A despeito dos problemas, simplesmente, jogou-se fora o projeto de nação com bases nacionais-desenvolvimentistas, que reconhecia o movimento globalizante e pretendia com inclusão social se inserir em novas arranjos geopolíticos multipolares.
O caso da Odebrecht parece ser um exemplo emblemático. A holding Odebrecht possuía empresas fortes e consolidadas nos setores de infraestrutura, construção pesada e civil, energia, petróleo e gás, petroquímica, etc., onde atuava sozinha com financiamento dos fundos (bancos nacionais) ou em parcerias com outras grandes empresas privadas e estatais.
Após a “onda lavajatista”, a holding Odebrecht decidiu que está deixando de ser uma corporação brasileira com atuação internacional, vinculada ao setor produtivo e passará a ser apenas uma empresa rentista com participações acionárias em alguns de seus antigos negócios, depois que foi estraçalhada com as intervenções do judiciário sobre suas operações ligadas ao poder político no país.
Várias das empresas da holding Odebrecht estão sendo repassadas - no todo ou em partes -para corporações internacionais ligadas a grandes fundos financeiros globais. O Brasil e suas empresas estão “baratinhas”, neste momento de dólar beirando os 4 reais. Os fundos financeiros globais estão com apetite devorando um a um todos estes ativos.
Os questionamentos a este processo não diz respeito apenas ao debate nacionalista que alguns chamam de xenófobo, mas a perda de controle nacional sobre a produção material no país sobre setores estratégicos, como infraestrutura, energia, petróleo, petroquímico, aviação, etc.
Assim, a nação sai menor da “Pinguela para o passado”, aquele documento golpista (“Uma ponte para o futuro”) elaborado por agentes do mercado para o PMDB asfaltar o caminho do impeachment, a pedido de Moreira Franco, atual ministro das Minas e Energia.
Este documento registrava os interesses do mercado na desregulação destes setores, o apetite para acesso a estes ativos por parte das grandes corporações transnacionais, que representam os oligopólios do setor no mundo assim como os grandes fundos financeiros globais.
O resultado de tudo isto não é apenas o perda do controle nacional sobre estes setores, mas a entrega de um mercado fabuloso a corporações e fundos que como oligopólios verticalizados destes setores tomarão decisões e farão imposição de preços.
Nunca serão preços de mercado, mas de oligopólios globais que controlam todo o processo. Os oligopólios decidirão sobre a produção nestas unidades no Brasil quando quiserem, independentes de produtividades na indústria. A automação crescerá e assim teremos também menos empregos, menos arrecadação de impostos, mais crises fiscais resultando em ainda mais arrocho sobre direitos sociais.
Neste movimento dos capitais globais teremos: menos empresas nacionais competitivas; a desindustrialização crescerá; e se verá um avanço ainda maior do rentismo. As elites econômicas apostarão ainda mais em frações de investimentos dos capitais globais sobre o país, para ficar com baixos percentuais deste “capitalismo de laços”.
Este processo está em curso em diversos setores como os citados de energia, petróleo, infraestrutura e logística, construção e finanças. Tudo que leva a um Brasil menor, mais submisso e dependente.
Entender este processo para além da Operação Lava-Jato, das delações “premiadas”, das disputas intercapitalistas, setoriais e geopolíticas é uma necessidade quase que imperial, diante de uma mídia e um judiciário moralistas e sem nenhuma moral nas suas verdadeiras intenções.
Durante todo o tempo, a articulação midiática-jurídica-parlamentar vem fingindo não entender a dinâmica em curso. Este movimento - e sua lógica - nunca pretendeu, como se tem vendido, higienizar as relações entre o poder econômico e o poder político (Estado) e sim tutelar o segundo, conforme os interesses dependentistas e rentistas dos donos dos dinheiros.
Não há nada de modernização, mesmo que conservadora no país. O que está em curso é a radicalização da entrega dos setores estratégicos do país que intensificará ainda mais, a condição dependente do capitalismo tupiniquim brasileiro.
Quanto mais se entende este movimento do capital controlando o poder político e o Estado golpista, mais se fortalece a compreensão da urgência em inverter a direção deste movimento.
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