quinta-feira, janeiro 02, 2020

Em 2019, o Brasil exportou 1,3 milhão de barris por dia de petróleo cru e importou cerca de 600 mil barris por dia de derivados - desmonte do setor nacional de petróleo, em processo de nigerização!

Os números das exportações de petróleo pelo Brasil em 2019 já foram fechados. Um volume total  exportado de 64,6 milhões de toneladas (equivalentes a 1,297 milhão de barris por dia) de óleo cru. Este volume é 9% superior ao volume exportado em 2018 que foi de 1,188 milhão de barris por dia de petróleo cru.

Já os números das importações de derivados de petróleo feitas pelo Brasil em 2019, ainda não foram divulgados, mas deve ficar em cerca de 600 mil barris por dia entre combustíveis (diesel e gasolina) entre outros derivados como querosene de aviação, nafta, solventes, coque, lubrificantes, etc. A maior parte é de diesel e gasolina, importada em sua grande maioria desde 2016 dos Estados Unidos.

Ou seja, o país segue vendendo a preço vil suas refinarias, que estão operando com capacidade abaixo da nominal, enquanto o Brasil compra os derivados refinados de petróleo, por valores muito maiores, que o do óleo cru aqui extraído e exportado.

O quadro tende a piorar, pois o Brasil segue aumentando significativamente a sua produção de petróleo, por conta da enorme produtividade dos poços da Bacia de Santos e do Pré-sal. Além disso, uma parte cada vez maior das reservas descobertas (ativos) pela Petrobras foram e continuam sendo transferidas para petroleiras estrangeiras que fazem o que bem entendem do petróleo extraído.

Esse esse volume exportado de 1,3 mibpd em 2019, equivale quase a metade da produção de petróleo no Brasil (só petróleo e não gás natural) que em outubro de 2019 foi de 2,964 milhões de barris. Isso mesmo, hoje, o Brasil exporta 44%, quase a metade do petróleo que produz.

Segundo a ANP, o Brasil será em 2030, o 4º maior produtor de petróleo do mundo. Sairá de uma produção atual de 3,3 milhões de barris por dia (mibpd) hoje, para 7 milhões de bpd em 2030, quando deverá estar exportando entre 4 e 5 milhões barris por dia (mibpd), demandando assim mais terminais portuários, navios petroleiros, etc. (Vide aqui postagem do blog, em 10 de setembro de 2019,
"As previsões de demandas de infraestrutura e equipamentos para dobrar a produção de óleo e gás no Brasil até 2030, comprovam as razões do desmonte da Petrobras e das empreiteiras no país".

Enquanto isso, a Petrobras vende seu parque de refino e o controle do mercado que era até aqui da estatal.

Assim, o Brasil ficará ainda mais dependente da importação estratégica e cara de combustíveis do exterior, em boa parte petróleo aqui extraído e vendido lá fora. Em 2017, o blog já comentava sobre o início deste movimento, em texto repercutido aqui pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e diversos outros sites e blogs.

Tem-se assim, uUm processo semelhante ao que vive outras nações produtoras e desindustrializadas, como a Nigéria, que ao contrário do Brasil projeta dobrar sua capacidade de refino.

Ou seja, após o golpe político no país em 2016, assistimos a um desmonte do setor de petróleo e de ferino. A Petrobras foi fatiada, desintegrada (deixando de ser uma empresa de energia do poço ao posto) e está sendo entregue em partes às petrolíferas estrangeiras e fundos financeiros globais, enquanto no país, o preço do combustível dispara, com a gasolina a quase R$ 6, mesmo estando o barril de petróleo a pouco mais de US$ 60, no mercado internacional.

PS.: Atualizado às 22:58: Para breve acréscimo no texto original.

PS.: Atualizado às 23:44 e 23:51: Para maior espanto de todos, esse volume exportado de 1,3 mibpd equivale quase a metade da produção de petróleo no Brasil (só petróleo e não gás natural) que em outubro de 2019 foi de 2,964 milhões de barris. Isso mesmo, hoje, o Brasil exporta 44%, quase a metade do petróleo que produz.

PS.: Atualizado às 00:58: Para corrigir título para 1,3 milhão.

2 comentários:

Regis Cordeiro disse...

Politica que atende os inteRÉsses do establishment vendido para neoliberalismo

Roberto Moraes disse...

Caro André,

Pelo texto na íntegra é possível identificar que o quadro que tende a piorar a que me refiro é que a distância entre aumento da produção e a colossal produtividade dos campos do pré-sal e as importações de derivados e combustíveis. Tem razão, a redação poderia ser melhor para explicar àqueles que podem misturar as interpretações.

A descoberta do pré-sal e a sua produção são frutos de quem tece coragem de remar contra a maré que visava já ter entregue lá atrás toda essa potencialidade, dizendo que a hipótese do mesmo se tratava de uma miragem.

A produção a custos inimagináveis é um colosso que gerou cobiça e disputa pelo poder que hoje define a entrega de nossas riquezas a preço vil e de final de xepa.

A discussão sobre o refino é mais ampla e já fiz em alguns momentos e postagens no blog relatando interpretações de pesquisas sobre o setor. A própria ANP possui alguns bons estudos sobre o assunto, que desde 2016 foram descartados.

O setor petróleo, segundo as próprias players petrolíferas produz melhores resultados quando vistos e planejados de forma integrada desde à produção ao beneficiamento e distribuição para o consumo. Quando se tem controle apenas sobre uma parte da cadeia, você perde a possibilidade de ganhos que podem ser compensados em um outra etapa (upsptream ou downstream)conforme o movimento do mercado.

O Brasil é um dos maiores mercados de derivados e combustíveis do mundo. Ao entregar praticamente toda essa parte da cadeia produtiva a players estrangeiros, você passa a ser controlado e não mais controlar essa etapa que é estratégica em termos de segurança energética. E pior, a compra dessas refinarias será feita (direta ou indiretamente) por petrolíferas estrangeiras e grandes tradings de combustíveis (Trafigura, Vitol, Glencore) que tendem a controlar e interferir em preços internacionais, dos quais passaremos a ser cada vez mais dependentes, ao contrário de antes. Aliás, razão pela qual lançou a Petrobras na década de 70 a procurar petróleo no mar, para não ficar dependente dos combustíveis caros importados depois dos dois choques de petróleo.

Até a Nigéria, assim como a maior parte dos países produtores do oriente Médio, assim como a Índia, um grande consumidor e importador de óleo estão ampliando seus parques de refino. Aqui, o país resolveu entregar não apenas o parque de refino, mas o mercado com o pífio argumento que visa aumentar a competição. Ora, que país do mundo entrega seu mercado interno para concorrentes?

A questão é ampla, o argumento deste texto, apenas com a atualização dos dados sobre a relação entre exportação de 44% da produção nacional de óleo e importação de derivados e combustíveis que gera um déficit no geral (para essa conta óleo cru e combustíveis) no Brasil é, pois, um absurdo.

A não ser que se esteja defendendo os investidores e não a Nação. George Soros agradecem, enquanto os brasileiros padecem nas bombas de combustíveis.

Sds.