajoelhe.

Não se trata de bravata. Trata-se de responsabilidade histórica. O que está em jogo é a possibilidade do Brasil existir como projeto autônomo no século XXI. Resistir agora é evitar rupturas maiores depois. Denunciar essa operação de guerra híbrida não é exagero — é sobrevivência política. Proteger nossas instituições é proteger nossa capacidade de sonhar com um futuro livre, justo e realmente nosso.

A ruptura já começou. Mas não pode ser o Brasil a fechá-la com a cabeça baixa. Que a ruptura, se inevitável, sirva ao propósito de deixar claro ao mundo que este país não aceita mais ser colônia — nem de armas, nem de algoritmos, nem de narrativas.

Fonte: Código aberto.

quarta-feira, julho 23, 2025

Altos ganhos feitos por robôs nos negócios de câmbio no dia do tarifaço expõe infraestrutura de IA no mercado financeiro: Big Techs alimentando o Big Money!

A notícia do Valor/O Globo (22/07/2025) [1] que o Banco Central constatou o uso de robôs nos ganhos com negócios com dólar no mercado financeiro, quando do anúncio do tarifaço de Trump contra o Brasil, traz indícios de ser ainda mais grave a questão original da realização deste lucro especulativo.

Essa constatação demonstra e confirma como os robôs e algoritmos com uso de IA respondem às plataformas financeiras que operam no mercado sem identificação ou controle, usando mecanismos tipo máscaras (disfarces) de seus movimentos.

Disputas no mercado com plataformas automáticas com uso de IA com tal capacidade de processamento e modelagem, confirmam a assimetria que está na base da hegemonia financeira no capitalismo contemporâneo.

Imaginem a desvantagem de pequenos aplicadores do mercado de capitais contra esses gigantes do Big Money que operam com enormes maquinários computacionais, fazendo leituras online no espaço global sobre os movimentos de todos os investidores. Um tipo de rentismo chamado de financeirização 2.0.

Na prática se confirma a IA operando na atualidade como infraestrutura financeira na realização de ganhos no mercado financeiro [2].

Uma forma similar aos que outras tecnologias fizeram no passado, porém, agora de uma forma muito singular e intensa, considerando a colossal captura de dados financeiros de pessoas e companhias com a hiperpersonalização e microssegmentação dos mesmos, modelando movimentos operados automaticamente por robôs.

Datacenters ou Big Datas capturam dados, armazenam em nuvens (clouds) que funcionam como infraestruturas digitais para seu processamento com enormes capacidades computacionais.

Com uso do treinamento de máquinas esses dados servem aos algoritmos, programados passo a passo, para a definição de regras para a tomada de decisões automáticas realizadas por robôs com o objetivo de realizar altíssimos ganhos. São movimentos de manada em curtos espaços de tempo que só a IA e suas máquinas têm condições de realizar.

Grandes gestoras de fundos financeiros, como o BlackRock, possuem potentes plataformas que trabalham com modelagens que operam automaticamente no mercado a partir de dados e direções dadas aos seus algoritmos. Esse caso empírico também reforça o conceito de assetização (transformação de tudo em ativos). [3]

O fato reforça também as desconfianças com relação à participação direta ou indireta das Big Techs como plataformas de intermediação destes negócios, assim como a profunda vinculação e interconexão entre financeirização, rentismo e plataformização.

Esse novo caso permite mais uma leitura sobre o profundo nexo entre tecnologias e finanças com uso das plataformas digitais como infraestruturas que lubrificam, dão fluidez e concentram o capital nas mãos do Big Money. Big Techs como tecnologia e infraestruturas do Big Money que dirige esse processo.

O fato da operação de câmbio originada pela oportunidade do tarifaço ter sido realizada por robôs e plataformas financeiras, não invalida a hipótese de originalmente alguém ter recebido a informação e operado no sistema (informação privilegiada "insider trading"), em que os robôs podem ter servido para esconder e embaralhar autores, ampliando a escala dos ganhos e não impede que se chegue aos seus controladora e autores da operação. Basta seguir a investigação. Follow the Money! (Siga o dinheiro)!

PS.: Atualizado às 12:20: Para breve acréscimo.


Notas:
[1] Reportagem Agência o Globo/Valor em 22 jul. 2025. Técnicos do BC identificam operações com dólar pulverizadas e feitas por robôs antes de anúncio de ‘tarifaço’ - Levantamento inicial apontou movimentação vultosa de compra e venda de dólares no mercado de câmbio americano após Trump ter sinalizado, antes do anúncio oficial, que o Brasil poderia ser taxado. Disponível em: https://valor.globo.com/financas/noticia/2025/07/22/tcnicos-do-bc-identificam-operaes-com-dlar-pulverizadas-e-feitas-por-robs-antes-de-anncio-de-tarifao.ghtml?


[1] PARANÁ, Edemilson. AI as Financial Infrastructure? Part IV, cap.31, p.386-400 In: Digital Technologies and the Future of Financial Infrastructure. Publicado on-line pela Cambridge University Press: 21 de maio de 2025. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/books/cambridge-global-handbook-of-financial-infrastructure/ai-as-financial-infrastructure/8C428D51F19AFBA4438523BA5292AF34

[2] LANGLEY, Paul. Assets and assetization in the financialized capitalism. 2020.

segunda-feira, julho 21, 2025

Cartões de crédito x Pix e o esperneio de Trump-Bolsonaro

A facilitação dos meios de pagamento amplia a fluidez do dinheiro. O avanço da bancarização com fintechs (bancos digitais) mais a oferta de cartões de crédito e débito fazem parte dessa realidade.

