Wall Street não entende o coronavírus.
Assim, Paulo Guedes também não compreende seus efeitos.
Isso não é por acaso.
De nada adiantam as centenas de relatórios que Wall Street, Ibovespa e seus operadores leem diariamente.
O DNA é o mesmo.Todos têm a mesma concepção mental do mundo a partir do mercado financeiro.
O andar das "altas finanças" há muito perdeu as principais conexões que ligavam os papeis e derivativos ao mundo real.
Por mais que as finanças tenham ampliado as suas capturas, a pandemia do coronavírus mostra, pelo lado mais trágico possível, que o mundo real existe e continua a se desenvolver no território.
É no território, onde há a reprodução social e a geração da riqueza pelo trabalho acontecem é também o "locus" da contaminação do coronavírus.
Assim, da mesma forma que o antídoto imunológico do vírus depende das barreiras sanitárias de contenção, o mundo das finanças, também precisa urgentemente ter a sua atuação transfronteiriça contida pelos governos, em nome da sociedade.
Não é que Wall Street e seus discípulos fiéis, como Paulo Gudes, não entendam isso.
Na verdade eles não podem aceitar a realidade que salta aos olhos, sem renegar a lógica de especulação e vampirização das riquezas geradas pelo trabalho.
É por isso que Wall Street não aceita os números que saltam das telas de seus monitores sobre a movimentação do mercado financeiro em todo o mundo.
Para o bem e para o mal, o vírus também está atingindo o coração da hegemonia financeira no capitalismo contemporâneo, aproximando de forma impensável até pouco tempo, a economia fictícia da economia real.
Os números das bolsas e os rendimentos dos fundos financeiros se liquefazem no éter, enquanto a população (reprodução social) sofre as consequências.
Porém, é interessante e necessário observar que neste caso, contraditoriamente, as relações sociais que tanto ameaçam, humanitariamente, são a nossa única salvação.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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4 comentários:
Sou campista , estudei no liceu de humanidades de campos ,tenho 68 anos e resido em ilhues Ba , as ou médico aposentado do gov federal
Roberto,
Persiste nossa diferença conceitual.
Hehehe.
Na verdade, como creio que o antivalor já prescinde de sua relação orgânica com o "locus capitalis", essa liquidação (ou liquefação) dos capitais fictícios é um movimento de concentração, seguido do expurgo ou destruição "criativa".
O dinheiro (ou boa parte dele) vai para algum lugar e vai gerar outros mecanismos de reciclagem de seus mecanismos de alavancagem.
2008 ensinou isso e os sobreviventes financeiros engoliram concorrentes e pior: com dinheiro dos contribuintes(do mundo real)e com o prejuízo dos pequenos investidores do mundo fictício.
Também é preciso considerar que os efeitos no chamado mundo real e no financeiro se darão de formas drasticamente distintas.
Assim como haverá a mesma hierarquia de danos entre centro e periferia.
Acho que esse solavanco só acelerou aquilo que estava em curso e que você menciona em seu livro.
É o começo do fim. A distopia está a caminho em galope acelerado.
A revolução anticapitalista não veio pela classe trabalhadora.
E isso trará um futuro sombrio.
Sim, o esgarçamento é cada vez maior pela passividade de quem foi distraído e suas organizações destruídas em meio à fragmentação e distopia.
A continuar nessa toada os cenários que vislumbramos são os mesmos.
A diferença de interpretação não é sobre o grau crescente ampliado da capitalização (valorização fictícia) e nem sobre a sua hegemonia.
E sim, a de que mesmo que uma parcela cada vez maior (e maior mesmo e em proporção colossal) seja apropriada pelos donos dos dinheiros na etapa das finanças, ela ainda prescinde em sua gênese da geração do valor em trabalho humano no território. Mesmo que em proporções cada vez mais reduzidas.
Sem o território e a produção social que lá se desenvolve não haveria nem a contaminação do vírus. Porém, concordamos que esse esgarçamento não se sustenta e só mesmo muita obtusidade para não conseguir compreender nesse ritmo o sistema implode. E sim, podemos estar presenciando esse descontrole.
Lá atrás, eu também levantei hipoteticamente a opinião de que a explosão do sistema tenderia vir do esgarçamento do sistema, auxiliado por alguma fagulha explosiva e não pela reação de classe a ela.
Haja distopia. Diante do grau de distopia, a alienação quase se torna um remédio, mesmo que temporal. Porque é preciso respirar.
Abs.
Diante
O território e a produção social hoje não podem mais sequer serem considerados como capitalistas.
Desde 70, apesar e por causa das inovações tecnológicas, os ganhos de produtividade foram devorados e não resultaram em aumento do lucro.
A saída pelo aumento da renda sem geração de valor aumenta os deficits que soterram os orçamentos e os mantêm reféns dos juros de dívida.
Uma espiral. Sim.
Keynes não serve mais.
A curva é descendente.
Os nichos de produção hoje estão mais para feudos modernos.
As organizações sociais idem.
As milícias são a face mais cruel desse processo de autorregulamentação distopica.
Como as autodefensas mexicanas.
Um abraço e bom isolamento.
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