terça-feira, março 10, 2020

O que o ciclo petro-econômico e a geopolítica do petróleo podem explicar sobre essa nova crise

Por várias vezes eu tratei neste espaço o tema sobre as variações do preço do barril de petróleo no mercado mundial e sobre as suas implicações nas economias nacionais. Como já é sabido, o petróleo é uma mercadoria especial com enorme repercussão sobre quase todas as outras mercadorias e cadeias de produção.

Em minha pesquisa de doutoramento eu utilizei e acabei por desenvolver um conjunto de interpretações sobre a geopolítica do petróleo e sua relação com as infraestrutura portuária, que se dá em torno da expressão cunhada pelo professor alemão Elmar Altavater de que "o capitalismo foi lubrificado pelo petróleo". [1]

Foi na construção das leituras sobre este processo que se desenvolveu o conceito do "ciclo petro-econômico" para explicar as suas duas fases (expansão ou boom e colapso) e as suas repercussões em diversas dimensões (geopolítica, política, econômico-fiscal, espacial, ambiental e temporal). [2]

O modelo do conceito. Na realidade as variações
de preços não são assim tão senoidais.
Para expor estes processos foi desenvolvido um enorme quadro com sete páginas com uma análise multidimensional sobre as principais características destas dimensões das fases de boom ou colapso do "ciclo petro-econômico", que compõe um capítulo inteiro, que demonstra que se trata de um fenômeno não apenas multidimensional como transescalar (PESSANHA, 2017, P.95-148)

Ao contrário daqueles que têm uma crença absoluta na neutralidade dos movimentos do mercado, incluídos aqueles do setor petróleo, com as alterações de fases destes ciclos, nunca ocorre de forma natural.

As mudanças de ciclos petro-econômicos e suas fases, são sempre decorrentes de decisões geopolíticas, vinculadas aos interesses por hegemonia que geram pressões políticas e alianças entre estados nações.

O desenvolvimento dos ciclos petro-econômicos também respondem a conflitos regionais que envolvem estados que são grandes produtores de petróleo, como em especial aqueles do Oriente Médio, e de um forma mais ou menos intensa, também acaba vinculado aos ciclos mais gerais da economia.

Entender essas alterações de fases e as características e dimensões dos ciclos petro-econômicos, ajuda nas interpretações dos fatos e fenômenos, decorrentes de momentos como esse atual, em que uma violenta redução de preços do barril, que surge em consequência de um triplo movimento: sobreprodução e estoques de petróleo no mercado acima da demanda global; a inviabilização de um acordo entre os maiores produtores e exportadores mundiais de petróleo (Opep e Rússia, ou Opep+1) e uma extrema redução da demanda de petróleo e derivados produzida pela diminuição das atividades econômicas e deslocamentos das pessoas e cargas por a partir do surgimento do coronavírus na China hoje já espalhado por quase todo o mundo.

Esta violenta e abrupta mudança de fase do ciclo petro-econômico com expressiva redução do preço do barril de petróleo, produz efeitos variados para as diferentes nações e para a economia mundial como um todo. Nações que mais importam petróleo ganham e as que exportam perdem.

Projetos de extração e produção tornam-se caros e se inviabilizam, assim como se reduzem as vantagens da expansão das chamadas energias alternativas, em função do barateamento do preço do petróleo, combustíveis e demais derivados.

Várias outras consequências e detalhamentos estão descritos naquele trabalho e podem ser utilizadas para a compreensão do fenômeno presente como, por exemplo, a relação entre a escassez de reservas de petróleo e as hipóteses para os ciclos futuros. [3]

Sem entrar em maiores detalhes sobre os fatos atuais, sobre esta inversão de fases do CPE ou sobre o surgimento de um novo ciclo petro-econômico, cujas consequências dependerá da duração da fase de colapso, ligadas às três causas citadas.

Assim, eu reapresento abaixo o gráfico usado na produção original do texto relacionando a evolução de preços e a ocorrência de conflitos entre 1970 e 2016. Mesmo diante das minhas precárias habilidades na produção e organização de infográficos, eu tentei rascunhar sobre o gráfico gráfico original, as atualizações e variações dos preços do barril de petróleo neste período mais recente entre 2017 e março de 2020 que segue publicado abaixo.

Nós vivemos uma época de explosão de notícias e comentários online sobre várias questões e, agora, em especial por essa superposição de crises da política e do ultraliberalismo brasileiro com o neoliberalismo no centro do capitalismo, conjugado ainda às terríveis consequências do coronavírus.

Desta forma, a ideia de retomar e reapresentar o conceito de ciclo petro-econômico é o de contribuir para ampliar a potência da interpretação sobre a realidade contemporânea que estamos vivenciando.























Referências:
[1] ALTVATER, Elmar. O fim do capitalismo como o conhecemos. 2010. Editora Civilização Brasileira. Rio de Janeiro.

[2] Tese do autor PESSANHA, Roberto M., defendida em mar. 2017, no PPFH-UERJ: A relação transescalar e multidimensional “Petróleo-porto” como produtora de novas territorialidades. Disponível no Banco de Teses da UERJ: http://www.bdtd.uerj.br/tde_busca/processaPesquisa.php?pesqExecutada=1&id=7433&PHPSESSID=5vd3hsifip5hdg3n1icb57l9m6

[3] Postagem do blog em 24 de julho de 2017, sobre a relação do ciclo petro-econômico, as escassez das reservas de petróleo no mundo e a situação do Brasil a partir do Pré-sal. A geopolítica da energia: os reflexos do ciclo do petróleo e sua relação com o Brasil. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/07/a-geopolitica-da-energia-os-reflexos-do.html

2 comentários:

Anônimo disse...

Quais são os custos de produção do petróleo da Arábia Saudita e o da Rússia (em dólar)?

Roberto Moraes disse...

Sobre custo de produção e break even leia isso abaixo:

"Óleo: sangue nas ruas":

https://peakoil.com/consumption/oil-blood-in-the-streets

Sds