Imagem gerada por IA.
Colaboração Wellington Abreu
.

Essa trajetória passa pela digitalização bancária lá atrás (década de 80) chamada de informatização, a seguir chegam os caixas automáticos, acesso aos serviços dos bancos via internet, depois os aplicativos (APPs) com o celular móvel (regime online 24/7) e vão desembocar no instrumento do Pix controlado pelo Banco Central do Brasil (BCB).

Como tudo que diz respeito ao avanço da digitalização, há sempre várias contradições entre vantagens e desvantagens, riscos e oportunidades. Facilidade do usuário x exposição dos seus negócios (dados bancários) e propriedade do dinheiro e transações. Isso remete a uma antiga brincadeira entre amigos que dizia ser tal como a família: ora faz falta, ora faz raiva (sic). Ou seja, a direção e o uso da inovação e da tecnologia dependem de quem a controla.

Assim, a fluidez transfronteiriça do capital realiza um dos sonhos originais e básicos do capitalismo. O desejo que o capital no andar superior da pirâmide possa fluir sem obstáculos a qualquer tempo e lugar. Visto dessa forma, fica também um pouco mais fácil, compreender porque também chegamos à hegemonia financeira na contemporaneidade.

Pois bem, a partir desses considerandos, observemos o avanço das transações em cartões de crédito e/ou débito e também a entrada em novembro de 2020, em plena Pandemia, do instrumento do Pix no Brasil, após anos de desenvolvimento por técnicos do Banco Central e inicial rejeição dos bancos comerciais.

Em junho de 2024, segundo o Banco Central do Brasil (BCB), em seu relatório “Estatísticas de Pagamento em Varejo e Cartões de Crédito no Brasil” o número de cartões de crédito ativos no Brasil era de 221,2 milhões, maior que a população do país. Já o número de cartões de débito ativos no Brasil era de 162 milhões.

Ainda com dados de 2024, as transações em cartões de crédito tinham sido 2,8 vezes maiores que as realizadas no débito, segundo dados da Abec (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito). Também em 2024, o valor transacionado em cartões de crédito e débito chegou a R$ 4,1 trilhões, sendo R$ 2,8 trilhões em crédito; R$ 1 trilhão em débito e o restante em pré-pago e outros. É importante ainda registrar que em 2024, os parcelamentos sem juros, representou 41% do valor transacionado no cartão de crédito.

Considerando a média que fica retida pela bandeira do cartão é de aproximadamente 2,2% no crédito e 1% no débito, é possível estimar que essas grandes empresas de cartão ficaram com pelo menos R$ 75 bilhões ou US$ 13,5 bilhões, a maior parte sendo enviada aos EUA e origem da chiadeira de Trump e dos EUA na sua imperial taxação ao Brasil.

Dentro do universo de 221 milhões de cartões de crédito existentes no Brasil, as bandeiras de cartão mais fortes e presentes até aqui são das americanas Mastercard com 131,8 milhões, seguido da Visa com 72,6 milhões. Em terceiro vem a bandeira brasileira Elo, controlada pela holding EloPar (BB e Bradesco) e CEF com 9,2 milhões de cartões.

É nesse processo que o instrumento do Pix criou embaraços para o avanço dos cartões de débito e crédito no Brasil. Esse meio de pagamento crescia na ordem de 36% em 2021, tendo passado a pouco mais de 3% nos anos 2023 e depois 2024, embora ainda em crescimento. Em 2024, o número de transações via cartões foi de 45,7 bilhões. Enquanto isso, o Pix atingiu a marca de 63,8 bilhões de transações, com um crescimento de 52% em relação a 2023, tendo movimentado R$ 26,4 trilhões em 2024 com recorde diário de transações de 276,7 milhões de operações.

Assim, o Pix se consolidou, de forma definitiva, como o meio de pagamento mais utilizado no Brasil, superando a soma de todas as demais transações realizadas por cartões de crédito, débito, boletos, TED, cartão pré-pago e cheques, segundo dados da Febraban (Federação Brasileira de Bancos). 

Até aqui, o impacto do Pix foi sobre o pagamento no cartão via débito em conta. Certamente se ampliará para o crédito com a entrada em vigor, prevista pelo Banco Central (BC) para setembro próximo, da funcionalidade do parcelamento via Pix. Os dados permitem interpretar que com a entrada em vigor do parcelamento via Pix, os impactos sobre as transações nos cartões serão bem mais fortes.

Todo esse percurso que se amplia dia a dia com a maior digitalização, IA, clouds, computação quântica, etc., evidencia a hegemonia financeira no mundo contemporâneo, da propriedade do dinheiro sem a necessidade do papel-moeda, só como informação concentrada e, ao mesmo tempo, fluida.

Para terminar, vale ainda lembrar e destacar, em importante resgate histórico, que o Brasil é um dos precursores no mundo na informatização dos bancos, num processo depois copiado e ampliado, mundo afora, já como digitalização com uso de vários tipos de plataformas. Um termo, aliás, que nasce nos bancos físicos, nos espaços com um tablado acima do piso original, como destaque, onde gerentes e donos de grandes depósitos, realizavam negócios de crédito e que hoje se espalhou com as hoje conhecidas plataformas digitais. [Adiante penso em resumir num artigo este contexto histórico]

Um processo que venho chamando de plataformização, como infraestrutura de intermediação (meio de produção e meio de comunicação) conectando de forma online e ininterrupta todos durante todo o tempo e em qualquer lugar, sejam cidadãos, produtores, consumidores, fornecedores ou apanhadores de crédito, demandadores e ofertantes de serviços, etc.

