A disputa que envolve a luta (guerra) pelas vacinas vai muito para além do que as Big Pharmas (grandes farmacêuticas) globais fazem, para garantir os seus espaços na extração de riqueza dos países, onde atuam fornecendo medicamentos e vacinas. Em especial, neste momento de desespero diante do combate ao vírus corona, suas mutações e à doença da Covid.
Embora, as primeiras vacinas tenham sido produzido por grandes farmacêuticas globais, com apoio científico e tecnológicos das grandes universidades e seus centros de pesquisas em biotecnologia, outras estão sendo desenvolvidos por instituições públicas de pesquisas, mesmo que em ritmos menos velozes e, em breve, estarão disponíveis.
Essas vacinas das Big Pharmas não teriam saído sem os vultuosos
aportes de fundos públicos seja nos EUA, União Europeia ou na China. Chamamos a
isso, Condições Gerais de Produção, onde a participação do Estado é condição “si ne qua non”, como já mostrou a Mariana
Mazzucatto, em seu livro “O Estado empreendedor”.
No meio desse processo muitas articulações entre gestores
públicos, negociações comerciais e financeiras foram e continua sendo acertadas.
Porém, mais do que isso, interesses de nações estão em curso envolvendo a
geopolítica, que pode ser traduzida como supremacia de uns em relação a outros.
Vacinar as populações garantem poder às nações e isso já é
razão de disputa de alinhamentos e preferências comerciais. É nesse escopo que
o isolamento quase total do Brasil é calamitoso. Não apenas pelo negacionismo,
como pela obtusidade com que o Partido Militar viu essa questão durante todo o
tempo com olhar ideológico que negou a realidade, por exemplo, em relação à
China e ao acordo do Butantã com a farmacêutica chinesa Sinovac, criadora da
vacina Coronavac.
Neste contexto não é difícil compreender que a procura pelas
vacinas colocam em riscos a liderança dos governos diante de suas populações. Repito,
a luta pelas vacinas é basicamente uma disputa entre governos e suas nações no jogo
da geopolítica global.
Aliás, a geopolítica se dá tanto na via das nações
produtoras de vacina (China, EUA, Índia, Rússia, RU) que adquirem poder com o
produto que todos querem, quanto para aqueles que precisam comprar, admitindo
concessões não usuais que podem envolver para além de dinheiro, mas outros
tipos de garantias e barganhas. Interessante que entre as nações do Brics, só
Brasil e África do Sul, não estão no rol dos produtores e são dependentes das
vacinas estrangeiras.
Nesta conjuntura é que surge o caso de Taiwan, uma ilha-nação
do sul asiático. Taiwan é hoje o país onde está instalada a maior indústria de
semicondutores do mundo, a TSMC, que atende todos os grandes fabricantes mundiais
de celulares, equipamentos e rede de informática, televisões, etc. e está no
centro da guerra tecnológica entre EUA x China no fornecimento de microchips.
Pois bem, Taiwan, onde moram cerca de 24 milhões de pessoas,
no meio de algumas dificuldades do governo para ter acesso à vacina para sua
população colocou à disposição dos países produtores de vacina na Europa, lotes
de seus microprocessadores (microchips) em troca de outros tantos de vacina
contra a Covid.
Não, não se trata da estória da introdução de chips dentro das vacinas os negacionistas e terraplanistas.
É sim, uma espécie de escambo emergencial inusitado nos tempos atuais. O fato, já noticiado no final de janeiro [1] foi citado ontem, pelo cientista Miguel de Nicolellis, em conversa com cientistas estrangeiros [2], ilustra bem como a supremacia científica e industrial de um país em relação a outros num momento emergencial e dramático como o que vivemos.
A Índia mesmo, chegou a humilhar o Brasil em janeiro passado,
ao retardar a entrega de dois milhões de vacinas da Oxford fabricada em seu
país, por posição a seu favor na ONU. Outros casos estão vindo à tona de troca
de vacinas, por garantias e aberturas comerciais e de mercado para quem precisa
desesperadamente do imunizante.
Consta que a própria China estaria impondo, condições para
exportações do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) - insumo principal de todo
medicamento ou vacina -, assim como para o produto acabado.
Quem atua no mercado internacional sabe como funciona o
pragmatismo das relações comerciais e de negócios que envolvem a geopolítica e
os interesses das nações.
No Brasil, o Partido Militar no (des)governo, mesmo que formado para atuar na guerra, acredita que alinhamento automáticos e dependência consentida fossem resolver os problemas de uma nação que se tornou pária no mundo.
Referências:
[1] Matéria do WCCFTECH, em de 31 de janeiro de 2021. ZAFAR,
Ramish. Troca de 'chip por vacina' da TSMC para atrasar a produção de chip de
circuito integrado. Disponível em: https://wccftech.com/tsmcs-chip-for-vaccine-swap-to-delay-integrated-circuit-chip-production/
[2] Miguel de Nicolellis em entrevista ao GGN do Luiz Nassif
em 04 de março de 2021. Nicolellis defende intervenção no Ministério da Saúde: “Salvação
Nacional”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XRj7dTGQw1w
PS.: Atualizado às 13:56: para corrigir o termo Big Fharmas, que incorretamente estava grifado como Big Farms. Agradeço ao comentário do leitor alertando para o erro.
2 comentários:
Se farmacêutica em Inglês é PHarmaceutical (com PH) e fazenda é Farm, como pode "big Farms (com F) significar "grandes Farmacêuticas"? Acho que tem alguma coisa errada que não está certo, não?
Você está certo. O termo correto é Big Pharmas.
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