A guerra é cruel, violenta, sangrenta e de consequências difíceis de serem medidas, mas a diplomacia sempre se mostrou limitada para essas grandes contendas. Não há santos em disputas deste tipo, ao contrário os diabos e os demônios nascem e se alimentam de tudo isso.
O fato é que com a guerra EUA-OTAN x Rússia, ou Rússia x EUA-OTAN, Putin que já era mal visto foi ainda mais facilmente diabolizado. Em especial no Ocidente e com ajuda das redes sociais e das Big Techs americanas que entraram na disputa como braços da OTAN. Creio que Putin sabia que isso iria ocorrer. Talvez, não na proporção, quando resolveu ir para o front da guerra tradicional e mortífera. O mundo se transforma a partir daí e produz enormes consequências de médio e longo prazos, daí se compreende porque é estratégica a aliança da Rússia com a China.
As duas potências se complementam, mas a China avança no “soft power”, como poder moderador de um lado e atenuador das sanções de outro, em meio aos riscos de uma grande crise Ocidente x Oriente, ou de alternância para uma liderança mundial eurasiana. Se a premissa tem algum sentido, na aliança entre Xi Jiping e Putin, o último, já deve ter aceitado que a China possa assumir um novo papel, num mundo que não seja unipolar e sob controle da EUA-OTAN.
A história não se encerra aí, evidentemente. As sanções
estão empurrando para uma desdolarização, um comércio entre grandes nações, via
moedas próprias, digitais e/ou criptos, compensações e meios de pagamento em
volumes nunca dantes realizados. É um processo paulatino, mas que já está sendo
testado na prática, com maior volume e ajustes acordados em tempo de guerra.
A Europa que já enxerga vantagens nas relações com a China,
de outro lado teme muito agora, a expansão da guerra e os riscos de um desabastecimento
energético e de alimentos, além do torpedeamento de suas potentes cadeias
produtivas regionais.
Os países da UE têm suportado as pressões se mantendo na
OTAN, para desgastar o “vizinho” Putin, mas já deve estar repensando os riscos que
tem de um lado e também do outro, assim como as vantagens que pode ter com um mundo multipolar (sem acreditar muito nisso, após sofrer duas grandes
guerras),
Enquanto isso, a Turquia que é membro da OTAN, parece
enxergar mudanças neste pêndulo, não apenas se oferecendo para moderação, mas indo
um pouco mais longe, ampliando conversas e negócios com ambos os lados, assim
como outros países do Oriente Médio e também a asiática e grande Índia. Se este for o cenário será também grande a hipótese de Trump retornar ao poder nos EUA, após ter sucumbido à condição de "hegemon". Mas, isso
já seria outra e longa conversa.
A guerra e as tragédias humanitárias vão além destes períodos
de grandes embates, batalhas, transformações e sofrimento. No dia-a-dia muitas
vezes eles não são enxergados e passam despercebidos. Não por maldade,
mas por banalização. Realisticamente, não cabe torcida num ambiente de guerra,
mas é necessário que nos esforcemos para entender o que realmente está
ocorrendo.
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