sábado, outubro 10, 2020

Os streamings engolem as TVs abertas

Os streamings (TV por demanda pela internet) estão avançando sobre as TVs abertas. Fato com causas e consequências. Porém, muitas pessoas ainda não conseguem entender como o Netflix e a GloboPlay roubam os seus dados, quando você assiste a programação dos seus streamings.

A escolha dos filmes, origem, tipos de roteiros (drama, documentário, comédia, etc.) e também quando você abandona um filme, uma série (em qual capítulo) ou documentário são informações importantes, para os anunciantes que têm interesse em te conhecer mais e assim aperfeiçoar a publicidade direcionada.

Essas gigantes das transmissões pela internet fazem pesquisas sobre dados primários e terciários dos usuários (first-party data ou third-party data).

A Globo já fala abertamente que hoje, por conta da digitalização e identificação dos assinantes, conhece profundamente 60 milhões de seus usuários, identificados pelo Globo ID que são processados pelos softwares de análise (analytics) com uso da Inteligência Artificial (IA).

No final de 2019, a Netflix tinha 160 milhões de assinantes em quase 200 países. Porém, em junho de 2020 já tinha alcançado 183 milhões de assinantes. Consta que mais de 10 milhões seriam no Brasil que é considerado o 6º país com maior crescimento de horas de utilização do Netflix do mundo, embora o YouTube seja a plataforma de streaming em que os brasileiros passam mais tempo. Depois vem a Netflix, Youtbe Kids, Twitch e só aí a Globo Play.

Porém, o mais incrível do uso deste tipo de plataforma digital é o fato de que a utilização dos streamings no Brasil - com 7% - se tornou o 2º maior Ibope do país, só atrás da Globo e na frente da soma das TVs por assinatura e de todos os demais canais de TV. Ou seja, 15 em cada 100 TVs ligadas no país estão nos streamings, isso é apenas metade da audiência da TV Globo e bem maior que as demais TVs abertas, segundo pesquisa da Kantar Ibope.

Os streamings engoliram as TVs e por isso a Globo tenta correr atrás do prejuízo com a Globo Play +. Além da Netflix e Globo Play as empresas que oferecem streamings não param de crescer: Amazon Prime Vídeo, Disney+, Claro Vídeo (Now), Telecine Play, Apple TV, HBO GO, etc.

É confortável para quem tem condições acessar essas plataformas de entretenimentos, mas não esqueçam que além de pagar pela assinatura, nós estamos entregando, voluntariamente, os nossos dados, que se transformam em commodity como propriedade destas corporações.

Tudo isso é parte da plataformização dos negócios.


PS.: Atualizado às 14:04 de 10/10/2020: Título ampliado e também acrescentado um primeiro período ao texto inicial.

3 comentários:

Romulo Garcia disse...

Bom dia professor😉 oque o Sr acha do aumento do uso das das chamadas IPTVs que não deixam de ser um Streaming? É errado, é crime?
Eu vi uma entrevista na TV que foi perguntado isso a uma uns dos convidados, e ele disse que achava que não, pois o sinal era pego de um Satélite aberto, portanto qualquer um poderia pegar tendo o maquinario que receberia o Sinal.
Será Crime então pois esta se comercializando o Sinal?

Roberto Moraes disse...

Caro Romulo,

Você levantou uma interessante questão que merece ser incorporada a esse debate.

Sobre as IPTVs. Tanto sobre a legalidade que é o que você indaga quanto pelo número de usuários que elas hoje possuem que tem relação com a redução do número de usuários da TV a cabo.

Quanto à legalidade eu não sei informar. É óbvio que se indagasse ao mercado eles dirão que seria apropriação indébita, mas numa percepção de uso coletivo e de utilização de uma condição que seria ofertada de forma aberta. Mas, eu não conheço o assunto e nem as leis regulatórias para te responder.

Porém, as IPTVs merecem uma análise mais ampla. Na prática ela é uma plataforma digital que faz a intermediação de sinal através de equipamentos que usam a internet.

IPTV significa Internet Protocol TV. Ou seja televisão transmitida pela internet. Antes, ela era transmitida pelo ar e o sinal recebido pelas antenas. Depois passou a ser por satélite que começou com a tal GloboSat. Depois passou a ser a cabo de uma central até as casas das pessoas, embora o sinal chegue a uma central na cidade por satélite. E mais recentemente o sinal da TV é enviada pela internet embora com uso do cabo (fibra ótica) até a casa das pessoas.

Assim, na prática, o IPTV é uma espécie de streaming a questão é a disponibilização de canais que seriam fechados, porém, a tecnologia parece ser o que vai ser majoritário em breve.

No caso da parte de envio por satélite há aí uma questão que não sei responder. A transmissão seria aberta no satélite, mas os canais bloqueiam seus sinais, o que indicaria que algum mecanismo seria usado para este desbloqueio.

Oferece uma grade de programação, não muito distinta dos demais streamings, incluindo o YouTube em que que todos podem ter canal e transmitir e não apenas receber.

O fato também chama a atenção para o perfil de quem utiliza. Neste aspecto vale observar mais por idade (geração) do que por classe social, embora também existam diferenças.

Matéria recente da Folha de São Paulo disse que 30% do tráfego atual das redes dessas empresas correspondem ao IPTV, chamada de pirata. Esse número é enorme e mostra aquilo que não se conhece. A informação parte das operadoras de internet, que sabe o que se passa em suas redes. Fala-se em quase 5 milhões de usuários de IPTV.

Link da matéria: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/03/sky-gato-e-gargalo-a-provedores-de-internet-em-crise-de-coronavirus.shtml

Enfim, é o que posso responder, mas a discussão é longa e o debate está aberto.

Romulo Garcia disse...

Obrigado professor😉