Enfim, parodiando o personagem Hamlet de Shakespeare, há mais coisas entre o pix, as operadoras de cartões de crédito e os arroubos imperiais de Trump, do que supõe a nossa vã filosofia.

PS.: Atualizado às 15:24 para breve acréscimo no texto.

sexta-feira, julho 11, 2025

Segue ampliando o gigantismo, concentração e dominação das Big Techs

O gigantismo das Big Techs, maior oligopólio da história da humanidade e razão de muitas decisões geopolíticas do presente, segue se ampliando de forma cada vez mais acelerada. Processo de dominação tecnológica aliada à hegemonia financeira.

O quadro comparativo acima mostra as 10 maiores Big Techs e as 10 maiores petroleiras (as Big Oil) que historicamente exerciam essa liderança e concentração agora completamente superada.

Pela 1ª vez, uma big tech (NVidia) chega em valor de mercado (capital fictício) aos US$ 4 trilhões. NVidia e Microsoft sozinhas valem o dobro petroleira saudita Saudi Aramco. As 10 maiores Big Techs juntas valem US$ 20,4 trilhões, enquanto as 10 maiores petroleiras do mundo somam US$ 3,3 trilhões. Ou seja, as Big Techs valem 6,4 vezes mais que as Big Oil. 

Há 2 anos essa relação era de 3X. Há um 1 ano era 4X. Agora 6,4 vezes. O gigantismo e a dominação se aceleram, porque é um setor transversal que perpassa todos os demais.

São números e valores espantosos e que tendem a aumentar com a ampliação do uso da internet e das plataformas de IA. Hoje cerca de 70% (apoximadamente 2/3) da população mundial usa internet, segundo a UIT (International Telecommunication Union), que prevê que até 2030, já se tenha superado o número de 6 bilhões de usuários. 

Agora, em 2025, já se fala em 1 bilhão de usuários de plataformas de inteligência artificial (IA). Tudo isso potencializa e amplia o uso, o tempo de navegação na internet, plataformas de e-commerce, IA, etc. e acima de tudo, os lucros e os valores de mercado das Big Techs que atuam como plataformas-raiz.

Essa realidade reforça a interpretação sobre o Tripé do Capitalismo Contemporâneo, que é composto de três bases. A primeira é a digitalização (plataformização) como novo fator de produção que é parte da atual reestruturação produtiva e decorre da aceleração da inovação e da onda tecnológica atual; a segunda é a hegemonia financeira; e a terceira base do tripé é a racionalidade neoliberal.

Conforme direção e controle que se dê à enorme onda da inovação tecnológica que explodiu com a internet móvel, infraestrutura digital, extração e lógica da hiperpersonalização dos dados, algoritmos, IA, computação quântica, etc.

Nenhuma tecnologia é neutra e pode ser usada a favor da maioria das populações, assim, a sua direção e controle é que determinam as consequências da sua implantação. O crescimento que pode levar à concentração da riqueza e exploração da maioria ou à sua distribuição.

PS.: Atualizado às 16:54 e 17:08 para breves acréscimos no texto.

quarta-feira, julho 09, 2025

A relação entre o dedo mindinho, nossas cabeças e o cyborg individualizado

A deformação do dedo mindinho pelo uso sistemático do celular é uma comprovação de que, sem perceber (?), a humanidade avançou para o modelo-homem-máquina (cyborg) com a tecnologia funcionando como extensão das capacidades do humano, espécie de “homo technologicus” [1]

De uma forma geral o uso intensificado do celular e sua tela em cerca de 8/10/12 horas por dia para comunicação familiar, de trabalho, social e/ou lazer, reforça a ideia sobre como a expansão desse modelo já age fortemente sobre o nosso cérebro e sobre a forma como nos entendermos como gente e também sobre nossa posição no mundo.

Essa é uma constatação que espanta. Porém, deveria espantar mais o fato desse processo estar transformando nossa cultura e nossa ideologia sem que geralmente queiramos enxergar isso criticamente.

Entendo que não caiba se falar em maldição da tecnologia. Embora ela nunca seja neutra. O uso e o controle, em especial da tecnologia digital (incluindo IA), está produzindo transformações profundas nas relações sociais e nas relações de poder.

Não parece se tratar apenas de uma onda sobre uma nova tecnologia, depois de tantas outras como o trem, a eletricidade, o carro, telefonia, etc. São várias transformações juntas, telefonia móvel, internet, comunicação online 24/7, plataformas/aplicativos, mídias sociais, inteligência artificial que parece atingir mais profundas a sociedade. As pessoas estão conversando e já amigas "íntimas" das IAs que estão agindo por tudo que é canto, em produtos, serviços e dispositivos que usamos diariamente e nem sabemos. 

Penso que esse vagalhão de inovações tecnológicas sobrepostas deveria nos sugerir formas de repensar a administração do uso conjunto dessas ferramentas da tecnologia digital. Considero que poderíamos, avaliar melhor e só absorver aquilo que se apresenta como positivo, relativizando ou descartando, o que já se apresenta danoso. 

Nesse percurso há questões e decisões de ordem coletiva que têm que ser implantas, como a imposição de regras e regulações. Outras, podem ser encaminhadas como resoluções individuais em diversas dimensões, desde formas e tempo de uso, aos tratamentos psicológicos e/ou psiquiátricos.  

