O fatiamento da estatal Petrobras para a entrega de suas subsidiárias e seus ativos segue a ritmo acelerado desde o golpe político de 2016 no Brasil. A Petrobras é a joia dilapidada da coroa.
A lista das empresas, ações e ativos vendidos a preço de xepa - final de feira - é enorme. No atual e conturbado cenário de desgoverno e descontrole político, a boiada vai passando com novas "vendas" (entregas) para grupos privados e financeiros que seguem aplaudindo o ultraliberalismo. Não se trata de investimento novo é entrega daquilo que está pronto, produzindo e gerando lucros. Na véspera de um 7 de setembro golpista, o que se tem é um patriotismo às avessas (anti-nacionalismo) com a nação sendo subtraída de suas riquezas. As veias abertas de um Brasil neofascista.
É neste contexto que Francismar Cunha Ferreira, pesquisador, geógrafo, mestre e doutorando em Geografia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) elaborou um breve relatório sobre o significado da "venda" dos campos offshore de petróleo Albacora e Albacora Leste, na Bacia de Campos, diante das potencialidades dos mesmos que incluem as áreas do pré-sal. Francismar, lista o histórico de produção e localização destes dois campos (ativos), demonstrando o absurdo da decisão desta atual diretoria da Petrobras e do desgoverno Bolsonaro. Observem no relatório quem são os grupos interessados e não fica difícil compreender quem foram os agentes que usando a "porta giratória" entre mercado e governo que viabilizam este crime.
As potencialidades dos campos de Albacora e Albacora Leste ignoradas pela Petrobras
A privatização da Petrobras vem se intensificado. São constantes as notícias acerca da venda de campos, dutos, refinarias, termelétricas dentre outros ativos. Nesse movimento de desintegração da empresa, destaca-se o anúncio de venda dos campos de Albacora e Albacora Leste na bacia de Campos feito pela Petrobras em setembro de 2020. São campos que apresentam grande produtividade, já possuem infraestrutura de produção e escoamento e recentemente tiveram suas reservas aumentadas em função das descobertas no pré-sal desses campos. Em função disso, são campos que não se encaixam no interior do discurso da empresa de se desfazer dos ativos de produção considerados maduros.
No ano de 2020, o campo de Albacora produziu em média 39 mil barris de óleo por dia e 716 mil m³/dia de gás. Já Albacora Leste no mesmo período produziu em média 30 mil barris de óleo por dia e 636 mil m³/dia de gás. Em julho de 2021 de acordo com o boletim mensal da produção de petróleo da ANP os campos de Albacora e Albacora Leste foram respectivamente o 16° e o 17° maiores produtores de petróleo no Brasil. Além disso, vale destacar que ambos os campos se localizam no interior do polígono do pré-sal determinado e delimitado pela lei 12.351/10, sendo que Albacora já possui produção em poços do pré-sal. Ainda em acordo com o boletim mensal da produção de petróleo da ANP de julho de 2021, do total da produção de petróleo de Albacora, cerca 34,7% é proveniente de poços do pré-sal. O óleo produzido nesses poços possui aproximadamente 30º API de acordo com Teaser Petrobras referente aos campos de Albacora, o que o qualifica como sendo um petróleo leve capaz de produzir uma parcela maior de derivados nobres, de elevado valor comercial, tais como gasolina e diesel. Além disso, os poços do pré-sal de Albacora responderam por 55% da produção de gás do campo de acordo com o boletim mensal da produção de petróleo da ANP de julho de 2021.
Faz-se importante destacar que no primeiro semestre de 2020 a Petrobras noticiou nova descoberta no campo de Albacora a partir dos resultados obtidos com o poço 9-AB-135D-RJS. A descoberta consiste em cerca de 214 metros de reservatórios, com presença de óleo leve, comprovada por meio de testes realizados a partir de 4.630 metros de profundidade[1]. Albacora Leste também apresenta um futuro promissor no que se refere ao pré-sal, principalmente a partir da descoberta do poço Arapuçá.
Essas descobertas tendem não só a aumentar as reservas e a produtividade dos campos, como também deverá prolongar as atividades de exploração dos mesmos. Além disso, essas descobertas vêm ocorrendo em campos que já contam com grande infraestrutura de produção instalada, formada pelas plataformas P-25, P-31 e P-50, além de toda a infraestrutura de movimentação de petróleo e gás conforme aponta o mapa a seguir. Isso faz com que a produção nessas descobertas seja mais rápida do que em campos que necessitam de toda a instalação de produção e transporte.
