As mídias sociais são paradoxais em diversas dimensões, mas em especial nas relações de poder (política). As redes sociais (APPs) ligam e desligam. Articulam e fragmentam. Implodem e explodem. Atraem, arrastam e expulsam. As redes sociais socializam, mas também individualizam.
O uso da ciberesfera que ganhou potência com a internet móvel dos celulares (e aplicativos, APPs), embrulhando a relação com a nossa conhecida socioesfera.
Relações físicas e digitais se misturam no âmbito social, econômico e político. As relações entre estes mundos dos símbolos e do imaginário circulam pelas subjetividades que leem o real por trás (background) das atraentes, transparentes e transcendentes telas florescentes.
Em termos de estruturas, as mídias digitais são hoje em boa parte os aplicativos das redes que se autodenominam sociais, misturando aquilo que é meio do que são os objetivos. Essas redes (digitais e sociais) são frutos da APPficação, onde se situam os APPs mais baixados e usados do mundo. Em especial aqueles controlados pelas Big Techs, as gigantes do mundo digital. Entre eles estão: WhatsApp; Facebook; Youtube; Twitter; TikTok; Wechat; Instagram; Messenger, etc.
Em termos de atuação no campo político, as redes sociais parecem atomizar a organização de movimentos e partidos. Assim, com menos identidades eles tendem a se tornar instrumentos e passagens provisórias (fluidas), fato que favorece a dispersão. Assim, de forma simultânea e também contraditória, as redes sociais levam aos oligopólios e à concentração das relações de poder. Um poder mais concentrado e quase imperial.
As disputas são também paradoxais. De um lado os agentes se multiplicam e fragmentam, mas na outra ponta se tornam cada vez mais concentrados e sob um forte controle dos algoritmos da dominação técnico-digital que amplia a capacidade de manipular a política, as relações de poder.
Todo esse movimento se dá em meio às diversidades que nascem utópicas, mas parecem cada vez mais distópicas, apesar dos esforços de integração.
Penso que o uso das redes sociais representa um aprendizado, mas os resultados desta utilização parecem atender, majoritariamente, a processos de manipulação que estão servindo bem mais aos objetivos da tecnocracia e das autocracias pós-democráticas e de extrema direita. São milhões de robôs dirigindo os algoritmos pela vida da inteligência artificial (IA). Uma disputa assimétrica como a racionalidade de um ideal de democracia fugidio.
As redes sociais na essência se encaixam na lógica (hoje mais clara) da guerra híbrida, quando servem como meios e instrumentos de disputas não militares, mas com apoio, sigilo, disciplina, coordenação e controle de estilo militar, com a finalidade de alcançar os objetivos estratégicos, políticos e geopolíticos de hegemonia.
As redes servem a esse propósito de guerra híbrida, financeira, de informações, de energia e de sanções de maneira espetacular e já muito comprovada. Processo que parece um exercício militar da guerra cibernética ampla (ou total) para a qual nos encaminhamos, aceleradamente.
Mas, enfim, é preciso também considerar que poder sempre leva a contra-poder. Marchas a contra-marchas. É por aí que hoje enxergamos o variado uso desse espaço digital. Esforços, lutas e movimentos tentam encontrar meios para enfrentamentos aos donos dos algoritmo. Aqueles que exercem na prática o domínio técnico-digital a favor da minoria endinheirada no andar de cima.
A luta deve ser para estancar a sangria obtida pelas Big Techs com a captura dos nossos dados e até do nosso imaginário. Tudo isso se tornou mais um campo de disputa assimétrica, como sempre foi a luta de classes em que a maioria é controlada e dirigida.
Vivemos época de oligopólios, massificação e manipulação destas novas tecnologias digitais. Eles precisam ser enfrentados assim como as desigualdades. Sem ilusões, mas com determinação. A tecnologia não é neutra e precisa estar a serviço da maioria. Esta continua a ser a principal luta!
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