Além disso, parece que já passamos da hora de buscar formas de também re-valorizar as relações físicas entre os humanos, porque é a partir do convívio com o outro que nos enxergamos como sujeito e como parte de um contexto de relações sociais.

Observamos várias manifestações de preocupação e algumas boas iniciativas na direção de se repensar essa realidade. A proibição do uso do celular em sala de aula é uma delas, mas é preciso ir bem além. As mídias sociais controladas pelas big techs precisam urgentemente de regras claras e firmes.

Porém, volto ao início. O fato de já termos nos transformado numa espécie de cyborg, também pode ser menos importante, desde que enxerguemos que a nossa parte humana ainda mantenha a empatia e indispensável virtude da solidariedade, o extremo oposto da individualização que esse "modelão" vai nos empurrado em nosso cotidiano acelerado. É necessário superar o isolamento da individualização e é possível superar a "epidemia da solidão".

A vida pós-moderna contemporânea tem sido um emaranhado labiríntico, onde a racionalidade neoliberal se impõe produzido em larga escala, esse sujeito que se faz e vive por e para si próprio. Talvez, isso explique em boa parte o sentimento entendiante e de ansiedade que cerca boa parte da sociedade contemporânea.

Entender as causas desses sentimentos, seus significados e suas consequências, podem nos ajudar a avançar em alternativas coletivas para além dos recursos e tratamentos individuais que negam as causas coletivas do realismo capitalista [2].

 

Referências:

[1] SULEYMAN, Mustafa; BHASKAR, Michael. A próxima onda: Tecnologia, poder e o maior dilema do século XXI. Editora Record. Rio de Janeiro, 2023.

[2] FISHER, Mark. Realismo capitalista: é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo? Autonomia Literária. São Paulo, 2022.

terça-feira, junho 24, 2025

Eleições 2026 com IA "íntima" e anúncios direcionados e hiperpersonalizados bem além das fake news, por James Görgen

Como já comentamos aqui algumas vezes, o cenário para as eleições de 2026 no Brasil com o intenso e crescente uso das mídias sociais, acrescido do estreitamento das articulações entre as Big Techs e a extrema-direita brasileira, prometem uma avalanche de riscos que saltam à escolha democrática de nossa população. 

Em 2018, 2020, 2022 e 2024 já foi bastante difícil esse enfrentamento. Em 2022, o TSE teve papel de destaque, porém, a avalanche que se vislumbra para 2026, é ainda mais grave, em decorrência de novos instrumentos digitais disponíveis e das incapacidades dos Estados-nacionais em lidar com essas ameaças diante das acusações de censura e falta de liberdade que a extrema-direita alega, para que possa fazer o que quiser, sem respeito aos marcos legais e ao estado democrático e de direito. 

James Görgen, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental é hoje no Brasil, um dos melhores intérpretes sobre a geopolítica e a soberania digital, com leituras totalizantes e em várias dimensões combinando a compreensão do uso da tecnologia e suas repercussões na sociedade e estados nacionais. James tem ido além de apresentar disgnósticos e quase sempre também aponta caminhos não apenas para a resistência, mas tem seguido na linha de propor saídas para a sociedade e suas instituições avançarem na construção de alternativas. O texto abaixo é uma dessas boas leituras sobre as ameaças para as próximas eleições no Brasil, quando Görgen aponta questões ainda pouco conhecidas para a maioria. Vale conferir! 


Afetos artificiais e publicidade opaca nas eleições 2026*
 Por James Görgen** - 22/6/2025

Sempre que o período eleitoral bate às portas no Brasil, tendemos a nos dar conta de várias lições de casa por fazer. No campo do digital, 2024 para cá algumas novidades tornaram a tarefa de regular a difusão de informação e propaganda política nas redes bastante desafiadora. Considerando que os prazos para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovar as resoluções que vão regular o comportamento dos eleitores, dos partidos, dos candidatos, suas campanhas e dos financiadores se encerram nos primeiros meses do próximo ano, cabe trazer alguns novos elementos para este debate no que diz respeito à Internet e seu entorno.

Na semana passada, a Meta anunciou[1] que o WhatsApp passará a veicular publicidade e promover conteúdos nos próximos meses[2][3]. E que os dados dos usuários do Facebook e Instagram poderão ser usados para formar os perfis para o direcionamento dos anúncios. A empresa garantiu que o conteúdo das conversas (aba “conversas”) não será usado para isso e que os comerciais apareceram em uma barra à parte. O que a empresa ainda não esclareceu é se o 1,5 bilhão de usuários poderão optar por não receber mensagens publicitárias e se esta opção será feita de forma transparente. Não ficou claro, também, se a opção se dará por default ou em um ato posterior. Por fim, não foi comunicado se o assistente virtual de inteligência artificial embutido no aplicativo coletará dados das consultas efetuadas para também formar o perfil do consumidor. Consumidor aqui entenda-se no sentido lato, incluindo eleitor que “consome” propaganda política. A cereja do bolo é o XChat[4], aplicativo de mensageria que o bilionário Elon Musk irá acoplar à sua rede social e que deverá enveredar pelo mesmo caminho da publicidade em busca de novas receitas para o ex-Twitter.

