sexta-feira, abril 23, 2021

O significado simbólico e trágico das flexibilizações do isolamento social em Campos dos Goytacazes

Deixe eu ver se entendi a situação da Covid em Campos, RJ. Até o dia 22 de abril sofremos 214 mortes. O maior número disparado de óbitos desde o início da pandemia, de um total de 1.056 mortes e com uma média – quase permanente - de aproximadamente 10 falecimentos por dia. Neste últimos quinze dias, a espera de leitos para UTI-Covid sempre esteve em torno de 30 na rede hospitalar do município. E ainda, a confirmação de que uma pesquisa em curso no município, já indica que a incidência da contaminação do Corona se pela nova cepa P1 do vírus, que é a mais contagiosa e grave.
 
Diante de tudo isso se falou que os alertas foram acesos. Quais alertas?

Porque o resultado de tudo isso foi um decreto com a ampliação da flexibilização com retorno de mais atividades e ampliação de horários. Isso baseado numa hipotética estimativa de promessa de melhora, mesmo diante de todos os riscos e indicadores? Difícil entender, mais ainda aceitar.

Infelizmente, é preciso dizer que isso é o resultado destas cores de faixas e protocolos incompreensíveis à maioria. Uma espécie de “meia boca das paralisações” feitas até aqui, em especial nas últimas duas semanas. Elas são bem intencionadas, mas não resolvem o problema sanitário, amplia a quantidade de vítimas e mortes e também nem atende aos comerciantes que vivem três crises superpostas. A crise econômica da falta de dinheiro, a pandemia e a pressão das mudanças do comércio eletrônico, das plataformas digitais que enforca os comércios locais.
 
Os esforços para a montagem de mais leitos de assistência e UTI para as vítimas da Covid também são bem intencionados, mas se colocam no plano de atender as consequências e não às causas. O mesmo em relação à vacinação - tão almejada, mas que é solução nos atende individualmente - até alcançar a marca de resultados coletivos.
 
Teríamos tido menos mortes, doentes e prejuízos materiais se lá no início do mês, quando a situação já era muito grave, tivesse sido decretado a paralisação total e o fechamento de tudo com auxílio financeiro e de alimentação àqueles de menor renda. Sei que isso não é medida fácil e que o município tem menor caixa, mas se trata de urgência. Entendo as dificuldades de setores da sociedade e das pessoas no plano individual e familiar, mas os exemplos no país e no exterior evidenciam os resultados que são rapidamente produzidos por uma paralisação total durante um período. "A meia boca" não resolve. O caso de Araraquara, SP, é claro e evidente, mesmo que muitos não queiram falar deste caso concreto.
 
Sei que todos, assim como eu estão cansados, angustiados e sofridos com tudo que vem ocorrendo. Sabemos que não é fácil a situação das autoridades, mas é preciso coragem em meio à diversidade de pressões de grupos e interesses. A maior parte legítima. Porém, não podem ser naturalizadas as mortes de 214 pessoas em 22 dias, com seguindo hospitais lotados e sem conseguir atender aos doentes que continuam a chegar. O pior caminho é o de numa situação destas da maior emergência da história se querer agradar a todos.

Infelizmente, sei que nada mudará e seguiremos assistindo a lógica que partiu do Planalto com a banalização da vida e do “cada um por si”, até que a vacina, lá pelo final do ano, possa produzir a proteção coletiva, que em última instância é o que se está a reivindicar, com a paralisação completa das atividades para interromper a quase livre contaminação. Minha solidariedade às vítimas e aos seus parentes e amigos neste momento de tanta dor e sofrimento. Tenhamos força para seguir em frente!

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