André Lara Resende foi um dos formuladores do Plano Real e continua se intitulando um liberal, mas vem mudando algumas posições sobre o rigor fiscal e hoje argumenta que no Brasil, "a visão dominante é dos fiscalistas com a ideia de fazer um ajuste fiscal e deixar que a confiança, os investimentos privados e os investimentos estrangeiros façam tudo que for necessário para a economia".
Sobre isso, Lara Resende afirma com ênfase: "estávamos todos errados". "Isso é um liberalismo completamente equivocado. Eu me considero um liberal, mas isso é uma visão ingênua e equivocada sobre como funciona a economia. Estou dizendo que a macroeconomia está construída sobre bases equivocadas".
As afirmações acima fazem parte de uma entrevista publicada pelo Valor, caderno Eu & Fim de Semana, P.4-9, em 7 de fevereiro de 2020, com o título "As armadilhas do dogmatismo". Essas ideias também estão presentes no livro recém-lançado "Consenso e Contrassenso: Por uma Economia Não Dogmática".
Abaixo escolhemos reproduzir mais alguns pequenos trechos de sua entrevista. Aparentemente, seria possível extrair de algumas de suas ideias, um pacto (um consenso?) em termos de Economia Política para retirar o Brasil do atoleiro, fazendo uso de "uma política fiscal keynesiana", com redução de impostos, mas especialmente com expansão dos investimentos públicos, "sem preocupação com o equilíbrio orçamentário".
Para Lara Resende, "quando a taxa de juros está próxima de zero, o custo da dívida pública é insignificante. Investimentos públicos na infraestrutura e em outras áreas que estimulem a produtividade não correm risco de elevar de forma permanente a relação da dívida com o PIB".
André Lara insiste na ideia de que moeda é um bem público indissociável do poder: "só se cria a moeda quando se tem o poder central, o Estado. Não existe mercado sem a moeda e não existe moeda sem Estado, logo não existe mercado sem o Estado. O que cria o mercado competitivo e competente, produtivo, é um estado competente e com consciência da importância do mercado competitivo".
Resende além de Keynes, se alicerça agora em Schumpeter nessa ampliação de sua visão sobre a macroeconomia e e a teoria monetária. Neste percurso vale realçar o destaque que ele confere à interpretação de que "não existe economia fora e dissociada da política", em última instância a Economia Política, a que muitos liberais fazem cara feia.
"A economia se arvorou como uma disciplina, mais do que independente, superior às demais ciências humanas. Basta um segundo de reflexão para concluir que questões como quanto e como tributar, onde e como investir recursos públicos, têm um inescapável componente político. Não apenas as questões tributárias e monetárias são eminentemente políticas, toda e qualquer questão econômica não pode ser analisada fora do seu contexto político e social"... "as questões econômicas são indissociáveis de suas dimensões psicológicas, políticas e sociais".
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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