Em outra seara, reportagens em vários jornais e pesquisas científicas estão mostrando que os usuários de chatbots de IA passaram a priorizar conversas íntimas e afetivas com os sistemas no lugar de tarefas que tinham se tornado usuais no caso de IA generativa, ou seja, gerar ideias. Do ano passado para cá, esta opção foi desbancada por suporte emocional ou acompanhamento[5]. Reportagem do The New York Times[6] narrou casos de pessoas que se suicidaram ou se apaixonaram por conta de conversas entabuladas na privacidade de um prompt. Ninguém sabe o que se passa, alegam alguns. Mas não é bem assim. O sistema que absorve estes dados não só sabe como os usa para várias tarefas. The Washington Post[7] e outros veículos revelaram que aplicações disponíveis na loja de IA da Meta permitem que você conheça algumas destas perguntas sem que o responsável por elas saiba que está sendo exposto.

Muito além das fake news

Mais do que um alerta para que você tome cuidado sobre o que fala para seu empático amigo — ou amiga — digital, ou cuidados sobre sua saúde mental e perda de cognição[8], pense onde tudo isso pode nos levar em outras áreas. Por exemplo, no campo da democracia e da política. E coloque de um lado, por um momento, o debate sobre fake news, robots e gabinetes do ódio que dominam a cena desde, pelo menos, o escândalo da Cambridge Analytica em 2016.

Para o pleito do ano que vem, entram em cena também estas duas variáveis: os acompanhantes — ou assistentes — de IA e a publicidade nos serviços de mensageria. Isso significa que mais que a desinformação textual e a manipulação de imagens, vídeos e áudios, conteúdos gerados por algoritmos pouco transparentes, portadores de vieses sem escrutínio, poderá causar tanto estrago quanto a mentira lançada no ventilador virtual. Mais do que isso, a intimidade e os afetos que começamos a trocar com estes sistemas, além dos dados privados que geramos nas redes sociais, acabarão podendo ter influência sobre o voto de indecisos e mesmo eleitores convictos.

Simulando cenários

Imagine a cena: uma jovem de 19 anos, desempregada, estudante do ensino médio e com problemas de auto-estima que está em dúvida sobre quais critérios deve levar em consideração para exercer seu voto. Ela pergunta a seu chatbotpreferido quais são os critérios a serem observados para fazer uma boa escolha. No processo de elaboração da resposta, o software pode vir a considerar todas as conversas anteriores que essa jovem teve com sua interface, seus segredos mais íntimos, seus medos e anseios, até suas perguntas mais non-sense. Ao ler o conteúdo gerado pela máquina, a jovem então faz a pergunta derradeira: qual dos candidatos A, B e C se enquadram melhor nestes critérios? A resposta, convincente mesmo que equivocada como costuma ocorrer com estas ferramentas, será encarada como algo tão determinante e relevante quantos os demais resultados de outras indagações existenciais. E o mesmo processo de não checagem dos fatos que se passa nas redes sociais deverá prevalecer. Possivelmente, valerá o veredicto elaborado de forma empática pela caixa-preta.

Imagine uma outra cena: um usuário com contas em duas redes sociais famosas de uma mesma empresa se manifesta livremente sobre os mais variados assuntos. Curte textos, compartilha opiniões, assiste a vídeos. Sem advertência clara, ele não desconfiará que estes dados estão servindo para a mesma empresa traçar seu perfil a fim de entregar-lhe mensagens publicitárias em seu aplicativo preferido de comunicação interpessoal. Que, por coincidência, pertence ao mesmo conglomerado. Em seguida, começa a corrida eleitoral e ele passará a receber conteúdos — falsos ou não — contra ou a favor um determinado candidato. O potencial de estrago pode ser agravado se ele também usa o assistente virtual de IA do serviço de mensageria para trocar confidências ou pesquisar sobre assuntos diversos. Tudo isso vira matéria-prima para as campanhas de marketing. E o pior cenário: para propaganda gerada por “anunciantes” pouco éticos e de origem duvidosa trabalhando para um candidato de mesma estirpe.

Missão complexa

Ou seja, o que vamos viver na campanha eleitoral do ano que vem é o que assistimos em anos recentes agravado pelo fato de que a fiscalização agora será praticamente impossível porque se dará no âmbito da intimidade, com informações aparentemente confiáveis que nem sempre serão inverídicas. Como se estivéssemos conversando com um amigo na mesa de bar sobre as angústias pré-eleitorais. E isso será vivido novamente sem uma lei que regule as plataformas e os assistentes de IA porque será muito improvável o Congresso aprovar duas leis tão complexas em tempo hábil para o próximo pleito.

Isso nos leva a duas tarefas muito concretas para 2026 se quisermos continuar fortalecendo a democracia e a lisura do processo eleitoral, tão questionado, no Brasil. Uma delas compete ao TSE. Escutar a sociedade para criar normas que permitam algum tipo de regulação sobre os chats de IA e a publicidade nos serviços de mensageria. Aqui vale lembrar que no pleito de 2024 nos Estados Unidos, as próprias empresas trataram de frear seus chatbots [9]para não responderem perguntas que mencionassem candidatos ou abordassem as eleições. Classificada como censura por alguns, a medida contribuiu para haver menos ruído e desinformação no pleito. Acredito ser importante a Corte brasileira propor que estas duas novas variáveis sejam incluídas na escuta pública que colherá subsídios para as resoluções que regrarão a próxima corrida eleitoral.

Outro trabalho caberá aos eleitores e aos partidos. Criar forças-tarefa para monitorar as mensagens que estão sendo dirigidas a cada usuário do WhatsApp ou do XChat, por exemplo, poderá servir como prova para processos junto à Justiça Eleitoral e, no extremo, por impugnação de candidaturas. O mesmo será muito difícil de estabelecer para os “terapeutas” virtuais porque isso se dará na privacidade de seu telefone. Mas o que pode ser feito é testar estes novos oráculos com a simulação de perguntas que podem revelar vieses ou campanhas dirigidas por uma ou outra aplicação.