Mapa 01: Infraestrutura de produção e escoamento de petróleo e gás dos campos de Albacora e Albacora Leste
O campo de Albacora se enquadra na definição de campo maduro definido pela Resolução nº 749/2018 da ANP. De acordo com a resolução, “o campo maduro pode ser compreendido como sendo o campo de petróleo ou de gás natural com histórico de produção efetiva, realizada a partir de instalações definitivas de produção, maior ou igual a vinte e cinco anos, ou cuja produção acumulada corresponda a, pelo menos, 70% (setenta por cento) do volume a ser produzido previsto, considerando as reservas provadas”. A produção no campo de Albacora já é realizada há 37 anos. Entretanto, mesmo sendo maduro, tem-se a possibilidade do desenvolvimento de novos projetos de recuperação do campo, possibilitando o prolongamento das atividades produtivas e a manutenção de toda a cadeia de fornecedores e empregos. Além disso, enquadrar Albacora como campo maduro, todavia, significa ignorar as recentes descobertas no pré-sal que redefinem positivamente as reservas e a produtividade do campo.
Em Albacora Leste a produção é realizada há 15 anos, portanto, pelo sentido temporal, ele não está enquadrado na categoria de campo maduro. Tampouco o critério de produção pode ser utilizado: com um volume estimado de 3,5 bilhões de barris e produção acumulada de cerca de 0,4 bilhões de barris, Albacora Leste produziu apenas 11% do seu potencial. Além disso, novamente não se pode desconsiderar a descoberta recente do pré-sal no campo vizinho que pode redefinir suas reservas e, consequentemente, sua produção futura.
Em resumo, os ativos de Albacora e Albacora Leste são ativos de grande importância para a Petrobras por três motivos fundamentais:
1. Pelo fato de serem ativos de grande produção de petróleo (16° e o 17° campos com maior produção de petróleo no Brasil em julho de 2021) e ainda possuírem grandes reservas a produzir;
2. Em função das recentes descobertas no pré-sal em Albacora que implica no aumento da produtividade e rentabilidade do campo (e suas adjacências) para a Petrobras;
3. Devido se localizarem no interior do polígono do pré-sal, não se pode desconsiderar a possibilidade de possíveis novas importantes descobertas nesses campos, adquiridos em rodadas ainda no regime de concessão.
Em setembro de 2020 a Petrobras lançou esses campos ao mercado a fim de vendê-los. Pouco tempo depois várias empresas e fundos financeiros começaram a especular ofertas vinculantes pelos campos. O consórcio formado pela norte-americana petroleira Talos Energy, pelo fundo financeiro do tipo private equity EIG Global Energy Partners e pelas brasileiras pela Enauta e 3R Petroleum foi um deles. Outro consórcio é formado pela PetroRio e pela Cobra, uma unidade da francesa VINCI Energies. Por fim, tem-se a petroleira australiana Karoon Energy que também manifestou interesse nos ativos.
De acordo com reportagem da CNN Brasil[2], esses ativos podem representar a maior transação financeira inerente a ativos de produção da Petrobras desde 2017, quando a estatal vendeu uma participação no campo de Roncador para a norueguesa Equinor, por US$ 2,9 bilhões.
Essa grande mobilização de empresas e fundos de investimentos, associado ao alto valor do ativo, apenas reforçam a notória viabilidade econômica dos campos de Albacora e Albacora Leste. Demostra também que a Petrobras estará se desfazendo de ativos com grande potencial de geração de lucros atuais e futuros.
[1]
Ver mais sobre em: https://www.agenciapetrobras.com.br/Materia/ExibirMateria?p_materia=982726
2 comentários:
Nós e nosso complexo de vira-latas incapazes de reconhecer nosso trabalho.
Não será possível q o país, ops, a Petrobrás nao possa desenvolver com insumos e tecnologia nacionais a operação destas plataformas? Temos q carregar esses malas estrangeiros enfadonhos pedantes "no character, no color, no variety"?
Excelente matéria. Estamos sendo saqueados e não há nada a comemorar nesse 7 de setembro. Resistamos até termos nosso país de volta. Aí comecemos com a retomada da base de Alcântara e continuemos com a encampação de tudo o que foi vendido a preços aviltantes.
Postar um comentário