quarta-feira, novembro 27, 2019

Fundo soberano do Canadá compra participação na rede de academias Smartfit. O que isso ajuda a explicar o capitalismo contemporâneo?

O amigo Leandro Bruno (professor e pesquisador da UFF-Campos) me repassa a informação que segue reforçando a ampliação do controle que os fundos financeiros (neste caso um fundo soberano, controlado pelo governo do Canadá) sobre a economia real, também na área de serviços.

O CPPIB que comprou 2,6 milhões de ações da Smartfit por R$ 1 bilhão tem sede em Toronto e possui patrimônio líquido de cerca de R$ 2,5 trilhões que estão investidos em várias partes do mundo. A aquisição desta participação foi informada aqui pelo jornal Valor.

Interessante, um negócio privado de compra de participação de uma rede de 739 academias da Smarfit, espalhada em várias cidades do Brasil, acaba de ser adquirida por um fundo controlado pelo governo do Canadá.

Tem-se assim, uma espécie de estatização estrangeira de um negócio brasileiro (mesmo que em parte), que acaba reforçando a a interpretação sobre a estratégia do capitalismo contemporâneo, que cada vez mais se utiliza do instrumento dos fundos financeiros, no movimento de acumulação e concentração da riqueza em diferentes espaços no mundo.
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As concessionárias das rodovias, aeroportos e portos e outros investimentos em infraestrutura e energia são controlados pelos fundos. As empresas de inovação (startups) bancadas pelos fundos. Várias indústrias mais ou menos intensivas em capital também controladas pelos fundos. Imóveis corporativos, logísticos e shoppings controlados pelos fundos imobiliários. Redes de comércio e franquias controladas pelos fundos (farmácia, hortifruti, restaurantes, varejo, etc.).
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Um fenômeno real que necessita ser melhor compreendido, nesta nova fase do capitalismo que passou a ser hegemonicamente financeiro e, em especial desde a crise financeira de 2008, passou a ter um uso crescente dos fundos financeiros em todo o mundo, a partir dos países do centro do capital. [1]

De certa forma, este processo vem alterando de forma significativa o processo de intermediação do capital feita pelo sistema bancário. 

Agora, os bancos são em grande parte gestores dos fundos e diretamente controladores, tanto da produção material e dos serviços com a participação em seu capital, quanto do processo de capitalização (ou valorização fictícia), obtida com os papéis que estão imbricados ao mercado de capitais (ações, mercado futuro, derivativos, etc.) numa evolução do que passei a chamar de capital helicoidal. Todo esse processo acumula e concentra ainda mais renta derivada capturada em boa parte do trabalho.


Referência:
[1] Livro desse autor A indústria dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo, editado em junho 2019 pela Editora Consequência. Disponível em: http://www.consequenciaeditora.net.br/p-11191655-A-


PS.: Atualizado às 23:22 de 28/11/2019 para acrescentar as informações de matéria do Valor (P.B9):

Segundo matéria do Valor de hoje (28/11), o fundo financeiro Pátria que é comandado no Brasil pelo, ex-presidente do Banco Central (governo FHC) Armínio Fraga, é o acionista majoritário e controlador da rede de academias Smartfit com participação de 62%. A família Corona criadora da empresa tem apenas 18,4%. Em 2018, a receita líquida da rede foi de R$ 1,16 bilhão, apurados com um total de 2,5 milhões de alunos, matriculados em 739 unidades em 9 países, incluindo as franquias.

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