Portanto, mais do que aprender com as big techs como gravar um bom vídeo para arrasar nas redes sociais com sua propaganda de candidato, em 2026 o olhar-cidadão e os prompts cívicos serão uma arma tão importante quanto o título de eleitor. Se conseguirmos passar a usar IA para afastar de nossa democracia fantasmas não muito distantes, a tecnologia já terá demonstrado seu valor para a sociedade como um todo. Cabem aos partidos e candidaturas democráticas pensarem na melhor estratégia para ir além da denúncia de desinformação. E, aos tribunais eleitorais, criar ferramentas digitais que possam ajudar na tarefa do eleitor em fiscalizar estas novas armadilhas.


* Publicado originalmente no Medim.com - Notas da Floresta Digital
** Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental.

Notas e referências:


[2] Conforme o anúncio da empresa, a entrada de conteúdo promovido envolve os seguintes serviços no aplicativo:

“Assinaturas de canais: Você poderá apoiar seu canal favorito, como sua rede de notícias favorita, inscrevendo-se para receber atualizações exclusivas por uma taxa mensal.

Canais promovidos: Nós o ajudaremos a descobrir novos canais que podem ser interessantes para você quando estiver pesquisando no diretório. Pela primeira vez, os administradores de canais têm uma maneira de aumentar a visibilidade de seus canais.

Anúncios no status: Você poderá encontrar uma nova empresa e iniciar facilmente uma conversa com ela sobre um produto ou serviço que ela está promovendo no Status.”








segunda-feira, junho 23, 2025

Invasão do Irã terá que ser abordada na cúpula do Brics daqui a 2 semanas no Rio

A disputa geopolítica pelo chamado Oriente Médio (Oeste da Ásia) é antiga, antes, basicamente, por conta do recurso energético petróleo, mas hoje, como porta de entrada para um maior e disfarçado enfrentamento com o Brics (e China) que já tinha aumentado a presença dessa região na sua composição. Israel sempre foi o cão de guarda dos EUA naquela região e o Irã seu maior contraponto.

Por tudo isso, queiramos ou não, o atual conflito, obrigatoriamente, se estenderá à reunião dos Brics que acontecerá daqui a duas semanas, exatamente no Brasil, nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro.

Embora o Brics não seja um bloco político e sim um potente bloco econômico-comercial, não tem como não tratar do caso do Irã (e da guerra contra Israel com apoio dos EUA), considerando que, em 2024, essa nação já tinha passado à condição de novo membro com a expansão do grupo original de países, junto com a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia que agora constituem o Brics+, se somando ao Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul.

Num mundo em ebulição geopolítica e geoeconômica com riscos tão eminentes de conflito nuclear, fracasso da ONU e da ordem mundial, com os países-nação tendo que se virarem por si, há que se ver como um bloco de países com tal dimensão como o Brics+ (que já avaliava nova expansão) se portará nesse mundo em profunda transformação.

É inaceitável a preponderância do uso da força como forma de construir a paz sob a velha lógica imperial. O Brics surgiu da vontade de romper a unipolaridade e avançar numa perspectiva da multilateralidade. A ver!

quarta-feira, junho 18, 2025

Encontro em Brasília (8 e 9 julho) do ciberativismo progressista em defesa da soberania cibernética

Publicamos abaixo um artigo divulgado (aqui) do jornal GGN do Nassif sobre a organização de um encontro em Brasília nos próximos dias 8 e 9 de julho, em defesa da soberania digital no Brasil e contra a ofensiva da extrema-direita em conluio com as Big Techs. 

Seus autores, Reynaldo Aragon e Uirá Porã se reportam a um artigo com questionamentos do Luiz Nassif que indagou sobre a posição histórica do movimento do software livre, coletivos de ciberativismo, academia, sindicatos e mídia progressista no Brasil sobre essa aliança entre a extrema-direita global e do Brasil com as gigantes corporações de tecnologia. 


A Tribo Está de Pé: Soberania Já! 
Por Reynaldo Aragon e Uirá Porã

Em resposta ao chamado de Luís Nassif, o movimento do software livre, coletivos de ciberativismo, academia, sindicatos e mídia progressista se levantam. Nos dias 8 e 9 de julho, em Brasília, começa a construção das trincheiras da soberania digital contra a ofensiva da extrema-direita e a captura das instituições pelas Big Techs.

O Chamado Foi Ouvido.
Quando uma voz como a de Luís Nassif ecoa no deserto da informação sequestrada, não há como fingir que não ouvimos. Seu artigo recente — “A hora de convocar a tribo do software livre” — não foi apenas uma coluna: foi um gesto de reencontro com um Brasil que ainda insiste em resistir. Um Brasil que acredita que a tecnologia pode ser uma ferramenta de emancipação coletiva e não um instrumento de dominação algorítmica.

O movimento do software livre, como tantas outras redes vivas da sociedade brasileira, recebeu esse chamado com emoção e com urgência. Porque não se tratava apenas de nostalgia — tratava-se de memória ativa. E memória ativa, em tempos de guerra híbrida, é trincheira. É código. É povo.

O texto de Nassif resgata não só uma história de luta, mas nos convoca a reescrevê-la. E é por isso que viemos a público: para dizer que estamos aqui. Que a tribo ainda existe. Que ela se organizou. Que ela está de pé. E que em Brasília, nos dias 8 e 9 de julho de 2025, ela vai se encontrar. Não para celebrar o passado, mas para construir as defesas do futuro.

