É importante observar a aceleração dos tempos presentes na disputa EUA-OTAN x Rússia, em relação às guerras anteriores. É um processo que pode ajudar a explicar a disputa e a perda da racionalidade que pode estar delineando um quadro tenso de uma pré-3ª Guerra.
A Ucrânia foi o estopim. Tudo se desenrola numa velocidade alucinante — bem distinto dos tempos da 2ª GM —, características do mundo digital que alimenta a guerra física, financeira e de sanções, como elementos da Guerra 4.0. (Ver artigo anterior: Três principais elementos da disputa Rússia x OTAN).
Não estou me referindo apenas a velocidade de informações e contrainformações — isso já havia antes com comunicação via rádios — mas, o "time" que as nações que vão sendo envolvidas no conflito e no tempo que têm para digerir e tomar decisões, que de forma espiral pode seguir envolvendo outras nações.
Se o conflito EUA-OTAN x Rússia se alongar no tempo, esses
desdobramentos se estenderão para as questões econômicas das nações, com
reflexos para as eleições nacionais de vários e importantes países.
Tudo isso tende a retroalimentar e ampliar espacialmente o conflito.
A guerra 4.0 e as
eleições no Brasil
Essas hipóteses sacodem o tabuleiro e produzem
instabilidades e possibilidades para que as relações internacionais e a crise
EUA-OTAN x Rússia afetem as eleições no Brasil previstas para daqui a menos de
sete meses. Ainda não vi e nem li comentários sobre essas hipóteses, mas creio
que elas precisam ser consideradas e avaliadas.
No caso do prolongamento do conflito e expansão espacial para
outros pontos da Europa é evidente que os candidatos das eleições na França e
no Brasil (entre outros países) terão que lidar mais densamente com o tema das
relações externas e muito provavelmente também com posições fortemente
confrontantes entre os principais candidatos.
No caso de Bolsonaro, o atual presidente já começou a
produzir falas conflitantes e em dissimulação sobre a guerra, aliás como faz o tempo
todo em outros assuntos. Não é difícil supor que Bolsonaro queira usar o tema para
esconder seus graves problemas de administração e os poucos resultados que tem para a apresentar na busca de reeleição, mesmo não tendo liderança reconhecida ao nível global.
Bolsonaro usaria essa nova dissimulação não apenas como uma
desculpa para as dificuldades de seu período de mandato, que mistura ainda a
Pandemia neste bojo. Assim, pode-se ainda imaginar que o presidente poderia tentar
reapresentar o “seu governo militar” como o mais apropriado ao tempo presente, permeado
de conflitos entre nações, embora o que se perceba ao nível global, seja a demanda
ansiosa por lideranças que possam intermediar os conflitos, atributo que
Bolsonaro nunca teve, ao contrário daquilo que é reconhecido globalmente, em
seu principal opositor, Lula.
O uso da guerra para alegar a paralisação da economia, a inflação, preços altos dos combustíveis (gasolina, diesel e gás), eletricidade, alimentos, etc. são fatos que fogem à realidade de um país que em quatro anos de mandato, vem observando o desmonte das políticas públicas e de piora das condições de vida, com entrega e privatização de estatais a preço vil (inclusive das fábricas de fertilizantes da Petrobras que faz agora falta), muito anos antes de espoucar o conflito EUA-OTAN x Rússia.
Entre o medo e o horror com a guerra e a demanda por uma liderança forte e moderada
Há ainda a ser considerado, o tamanho do percentual dos
brasileiros que tem medo (ojeriza) à ideia de guerra. Esses podem temer ainda
mais Bolsonaro e seu governo militar. Como se pode intuir, o tema tende a trazer
mais um embate político entre os principais candidatos nas eleições de outubro.
Para quem está na liderança folgada nas várias pesquisas, em
quadro de estabilidade, caso do Lula, nada disso interessa. Já ao presidente
que vai para a disputa à reeleição nas piores condições, por má avaliação do seu
mandato na história eleitoral do Brasil, o tema pode aparecer como esforço,
quase desesperado, de virar o quadro com iniciativas e decisões inesperadas.
É evidente que o percentual de pessoas que possa cair nesta
nova e contraditória dissimulação não é tão grande, mas devemos lembrar que as
eleições contemporâneas no Ocidente tendem a ser decididas por margens pequenas
de votos.
Enfim, as ameaças da guerra EUA-OTAN x Rússia para outras
regiões do mundo começa a aparecer no horizonte como um grande conflito. No
Brasil, estamos a menos de sete meses das eleições de outubro. Esperava-se para
abril (e depois junho), as primeiras definições que produziriam reflexos para as
eleições presidenciais.
Porém, esse novo cenário chega trazendo espanto e horror pelos
embates e vítimas, mas também instabilidades e possibilidades de que o tema da
guerra, se prolongada no tempo e espaço, possa empurrar as definições principais
das eleições no Brasil, ainda mais para a reta final do pleito por conta das grandes transformações da geopolítica global.
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