Financial Times, 19 jun. 2019 FT Series, p.5. |
Valor adicionado de mercado está mais vinculado às expectativas
e investimentos de ações e investidores (mercado de capital, capital fictício)
do que propriamente aos resultados reais em termos de receitas e lucros.
Essa lista do Top 100 do Financial Times (FT) está repleta (e
em maioria) de empresas do setor de tecnologia vinculada à internet, ao varejo
e/ou ao e-commerce.
Elaboração: Roberto Pessanha, 2020. Arte: Maycon Aguiar. |
As chamadas empresas-plataformas se transformam quase em
regra. Isso vale desde as Big Techs que são as “plataformas-raiz” (Google,
Amazon, Apple, Facebook e Microsoft), às companhias vinculadas aos aplicativos no
processo que temos denominado como “Appficação”.
Muitos pensam que a Mercado Livre é uma empresa brasileira. Porém,
a Mercado Libre, nasceu na Argentina, em agosto de 1999 e, apenas dois meses depois,
ela foi montada no Brasil. Hoje, a Mercado Libre opera em 19 países, tem cerca
de 4 mil funcionários e é o site de e-commerce mais popular da América Latina
em número de visitantes.
Segundo dados divulgados pela própria empresa-plataforma, a
mesma teria cerca de 170 milhões de usuários na América Latina. No balanço e
resultados de 2019 da empresa, o volume total de pagamentos com Mercado
Pago alcançou US$ 8,7 bilhões, um aumento ano a ano de 63,5% em dólar e
98,5% em moeda corrente. Ainda em 2019, a operação da companhia no Brasil
representou 63,5% da receita líquida total.
Como já comentamos aqui em vários textos, esse processo da
plataformização dos negócios atinge os vários setores da economia, um destes importantes
setores é o e-commerce ligado ao varejo.
As Plataformas Digitais (PDs) se
transformaram em instrumento de intermediação entre o consumo e a produção.
Para isso se realiza enorme captura de dados que são feitas pelos algoritmos
para direcionar as propagandas e realizar as vendas que serão concluídas com a
logística de entrega num esquema de taylorismo digital com controle de tempo e georeferenciamento
do passos do entregador.
Do total das 20 companhias que mais tiveram aumento de valor
de mercado no mundo, durante a pandemia, 17 delas (85%) eram, direta ou
indiretamente, vinculadas ao setor de tecnologia e internet. Quase 70% delas têm
suas sedes localizadas nos EUA, 25% na China e apenas uma na Europa e outra no
Canadá. Assim, observa-se uma enorme centralização setorial e uma concentração
em poucas e cada vez maiores companhias.
A relação entre a financeirização
e a plataformização nos arrastam para nova etapa do capitalismo
Outro dado que tenho chamado a atenção é a profunda relação
entre a financeirização, as Big Techs, as empresas de internet, e-commerce e o
processo de plataformização. Isso se expande muito em direção à, já explosiva,
onda das startups, quando boa parte da Inovação tecnológica passa a ser
financiada por capitais de riscos (mercado de capitais e fundos financeiros)
que assim atuam filtrando as boas ideias que poderão dar certo no mercado.
Assim, os capitais de risco garantem o controle antecipado desta evolução.
Além do processo de plataformização, transformação das
empresas das várias frações de negócios em plataformas digitais, eu tenho
insistido que o fenômeno é ainda mais amplo e indica um movimento do capitalismo.
Aponta ainda para uma nova etapa do modo de produção (que denomino
de” plataformismo”), vinculado à hegemonia financeira e às inovações
tecnológicas (digital e informacional) do capitalismo contemporâneo.
Os resultados destes avanços tecnológicos não são
repartidos. Ao contrário, como temos visto, estão cada vez centralizados e concentrados
espacialmente em algumas regiões do mundo o que aprofunda as desigualdades
econômicas e regionais/nacionais.
Assim, não se trata apenas do prazer de assistir um filme,
ouvir uma música e adquirir um produto para ser entregue em sua porta, ou ainda
conversar com as pessoas amigas num aplicativo pelo celular, se junto disso se
tem o aumento das desigualdades, a ampliação da captura de renda do trabalho,
sua precarização sem precedentes e o controle sobre seu trabalho e até a
captura do seu tempo de não trabalho (lazer).
Desta forma, a digitalização da vida social tem na prática
aumentado as desigualdades e permitido não apenas vendas de produtos e serviços
pelo comércio eletrônico, mas produzido colossais fluxos imateriais de capital,
em direção aos donos dos dinheiros, ampliando e radicalizando o regime de
acumulação e lucros que precisa e deve ser contido pela política.
O que precisa ser contido é que o conhecimento que não pode continuar
a ser apropriado como a nova propriedade do mundo digital. As nações centrais,
no fundo, estão evitando regular o setor de tecnologia (legislação), que hoje,
possuem o maior oligopólio da história do capitalismo mundial, acima da centralização
que tiveram os setores de petróleo, ou o de siderurgia ou de automóveis.
Não é difícil explicar as razões disso para permitir estes
carteis tecnológicos. Há ganhos geopolíticos com o uso destas gigantes do setor
de tecnologia, para além dos econômicos através do uso do “vampirismo digital”.
A utilização destas plataformas têm permitido que as nações
do capitalismo central utilizem as armas tecnopolíticas para manter do colonialismo
que na prática atua hoje como um “neoimperialismo digital”. Insisto só a
política pode conter esse processo que esgarça o sistema. Com diz, o professor
Dowbor, a saída é o uso coletivo desta riqueza multiplicável na direção do
pós-capitalismo.
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