A Tribo Está de Pé – O Encontro em Brasília.
A chama que parecia dispersa reacendeu. Não foi por acaso. Ao longo dos últimos anos, mesmo nas sombras, mesmo nos subterrâneos do algoritmo, a tribo nunca deixou de existir. Resistimos nas margens da política institucional, nas linhas de código escritas em silêncio, nos servidores mantidos à unha, nas oficinas comunitárias, nas redes federadas, nas universidades públicas, nos becos do país real. E agora, convocados pela urgência do tempo e pela lucidez do chamado, decidimos romper o silêncio.

Nos dias 8 e 9 de julho de 2025, em Brasília, realizaremos o Encontro Nacional “Soberania Já!” — uma aliança inédita entre o movimento do software livre, coletivos de ciberativismo e hackerativismo, universidades públicas, sindicatos, movimentos sociais, desenvolvedores autônomos, comunicadores populares e frentes progressistas que ainda acreditam no papel histórico da soberania digital como fundamento da democracia.

Não será apenas um evento. Será uma convocação — uma resposta articulada à ofensiva coordenada da extrema-direita algorítmica e às tecnologias de desinformação que vêm desestabilizando as instituições, os corpos e as consciências. Brasília será nossa fogueira: ali nos reuniremos para traçar estratégias, partilhar tecnologias livres, definir princípios comuns e declarar, em alto e bom som, que não aceitaremos a tutela das Big Techs sobre o destino do país.

A Guerra Já Começou – O PL, as Big Techs e a Nova Direita Digital
Não se trata mais de prever. Está em curso. A guerra informacional já começou — e seus generais não estão em Brasília, mas em São Francisco, Palo Alto, Menlo Park e no coração de plataformas que fingem neutralidade enquanto operam uma engenharia precisa de desestabilização democrática.

O que vimos este ano, no evento do PL em Fortaleza, com a participação oficial de representantes da Google e da Meta, não é apenas uma aberração institucional: é um marco histórico. Pela primeira vez, plataformas privadas norte-americanas se sentaram à mesa com o partido que lidera a extrema-direita brasileira para oferecer treinamento, recursos e tecnologia. O que ali se selou não foi uma oficina, foi uma aliança.

Uma milícia informacional oficializada, bancada por corporações que se beneficiaram, enriqueceram e cresceram com a radicalização digital no Brasil. Empresas que lucraram com o ódio, com o negacionismo, com os ataques às urnas eletrônicas, à imprensa livre e aos direitos fundamentais. Agora, retornam, não como culpadas, mas como parceiras estratégicas de quem ameaça a democracia.

Não estamos mais diante de um risco difuso. Estamos diante de uma plataforma de guerra híbrida sendo institucionalizada, testada e refinada para 2026. E quem não enxergar isso está cometendo, mais uma vez, o erro fatal de subestimar o inimigo.

Um Alerta à Esquerda – O PT Não Pode Errar de Lado.
Dói escrever essas linhas, mas o silêncio seria cumplicidade. Nos últimos dias, a imprensa noticiou que, após recusar um convite da Meta, o Partido dos Trabalhadores agora considera organizar uma “oficina com as Big Techs” para formação de quadros. A alegação: “após a eleição interna, haverá interesse em treinamento”.

Isso é um absurdo histórico e ético. Não há neutralidade possível entre democracia e desinformação. Google, Meta, X, Amazon e tantas outras plataformas transnacionais são parte estrutural do problema. Foram elas que ofereceram os palanques, os algoritmos e os lucros para o bolsonarismo florescer. Foram elas que fecharam os olhos — ou pior, colaboraram — enquanto as instituições democráticas brasileiras eram sistematicamente atacadas.

Como pode o partido que mais sofreu com o lawfare, com a manipulação da opinião pública, com os ataques algorítmicos, agora pedir formação técnica a seus algozes?

Não se trata de ingenuidade — trata-se de desorientação estratégica. Em vez de reconhecer o acúmulo dos movimentos populares, das universidades públicas, dos coletivos técnicos, da ética hacker, o partido olha para o topo da cadeia tecnológica e estende a mão a quem conspira contra a soberania nacional.

Queremos dizer com clareza: o campo democrático não precisa das Big Techs para enfrentar a extrema-direita. Precisa é romper com elas. Precisa construir, junto aos que jamais se renderam, uma estratégia digital baseada em soberania, infraestrutura livre e tecnologias populares. Qualquer outro caminho é armadilha.

O Projeto Existe – O Brasil Participativo Ignorado
Não falta proposta. Não falta acúmulo técnico. Não falta mobilização popular. O que falta — e segue faltando — é vontade política de escutar quem constrói soberania de verdade.

A proposta “Serviço Digital Brasileiro – Inovação e Liberdade: Soluções Livres para Desafiar as Big Techs”, construída por dezenas de ativistas, desenvolvedores, pesquisadores e militantes da liberdade tecnológica, foi a mais votada na categoria Ciência e Tecnologia da plataforma Brasil Participativo. Um feito político e simbólico. Uma demonstração viva de que o país real quer outra direção: infraestrutura descentralizada, software livre, tecnologias públicas, respeito à diversidade cultural e inclusão digital de base.

E o que fez o governo federal diante disso?

Nada. Silêncio. Esquecimento.

