Assisti uma sensacional entrevista feita por Jorge Pontual para o programa Milênio da Globo News com a cientista política Jane Mansbridge da Universidade de Harvard. Em um pouco mais de 22 minutos ela falou dos problemas e das virtudes da democracia e enfocou questões interessantíssimas que permeiam aqueles que se angustiam com o sistema político em que vivemos. O argumento principal da entrevista foi “Como tornar as democracias em vigor mais fortes e representativas”.
No programa a entrevistada defendeu a radicalização da descentralização com as Assembléias Populares, elogiou a experiência do orçamento participativo implantado em alguns municípios brasileiros e também tratou de alternativas para o aperfeiçoamento dos sistemas políticos que almejam a democracia. Vale a pena ver a entrevista. Ela está disponível não só para os assinantes da Globo.com. Clique aqui procure o link da Globo News e depois localize o arquivo do programa Milênio do dia 03/07/2006 que tem o título “A esperança na democracia”.
Fiz questão de destacar e transcrever dois trechos como aperitivo:
“Democracia é aprender a perder!”
“Vivemos lutando contra as perdas e a democracia é perder. É aprender a perder e aceitar que, apesar de ter perdido para pessoas que podem estar erradas e, talvez, tenham um lado mau, ainda assim, elas são a maioria. Provavelmente, elas tinham as razões delas. Esse é o resultado de viver na democracia. A teoria da democracia deve começar nos níveis mais básicos”.
Sobre a pergunta de que constantemente o eleitor se sente traído pelo trabalho do representante que escolheu, a cientista respondeu:
“Sempre haverá alguma traição, mas não por motivos perversos. Por exemplo, um eleitor com um conjunto pessoal de interesses e opiniões, ninguém vai conseguir representar tal pessoa de modo perfeito. Em um sistema de representação proporcional, você pode encontrar alguém que o represente em algum grau. E ele será um legislador que terá que negociar, assim você será traído, mesmo que seu representante seja totalmente honesto. Será traído porque terá que haver negociação e você não receberá o que quer. Você votou em alguém que tem a ver com seus interesses, mas você não obtém os resultados esperados. Ou, você pode ser traído, por assim dizer, na hora de votar. No caso de um sistema só com dois partidos que busquem o voto do eleitor que está na média, que almeje o voto dele e que ninguém vai representá-lo e você não terá em quem votar, nesta circunstância, você também se sente traído na hora de ir à urna. Seja qual for o sistema político terá que haver concessões já que sempre seremos traídos. É preciso ser realista para distinguir as boas traições das más. Traições boas fazem parte das concessões. Para que tomemos decisões e o mundo avance. Uma má traição seria levar dinheiro por baixo dos panos. Essa prática de corrupção pode ser evitada. Alguns países europeus foram capazes de reduzir a corrupção, essencialmente, ao mínimo, quase eliminando”.
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