Em especial dois livros de literatura me marcaram, em diferentes períodos. O primeiro foi do poeta chileno Pablo Neruda, que li aos vinte anos “Para nascer, nasci”. Outro da escritora espanhola, Rosa Montero, “A louca da casa” que li há quase duas décadas depois, em torno dos meus quarenta anos, logo após o livro ter sido lançado.
Os relatos das histórias de ambos é uma das coisas mais saborosas que a escrita e as narrativas podem oferecer ao sujeito, às suas subjetividades e aos nossos demônios.
Porém, em especial, aproveitando a marcação do tempo do
calendário anual findo e simultaneamente iniciante, eu acabei reencontrando Montero
na estante. Assim reli essa passagem magistral sobre as palavras e sobre a
linguagem que divido com vocês nesse espaço.
“As palavras são como peixes abissais que só nos mostram um
brilho de escamas em meio às águas pretas. Se elas se soltarem do anzol, o mais
provável é que você não consiga pescá-las de novo. São manhosas as palavras, rebeldes
e fugidias. Não gostam de ser domesticadas. Domar uma palavra (transformá-la em
clichê) é acabar com ela”.
A literatura é um bálsamo e uma amostra que o ser humano
ainda pode ter salvação, embora tenha cada vez menos crédito e graça. A
narração é psicanalítica por essência. Aliás, como diz, a própria Montero: “a
narrativa é arte primordial dos seres humanos. Para ser, temos que nos narrar”.
Literatura é vida, assim a sua busca, mais do que uma fuga
da realidade, deve ser uma forma radical de re-energizá-la, em meio ao
desencanto com o presente que urge ser transformado.
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