A proposta, legitimada democraticamente por centenas de votos, foi ignorada. Nenhuma menção, nenhum aceno, nenhuma tentativa de interlocução. Como se a soberania digital fosse assunto secundário. Como se a guerra híbrida não estivesse nas portas. Como se os saberes acumulados por essa “tribo” há mais de duas décadas não tivessem importância alguma.

Esse desprezo institucional é mais do que um erro: é uma oportunidade desperdiçada. E pior — é um sinal perigoso de que setores do governo ainda não compreenderam quem são os verdadeiros aliados da democracia e quem são seus sabotadores travestidos de prestadores de serviço.

O Que Está em Jogo em 2026
O que se avizinha não é uma eleição. É uma batalha decisiva na guerra híbrida que já ceifou democracias ao redor do mundo e colocou o Brasil como seu principal laboratório. 2026 não será apenas uma disputa de votos, será uma disputa de realidades, de percepções, de narrativas moduladas por algoritmos que não respondem a nenhum código de ética, apenas à lógica do lucro e do controle.

A extrema-direita brasileira vem mais preparada, mais digitalizada, mais articulada com o submundo das plataformas, com as consultorias privadas de inteligência de dados, com a manipulação automatizada da opinião pública. Eles têm robôs, rastreadores de comportamento, campanhas gamificadas, perfis fantasmas, publicidade camuflada, deepfakes e redes coordenadas. E agora, têm também o apoio formal das Big Techs.

Se nada for feito, 2026 será não apenas a repetição de 2018 — será sua evolução. Mais técnica, mais disfarçada, mais difícil de conter. Não será só a mentira que vencerá. Será a verdade que perderá acesso aos meios de existir.

E a pergunta central é: com que infraestrutura o campo progressista pretende enfrentar esse desafio? Com oficinas do Google? Com workshops do Facebook? Ou com redes autônomas, servidores descentralizados, tecnologias livres e estratégias construídas com o povo, para o povo?

Não há vitória possível sem soberania. Não há soberania possível sem ruptura com os monopólios da manipulação.

A Convocação – De Nassif para Todos Nós
Este artigo é, antes de tudo, uma resposta. Mas é também um gesto de retribuição, um eco do chamado de Nassif. Quando ele escreveu que era hora de convocar a tribo do software livre, ele sabia que falava com mais do que desenvolvedores: falava com os inconformados. Com os que ainda acreditam que há luta possível para além das instituições capturadas. Com os que resistem ao silenciamento de uma internet cada vez mais fechada, comercial, colonizada.

Pois aqui estamos, Nassif. A tribo ouviu. E não está só.

Convidamos você — e a todas e todos que mantêm a imprensa livre de pé, a crítica viva e a esperança informada — a se juntar a nós. Precisamos da sua voz, da sua palavra, da sua história e da sua coragem. Precisamos de jornalistas como você, como Leandro Fortes, Márcia Tiburi, Florestan Fernandes Jr., Cynara Menezes, Kiko Nogueira, Dríade Aguiar, Jamil Chade, Hildegard Angel, Chico Pinheiro, Sara Goes, Altamiro Borges, Natália Viana, Breno Altman, Amanda Audi, Rodrigo Vianna, e tantos outros que enfrentaram o tempo da mentira organizada com dignidade e compromisso com o país. Pedimos ajuda — porque construir trincheiras não se faz apenas com código, mas com comunicação, narrativa e consciência coletiva. Sem a presença ativa do jornalismo progressista, o ataque à democracia será completo.

Nos dias 8 e 9 de julho, em Brasília, faremos o Encontro “Soberania Já!”. E queremos vocês lá. Não como plateia, mas como parte da frente de batalha. O que está em jogo não é um projeto de software, é o próprio direito de existir como povo soberano em um país que não se ajoelha aos algoritmos de fora.

Conclusão – As Trincheiras da Esperança
Há algo profundamente poético — e político — em ver o reencontro entre jornalistas progressistas, pessoas programadoras do software livre, sindicatos, movimentos sociais e a juventude hacker. São elas, juntas, que estão cavando as primeiras trincheiras da esperança num território tomado por desinformação, ódio e colonialismo digital.

Mas não se engane: essas trincheiras não são metáforas. São reais. São servidores autônomos sendo ativados. Plataformas federadas sendo construídas. Protocolos públicos sendo testados. Aplicativos comunitários ganhando vida. Comunicação alternativa se reorganizando. E, agora, pela primeira vez em muito tempo, todos esses esforços convergem para um mesmo chão: Brasília, julho de 2025.

O que começa ali não é um evento, é uma virada. É a inauguração de um campo de resistência informacional para o que virá em 2026. Porque não enfrentaremos a máquina da extrema-direita com protocolos da direita moderada. Não se combate colonialismo digital com cursos do colonizador. Não se enfrenta a distopia algorítmica com “inovação” de mercado.

Venceremos com soberania. Com solidariedade. Com a beleza de quem sonha junto. E com a convicção visceral de que a democracia que ainda queremos viver depende da infraestrutura que estamos começando a construir agora.

Nos vemos em Brasília.

Nas trincheiras da liberdade.

No futuro que ainda é possível.

A atividade está sendo organizada conjuntamente pela Campanha Internet Legal, pela Rede pela Soberania Digital e pelo Núcleo de Estudos Estratégicos em Comunicação, Cognição e Computação (NEECCC – INCT DSI), com apoio de diversas entidades comprometidas com a democratização da comunicação, a soberania informacional e os direitos digitais no Brasil. Assinam este chamado e convocam para o encontro Soberania Já! (Brasília, 8 e 9 de julho de 2025).