Os EUA parecem caminhar para o que Maquiavel desaconselhava, estabelecer duas frentes de disputa ao mesmo tempo. Pior quando se trata de duas superpotências, o que pode unir ainda mais o que estas grandes potências afirmaram no início deste ano ser “uma relação em todos os níveis”.
No caso da guerra na Ucrânia dos EUA-OTAN x Rússia se trata de uma guerra por procuração contra a Rússia. Essa outra em Taiwan, se apresenta como mais direta com a China, sem procuração.
Uma guerra ou disputa por hegemonia em três dimensões: 1)
Tradicional e híbrida; 2) Sanções financeiras e comerciais; 3) Cibernética ou
de controle tecnológico-digital e comunicacional.
Esse novo espaço de disputa em Taiwan tem a ver com a
disputa tecnológica e cibernética em que Taiwan é base da produção de
semicondutores e microprocessadores.
A disputa na dimensão tecnológica-digital entre EUA e China
é mais complexa que a ideia de reprodução de uma “nova guerra fria”. Segundo
dados empíricos e de análise da pesquisadora Ester Majerowicz (UFRN), num dos
capítulos do livro “A China no capitalismo contemporâneo” lançado no mês
passado, em que ela é uma das organizadoras.
Na publicação, Majerowicz afirma que “os EUA e a China
possuem relações de complementariedade econômica muito forte”, em especial
nesse setor de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação). A TIC é hoje
globalizada e centralizada no Ocidente nos EUA e no Oriente na Ásia.
Porém, a China tem um gargalo que é a produção de semicondutores/microprocessadores. A China avançou bastante e segue correndo, mas, ainda hoje, só produz 16% dos microprocessadores que usa. E destes, só 6% é de fabricantes chineses.
Microprocessadores tem a ver com a produção de redes de telecomunicações (5G) mais avançadas, equipamentos digitais mais sofisticados e autônomos, Internet das Coisas (IoT), ou Indústria, 4.0, Inteligência Artificial, celulares ágeis, ou seja, outra etapa do desenvolvimento tecnológico e cibernético digital e mais transformações no Modo de Produção Capitalista na linha do Plataformismo.
Assim, a viagem da Nancy Pelosi, presidente da Câmara de
Representante dos EUA a Taiwan é uma ação do Deep State dos EUA. Os EUA pretendem
confrontar a China e ver os limites desta tensão. No geral e, na prática, os EUA
estão caminhando para frear e adiar a fronteira tecnológica contendo o
desenvolvimento na área para limitar a China nessa dimensão que envolve as Big
Techs e de certa forma, também os interesses financeiros de Wall Street.
Como as relações econômicas e financeiras entre EUA e China
são entrelaçadas em muitos campos, essas ações tendem a produzir muitas
transformações. Elas mexem com muitos interesses de frações do capital.
Além disso, devem acelerar processos que tendem a ampliar
rompimento de cadeias de valor global (CVG), apesar dos interesses capitalistas
cruzados tanto no Ocidente quanto na Ásia.
No meio da hipótese de formação de uma nova ordem global há que se avaliar se isso levaria à desglobalização como muitos afirmam, porque o capitalismo sempre prescindiu de sua expansão. A situação mundial é tensa e os desdobramentos podem não ser racionais. Acompanhemos!
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